Ando devagar, sob a gargalhada de Raoul. Me viro e mostro o dedo do meio. É culpa desse babaca que pegou pesado comigo. Eu não tenho boceta de ferro... Brincadeira, dou conta do meu namorado. O problema é que torci o tornozelo quando estávamos indo verificar os pedidos de socorro e agora estou sentindo.O amigo do papai é médico, então vou pedir que ele dê uma olhada.Abro a porta de casa e aceno, para que meu namorado vá embora em seu carro chamativo.Quando entro, levo um susto com uma presença nada esperada.— Kaio? O que faz aqui? — meu tom não é nada gentil.O idiota está sentado no meu sofá, usando o uniforme do colégio.— Vocês são péssimos em questão de segurança. A chave sob o vaso de planta é ridículo — ele diz simplesmente, sem se abalar com minha hostilidade.— O que quer?Ele apoia o pé sobre a mesa de centro.— Vingança.Não vou me acovardar diante desse estuprador de merda.Cruzo os braços sobre os seios e questiono:— E como seria sua vingança? Vai me sequestrar? Me ma
LESLIE— O que você quer, Joca? — questiono depois de atender a terceira ligação dele só hoje.— Saber como está meu filho.— Porra! Para de falar merda. Esse telefone pode ter sido grampeado de alguma forma.— Paranoia. Isso não é filme do James Bond. Você sumiu. Achei que aquele maluco tivesse te matado com filho e tudo.— Eu estou em uma suíte, esperando o momento certo de fazer o teste de paternidade.— E esse médico, e se ele der para trás? Le, não sei se quero isso. Eu posso dar uma vida maneira a esse muleque...— Você que está dando pra trás. Escute bem, só fizemos esse filho com um objetivo. Não existe nós.— Você é cruel, ruiva.— Está bêbado, porra.— Sim. Estou na entrada do castelo do garoto. Pensando se não é melhor acabar com tudo.Porra!Olho ao meu redor. Não consegui nada ainda com a gravidez. Estou isolada como se tivesse uma doença contagiosa. Aquele Henry Seven me pegou de surpresa, nem tive tempo de retrucar e já estava aqui, tratada como uma princesa presa na to
RAOULRotina. Essa é a palavra que descreve meus dias. Acordar. Ir ao colégio, vir para casa transar com Carmine a tarde toda, pensar nela, ligar para ela, e qualquer outra coisa que surgir. Desde que a parte da tarde com ela permaneça.Eu adoro essa rotina.E meu pai quer estragar ela me chamando para conversar. Só não me oponho porque tenho consciência do problema que Leslie se tornou. Um filho é para a vida toda. Essa mulher não pode estar grávida de um filho meu.Por alguns poucos minutos conversamos sobre trazer ela para nossa família para que a criança cresça entre nós. Eu não ligo, desde que ela entenda que Carmine é a única mulher na minha vida.— Pai, eu vou me casar com Carmine no final desse ano. — Me decido, assim as coisas estarão mais claras.— Se fosse outra pessoa diria que está sendo precipitado, mas você nunca se precipita, não é, meu filho?— Não quando se trata dela.— Tudo bem. Vai lá estudar. Vocês andam muito estudiosos.— Não faz ideia do quanto.O cínico do me
CARMINEÉ meia-noite. Ainda estou chorando.Menti para os meus pais que estou com dor de cabeça. Eles não acreditaram, mas não insistiram.Meu telefone vibra na minha mão, o número de Kaio atrapalhando eu passar as fotos de Raoul e eu.Penso em não atender, mas acabo cedendo.— Que demora. Eu já estava com o dedo no enviar vídeos.— O que você quer?— Que voz estranha! Está chorando? Isso significa que terminou com ele.— O que quer? — repito.— Confirme, por favor, antes que eu envie o vídeo.— Foda-se, Kaio. Terminei, porra!Ele ri.— Boa garota!— Mais alguma coisa, imbecil?— Por enquanto não.— Então, vá se foder.Desligo o telefone e termino de virar a noite chorando. Em algum momento eu durmo entre lágrimas.Quando acordo, o café está sobre a mesa com um bilhete dos meus pais desejando que eu esteja bem e dizendo que foram para a sorveteria.Tomo café sozinha. Isso é bom. Preciso pensar. Eu não vou conseguir me afastar de Raoul, muito menos vou conseguir ser apenas sua amiga. S
CARMINEFiquei no telefone com minha mãe até quando cheguei na escola. Contei para ela sobre a visita inesperada e pedi para tomar cuidado. Ela não me conta muito sobre o passado, mas minha vó sim, e ela dizia que mamãe sofreu demais nas mãos do meu pai biológico, principalmente quando ele precisava de dinheiro para as drogas. Ele vendia tudo da casa e roubava dela.Esse homem precisava ficar longe da gente.— Se não for voltar para o castelo, pelo menos ligue para o seu pai. — Foi a última coisa que falei para o Caçador antes de correr para dentro do colégio, antes que os portões se fechem definitivamente.Na sala de aula, vou para o meu lugar de sempre e não vejo Raoul. Ele entra logo em seguida e senta no fundo, bem longe de mim.Até pensei em falar com ele sobre Florian, mas vou ligar para o pai dele. É melhor.— O que houve? — Nick aproveita uma distração do professor e senta no lugar que era dele.— Depois te conto. Não quero levar bronca — respondo disfarçadamente.— No interva
RAOULJá vi que hoje o dia vai ser longo. Mal saio do colégio e o carro com Felipe e um segurança me esperam na porta.Reviro os olhos e entro no carro.— O que foi dessa vez?— Nosso pai está no hospital com a mãe do seu filho...— Não fala asneira. — Interrompo. — Eu tenho noventa e nove virgula nove por cento de certeza que não é meu.— Então a mãe do seu menos de um por cento filho está no hospital. E você ainda não foi vê-la.— Ver? E dizer o que? Basta saber que estão bem e que logo essa palhaçada vai acabar. Eu vou fazer todos os testes com todos os médicos possíveis. Não importa o que ela tenha armado, vai falhar.— Como pode ter tanta certeza assim que não é seu? — Felipe me olha curioso.— O meu corpo seria incapaz de trair Carmine dessa forma, mesmo antes dela ser minha namorada. Eu poderia foder todas as mulheres do Rio de Janeiro que isso nunca aconteceria.Ele apenas me olha com uma expressão indecifrável. Não faço questão de saber o que está pensando.A gente chega no h
Quando chego em casa, outra revelação: Florian fugiu.Estão todos em alvoroço para que a mulher grávida não descubra. Todos prontos para sair a procura dele quando o safado entra no local dirigindo ao som de um funk pesado, o tipo que nosso pai detesta.— Porra, Florian! — meu pai se altera indo em direção a ele.— Caçador — corrige tranquilamente saindo do carro.— Onde você estava? — Amaymon claramente se controla para não socar o filho. Acredito que deve ter ficado apavorado com o sumiço dele, mais uma vez.— Fui dar uma volta. Aproveitei para ver a docinho.— Você o que? — É minha vez de ir em direção a ele. Se meu pai não o socou, eu vou socar.Ele nem liga para o meu descontrole.— Se eu fosse você eu cuidava melhor da sua namorada — fala antes que eu o alcance com meu punho. — Ela foi atacada na porta da casa. Se eu não estivesse lá ... ai ai... Salvei o dia.Travo no lugar. Sei que ele está tentando provocar, mas não parece mentir.— O que? — murmuro, sem querer acreditar.— I
CARMINENão vejo Nick e nem Raoul. Pelo que escuto nos corredores, ela não será a única a receber o diploma em casa. Estão todos falando como Raoul Seven abandonou o colégio e a mim.A notícia sobre os crimes de Kaio está em todos os jornais e na internet.Apenas o nome de Nick foi citado, as outras meninas tiveram as identidades preservadas. O que não deve durar. As pessoas sempre cavam essas coisas.O comentário no colégio é esse. Ah, e o fato de Kaio estar foragido.Fico esperando a qualquer momento surgir as gravações do Raoul ou aquele vídeo nosso, mas nada acontece.Quando saio, um carro me espera.— Caçador? — Sorrio ao ver quem abre a porta de trás. — Fugiu outra vez?— Dessa vez é o Florian. — Isso me surpreende. — Podemos tomar um sorvete?Dou de ombros e entro no carro. Se entrei com o maluco do caçador, por que não com o mais sensato?Seguimos com ele perguntando sobre as minhas aulas.— Qual foi a mágica que fez? — ele pergunta assim que sentamos no canto mais reservado n