OliverEu estava sentado em meu escritório, olhando fixamente para o copo de uísque em minhas mãos, algo incomum para aquela hora da manhã. O calor da bebida deveria me trazer conforto, mas, ao invés disso, havia uma inquietação que não conseguia dissipar.Layla.A filha de uma cortesã, uma jovem que carregava a sofisticação de uma dama, mas também a força de alguém que havia crescido enfrentando o mundo com as próprias mãos. Ela era tudo que eu não esperava encontrar. Eu sabia que devia deixá-la em paz, seguir com a vida que sempre conheci: festas, jogos, mulheres fáceis e uma rotina de diversão despreocupada. Mas ela era diferente, e isso era ao mesmo tempo intrigante e insuportável.— Senhor, a senhorita Evelyn está aqui para vê-lo — informou meu mordomo, interrompendo meus pensamentos.Suspirei e coloquei o copo na mesa. Evelyn era uma das debutantes mais cobiçadas da temporada e, segundo minha mãe, a esposa perfeita para alguém como eu. Claro que eu discordava completamente, mas
LaylaO som abafado dos saltos contra o piso de madeira ecoava pelo salão principal da mansão Blackwood. Layla segurava a respiração, seus olhos fixos no chão enquanto tentava evitar os olhares altivos que recaíam sobre ela. Não era novidade ser o centro de comentários maliciosos, mas hoje, havia algo particularmente cruel nos sussurros.— Vejam só, é ela... A filha da cortesã, andando como se tivesse nascido para isso. — A voz sibilante de Lady Winstone soou próxima o suficiente para que Layla ouvisse.Layla ergueu o queixo, recusando-se a demonstrar fraqueza. Desde pequena, sua mãe lhe ensinara que palavras cortantes só tinham o poder de ferir se ela permitisse. Contudo, naquela noite, a presença imponente de Oliver Blackwood, filho do duque, tornava tudo mais difícil. Ele estava encostado na lareira, o semblante calmo, mas os olhos atentos, como se pudesse sentir o desconforto dela mesmo de longe."Por que ele tem que estar em todos os lugares?" Layla pensou, forçando-se a manter
Oliver Blackwood nunca teve problemas para lidar com as pessoas. Com uma combinação de charme e sarcasmo afiado, ele navegava pela alta sociedade como um peixe na água. Mas algo em Layla mexia com ele de um jeito que ele não sabia explicar.Enquanto caminhava pelas ruas do centro da cidade naquela manhã, ele refletia sobre os últimos encontros com ela. Havia algo diferente em Layla, algo que o atraía e o desconcertava ao mesmo tempo. Ela não se intimidava com suas provocações, nem se impressionava com seu título ou riqueza. Era refrescante e, ao mesmo tempo, exasperante.“Por que diabos ela está na minha cabeça?”, Oliver se perguntou, passando a mão pelos cabelos.— Oliver, meu caro amigo!A voz familiar de Aiden, seu amigo de infância e agora cunhado, interrompeu seus pensamentos. Oliver ergueu o olhar e viu Aiden aproximando-se com um sorriso no rosto.— Aiden, o que faz aqui tão cedo? Não deveria estar em casa com Jasmine?— Jasmine está organizando um chá com as damas da vizinhanç
Sophie Al-FayezA luz filtrava-se pela grande janela do salão, criando padrões dourados no chão de mármore polido. O aroma de chá de hortelã e pétalas de rosas perfumava o ambiente, misturando-se ao som abafado das conversas femininas que ecoavam à distância. Minhas irmãs, lindas e sempre risonhas, preparavam-se para mais uma tarde de visitas.Sentada em um canto discreto, puxei a agulha com cuidado, guiando o fio de seda pelo delicado tecido em minhas mãos. Bordar era uma das poucas tarefas em que eu ainda conseguia me destacar. Embora minha visão não fosse nítida, eu sabia sentir a textura e os contornos, confiando mais nas mãos do que nos olhos.– Sophie, querida, você deveria vir conosco hoje – sugeriu Yasmina, minha irmã mais jovem, ajeitando um broche no vestido creme. – Mamãe sempre diz que precisamos nos exibir, ou nunca encontraremos um bom pretendente.Se ela notou a ironia no próprio comentário, disfarçou bem. A verdade, no entanto, era óbvia: enquanto Yasmina e as outras e
Collin BlackwoodO estalo das rodas da carruagem contra as pedras da estrada era um som monótono, mas reconfortante. Para alguns, poderia ser um lembrete da vida seguindo seu curso. Para mim, era apenas mais um ruído no silêncio constante que minha mente parecia impor. As cicatrizes em meu rosto ardiam levemente, uma lembrança constante da explosão que quase tirou minha vida durante a guerra."Herói de Bath", era como alguns insistiam em me chamar. Um título vazio que apenas mascarava a verdade: eu era um homem partido, tanto física quanto emocionalmente. As queimaduras não apenas desfiguraram meu rosto, mas também enterraram qualquer chance de viver uma vida normal.Agora, eu precisava de uma esposa.Era um pensamento amargo, mas inevitável. Sem um herdeiro, meu título e terras poderiam ser contestados, e eu não suportava a ideia de que tudo pelo qual minha família lutou fosse perdido. Assim, permiti que meu fiel amigo e conselheiro, Richard, organizasse um jantar naquela noite, conv
Sophie Al-FayezDesde a visita de Collin Blackwood, havia uma inquietação em minha mente, algo que eu não conseguia afastar, mesmo enquanto cuidava das tarefas do dia. Minha família parecia ainda mais animada do que o normal, como se a simples presença do conde tivesse iluminado a atmosfera da casa.Minhas irmãs, em particular, não paravam de comentar sobre ele.– Você viu como ele olhou para mim, Yasmin? – comentou Amal enquanto ajustava um broche de pérolas na gola do vestido.– Ele mal te olhou, Amal. Estava ocupado demais admirando minha nova pulseira – rebateu Yasmin, fazendo todas as outras rirem.Elas eram lindas, minhas irmãs, com seus traços finos e personalidades vibrantes. Eu as amava, mas não podia deixar de sentir que havia uma linha invisível que me separava delas. Não era apenas minha visão limitada que me fazia diferente, mas também o modo como eu enxergava o mundo.Enquanto elas sonhavam com romances grandiosos e vestidos luxuosos, eu me contentava com a simplicidade
Collin BlackwoodOs dias que se seguiram ao aceite de Sophie foram um turbilhão de preparativos. Não para o casamento em si – isso seria uma cerimônia modesta, dada a natureza pragmática de nossa união –, mas para ajustar minha vida à ideia de ter uma esposa.Desde meu retorno da guerra, minha casa havia se tornado um reflexo de mim: sombria, silenciosa e funcional. Não havia flores no jardim, nem risadas ecoando pelos corredores. E agora, em poucos dias, eu teria alguém ao meu lado, alguém com quem dividir esses espaços vazios.Meu administrador, Thomas, entrou no escritório com um monte de papéis.– Precisamos revisar os contratos para a união – disse ele, colocando os documentos sobre a mesa.– Contratos? – perguntei, arqueando uma sobrancelha.– Sim, senhor. É necessário estabelecer os termos. Especialmente porque a senhorita Al-Fayez vem de uma família mercante influente.Suspirei, esfregando o rosto.– Eu não quero que este casamento se torne uma transação comercial.Thomas me o
Sophie Al-Fayez BlackwoodA viagem até Blackwood Hall parecia interminável. Sentada ao lado de Collin, percebia cada solavanco da carruagem e o barulho incessante das rodas contra o chão de terra. Apesar da beleza das paisagens britânicas, minha mente estava longe dali.Por mais que eu tentasse me preparar, nada poderia suavizar o peso do que eu estava deixando para trás: minha família, minha vida em Londres, e até a liberdade que, por mais limitada que fosse, eu tinha como mulher solteira. Agora, como Lady Blackwood, eu teria responsabilidades que ainda não compreendia totalmente.Collin estava ao meu lado, mas era como se estivéssemos a mundos de distância. Ele não era um homem de palavras desnecessárias, e seu silêncio parecia enraizado tanto na formalidade quanto em algo mais profundo que eu ainda não entendia.– Está confortável? – ele perguntou de repente, sua voz grave quebrando o silêncio.Virei-me para ele, surpresa com a gentileza inesperada.– Estou, obrigada.Não era verda