— Princesa Tiane, seja bem-vinda em nosso castelo — disse meu pai, o rei, cumprimentando todo animado vendo minha cara de bobo.
— Obrigada majestade — agradeceu a princesa curvando-se em uma reverência.
— Tiane, esse é o meu filho, o príncipe Florian. Ele quem lhe mostrará todo reino, mas antes Íris vai te levar para seu quarto, caso queira descansar um pouco da viagem — disse o rei, mostrando Íris ao seu lado.
— Muito prazer Tiane, vou acompanhá-la até o quarto — cumprimentei, respirei fundo e tentei me recompor do impacto que sua aparência teve sobre mim.
— Não estou cansada, só vou deixar minhas coisas no quarto. Eu gostaria muito de conhecer o reino — sorriu lindamente.
Percebi que Tiane estava sem graça diante da minha presença, ela tentou não demonstrar, mas mesmo assim deu para perceber seu desconforto.
No caminho para o quarto levei um susto muito grande quando um vulto apareceu atravessando a parede do corredor. Foi impossível disfarçar meu desespero. Isso estava acontecendo com frequência, me deixando cada vez mais aflito, porém, não queria que ninguém soubesse de nada, até porque eu mesmo não queria acreditar que poderia ser real, já que a única coisa que via era um vulto branco e amedrontador. Mal dava para ver do que se tratava, mas a silhueta era de uma pessoa.
— Príncipe Florian, está tudo bem com você? — perguntou Iris, colocando sua mão em meu ombro fazendo-me gritar.
— Pelo amor de Deus Iris, nunca mais faça isso. — A repreendi com o coração quase saindo pela boca.
— Mas eu não fiz nada, senhor — respondeu sem graça e confusa.
Tiane também me olhava confusa. Nenhuma das duas conseguiram entender o porquê de eu estar tão assustado. Então, preferi nem questionar o ocorrido, apenas fiquei em silêncio com o coração disparado.
O castelo era um pouco escuro, por ser um lugar rústico feito de pedras antigas e com pouca iluminação, o que deixava o lugar com um ar muito mais sombrio e assustador, mesmo ainda sendo de manhã, a maioria dos candelabros estavam acesos.
— Princesa, esse é seu aposento — disse a criada fazendo-me voltar para realidade, pois tudo o que eu fazia era olhar atentamente de um lado para o outro, tinha a sensação de que alguém me vigiava.
— Vou guardar minhas coisas e volto para conhecer o castelo. Príncipe Florian, você me espera na porta? — perguntou Tiane olhando-me, eu continuava observando os lados que mal ouvi o que a princesa perguntou. — Florian, você está me ouvindo? Você ficou estranho de repente. — disse a princesa em um tom de voz mais alto para chamar minha atenção e na hora me recompus.
— Desculpe, princesa, o que me perguntou? — questionei muito envergonhado.
— Só perguntei se me espera na porta, vou guardar minhas coisas.
— Claro que espero! Estarei bem aqui! — respondi encostado no batente da porta, enquanto as duas entravam no quarto.
Estava apavorado, ali esperando. Cruzei os braços abaixo do tórax e fiquei olhando para todos os cantos, mas foi no fim do corredor que notei algo estranho se aproximando. Ainda assustado fixei os olhos na criatura branca e entrei em choque quando percebi que o vulto vinha em minha direção. Quando faltava pouco para me alcançar soltei um grito horripilante, na tentativa de fugir daquilo, entrei feito um louco dentro do quarto. Eu estava tão apavorado que não vi a princesa e a derrubei no chão caindo por cima dela, deixando a criada horrorizada com minha atitude. De certo pensando que eu estivesse ficando louco, ela nunca tinha me visto agir assim.
Tiane reclamou de dores ao chocar seu corpo contra o chão. Íris se aproximou rapidamente e ajudou a princesa a se levantar. Levantei-me em seguida, tentando pegar Tiane no colo e quando consegui, deitei-a na cama me desculpando pelo o ocorrido.
— Não foi nada, estou bem! Só dei um mau jeito na coluna. — Tranquilizou a princesa praticamente imóvel na cama.
— Senhor, o que está acontecendo? Quase nos matou de susto e ainda machucou a princesa — questionou a criada olhando confusa para mim, que mesmo preocupado com Tiane, não conseguia tirar os olhos da porta do quarto.
Comecei a tremer de medo, mas em nenhum momento permiti que elas soubessem disso. Sentia-me desorientado, não entendia o que estava vendo e tinha quase certeza que minha saúde mental não estava bem.
— Tiane, peço mil desculpas novamente, ando muito desajeitado. Iris providencie um massagista para colocar a coluna da princesa no lugar — pedi preocupado, Tiane mal conseguia se mexer na cama.
— Irei providenciar imediatamente! Com sua licença — afirmou a criada saindo do quarto.
— Tiane, vou à cozinha pedir que preparem um chá para você e peço para lhe trazerem. Logo estarei de volta. Você vai ficar bem? — perguntei encaminhando-me para a porta e antes de sair, coloquei a cabeça para fora e observei se havia algo no corredor.
— Vou ficar bem, Florian! O que você está procurando? — questionou, percebendo algo de errado comigo.
— Claro que não, vou lá e já volto — respondi, saindo do quarto desconfiado, mantendo meus olhos atentos em todas as direções.
Não sabia se corria ou se continuava caminhando com calma, afinal minha correria poderia chamar a atenção dos criados do castelo e do meu pai, o que menos queria era parecer um louco.
No entanto, quando finalmente cheguei à cozinha, me deparei com uma cena chocante e mesmo tentando ser forte, acabei desmaiando ao ver um vulto pouco mais escuro em volta da mãe da Iris, uma das cozinheiras do castelo.
Com o barulho do tombo, o vulto sumiu e a cozinheira quando me viu no chão, saiu correndo e gritando por ajuda. Quando voltou, eu estava sentado no chão com a mão na cabeça, que estava doendo muito.
— Vossa Alteza, você está bem? — perguntou me ajudando a levantar.
— Sim, só com um pouco de dor de cabeça — respondi me sentando a mesa.
— Vou lhe preparar um chá de erva-da-muda, vai melhorar essa dor logo.
— Não foi nada, estou bem. Você tem razão deve ser fraqueza. Terence me prepare um lanche, por favor. — Eu jamais contaria o que andava vendo, não queria ser visto como um louco. Mesmo assim o médico me examinou, concordando que realmente eu estava muito bem. Foi nesse momento que lembrei o porquê de estar na cozinha.
— Já estava me esquecendo, a princesa Tiane está com mau jeito nas costas, vai precisar de um chá para dor e dos seus cuidados Dr. Arthur.
— Como isso aconteceu filho? O baile de apresentação da princesa é essa noite — disse meu pai muito preocupado.
— Ah pai, é uma longa história, outra hora eu conto. Vamos logo para lá. Terence não se esqueça do chá — falei saindo apressado, empurrando meu pai e o médico para fora da cozinha.
Mesmo conversando sobre a princesa pelos corredores do castelo, eu ainda andava com certo receio, estava muito perturbado com essas visões me perseguindo.
Quando chegamos ao quarto em que a princesa estava, todos entraram pedindo licença. No entanto, ao tentar entrar, a porta se fechou instantaneamente, me dando uma pancada forte no nariz. Eu não conseguia entender como a porta se fechou de repente. Inspirei algumas vezes, e no mesmo instante tentei não inspirar mais. A dor que eu sentia por causa da pancada era muita. Tentei abrir a porta, mas estava trancada com chave.
— Pai, por favor, deixe-me entrar, quero saber como a princesa está — gritei da porta do quarto.
— Filho, por que trancou a porta? Abra — rebateu meu pai do outro lado, enquanto eu me encontrava desesperado.
— Pai, eu não tranquei a porta e também não consigo abri-la.
— Que estranho, ela não abre. Chame alguém para nos tirar daqui. — Quando ele terminou de falar, ouvi uma risada sinistra que me arrepiou dos pés à cabeça e no mesmo momento, sem explicação alguma, a porta se abriu.
Naquele momento uma coisa louca se passou por minha cabeça e mesmo sem saber se aquilo seria possível, decidi que tentaria descobrir o que estava acontecendo.
A princesa recebeu todos os cuidados que precisava. Ela descansou o resto da tarde, não conseguiu conhecer o reino como queria, mas pelo menos estava recuperada.A ideia que passou pela minha cabeça, martelava o tempo todo. No entanto, achei melhor deixar para o dia seguinte, afinal, à noite irá ocorrer o baile de apresentação da princesa e pelo que sabia, era um baile de máscaras. Precisava providenciar uma para mim. Então, pedi para o meu braço direito e amigo, Hos, que a escolhesse, pois sempre teve bom gosto.—Trarei uma máscara digna de um príncipe, tenho certeza de que irá gostar alteza. — Hos respondeu retirando-se dos meus aposentos.Depois do susto que levei na porta do quarto da princesa, tudo o que eu queria, era ficar quietinho. No entanto, até meu quarto me causava calafrios. Tentei descansar um pouco, mas essa sensação de estar sendo vigiado o tempo todo não permitia. Estava tenso demais até para tirar um cochilo. Não sabia o que fazer, não me sentia
Apesar de todas as coisas estranhas que aconteceram no baile, ele foi um sucesso. Dancei a noite toda com a princesa Tiane e conversamos muito sobre nossos reinos. Diante a preocupação do meu pai sobre eu precisar me casar para tornar-me rei, acabei selando um compromisso com a princesa, mesmo sabendo que, talvez, estivesse sendo um pouco precipitado.Não poderia amá-la da mesma forma que amei Branca de Neve, mas tentaria lhe fazer feliz. Por isso, nós combinamos de marcar nosso casamento.— Filho, que bom que te encontrei ainda tomando seu café. — disse meu pai sentando-se do meu lado. — A princesa ainda não acordou? — tomou um gole de café.— Ainda não, pai!— Deixe-me te contar, filho. Sai para cavalgar cedo e encontrei o vizinho pelo caminho, conversamos um pouco. Ele me contou que a garota que perdeu o sapato na escadaria se perdeu na floresta, estão à procura dela. Disse que o príncipe Henry do reino Leste, descobriu que ela se chama Cinderella e
— Alteza, você está bem? — perguntou Hos notando meu silêncio a caminho do castelo.— Não, eu não estou bem! Depois de todos esses meses tentando esquecê-la para seguir em frente, descubro que ela está sofrendo e que nem sabe quem é por não aceitar como morreu. Como vou estar bem, Hos? Não sei o que fazer. Faltam apenas duas semanas para meu casamento com a princesa Tiane. Como vou me casar depois de saber disso tudo? Eu amo muito a Branca de Neve, não conseguiria viver sabendo do seu sofrimento. Hos, o que eu faço? — perguntei desesperado ao passarmos pelo portão do castelo e só de saber que o fantasma era a Branca, meu coração disparou.No entanto, ela estava horripilante, às vezes aparecia como vulto branco, em outras mais escuro. Dava muito medo.— Alteza, você já me disse muitas vezes que o vulto é assustador, mas que faz dias que não vê, se você voltar a vê-lo, terá que ser muito forte para tentar conversar com ela. Como a bruxa disse, ela precisa saber
Copyright © 2019 Tania GiovanelliDireitos autorais do texto original ‘’Branca de Neve Assombrada’’ – Fundação Biblioteca NacionalTodos os direitos reservados.Capa: Mari SalesDiagramação: Tatiane SouzaRevisão: Tatiane Souza/ Sofia MerkauthLicença de imagens: <a href=https://pt.pngtree.com>Gráficos de pngtree.com</a>Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou reproduzida sob quaisquer meios existentes, seja por meios mecânicos, eletrônicos, seja via cópia xerográfica, sem a autorização por escrito do autor.Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com a realidade é mera coi
EsclarecimentosEssa é uma história fantasiosa, um conto de fadas diferente, uma versão contrária a história verdadeira da Branca de Neve. Tudo foi fruto da minha imaginação.Escrevo porque amo e minhas histórias surgem em sonhos ou simplesmente do nada. Muitos irão gostar, muitos não. Então, peço desde já aos que não gostarem para que respeitem. Sem ofensas ou comentários maldosos, apenas parem de ler.O mundo está cheio de livros com histórias diferentes e cativantes, só porque você não gosta de algo, não significa que outras pessoas também não irão gostar. Busque algo que te agrade sem precisar ofender o que não te agradou.Este é o primeiro conto da trilogia (des)encantos, não deixe de conferir os próximos.Agradeço pela compreensão e carinho.Espero que goste da história, tenha uma boa leitura!AgradecimentoTatiane Souza, sem palavras para te agradecer, pois entrou em minha vida de uma
Alguns dias se passaram e os preparativos para o casamento estavam a todo vapor. Tiane estava muito animada e seus pais também, afinal faltava apenas uma semana para o casamento.O vulto continuava me dando trabalho, porém não tinha mais tanto medo como antes, até gostava quando ela aparecia. Muitas vezes mostrei a ela uma pintura que fizeram com sua beleza, sempre contava a ela dos momentos que tivemos juntos. No entanto, bastava Tiane aparecer para várias coisas estranhas acontecerem. Uma vez, estava tomando café com o vulto próximo a mim, e a Tiane apareceu de repente puxando uma cadeira para sentar do meu lado, mas quando foi fazer isso, Branca puxou a cadeira, fazendo Tiane cair sentada no chão.A cena foi engraçada, mas não pude rir, apenas socorri correndo a Tiane que reclamava de dores na bunda. Ela queria saber como isso foi acontecer, eu apenas disse que ela devia ter empurrado a cadeira com o pé sem querer. Da outra vez, ela entrou na cozinha para falar
Joguei-me na cama aos prantos, uma dor muito forte rasgava meu peito, parecia que meu coração estava sendo cortado em pedacinhos. Como o amor podia doer tanto assim? Branca estava tão perto de mim e mais uma vez eu a perdi. Renunciar ao nosso amor não era a saída. Ela foi cruel demais comigo. Tinha plena consciência que ela era apenas um fantasma, mas só de saber que estava por perto, me sentia feliz. Agora ela tinha partido, e nada pude fazer para evitar isso.Passei o resto do dia no quarto. Hos, Iris e meu pai tentaram me tirar dele a todo custo. No entanto, a única vontade que eu tinha era de dormir. Então, não abri a porta para ninguém.No meio da noite acordei algumas vezes chorando e por estar sem comer me sentia fraco e enjoado. Só água eu conseguia beber. Não consigo aceitar a ideia de não a sentir e nem vê-la mais aqui, mesmo como vulto já que sempre aparecia assim para mim. Agora nem isso eu tenho mais. Pensei enquanto tentava
— Você está bem? — perguntou alguém com a voz doce e suave.Com dor e dificuldade, pois me sentia zonzo, abri os olhos e me deparei com Branca me olhando e perguntando novamente se eu estava bem. Não respondi, mas tive uma reação impensada, o peguei pelo pescoço e a beijei no mesmo instante, não queria que ela sumisse de novo. Seus lábios eram tão macios e real que me fez desejá-la mais ainda. Continuei explorando sua boca com muita necessidade e amor, mas ao perceber que ela tentava fugir de mim e das minhas investidas e mal respondia ao beijo, foi que recobrei a consciência e vi que não era a Branca e sim a criada Ayanne que beijei. Ela parecia desorientada, assustada, não sabia o que dizer e nem o que fazer. No entanto, quando soltei seu braço e me levantei do chão para desculpar-me, ela saiu correndo sem me deixar dizer nada.Fiquei parado ali como um bobo, não conseguia entender o que tinha acontecido. A batida na cabeça devia ter sido forte, pois além da dor,