IsabellaSeus assessores sugeriram nosso almoço num bom restaurante da cidade que tem um serviço muito rápido. Depois iremos para um debate. Eu ficarei nos bastidores com o olhar de admiração sobre ele como uma mulher apaixonada ficaria. A admiração não é algo difícil de sentir. Luke é o cara. A cada dia cresce esse sentimento em mim. Versátil e conciso nas palavras, inteligente ao extremo, ninguém pega ele com perguntas capciosas. O brilhantismo está sempre em construção com seu alto poder de imprevisibilidade. Agora, quanto ao olhar apaixonado, sem chance. Raed está muito presente no meu coração para que isso possa acontecer.Saímos do restaurante, como faz sol, ele tira os óculos escuros do bolso e os ajusta no nariz. Uma fã vem até nós. Os seguranças tentam impedir, mas Luke faz um gesto para eles permitirem. Ela o olha como se ele fosse um semideus.—Vou votar em você, Luke.Ele sorri e com um gesto de cabeça diz:—Agradeço a confiança.Ela me examina com um olhar de crítica, ta
Estamos na casa do embaixador. Meu peito se aperta, sentindo um vazio que me é familiar. Eu já conheço as festas que ele dá, mas sempre estive presente como a tradutora do sheik Youssef, nunca como convidada principal. E jamais havia estado em sua casa antes.Allah... Cada célula do meu corpo deseja voltar no tempo e nunca ter olhado para Zein. Pior ainda, me arrependo profundamente de ter virado as costas para Raed, sem ao menos conversar com ele. Uma lágrima furtiva escapa, e a limpo rapidamente.Ao meu lado, Luke cumprimenta os membros do gabinete, irradiando confiança. Seu sorriso é uma obra-prima, perfeito e estrategicamente desenhado para cativar. Mas sou imune a ele. Ele me apresenta como sua namorada, e essa mentira me sufoca. Não me sinto bem com isso.Os homens me olham com admiração; as mulheres, com inveja e interesse. Às vezes me pergunto se não teria sido melhor ficar com minha tia, mesmo suportando as expressões de desagrado que ela fazia por eu estar em sua casa.Kate
Raed dá um passo à frente, e a proximidade me deixa tensa. Seu olhar escuro e penetrante é como um julgamento que pesa sobre mim.— Eu? Injusto? Você quer falar de justiça, Isabella? O tempo todo eu forcei situações, fiz de tudo para te conquistar. Levei você ao meu mundo, abri minha vida, minha casa e meu coração para você. E tudo o que recebi foi a sua partida. Sem explicações. Sem chance de lutar por nós.Sinto meu coração apertar com a verdade dura em suas palavras. Tento falar, mas ele não me dá chance.— E agora vejo você aqui, com Luke, sorrindo e sendo admirada. Sim, ele é perfeito para você. Rico, poderoso, do tipo que pode te colocar em um pedestal. É isso que você quer, não é? Ser admirada, invejada, enquanto esconde sua verdadeira essência.— Não! Você não sabe o que eu passei! — grito, sem conseguir mais conter as lágrimas. — Você acha que tudo foi fácil para mim? Que eu simplesmente decidi te deixar? Você não sabe nada!Raed se inclina ligeiramente para frente, e sua voz
Os olhares se cruzam, e, por um instante, o tempo para. Tudo o que consigo ver são os olhos de Raed, cheios de sentimentos contraditórios que espelham os meus.—Olha pra mim. —Ele diz de repente. Eu o encaro, triste.—Sabe que sua expressão contristada não me toca mais.Eu ergo meu rosto e dou com os intensos olhos de Raed. Ele pega a minha cintura e me traz junto a ele. Sinto o cheiro dele, parece uma droga e eu a drogada. Dançamos mais perto agora. Vejo a oportunidade de falar com ele.— Ana uHibbuka! — Digo eu te amo alto, o Ana usamos para confessar nossos sentimentos e todos saberem.Raed me puxa mais e abre meus braços e os fecha. —Ama? Ah, Isabella. Você não sabe o significado de amor.Ele me lança e me puxa, eu digo:—Eu e Luke não é o que está pensando. Eu sou sua namorada de mentira.Raed me afasta, e me olha ofegante então ele ri, um sorriso que não chega aos seus olhos.— Meus parabéns então, pela sua tão brilhante representação. O hábito deve ter aprimorado isso.—Raed.
—O que você pode me dizer neste momento que melhore as coisas entre nós?—Eu te amo.Ele ri, e seu olhar afiado me corta antes que ele abra a porta novamente.—Saia!—Raed!Me aproximo dele, mas ele não desvia os olhos, mantendo a postura firme, com a mão na porta e o queixo erguido.—Saia!Eu o abraço, apoiando minha cabeça em seu peito, sentindo o peso das palavras que não consigo mais segurar.—Por favor.Ele me afasta com firmeza, pegando-me pelos braços.—Não temos volta.Meu coração se aperta, e eu o encaro, os olhos cheios de lágrimas.—Por quê? — sussurro, quase sem acreditar no que está acontecendo.Ele solta uma risada amarga.—Ainda você me pergunta? Felizmente para mim, enxerguei quem você realmente é. Se eu não tivesse vindo para Londres, você estaria muito bem, vivendo sua vida ao lado de Luke.—Eu assinei uma promissória. Eu queria desistir de tudo antes de te ver.—Ah, então é isso? Agora quer que eu pague por você?—Não. Luke me liberou.Raed solta uma risada amarga,
Raed me encara, seu olhar como uma lâmina, cortando o que resta da minha dignidade. Ele cruza os braços, imponente e cruel, sem dizer uma palavra. O silêncio entre nós é pesado, sufocante.Eu caminho em direção à porta com a cabeça erguida, mas o peso das lágrimas ameaçando cair torna difícil manter a compostura. Quando minha mão toca a maçaneta, sinto sua voz atrás de mim, gelada e cortante:— Não volte.Paro por um segundo, meu coração implorando por qualquer sinal de que ele ainda se importe, mas eu sei que qualquer coisa que ele disser agora só vai me ferir ainda mais. Sem olhar para trás, abro a porta e saio.No corredor, a porta se fecha com força atrás de mim, um som que ecoa como o final de algo que não sei se algum dia poderá ser reconstruído. Respiro fundo, tentando me recompor, mas meu corpo treme.O elevador parece demorar uma eternidade para chegar, e quando finalmente entro, me vejo sozinha. Assim que as portas se fecham, a máscara de força que eu mantinha cai, e as lágr
Desligo o telefone com as mãos trêmulas, o coração batendo como se quisesse sair do meu peito. O mundo ao meu redor parece girar, e por um momento, sinto como se o chão fosse desaparecer sob meus pés.Isabella... Minha Isabella...A imagem dela saindo do quarto, destruída, com lágrimas nos olhos e segurando a alça rasgada do vestido, toma conta da minha mente. E agora, ela está lutando pela vida? Tudo por que eu não consegui controlar meu orgulho?Pego meu casaco apressadamente e desço para o saguão do hotel, cada passo mais rápido que o outro. Minhas mãos ainda tremem enquanto peço ao recepcionista para chamar um táxi. A espera é insuportável, mas logo o carro chega, e entro quase correndo.— Hospital São Marcos, o mais rápido que puder! — ordeno ao motorista.A viagem parece uma eternidade. Cada segundo perdido me consome, como se eu pudesse ouvir os ponteiros do relógio contando o tempo que resta. Tento controlar a respiração, mas minha mente está repleta de cenários horríveis. E s
IsabellaSinto uma leve pressão na minha mão, e, mesmo adormecida, isso me traz uma sensação de calor. Como se, no meio desse vazio em que me encontro, houvesse algo firme, algo real.Aquele homem... Raed. Seu nome ecoa na minha mente como uma melodia distante. Não sei quem ele é, mas, de alguma forma, sinto que posso confiar nele.Por que não consigo me lembrar? Por que minha mente está tão em branco, mas meu coração reage ao som da voz dele, ao toque suave de suas mãos?Mesmo sem respostas, me agarro a essa sensação. Por enquanto, é tudo o que tenho.RaedA madrugada passa lentamente. Não consigo sair de perto dela, mesmo quando as enfermeiras insistem que eu deveria descansar. Como posso descansar enquanto ela está aqui, lutando para se lembrar de quem é? De quem somos?Com o amanhecer, o médico entra no quarto, interrompendo meus pensamentos. Ele examina Isabella com cuidado enquanto faço perguntas rápidas, tentando controlar a ansiedade.— A perda de memória é comum em casos de t