Já passa das oito quando Rafaela finalmente sai do trabalho, exausta e enfurecida com seu novo chefe.
Em apenas um dia, consegue se estressar o suficiente para a semana inteira.
Ao chegar em seu apartamento, encontra sua amiga Kate, toda arrumada e esperando por ela.
— Isso são horas de chegar? — pergunta Kate, com um tom de brincadeira.
— Você não tem ideia do que aconteceu — Rafaela suspira, jogando a bolsa no sofá. — Me transferiram de setor e agora sou a nova secretária do novo diretor.
— O gostosão? — Kate pergunta, empolgada.
— O diabão, isso sim — Rafaela responde, revirando os olhos. — No meu primeiro dia, ele já me fez trabalhar até essa hora.
— Isso é normal, amiga. Amanhã terá uma recepção para ele na empresa. Estou louca para vê-lo pessoalmente. Todo mundo diz que ele é um pedaço de mal caminho. Me conta, é verdade?
Kate também trabalha na mesma empresa que Rafaela, mas em um setor diferente.
— Eu não sei, nem vi o rosto dele — Rafaela revela, balançando a cabeça.
— Como assim?
— Acredite se quiser, durante o dia inteiro, ele me dava ordens enquanto estava sentado de costas naquela cadeira enorme.
— Mentira! Amiga, estou chocada — Kate diz, usando uma expressão brasileira que aprendeu com Rafaela. — Será que ele está fazendo todo esse mistério só para se revelar amanhã?
— Eu não sei e, para ser honesta, nem quero saber. Estou exausta e só quero dormir.
— Nada disso! Vá tomar um banho e se arrumar, preciso que você me acompanhe em um lugar — Kate diz, animada.
— Não inventa, amiga. Já te disse que odeio sair no meio da semana.
— Eu sei, mas acabei marcando um encontro com um médico lindo, só que ele vai estar de plantão no fim de semana, então só podemos nos ver hoje.
— Não dava para esperar? E por que você quer que eu te acompanhe em um date?
— Porque vamos nos encontrar em um bar e ele disse que levará um amigo.
— Ah, não… Hoje não quero conhecer ninguém. Meu humor está péssimo — Rafaela tenta se esquivar.
— Não é você que vive dizendo que precisa encontrar um namorado? Vamos, Rafa, não me abandone. Quero muito conhecer esse médico, mas só vou se você for comigo.
— Está bem, vou só pelo apoio moral — cede Rafaela, sabendo que Kate insistiria até que ela aceitasse.
Já arrumadas e prontas para sair, elas pegam um táxi e vão para o bar do Paradise Club, um dos lugares mais badalados próximos à Times Square. O local está levemente iluminado e com poucas pessoas naquele momento.
— Daniel? — Kate saúda um homem alto, que está em uma das pequenas mesas do bar. — Olá, Kate, que bom que você veio — eles se cumprimentam, e Rafaela já começa a sentir que está sobrando ali.
No final, ela realmente está. O amigo de Daniel não aparece e ele não conta a Kate, com medo de que ela desistisse do encontro.
— Vocês podem conversar à vontade, vou pedir um drink ali no balcão — diz Rafaela, sabendo que a última coisa que quer é terminar a noite como vela.
Ela se senta em um banco no balcão e pede um Dry Martini. Bebendo o primeiro drink, logo pede outro.
Ao perceber que a amiga está feliz conversando com o tal médico, decide que ficará ali para lhe dar apoio. A música alta começa a tocar e o local se enche de movimento. Enquanto bebe seu segundo drink, um homem alto, usando uma camisa social branca, senta-se ao seu lado.
— Parece bem empolgada com a bebida — o homem comenta.
Rafaela olha para o estranho ao seu lado e quase desmaia ao perceber o quanto ele é lindo. Cabelos pretos lisos, penteados para trás, barba feita e um nariz reto, típico de um deus grego.
— Um deus grego — sussurra ela.
— O quê? — ele pergunta, sem entender o que ela disse.
— Muito lindo. Mais lindo que o Tácio — ela continua, sentindo-se atraída pelo homem. — Melhor que o Tácio, na verdade, já que ele nem era tão alto assim.
— Você está me comparando com alguém? — ele pergunta, confuso.
— Não, não estou. Você é bonito demais para qualquer tipo de comparação.
— Você é bem direta, não é mesmo?
— Só quando quero muito algo — revela Rafaela, com um sorriso.
— E o que você está querendo agora? — o homem de voz inebriante pergunta, olhando-a nos olhos.
— Quero seu telefone — diz ela, sorrindo, achando engraçado o fato de estar dando em cima de alguém.
— Eu não dou meu telefone para estranhos — ele responde, com um sorriso no canto dos lábios.
— Eu não quero ser uma estranha, mas não posso te conhecer melhor hoje — diz ela, fazendo um pequeno bico, lembrando-se de que precisa trabalhar cedo no dia seguinte. — Tenho que encarar o diabo amanhã — resmunga, mas o homem a ouve.
— Parece que está falando muitas coisas sem sentido.
— Claro que não estou — responde Rafaela. — Estou bem sóbria, só estou bebendo para relaxar um pouco. Meu dia foi péssimo e amanhã parece que será pior.
— Você quer desabafar? — ele pergunta, curioso.
— Não, eu não quero. Não vou contar a ninguém que estou trabalhando para um chefe estranho que não gosta de animais nem de crianças — ela resmunga. — Quem não gosta desse tipo de coisa?
— Você parece bem interessante — ele ri. — Que pena que não podemos nos conhecer melhor.
Rafaela arregala os olhos, encarando o belo estranho à sua frente. Sua aparência é de tirar o fôlego, e Tácio não chegaria nem aos pés dele.
Com olhos azuis intensos, ele a olha de uma maneira que a deixa completamente atraída.
— Eu quero te conhecer… — revela, sem pensar.
O homem, sem perder tempo, a convida para saírem dali e irem para um lugar mais tranquilo. Como não tem grandes expectativas para o dia seguinte, ela aceita.
Eles seguem juntos até o elevador do Paradise Hotel e sobem para um dos quartos. É ali que Rafaela vive uma noite intensa, como jamais imaginou.
[…]
Rafaela acorda com o barulho do telefone tocando. Ainda confusa, sem reconhecer o lugar, precisa de alguns segundos para lembrar como foi parar ali.
Ela se lembra do homem alto, musculoso, lindo e incrível na cama.
— Onde ele foi? — se pergunta, ao perceber que o estranho se foi, deixando-a sozinha.
O telefone continua tocando sem parar.
— Quem é? — atende, sem olhar o número na tela.
— Está atrasada! — uma voz grave diz do outro lado. A voz de Ethan Smith a assusta. Como ele sabe o número do seu telefone?
— Senhor Smith? — pergunta, confusa.
— Faltam apenas vinte minutos para começarem a minha cerimônia de posse da diretoria, e a minha secretária não está aqui. Quer ser demitida?
— Eu já estou indo — responde, mas ele já desligou o telefone.
Dando um pulo da cama, veste a roupa da noite anterior e sai do hotel, desesperada. Além de não saber o nome do “deus grego” com quem passou a noite e nem ter conseguido o telefone dele, está uma hora e meia atrasada.
Chegando à empresa, corre para o salão de eventos, onde o diretor será apresentado aos funcionários.
— Onde você estava? — Kate se aproxima, notando que a amiga ainda veste a mesma roupa da noite passada.
— Conheci um cara lindo, mas acabei perdendo a hora e agora sinto que estou encrencada — sussurra Rafaela, sentando-se no auditório do salão, rodeada por várias pessoas.
— Falando em um cara lindo, se prepara para ver o rosto do seu novo chefe. Eu já estou apaixonada por ele — Kate diz, sorrindo empolgada.
Antes que Rafaela possa responder, o CEO da empresa começa a falar ao microfone, expressando sua felicidade por ter o filho, que chegou do exterior, trabalhando na empresa.
— Quero que todos conheçam o meu primogênito, Ethan Smith. Um homem alto, usando um terno preto de linho, com cabelos penteados para trás, aparece.
— Amiga, eu estou ferrada — diz Rafaela, ao perceber que Ethan Smith é o mesmo homem com quem passou a noite.