Depois da conversa que teve com Ethan, os dois nunca mais tocaram naquele assunto, e tudo parecia estar fluindo naturalmente. Já haviam se passado duas semanas desde que ela começou a trabalhar como secretária dele, e nesse período, só precisou encontrá-lo três vezes, cada uma delas resultando em uma irritação mútua.
O telefone em sua mesa começa a tocar, e Rafaela atende educadamente.
— Oi, Rafa, sou eu, Kate. Só liguei para te lembrar que amanhã cedo você tem alguns exames para a mudança de contrato.
— Tudo bem. Mas por que resolveu me avisar agora? Não podíamos conversar depois do trabalho? — responde, ligeiramente confusa.
— Eu não vou para casa hoje. Aquele médico lindo com quem saí outro dia disse que vai me buscar para jantar, então não me espere tão cedo — Kate diz, claramente empolgada.
— Que inveja, amiga… — Rafaela suspira, sua voz é tingida de melancolia. — Tudo que eu queria era que alguém me chamasse e me levasse para jantar.
— Não seja tão pessimista, Rafa. Você vai encontrar o amor da sua vida logo, logo — diz Kate, tentando animá-la.
— Já estou começando a achar que não tenho sorte para essas coisas — Rafaela comenta, com um toque de desânimo em suas palavras.
— Não desista! — Kate insiste, com a energia que sempre a caracteriza. — Agora, preciso desligar, ainda tenho algumas coisas para terminar antes de sair.
Quando a ligação termina, Rafaela suspira novamente. Apesar de estar feliz por Kate, sente-se triste pelo fato de sua própria vida amorosa parecer estagnada. Às vezes, ela se lembra de Tácio e do que ele disse na última vez em que se viram.
“Isso não é um adeus,” ele disse. Mas, desde então, ele nunca a procurou.
Já fazia quase dois anos que ela morava nos Estados Unidos, e ele nunca enviou sequer uma mensagem.
— Você ouviu o que eu disse? — A voz de Ethan ecoa em seus ouvidos, fazendo-a despertar de seus pensamentos.
— O quê? — Ela pergunta, confusa, sem perceber que ele estava ali.
— Eu disse que amanhã pela manhã terei uma reunião com a nova construtora. Preciso que me passe a relação de todos os contratos que temos com eles.
— Tudo bem, eu vou enviar por e-mail.
— Não precisa. Amanhã pela manhã, quero que me entregue um resumo pessoalmente — ele diz, antes de voltar para sua sala.
— Senhor! — Rafaela o chama, hesitante.
— O que foi?
— Amanhã pela manhã farei os exames a pedido da empresa, por isso chegarei um pouco mais tarde.
— Então me faça um resumo agora — Ethan responde, entrando no escritório e fechando a porta com um estalo.
Faltavam apenas 15 minutos para o fim do expediente, e Rafaela sentia uma fome imensa. Mesmo assim, ela pega os documentos necessários e leva até a sala do chefe.
— Aqui está — diz, entregando os papéis a Ethan, que os analisa com seriedade.
Enquanto ele lê, Rafaela não consegue evitar reparar o quanto ele é atraente.
— Algo insignificante… — Ethan murmura, quase para si.
— O que disse, senhor? — Rafaela pergunta, sem entender.
— Você disse que foi insignificante — ele repete, levantando os olhos para ela.
— Mas eu não disse nada — responde, confusa, sem saber do que ele está falando.
— Eu não queria, mas acabei pensando no que você disse sobre a noite que passamos juntos — Ethan revela, com um olhar intenso.
“Por que ele está trazendo isso à tona novamente?” Rafaela se pergunta.
— O que o senhor quer, relembrando disso? — ela pergunta, mantendo a voz firme, sem deixar transparecer o nervosismo.
— Porque o jeito como você falou realmente me fez refletir. Nenhuma mulher jamais teve a coragem de dizer que passar uma noite comigo foi insignificante — ele confessa, com uma leve sombra de abalo passando por seu rosto.
— Isso parece ter realmente mexido com o senhor — Rafaela provoca, com um sorriso sutil.
— Claro que não! — Ethan responde rapidamente, mas sua expressão sugere o contrário.
— Eu nunca tive a intenção de ofendê-lo — ela continua, tentando manter a compostura.
— Fique sabendo que muitas mulheres fariam qualquer coisa para passar uma noite comigo — Ethan declara, visivelmente incomodado.
Rafaela percebe que suas palavras o afetaram mais do que ele quer admitir, mas mantém a calma.
— Que bom que o senhor é tão disputado. Isso significa que não vai se importar com o que uma simples pessoa como eu pensa — ela diz, sem querer prolongar a conversa. Tudo que deseja naquele momento é ir para casa e comer algo.
— Claro que não me importo! — Ethan se levanta, sua frustração é evidente. — Você nem é o tipo de mulher com quem costumo me envolver, então não ache que sua opinião tem importância.
— Mas eu não acho — responde Rafaela, sem se abalar.
Por mais que Ethan tentasse desdenhar, ela não se sentia insegura em relação à sua aparência. Com seus 1,65 m, cabelos pretos longos e lisos, e olhos verdejantes, ela sabia que ele não poderia chamá-la de feia.
— Eu só saí com você porque achei que você merecia aprender uma lição sobre não sair falando mal de quem paga o seu salário — Ethan continua, como se tentasse justificar sua atitude.
— Sim, eu sei. O senhor já me disse isso — responde calmamente.
Ethan percebe que suas palavras não estão surtindo o efeito desejado. Ele esperava que Rafaela ficasse nervosa, ofendida, mas, ao contrário, ela parecia quase se divertir com a situação.
— Então, não tente se gabar por aí, só porque ficou com o diretor da empresa — Ethan insiste, na esperança de afetá-la de alguma forma.
— Mas eu nunca me gabei — Rafaela retruca, sabendo que Kate jamais contaria a ninguém. — Ao contrário, isso seria vergonhoso para mim.
— Vergonhoso? — Ethan arqueia uma sobrancelha, intrigado.
— Sim, uma mera funcionária como eu se envolver com um homem tão importante quanto o senhor seria muito vergonhoso. Todos diriam que andei me insinuando para o senhor.
— Isso mesmo! — Ethan concorda, tentando manter o controle da situação.
— Exatamente — Rafaela responde, ainda calma. — Mas não se preocupe, senhor. Eu não causaria esse tipo de transtorno na empresa. Como disse, se o senhor não tivesse tocado no assunto, eu jamais o teria mencionado.
Vendo que Rafaela não parecia minimamente ofendida, Ethan pede que ela se retire.
— Pode ir agora. Preciso analisar esses documentos antes de sair. Tenho um encontro com uma mulher importante esta noite — diz ele, com um toque de desafio na voz.
Rafaela apenas assente e sai da sala, deixando Ethan visivelmente irritado.
Quando finalmente sai do escritório, Rafaela percebe que suas mãos estão tremendo e que uma vontade incontrolável de chorar a invade.
— Por que ele teve que repetir essas coisas? — murmura para si mesma, tentando conter as lágrimas.
[…]
No dia seguinte, Rafaela vai ao hospital conveniado para realizar os exames necessários para sua nova função. Para sua surpresa, o processo é rápido e ela logo pode voltar ao trabalho.
O dia passa voando, e no final da tarde, enquanto tira algumas cópias de documentos, ela acaba se deparando com Kate, que está saindo do elevador.
— O que você está fazendo aqui? — Rafaela pergunta, surpresa, já que Kate trabalha em um setor distante daquele andar.
— Amiga, eu precisava te ver pessoalmente — diz Kate, com um semblante preocupado.
— Aconteceu alguma coisa? — Rafaela pergunta, começando a ficar ansiosa.
— Alguns dos seus exames chegaram… — Kate responde, hesitante.
— O que houve? — Rafaela sente o coração acelerar.
— Rafa, eu nem sei como te dizer isso… — Kate toca o ombro da amiga, tentando encontrar as palavras certas. — Você está grávida.
Os olhos de Rafaela se arregalam com a revelação. Kate, normalmente uma brincalhona, não parece estar brincando desta vez.
Não pode ser… pensa Rafaela, sentindo o pânico crescer. O único homem com quem se relacionou recentemente foi Ethan, e eles tomaram precauções. Mesmo sabendo que nenhum método contraceptivo é 100% seguro, a ideia de estar grávida de alguém com quem ela não tem nenhum vínculo emocional — e que ainda por cima não gosta de crianças — parece simplesmente inacreditável.