DENNISMesmo depois de demitir a Tabitha, a culpa persistia e eu não conseguia olhar para a Ana sem reviver aqueles breves minutos na água com a Tabitha. Naquele instante, estava tomado pela culpa. Já tentei contar para a Ana, mas sempre parecia ser o momento errado. E por onde eu começaria, se finalmente achasse que era a hora certa?— Ei, Ana, enquanto esperávamos a Amie se curar, eu, tolo, me juntei a uma igreja falsa e, lá, um dos membros, que, por acaso, é minha funcionária, tentou me seduzir. Talvez tenhamos se beijado e ido além disso. Zombei de mim mesmo. Soava como um completo tolo, e imaginava a dor que veria nos olhos dela; sabia que precisava manter essa imagem intacta, mesmo que apenas em minha imaginação, pois ver a Ana verdadeiramente magoada me despedaçaria. Naquela manhã, depois de uma sessão de beijos apressados, me vi dizendo para a Ana:— Que tal uma escapada? — Murmurei enquanto mordiscava suavemente sua orelha. — Algo romântico, só nós dois.Ela colocou a palma
Minha aliada pediu que nos encontrássemos hoje e eu concordei. Olhei para o meu rosto no espelho e pude notar a preocupação estampada em meus traços. Meu olhar recaiu sobre a minha barriga, aquela barriga falsa.Essa “aliada” se recusara a explicar por que queria me ajudar, e eu fiquei me perguntando: será que ela sabia sobre minha gravidez falsa? Assim, quando ela propôs um encontro pessoal, aceitei de imediato.Respirei fundo e alisei a blusa com as mãos.— Vamos ver do que se trata toda essa confusão. — Murmurei.Peguei minha bolsa e saí de casa.Assim que me sentei no carro, expirei novamente e revirei a bolsa para confirmar se o spray de pimenta, a arma de choque e o taser estavam intactos.Ela não parecia perigosa, mas nunca se podia ter certeza; além disso, quem sabia meu segredo, agora, pudesse representar algo arriscado.Disquei o endereço que ela me enviou e parti rumo a um restaurante antigo, localizado em uma área remota. Estacionei cerca de um quilômetro de distância e ca
TABITHAOlhei com fúria para Sharon enquanto ela desfilava para fora do café com a cabeça erguida. Em meio àquele bairro degradado, ela se destacava como se pertencesse a um universo distinto. Mesmo trajada de maneira casual, exalava uma fragrância inebriante e ostentava um visual capaz de fazer inveja à mais rica das bilionárias. Conquistar Sharon como nossa cliente seria o ápice do mundo.Contudo, ela era tão letal quanto abastada. Eu percebia isso na forma como me alertava e na expressão estoica que adornava seu rosto desde o nosso primeiro encontro. Não se tratava de alguém com quem se pudesse brincar ou ludibriar com facilidade. Isso era evidente, e devia ter ouvido o Sid.Ciente de que, se insistisse, ela certamente me faria prender, decidi manter distância. Sem outra alternativa, optei por vender a minha história.— Como foi? — Os caras perguntaram quando retornei naquele dia.— Fracasso épico. — Respondi de forma sucinta antes de me recolher para o meu quarto, sabendo que era
SHARONA maioria das nossas ações na vida era mais fácil falar do que realizar. Por exemplo, era simples dizer: “Ah, quero comprar um carro novo”, mas seria bem mais difícil trabalhar dia e noite, mantendo o compromisso de poupar o dinheiro necessário desde o começo.Eu disse que confessaria tudo para o Aiden, mas até agora não consegui fazer nada de útil. O máximo que tive coragem de dizer foi que iria confessar e estabelecer a intenção.No entanto, o medo... Ah, o medo era algo podre, que já destruiu tantos sonhos e ambições. Ele colocava suas mãos frias sobre minha boca, apertava meu coração, e, às vezes, tornava difícil até mesmo respirar.Eu não conseguia olhar Aiden nos olhos e contar que tinha compartilhado a mesma cama com ele, rido e feito planos ao lado dele enquanto, ao mesmo tempo, escondia uma barriga de silicone para enganar a todos, inclusive ele.Aiden era um homem honesto, e essa virtude sempre foi sua marca registrada. Não importava a situação, ele seria sincero com v
CLARAA luz fraca das telas dos nossos laptops era a única fonte de iluminação no vasto porão.O interfone tocou, e eu o atendi de imediato.— Recebemos outra denúncia, Clara. — Informou ela com a calma de sempre.— Envie para cá. — Respondi, abrindo a aba onde recebíamos mensagens e chamadas anônimas.— Adolescente e mãe abusados, endereço anexado. Urgente. — Ela resumiu, enquanto a mensagem aparecia na tela.— Obrigada! — Disse, pegando a mensagem. — Vou repassar para a equipe de resgate.Eu revisei o endereço antes de ler a longa mensagem que alguém provavelmente digitou às pressas.O texto vinha de um garoto de treze anos, que fora forçado a pedir ajuda porque sua mãe, desempregada, tinha medo de abandonar o padrasto abusivo. O padrasto estava fora do estado, e eles precisavam de ajuda antes que ele voltasse naquela noite.Rapidamente, transferi os detalhes para o nosso chat seguro, marquei como alta prioridade e enviei para a equipe de resgate.Eu estava na casa de caridade havia
DENNISFranzi a testa ao atender a ligação dela.— Por que...— Onde está Amie, Dennis? Onde ela está? — Ela perguntou, frenética, emendando logo que Amie estava prestes a ser sequestrada.— O quê? — Larguei a panela que estava segurando no balcão. — Espera, calma aí! Minha Amie? Quando?— Agora, Dennis. Agora. As tire do perigo. Onde ela está?— Elas... Quer saber? Te ligo de volta. — Interrompi, encerrando a chamada rapidamente e discando para Ana.Comecei a andar de um lado para o outro na cozinha, uma mão no quadril, a outra segurando o celular no ouvido, enquanto esperava ela atender.— Dennis? Quer que a gente compre alguma coisa?— Amor. — Suspirei assim que ela atendeu, aliviado por saber que, pelo menos, ela estava bem. Amie também estaria bem, pensei, mas ainda assim perguntei: — Onde vocês estão? Estão voltando? Amie está aí com você?Ela tinha levado Amie às compras para a distrair depois da nossa briga. Amie adorava fazer compras, e Ana achou que isso ajudaria a melhorar
ANASTASIA— Amie foi sequestrada.Essas palavras eram inimagináveis para mim. Mesmo enquanto corria pela loja, procurando desesperadamente por Amie antes da chegada de Dennis, nunca passou pela minha cabeça que ela pudesse ter sido levada por alguém. Tudo o que imaginei foi que ela tivesse se afastado, se perdido e que estivesse em algum lugar, assustada, sozinha e com frio.Mas agora, estava claro: minha Amie havia sido sequestrada.— Por quê? — Chorei nos braços de Dennis. As lágrimas, que começaram como um fluxo constante, se transformaram em uma torrente incontrolável. — Por que alguém levaria minha filha, Dennis? Por quê?— Eu não sei, amor. Você precisa se acalmar. — Ele me segurou firme, caminhando até um dos seguranças.Como eu poderia ficar calma? Alguém cruel, com um coração de pedra, havia levado minha filha para longe de mim, para um lugar desconhecido. Como, em nome de tudo que é sagrado, eu poderia simplesmente ficar calma?Dennis trocou algumas palavras rápidas com dois
ANASTASIAEm apenas um dia, precisei sentar e ouvir muito mais interrogatórios do que jamais imaginei enfrentar na minha vida.Todos os funcionários da loja, assim como os transeuntes, foram inquiridos de forma educada. Cada um foi questionado se, por acaso, havia observado uma mulher acompanhada de uma criança. Fizeram as perguntas acompanhadas da descrição da mulher e de Amie, mas ninguém, nem sequer uma alma, os havia avistado. Parecia que os dois haviam se evaporado no ar.Não pude evitar que as lágrimas escorressem pelos meus olhos.Pobre Amie. Ela mal tinha saído de meses confinada à cama de hospital para ser sequestrada por algum infeliz. Que injustiça com ela. Qual seria o benefício de tudo aquilo?Fiquei imaginando como ela estaria naquele exato instante. Em que local teriam decidido a manter? Será que já havia se alimentado? Estaria com sede? Com toda certeza, estaria sentindo um frio cortante.Observei os remédios dela, que repousavam imaculados no balcão, aguardando que sua