Eu estava adentrando o quarto de Aurora, ela estava com os olhos fechados e inchados, me aproximei devagar, pensando que ela poderia estar dormindo. — Quem está aí? — Perguntou com a voz embargada. — Sou eu, Oliver. Me aproximei e toquei sua mão. — Eu não consigo abrir meus olhos. — Tudo bem, não precisa se esforçar. Os olhos dela estavam muito roxos, meu peito chegou a doer de tanta pena. Ela era uma pessoa tão doce, não merecia passar por algo assim na vida. — Oliver. — Apertou minha mão. — Obrigada pelo que fez por mim, se você não tivesse chegado naquele momento. — Logo uma lágrima desceu de seus olhos. — Eu não sei o que teria acontecido. — Ei, não pense mais nisso, tudo bem? Você está aqui e ficará tudo bem agora. — Não me deixa aqui sozinha, por favor. — Eu não vou a lugar algum. — Tinha um homem com ele, esse homem trabalha aqui, eu estou com medo, ele é primo do Sandro. — Primo? — Isso explicava algo. — Não se preocupe, ele também está preso. Não fica assim não, tu
Haviam se passado três dias após aquele horrível ocorrido, meus olhos ainda estavam inchados, mas conseguia abrir um pouquinho, meu corpo ainda estava dolorido, e havia hematomas por todo lado. Ainda me sinto mal, quando me lembro do Sandro, de suas agressões e de sua falta de pudor, me arrepio e chego a me desesperar. Mas quando me lembro de Oliver chegando e tirando aquele mostro de cima de mim, na hora em que ele tentaria me violar, eu me sinto aliviada, a psicóloga que está me acompanhando pediu que só pensasse nas coisas positivas, e estou focando nisso. Denise veio para a capital e está cuidando de Noah, ela tem sido minha companheira de todas as horas, me fazendo rir e esquecer as coisas ruins. A enfermeira que está cuidando de mim se chama Sara, ela já tem 45 anos e é muito prestativa também, tem sido maravilhosa, e quando nós três nos juntamos no quarto, só saem gargalhadas. Oliver, tem sido um amor comigo, eu não tenho palavras para expressar minha gratidão, por ele mov
— O quê? — Perguntei desacreditada. — Espera, antes de dar seu show, me deixe falar! — Era inacreditável. — Olha só para você, Aurora, está vivendo bem, morando numa mansão, passando férias na praia e transando com um homem podre de rico. — Mãe! — Tentava falar. — E eu? O que eu tenho? — Começou a chorar. — Primeiro, quando seu pai morreu me deixou sozinha cuidando de você, eu vivi como uma cachorra para não te deixar passar fome. — Mãe, pelo amor de Deus, são coisas totalmente diferentes. — Não, não são! — Gritou — Se o Sandro for preso, eu vou voltar de novo para a estaca 0, com uma criança para me responsabilizar, perderei o emprego, porque você sabe que estou lá graças a ele. Como manterei a casa? Como pagarei a escola da Alice? — Gritava histérica. — Para de gritar, mãe. Alice se assustou com os gritos e correu para ver o que era e, para minha surpresa, ela correu para os meus braços, assustada! — Você já está tendo a vida que sonhou, então pensa bem, se não for por mim, p
O preguiçoso do Noah já havia dormido outra vez, Denise estava sentada na varanda do quarto e eu fui ficar com ela. — O que está pensando, Denise? — Perguntei, porque ela estava com os olhos fixos no horizonte. — Nada, sabe? — Levantou-se e olhou para o mar. — Acredita em destino, Aurora? Sua pergunta me pegou de surpresa, eu não sabia o que responder. — Sei lá! — Me sentei. — Acredito em Deus e que ele tem propósitos nas nossas vidas, então acho que algumas pessoas chamam isso de destino, não é? — Eu acredito, sabe? — Se sentou ao meu lado. — Acho que tem pessoas que tem o destino traçado com outras, que aparecem no lugar certo e na hora certa. — Por que você fala isso? — Olha só para você, saiu fugida de casa, pegou a estrada a pé e apareceu assim de repente na fazenda, bem na hora em que o patrão precisaria de alguém para cuidar do Noah. — Se eu te contar uma coisa, sua teoria da conspiração vai crescer. — O quê? Não acredito que esconde algo de mim, dona Aurora! — Me adver
O dia do julgamento havia chegado. Eu estava bem melhor, e os roxos já estavam mais claros em minha pele, mas não haviam desaparecido ainda. Estava feliz porque Oliver e Saulo cuidaram tanto desse caso, que fez o julgamento acontecer tão rápido. — Que tal uma maquiagem no rosto? — Denise perguntou. — Nem pensar, Denise, quero que todos vejam o que aquele sem escrúpulos fez comigo. — Sua mãe te procurou de novo? — Não, não tive mais notícias dela. — Você está tensa? — Um pouco, mas estou confiante que Sandro pegue uma boa pena, estou apenas preocupada com o destino de minha irmã. — Se sua mãe não quiser a responsabilidade de cuidar dela, você pede a guarda. — Como eu queria isso, Denise, mas em que lugar vou criá-la, se moro no meu emprego e cuido de Noah em tempo integral? — O senhor Oliver não faria questão disso, tenho certeza. — Já chega das suas ideias absurdas, Denise, eu já causei problemas demais, não colocaria mais um para a conta do Oliver. — Não estou te dando idei
— Aurora! A voz de Saulo, me chamando fora do fórum, me fez voltar ao mundo real. — Oi… — Que resultado tivemos, hein? Esta vitória deve ser comemorada! — O Oliver me disse que sairíamos para comer fora depois do julgamento. — Ah, foi? — Fez cara de dúvida. — Estranho, ele deve ter se esquecido, porque já foi embora e pediu que eu te levasse para casa. — Ah… — Me senti um pouco mal, por termos uma conversa pendente. — Então vamos para casa, lá o encontramos. — Bem, acho que você não entendeu, ele voltou para a fazenda. — Mas, o que houve? — Bem, ele não fica muito tempo longe da fazenda, acho que você sabe disso e após o seu caso ter sido resolvido, ele disse que iria, por ter muito trabalho acumulado. — É verdade. O Oliver deixou muita coisa de lado para me ajudar, eu sempre serei grata a ele. — Parece que ficou um pouco triste. — Impressão sua, senhor. — Bem, como o Oliver não está aqui, vamos fazer assim, nós dois comemoraremos. Vamos comer algo antes de voltar para cas
Chegamos à fazenda, desarrumei minha mala e almocei. Após ir para o quarto com Denise, começamos a conversar quando Oliver bateu na porta. Eu ainda não havia visto-o depois do julgamento, nem nos falamos de nenhum modo, ele estava sério. — Boa tarde! — Boa tarde, senhor. — Respondemos. — Aurora, como você está se sentindo? — Muito bem, graças a Deus. — Então, já que está tudo bem, você volta a cuidar do Noah e Denise, você volta para seus afazeres. Falou e saiu do quarto, e nós nos entreolhamos sem entender nada. — O que será que aconteceu? — Denise começou. — Não sei, ele deve estar nervoso e com serviço acumulado. — Até parece que voltou a ser o ranzinza de antes, eu hein! Voltarei para a cozinha, antes que ele volte aqui. Denise deu um beijo em Noah e saiu do quarto, e eu fiquei pensando no porquê dele estar tão sério, parecia estar com o mesmo semblante de quando o conheci. […] Os dias se passaram rápido. Não via Oliver em casa de modo algum, até dormir com Noah, ele h
— Mas que merda é essa? — Saulo começou a falar irritado. — Do que você está falando? — Não entendia o que ele falava. — Por que a Aurora está vestida daquele jeito? — Ah, disso que você está falando? — Saulo me olhava desacreditado, como se fosse a última coisa da vida, a Aurora estar vestida num uniforme. — Ela está vestida a caráter, ué, ela não veio passear, veio trabalhar. — Pelo amor de Deus, Oliver, você nunca exigiu que ela vestisse uniforme em casa, agora numa festa dessas com todo mundo arrumado, você a faz passar por isso. Que constrangedor! — Desde quando é constrangedor trabalhar? — Eu não estou questionando o trabalho, nem o uso do uniforme, mas, para alguém que nunca exigiu, fazê-la usar numa ocasião dessas. Olha ao nosso redor, veja como todos estão vestidos, como você acha que ela está se sentindo? — Não a vi, em momento algum, questionar ou fazer cara feia. — O que está acontecendo, cara? Tem alguma coisa que eu não estou sabendo? — Não tem nada acontecendo,