6

Tyler olhou preocupado para os lados.

— Lavínia, o que foi isso? você está bem? — ele me pergunta assustado com o estrondo de minha calda. Ele não sabia o que tinha causado a movimentação na água.

— estou. —  respondi com metade do meu corpo fora dágua sem revelar minha cauda.

— a que bom. Achei ter visto um rabo enorme de peixe atrás de você. — disse Tyler sem tirar os olhos de trás de mim. Será que ele viu mesmo meu rabo?

— como assim, o que você viu? — minha voz saiu mais falha que o normal.

— achei ter visto um rabo de peixe bem perto de você. — disse nadando até mim, que estava um pouco mais longe dele, entrei em pânico. 

O medo dele me descobrir me apavorou, desejei por um breve momento que ele visse pernas ali. Sorte a minha que a água não estava tão límpida quanto a do mar. Ele olhou a minha volta parecendo não notar nada de errado.

— te assustei? — ele pergunta confuso pelo que seus olhos e ouvidos presenciaram em uma breve confusão. 

— acho que não. — o medo de ser descoberta sim. Agradeci intimamente por meu desejo ter sido atendido, Mesmo que por breves instantes. Ele saiu de perto de mim nadando para o meio, fiquei preocupada mas ele me pareceu um bom nadador. 

Nadei com cuidado o acompanhando mais atrás. Ele parou de repente e um novo movimento voltou para terra firme. Ele é bem estranho.

— vamos Lavínia saia logo da água. — disse preocupado, só não entendi o motivo de tanto. E novamente fiquei apreensiva com a ideia de sair. Senti minhas pernas se formando lentamente enquanto eu saia da água. — mais rápido. — ele me apressava ainda mais.

— o que? Para que tanta pressa para sair da água? — ele encarou a água daquele lago lindo, quado voltei meu olhar para o lago algo parecia estranho, de dentro dele saiam uma fumaça branca e pequenas bolhas por todo ele.

— mas o que é isso? — perguntei surpresa.

— vais me dizer que nunca viu vapor de vulcão antes? — ele me pergunta e nego.

— pode me dizer?

— bom, esse não é só um lago qualquer sua água está sobre uma fenda vulcânica que depois de uma certa parte do dia em que o sol está mais forte a fenda se aquece e libera o seu calor lá de dentro, o que faz com que o lago todo fique quente. — explicou olhando cada cara que eu fazia, mesmo que não estivesse entendendo quase nada só que agora a água fervia e era impossível nadar.

— como pode?

— um dia muito antes de nós isso já foi um vulcão. 

— e como você descobriu?

— muito tempo de observação. — disse caminhando para longe do mesmo. — só podemos nadar pela manhã ou noite.

— espera, onde você está indo? — ele olha para trás.

— preciso ir ver uns amigos na taverna. Quer vir comigo?

— claro. — caminhei atrás dele.

— sabe Lavínia, aquilo foi bem estranho. Pois por causa do calor, nessas águas não podem manter vidas aquáticas. — Tyler só me deixou ainda mais nervosa com o seu comentário. Tão nervosa que não vi um galho de árvore no chão e acabei tropeçando nele caindo no chão com tudo. 

Tyler se viu tão preocupado em me ajudar que acabou caindo por cima de mim. E por um breve momento nossos olhares se encontraram, ele parecia em dúvida se me beijava ou não. Então, me inclinei mais um pouco e acabei o beijando acendendo cada canto do meu corpo em um calor que nunca achei que pudesse sentir algo assim. Aquele beijo durou alguns instantes até ele parecer lembrar o que estava acontecendo e sair de cima de mim.

— me desculpe. Eu só queria ajudar. — ele estava completamente envergonhado nem conseguia me olhar direito.

— não precisa se desculpar. A culpa foi minha, acabei caindo e bem... Eu gostei. — digo direto. 

— Lavínia. Não me entenda mal é só que... — ele parecia escolher as palavras certas para dizer aquilo que estava refletindo em sua face. 

— eu tenho alguém entende? — ele disse o que eu já previa, aquele plano estúpido e fútil iria acabar comigo.

— tudo bem Tyler, não foi culpa sua. Minhas desculpas se te fiz passar por isso. Eu só quero que possamos continuar sendo amigos. — ele se surpreendeu com minhas palavras. Eu só não podia voltar com uma má notícia.

Sempre quis ser livre e quando finalmente posso, estrago. Me sinto um peixe sem água ressecado por se debater demais pela liberdade. E mais uma vez deixo que essa maré de sentimentos passe para que eu possa aproveitar o que ficar.

— claro. Agora vamos levante. Temos que ir a Taverna, se ainda quiser, é claro? — disse me estendendo sua mão, eu  à seguro firme me levantando.

Ele me abraça forte. Eu não intendi bem o motivo. Contudo acho que não está tudo perdido.

Seguimos pelo caminho até a taverna onde parecia estar havendo uma revolta por parte dos marujos. Tyler correu para ver o que estava acontecendo e eu o segui. 

Assim que entrei no lugar não pude deixar de notar o corpo de um homem que parecia sem vida, pelo menos eu não sentia mais vida, em cima de uma das mesas. Os marujos estavam muito barulhentos. Homens gritando " ele está morto não há mais nada o que se fazer" outros permaneciam sentados imersos em seus pensamentos bebendo sua bebida. O dono não parecia ligar continuando atrás do balcão servindo a quem chegava.

— o que está acontecendo aqui? — Tyler gritou atraindo o silêncio e a atenção deles.

— mais um naufrágio. — disse um dos marujos perto do corpo.

— como assim? Onde foi? — Tyler parecia preocupado. Talvez isso não fosse comum.

— o mar estava calmo, mas de repente começou a ficar turbulento e o nosso barco acabou colidindo com alguns rochedos. — um dos homens dizia inconformado.

— e vocês ouviram alguma coisa? — Tyler continuou como se soubesse de algo.

— sussuros. Um canto grave. Não dava para ouvir direito pela turbulência. — como assim um canto grave? Minha cabeça já começava a pensar coisas estranhas. 

— vocês sabem das lendas. Não sabem?

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