“Cláudio”Eu já estou preso há meses, mas o tempo aqui dentro passa diferente, ele se arrasta e parece que eu estou aqui há anos. É o dia todo na tranca, sem fazer nada, a única hora que a gente sai é no banho de sol, uma horinha dia sim dia não, e na visita. Aquela chata da Kelly está vindo me visitar uma vez por mês, agora eu vou ter que suportá-la, porque não dá pra tirar cadeia sem ter visita.Na primeira visita que ela veio estava atacada, cheia de cobrança porque tinha ficado sabendo que eu estava de caso com a Celeste. Me custou muito acalmá-la, mas no fim ela engoliu que eu fui fraco e seduzido, mas que não se repetiria. Eu já estava até acostumado, desde que me casei com ela, sempre que ele descobria uma das minhas escorregadas era o mesmo drama, mas no final eu a convencia de que tinha sido um errinho de nada.Nosso filho nasceu na semana em que eu fui preso e ela já trouxe o moleque pra eu conhecer. Falei pra ela não trazer mais, isso aqui não é lugar pra criança e exigi qu
Bonfim ligou e avisou que havia marcado meu encontro com o Cláudio para o dia seguinte à tarde. Explicou que faria isso na delegacia para aproveitar e pegar o depoimento do Cláudio de uma vez, além se ser um ambiente um pouco melhor pra mim.No dia seguinte, na hora marcada, eu estava lá, acompanhada do meu marido e de alguns seguranças. Bonfim nos levou para a sua sala e pediu que aguardássemos lá. Pouco depois voltou, com mais dois policiais trazendo o Cláudio.Cláudio estava com a barba por fazer e cabelos raspados. Usava o uniforme do sistema prisional e no meio daqueles policiais parecia muito pequeno, mas mesmo estando na pior situação possível, ainda tinha um sorrisinho cínico na cara.- Algema ele aí. – Bonfim mandou e os policiais colocaram o Cláudio sentado numa cadeira no canto e passaram a algema por dentro de um tubo na parede que parecia um corrimão.- Então, Sr. Cláudio, o senhor queria falar com a Sra. Mellendez, ela está aqui. – Bonfim falou.- Sra. Mellendez, que imp
Ficamos na delegacia por umas quatro horas. O Cláudio falou com a mãe, que chorava muito e pediu que o filho confessasse todos os seus crimes e colaborasse com a polícia. Ela me pediu perdão pelo que o filho fez e lamentou muito que ele não tivesse seguido pelo bom caminho como ela sempre tentou mostrar a ele. No fim, meu marido ficou até comovido com aquela mulher e disse que ficava tranqüilo em poder oferecer um tratamento de saúde melhor para ela.O Cláudio tinha muita coisa pra contar. Começou contando que conheceu o Junqueira através de um amigo de Campanário que veio morar em Porto Paraíso logo que fez dezoito anos. Ele não sabia como o amigo conhecia o Junqueira e nunca se interessou por perguntar. Deu as informações sobre o tal amigo, que se chama Kauã Capiberibe, e onde poderia ser encontrado.Cláudio disse que conheceu o Junqueira três meses antes do acidente de helicóptero que matou os pais do Alessandro e que Junqueira o pagou um bom dinheiro para sabotar o helicóptero, in
Quando chegamos em casa eu estava cansada e morrendo de saudade dos meus filhos. Pedro tagarelou por um bom tempo contando como ajudou a cuidar dos irmãozinhos e que eles agora estavam dormindo de barriguinha cheia.Fui pra cama sentindo uma pontada na cabeça e tive um sono muito agitado, não por cuidar dos bebês, na verdade eles eram muito calmos e o Alessandro era um pai maravilhoso, acordava a noite e me ajudava a trocá-los e a alimentá-los. Mas eu tive pesadelos desconexos e estava com uma sensação de medo que não desaparecia.Acordei bem cedo e com uma terrível dor de cabeça, talvez pelo dia anterior agitado, mas minha cabeça doía muito. Passei no quarto dos meus filhos e estavam dormindo, assim como o Pedro. Então fui pra cozinha tomar um café antes de engolir os comprimidos pra dor.Eu estava na cozinha com a Lygia, quando ouvimos o baque de algo caindo na sala e fomos olhar. Quando cheguei na sala eu me arrepiei inteira de medo. O Junqueira estava de pé no meio da sala apontan
Junqueira foi empurrando o Alessandro rumo ao escritório e lágrimas caíam do meu rosto. Assim que eles saíram da sala, o trinco da maçaneta se moveu levemente e o Matias entrou fazendo sinal para que ficássemos em silêncio.- Senhora, me perdoe. – Matias falava baixinho. – Eu não sei como ele entrou, mas nós vamos resolver. Por favor, subam em silêncio, sem fazer barulho e cuidem das crianças. Meus homens vão proteger vocês. A polícia já está a caminho.- O Alessandro, Matias. Ele vai matar o Alessandro. – Eu estava desesperada.- Eu prometo para a senhora que não vai. Mas, por favor, preciso que vocês fiquem em segurança. Eu não vou falhar de novo. – Matias me ajudou a me levantar.- Não foi sua culpa, Matias. – A babá que estava sob a mira do Junqueira quando cheguei a sala falou baixinho. – Me perdoa, Catarina, mas ele colocou a arma na minha cabeça quando eu estava saindo de casa e se escondeu no banco de trás do meu carro. Me perdoa, eu devia ter deixado ele me matar!- De jeito
Eu estava com a cabeça baixa, segurando a mão do meu marido que ainda não tinha acordado, mesmo trinta e seis horas depois da cirurgia. O médico tinha acabado de me dizer que ele estava estável e só nos restava aguardar, quando senti sua mão apertar levemente a minha. Ergui a cabeça e olhei imediatamente pra ele, vendo aquele par de olhos violeta me iluminarem novamente.- Alessandro, meu amor! Até que enfim... – Sorri pra ele. – Vou chamar o médico, não se mexa e não tire nada do lugar.Fui até o balcão dos enfermeiros que ficava em frente ao leito de UTI em que meu marido e estava, avisei que ele havia acordado e voltei correndo para ficar ao seu lado.- Meu amor, eu tive tanto medo. – Falei segurando outra vez sua mão.- Quer dizer que o paciente mais visitado desse hospital acordou. – Dr. Estênio entrou sorrindo e se apresentou para ele. – Alessandro, você está no hospital porque foi baleado. Vou te examinar, faça o que eu disser, por favor.O médico fez uma avaliação básica de fo
“Junqueira”Já estou nesse inferno há um mês! Como as coisas deram tão errado? Eu tinha um plano perfeito! Eu roubei milhões daquela empresa durante anos, mas na hora de dar o golpe fatal tudo desandou. A culpa é daquela mulherzinha. A Catarina entrou no meu caminho na noite em que os pais do Alessandro morreram. Era pra ele ter morrido também, mas estava com aquela sonsa. Desde aquela noite as coisas começaram a dar errado.Agora eu estou aqui, jogado nesse inferno imundo e fedorento. E eu nem consegui matar aquele estúpido do Alessandro. Eu atirei nele e antes que eu pudesse puxar o gatilho pela segunda vez, eu fui atingido na perna. No hospital o médico explicou que a bala se fragmentou e destruiu as terminações nervosas e a vascularização no local, seria impossível reconstruiu, então amputaram a minha perna inteira, quase na virilha, seria impossível a colocação de uma prótese. Agora eu dependo dessas malditas muletas para andar.Depois que cortaram a minha perna, me transferiram
“Heitor”Eu já não sei mais o que fazer para convencer a Samantha a me perdoar. Já faz muito tempo... Onde eu estava com a cabeça quando caí na armadilha daquela peste da Isabella. Mas eu tenho que dar um jeito, eu não consigo esquecer a Samantha.Encontrei com ela ontem na casa do Mellendez. Ela está ainda mais linda! Mas não me deu chance nem de falar com ela. Quando cheguei ela logo foi embora. Tem sido assim nos últimos tempos, sempre que nos encontramos ela se retira e nem me escuta.- Martinez, acorda! Estou falando com você! – Melissa estalou os dedos na frente do meu rosto.- Ah, desculpa, Melissa, eu estava distraído. – Falei ajustando a minha postura na cadeira.Nós estávamos em minha sala e Melissa estava me passando informações sobre uma reunião importante que eu pedi para que ela me representasse no dia anterior. Há dias eu estava aéreo demais e não conseguia focar no trabalho.- Olha só, Martinez, se não dá conta da brincadeira, não sai pra brincar. Ou você volta a assum