Vinte quatro anos atrás...
Existia uma frase que era muito conhecida no povo do norte; “As situações que eram colocadas nos nossos caminhos, sempre tinham um propósito”. Susana nunca havia entendido o real significado daquela frase até o destino do mundo ser posto em suas mãos quando ela tinha apenas sete anos de idade. Vinda de uma família rica de Aldova, Susana era precedida de títulos e honrarias, tendo em vista que era filha única e prometida do futuro rei desde que nascera.Susana sempre fora reservada e muito tímida, e por isso quase nunca era vista em festas ou comemorações familiares que seus pais ofereciam, ou até mesmo o rei. Estando quase sempre na companhia de um bom livro, ela gostava de ficar sozinha na estufa da família para ler em paz. A jovem sempre fora adepta a uma imaginação fértil, por isso quando foi surpreendida por um homem de cabelos vermelhos lhe dizendo que ela um dia iria conceber a semente proibida dos deuses, sua primeira reação foi o fascínio.A mudança é uma constante, todos deveriam ter plena ciência daquele fato. Como a imperatriz de um grande e poderoso império, Calía tinha plena ciência de suas responsabilidades. Tudo o que ela fazia refletia direta ou indiretamente no seu reinado, na sua conduta como senhora do fogo. As coisas que ela dizia era lei, as roupas que ela vestia se tornavam moda, as coisas que ela fazia se tornavam algo que deveria ser seguido, tudo nela era refletido em seus súditos.Como o pai dela Maxon, ela almejava guerras, almejava mais e mais poder, sua linhagem era precedida pelo sucesso em batalhas, e ela não iria começar a desapontar naquele momento.— Relatório sobre os acontecimentos recentes. — Calía indaga altiva aos seus conselheiros sentados em volta de uma grande mesa dourada.Cassius estava feliz em ver que sua senhora finalmente havia voltado ao normal, pois as coisas geralmente não iriam bem sem ela no comando.— Depois da fuga do prisioneiro bárbaro e da traidora do norte
Vários dias depois...Existia o dia antes da batalha que o chanceler poderia descrever como o dia em que tudo ainda podia mudar. Quando Cassius tinha quatorze anos ele viu seu pai lhe dizer que a vida era boa, e no dia seguinte vê-lo morto com uma corda no pescoço, ele nunca acreditou que a vida podia ser fácil, mas ver seu pai desistindo dela foi o ápice para que ele nunca desejasse ser daquela forma.Quando foi designado para o cargo de chanceler, braço direito da recém coroada imperatriz Calía Vatra Le Fer, ele não tinha a fé que ele esperou ter ao vê-la pela primeira vez, ele esperou sentir que quando estivesse diante dela tudo seria o ápice da grandeza, pois como uma mulher ela seria mais sensível e obstinada a paz como o povo do norte tanto gostava de prezar. Mas, para sua total surpresa Calía era tudo que ele não esperava, ela era destemida, corajosa, uma mulher forte que logo alcançou o respeito máximo de todos a sua volta e com a admiração que ele tinha por ela, logo
O caos é definido como algo necessário numa guerra, mas para Calía a guerra era uma arte, plena e sublime. No alto escalão que define as pessoas mais importantes na hierarquia de um exército, Maud corria na linha de frente sendo ela general que comandava todas os exércitos do império do fogo. A loira não gostava de sorrir, mas as poucas vezes que ela esboçava um belo sorriso em sua face, era quando estava prestes a matar um inimigo. Calía gostava da determinação de Maud, pois ela sempre os levava a glória em uma batalha.No campo de batalha escolhido por ambos os lados era na fronteira de Catania com Mindivar, cidade dos aldeões. Calía exigiu que a pequena cidade fosse esvaziada antes do combate, e como a cidade tinha pouco menos de mil e duzentos habitantes, não foi difícil a evacuação a tempo.Ao longe podia-se ver o exército do norte, com pouco mais de cinquenta mil homens, e mais atrás os quase trinta mil guerreiros bárbaros com suas espadas e machados afiados na mão, rugi
Desde muito nova, Aleah aprendeu que a vida era dura quando não era nascida em berço nobre como a maioria das pessoas de Caroenne. Vinda de uma família classe média, ela aos quatorze anos só sabia como manter sua mãe e seu irmão mais novo, que após lutar mais uma das inúmeras guerras do atual imperador Maxon Vatra Le Fer, acabou perdendo a vida e com isso ela foi ficando cada vez mais só. Determinada a não se entregar em arrumar um bom casamento, quando ela perdeu sua mãe meses depois, Aleah decidiu que deveria ir embora e com esse propósito em mente, ela se mudou para uma pequena cidade interiorana em Mindivar, cercada por pessoas simples e com bons corações.Há princípio, a loira era só uma garota muita nova em busca das próprias raízes em algum lugar que não fosse a capital. Em Mindivar, as pessoas não questionavam as outras sobre o futuro, a não ser que você fosse da família de algum deles. Aleah era muito nova, mas ainda assim ela já tinha uma beleza rara e muito notável. De
Aldova, alguns dias atrás...Nos portos recém estruturados da cidade de Aldova, fronteira entre o sul e o norte, vários navios vindos de outro continente estampados com um emblema de rosa e espada cruzados se aproximavam no horizonte frio das terras do norte. Navios estes que já eram mais do que esperados por Bardon Belialuin, que mantinha completamente fechado o porto para evitar a saída ou entrada de estrangeiros e conterrâneos. Desde que conseguiu dar o golpe de estado no norte com a ajuda de Calía Vatra Le Fer, as pessoas andavam sob supervisão direta dos homens que serviam ao usurpador e aos soldados que a imperatriz emprestou em sinal de boa fé ao seu novo aliado. Nenhuma informação saía do norte, e eram bastante restritivas as que chegavam até lá.O braço direito de Bardon era Gale Normand, ex membro da marinha real do norte. Gale deserdou na mesma época em que Bardon foi embora, e também por motivos semelhantes, já que a coroa parecia não gostar de quem questionasse se
Caroenne, capital do império do sulO que corrói a alma de uma pessoa mais do que a decepção? Ophélia poderia dizer que era a derrota. A mais angustiante sensação de amargor na boca, como se tudo o que você pudesse ser em um momento era alguém insignificante. Fazia dois dias desde que ela foi levada como prisioneira no campo de batalha, desde então era mantida em uma suíte no palácio real de Caroenne, onde ninguém podia falar, ou dirigir o olhar a ela. Ophélia não parecia muito animada sobre suas perspectivas dali por diante, afinal não tinha mais um exército, e duvidava muito que Calía Vatra Le Fer a enviasse de volta para o norte.A única coisa certa era que ela não teria mais sua vida de volta, e os deuses sabiam que era tudo o que ela não queria. Como poderia ter ganhado tudo e perdido tudo na mesma intensidade? Sua única afirmação pessoal era que ela ainda era rainha do norte, e isso Calía nunca iria tirar dela.Ophélia não havia conversado com ninguém desde que tudo t
Naquele dia mais tarde...Calía podia sentir que sua cabeça iria explodir a qualquer momento enquanto caminhava em direção aos seus aposentos. Tomar aquela decisão acabou consigo, mas ela sabia que precisava de tempo, e Bardon Belialuin não lhe daria de bom grado sem uma vantagem em cima. No fim, o que mais lhe doeu foi ver a decepção estampada na face de Ezioh enquanto ele ia embora, e até mesmo em Ophélia que não pode refutar da decisão em momento algum. Por algum motivo, Calía achou que lá no fundo aquilo não a desagradava tanto quanto a Caphossìo fez parecer. No entanto, algo ainda estava lhe incomodando, algo que ela teve que deixar de lado por motivos óbvios, mas que agora ela iria se esforçar mais ainda para descobrir; quem era seu pai!Calía adentrou em seu quarto silencioso e escuro, mas logo uma silhueta no escuro a fez se colocar em alerta.— Quem está aí? — Ela pergunta séria.Ezioh sai do escuro revelando sua face irritada.— Achei que já estava na hora d
Em algum lugar no SulNa parte obsoleta do Sul, onde grande parte havia sido tomada por bárbaros a gerações atrás, estavam sendo montados novos acampamentos de moradia fixa sob ordem direta da imperatriz, que prometeu que não haveria mais ataques contra eles, contanto que ficassem do seu lado e não interferissem mais nos territórios dela. Quem havia assinado tal acordo foi o chanceler em pessoa juntamente com Gaius NürSon, já que Torsten não era visto desde o funeral de sua irmã mais nova á quase um mês atrás.Gaius não sabia bem por onde começar, mas sabia que agora Tórun teria paz por ver que seu filho e sua família estavam bem finalmente. O moreno sabia que seu irmão precisava de um tempo, afinal passou tanto tempo fissurado em uma vingança vazia que provavelmente agora não sabia no que se agarrar. A única notícia que ele havia recebido do irmão mais velho foi a quatro dias atrás quando Torvi voltou com instruções claras dele sobre não querer ser incomodado, pelo menos por