Capítulo quatro

"Mel..." começo, tentando não deixar minha voz falhar. "Eu estou tentando ganhar mais dinheiro pra gente, lembra? E ficar aqui não vai ajudar nisso."

Ela desvia o olhar, terminando de lavar as cenouras com cuidado. Sinto a culpa me corroendo por dentro. Eu queria poder pegá-la e levá-la comigo agora mesmo, mas não é tão simples assim.

"Mamãe não é tão má." Mel sussurra, com um brilho de esperança nos olhos. "Ela só precisa de ajuda."

Fecho os olhos por um momento, tentando não deixar a frustração transparecer.

"Eu sei, baixinha... Sei que ela ama você. Mas... às vezes as coisas ficam difíceis pra ela, sabe?" digo, tentando encontrar um equilíbrio entre a verdade e a proteção.

Mel suspira, enxugando uma lágrima que escapa de um de seus olhos.

"Eu amo a mamãe também... mas eu quero morar com você." Ela admite, com a voz baixinha, me passando tristeza.

Seguro sua mão, apertando-a de leve.

"Eu sei, Mel. Eu também quero isso. E prometo que vou fazer o possível pra que isso aconteça logo, tá bom?"

Ela apenas balança a cabeça, concordando, e eu continuo cortando os legumes, tentando ignorar o nó na garganta ou a cara triste que ela está fazendo agora.

***

Depois do jantar, estou me remexendo na cama, espremida ao lado de Mel. A cama não é tão grande assim, e ela se mexe bastante enquanto dorme, ocupando quase todo o colchão. Me acomodo o melhor que posso, tentando não acordá-la.

De repente, escuto barulhos vindos do banheiro no final do corredor. Provavelmente é mamãe vomitando por ter bebido demais. Meu corpo se tenciona automaticamente a se levantar, mas não me movo. Não quero lidar com isso agora. O cansaço pesa demais sobre mim, e tudo que eu quero é um pouco de paz, mesmo que temporária.

Viro o rosto para Mel e observo seu sono tranquilo. Seu rosto parece tão sereno, tão em paz, que chega a ser doloroso pensar em tudo que ela já passou. Estudo cada detalhe — os longos cabelos loiros que caem pelo travesseiro, o nariz pequeno e delicado, e os lábios carnudos em forma de coração, exatamente iguais aos meus.

Às vezes, fico imaginando como ela será quando crescer. Se vai ter a mesma altura que eu, 1,70 m, ou se vai puxar mais para o lado da mamãe e ficar mais baixinha. Mas, de qualquer forma, tenho certeza de que vai continuar linda. A beleza dela já é evidente agora, mesmo com apenas dez anos.

Solto um suspiro baixo e ajeito o cobertor sobre nós duas, passando os dedos levemente pelos fios macios do cabelo dela. Mel é tão preciosa para mim... É difícil acreditar que ela continua doce e amorosa apesar de tudo que já aconteceu.

Fecho os olhos por um momento, tentando ignorar os movimentos pela casa que a mamãe continua fazendo. Não quero levantar, não quero confrontá-la, não agora. A exaustão finalmente começa a me vencer, e eu deixo que o sono me leve, esperando que, ao menos por algumas horas, a paz permaneça aqui.

***

Na manhã seguinte, estou sentada à mesa com Mel, observando-a comer as panquecas que preparei. Ela está animada, espalhando xarope no prato, mas não tenho coragem de brigar.

É raro vê-la tão feliz assim logo cedo.

"Você fez um arco-íris no prato, Mel." Brinco, dando um sorriso suave.

Ela ri, fazendo uma careta fofa enquanto espalha o xarope ainda mais.

Estou tomando meu café quando ouço passos arrastados atrás de mim. Minha mãe surge na porta da cozinha, com a expressão sonolenta e os cabelos desgrenhados, como se nada tivesse acontecido na noite anterior.

"Você não tem que trabalhar hoje, não?" Ela pergunta, franzindo a testa como se eu estivesse ali por pura preguiça.

"Só entro à tarde." Respondo, tentando manter uma voz firme. "Sente-se aqui e tome o café da manhã."

Ela hesita por um segundo, mas acaba se aproximando e se senta à mesa, puxando uma caneca para si. Olha para a comida com certo desinteresse, mas acaba pegando um pedaço de pão.

"Depois você pode ir embora." Mamãe diz, dando uma mordida. "Eu cuido dela."

Tento ignorar a pontada de preocupação que isso me causa. Claro que ela diz isso agora, mas e se resolver sair de novo e deixar Mel sozinha?

Ela me olha de cima a baixo, os olhos avaliando meu corpo com aquela expressão crítica que conheço tão bem.

"Você está muito magra." Ela comenta, como se estivesse apenas fazendo uma constatação óbvia. "É por isso que ninguém te quer. Homem gosta de ter carne pra pegar."

Meu estômago revira, mas me forço a manter a expressão neutra.

"Não tenho tempo pra comer direito." Murmuro, tentando encerrar o assunto. "Trabalho demais para ajudá-la."

Ela dá de ombros, como se aquilo não fosse problema dela, e continua mastigando o pão. Mel permanece em silêncio, os olhos fixos no prato, tentando não chamar atenção para si mesma.

Eu queria poder falar alguma coisa, dizer à mamãe que ela não tem o direito de me julgar quando mal consegue cuidar da própria filha. Mas o que adiantaria? Sei que ela vai se fazer de vítima ou simplesmente me ignorar.

Então eu apenas me mantenho calada, tentando terminar meu café e fingir que aquelas palavras não me afetaram. Afinal, já estou acostumada com isso. Não é de hoje que mamãe insiste em jogar na minha cara meus "defeitos", segundo ela.

Depois de recolher toda a louça suja, dou um beijo na testa de Mel e me despeço, garantindo que volto para vê-la em breve. Minha mãe está no sofá, parecendo já ter esquecido a conversa anterior. Solto um suspiro e tento ignorar o aperto no peito enquanto saio pela porta da frente. Sua indiferença me faz me sentir mal.

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