Pietro começou a falar com uma voz firme e incisiva, lançando um olhar penetrante para Tânia. Aqueles olhos, tão frios e cortantes, pareciam atravessá-la como lâminas. Não havia dúvida de que sua presença era intimidadora, e ele não estava ali para brincadeiras.O coração de Tânia disparava como um tambor descontrolado, enquanto ela engolia em seco com dificuldade. Até mesmo Joaquim sentiu o estômago revirar. Ele já tinha ouvido falar sobre Pietro, o famoso Primeiro Procurador de Yexnard. Um homem duríssimo, impossível de manipular ou dobrar, e que era considerado um oponente quase invencível.A posição de procurador era extremamente sensível, um cargo com poder suficiente para atrair o interesse de muitos magnatas e elites políticas, que frequentemente tentavam subornar ou influenciar esses profissionais para usá-los em momentos críticos. Muitos procuradores, apesar da fachada de integridade, acabavam fechando acordos escusos com empresários e famílias poderosas, beneficiando-se mutua
— Eu... Eu não... Eu não envenenei ninguém! — Tânia parecia uma ave morta encurralada, sem saída.Pietro ignorou completamente sua negação. Sua voz, baixa e cortante, ecoou pelo tribunal:— Naquela noite, você fugiu do local do crime em pânico, mas cometeu um erro fatal: esqueceu de levar este frasco de remédio. Na época, a morte da vítima foi registrada como suicídio, o que te deu uma falsa sensação de segurança. Você nunca voltou ao quarto para confirmar se as evidências haviam sido realmente apagadas. E a família Marques, supersticiosa como é, decidiu lacrar o quarto, considerando-o um lugar amaldiçoado por ter ocorrido uma morte ali. Essa decisão, feita sem premeditação, acabou ajudando a polícia a preservar o local do crime por completo até hoje.Pietro fez uma pausa e apontou para a tela.— Este frasco de remédio, que foi colocado no criado-mudo ao lado da cama da vítima, substituiu os medicamentos que ela tomava para depressão. No entanto, ao analisarmos os resíduos dentro do fr
Foi Tânia quem empurrou Camila. Essa mulher falsa, traiçoeira e cruel havia matado o grande amor da vida dele. E ele, cego e ignorante, não só não percebeu, como ainda manteve essa assassina ao seu lado, dedicando a ela todo o seu afeto por vinte longos anos!Tânia merecia o pior. Mas ele... Ele também era culpado, cúmplice por omissão.Felipe cerrou os dentes com tanta força que parecia que eles iam se partir. Seu olhar transbordava ódio, cravado no rosto pálido de Tânia. Por dentro, a dor o consumia, enquanto as lembranças do sorriso e do rosto de Camila o envolviam como um pesadelo que ele jamais conseguiria esquecer.Sem perceber, uma lágrima deslizou pelo canto de seu olho. No funeral de Camila, ele sequer havia chorado. Mas, agora, sentia uma vontade incontrolável de desabar, de chorar por ela como nunca chorou antes.Mas lágrimas tardias não tinham valor algum. Sentimentos tardios eram ainda mais inúteis.Joaquim deu um passo para trás, como se tivesse levado um golpe no peito,
— N-não... Não... Não! — Tânia sacudia a gaiola de ferro com fúria, fazendo-a ressoar com um barulho ensurdecedor. Ainda em sua luta desesperada, ela gritou com o rosto contorcido de ódio na direção de Pietro. — Pietro! Você usou provas falsas para me incriminar! Como pode, sendo um promotor, ousar apresentar falsas evidências em tribunal?! Isso é abuso de poder! Isso é corrupção! Suas provas não têm validade!Pietro a encarava com um olhar repleto de desprezo, sem demonstrar um pingo de temor.Ser um promotor de justiça íntegro era o sonho de sua vida. Desta vez, ao recorrer a provas falsas para desmascarar Tânia, ele sabia que corria o risco de ser afastado do cargo. Mas não havia arrependimento algum em sua alma.Mesmo que o inocente não fosse o homem mais amado por Vivia. Mesmo que a vítima não fosse a mãe de Charles. Pietro faria a mesma coisa sem hesitar. Seu dever não era apenas seguir os protocolos do cargo de promotor, mas sim se tornar a personificação da luz da justiça, disp
O silêncio opressor do corredor vazio foi quebrado pelo eco dos passos firmes e sincronizados da família Marques. O som reverberava pelas paredes, acompanhado pela tensão que parecia tomar conta do lugar.Felipe caminhava à frente, com o rosto fechado como uma tempestade prestes a explodir, exalando uma fúria gelada que fazia qualquer um pensar duas vezes antes de se aproximar. Atrás dele, seus subordinados seguiam em silêncio absoluto, mal ousando respirar.Robinson, logo atrás de Felipe, mantinha a expressão séria, com o corpo rígido e passos cuidadosos. Mas, por dentro, havia um alívio que não conseguia esconder. O julgamento daquela manhã havia trazido à tona palavras e verdades que ele guardava dentro de si há anos. Todos os dias, ele via Felipe enfrentando a realidade de Tânia desfrutar de tudo aquilo que, por direito, deveria ter sido de Camila. Como secretário, ele nunca pôde demonstrar o que sentia e muito menos confrontar abertamente Tânia. A polidez forçada e o respeito fing
— A gravação que foi tocada no tribunal... Todos ouviram! — Felipe estava tão furioso que mal conseguia respirar, suas palavras saíam entre dentes cerrados. — Talvez outros não reconheçam a sua voz, mas eu reconheço! Desde o começo você sabia de tudo o que a Tânia fez. Sabia que ela queria contratar um assassino! E você não apenas escondeu isso de mim, como ainda a ajudou a encobrir? Você é realmente venenosa!— N-não, não foi assim... — Gaguejou Chica, tentando se justificar.— Você sabe que isso é cumplicidade, sabe que está protegendo uma assassina! Quer seguir os passos da Tânia e apodrecer na cadeia também? — A voz de Felipe cortava como uma lâmina afiada.Chica ficou completamente apavorada. Suas pernas fraquejaram, e ela caiu de joelhos aos pés de Felipe, com o rosto banhado de lágrimas, suplicando desesperadamente: — Papai! Eu errei... Eu sei que errei! Tudo o que fiz... Foi ela que me obrigou! Ela é minha mãe! Como eu poderia desobedecê-la? Foi por isso, só por isso! Eu fui
Às três horas em ponto, a sessão foi retomada. No tribunal, tudo permanecia como antes: a transmissão ao vivo seguia, os rostos familiares do juiz, do promotor, do autor e dos réus ocupavam seus lugares. No entanto, o ambiente era completamente diferente do que se viu pela manhã. A plateia, antes lotada e fervilhante, agora era um espaço frio e vazio. Apenas Olívia, Charles e alguns amigos e familiares estavam presentes, o silêncio tornando o ambiente ainda mais opressivo. Nenhum membro da família Marques reapareceu. Nem mesmo Chica, filha legítima de Tânia, teve coragem de voltar ao tribunal para assistir ao desfecho. Tânia e Tristão foram trazidos de volta, um atrás do outro, algemados e sem qualquer resquício de dignidade. Eles foram colocados novamente em suas gaiolas de ferro, como se fossem animais sendo expostos ao julgamento público. Atrás das grades frias e opressoras, Tânia, com os cabelos desgrenhados e o olhar vazio, varreu a plateia com os olhos. Ao perceber que ap
Ele foi condenado à pena de morte? Tristão sentiu como se uma bomba tivesse explodido em sua mente. As palavras de Gustavo, que continuava a falar do alto do tribunal, tornaram-se ruídos indistintos. Ele agarrou as barras da cela com força, perdendo completamente o controle, e começou a gritar: — Como assim pena de morte? Eu sou estrangeiro! Vocês estão aproveitando que eu não conheço as leis do país? Mesmo que eu fosse condenado, não seria aqui! Eu deveria ser extraditado, julgado no meu país! Vocês não têm o direito de me condenar à morte! Gustavo lançou um olhar frio e irônico para o rosto de Tristão, agora distorcido como o de um demônio. Com a voz firme e cortante, respondeu: — Ah, quer falar de leis? Então vamos esclarecer as coisas. De acordo com a Convenção sobre Privilégios e Imunidades Diplomáticas, estrangeiros que gozam de privilégios e imunidades diplomáticas têm suas responsabilidades criminais resolvidas por vias diplomáticas. Tristão, me diga: que méritos, que pos