– E então? – o louro indagou quando Joseph pôs os pés dentro da sala de estar de Little Channel.
– Estou mais enrascado do que antes.
Aiden sorriu.
– Era de se esperar... – fitou-o atentamente. – John esteve aqui há poucos minutos.
– O que ele queria?
– Oferecer seus préstimos para caçar um lobo... Parece que suas atividades amorosas andaram despertando o ciúme alheio.
Lorena, França - 1314 Os intensos olhos verdes o fitavam, sob fios pretos esvoaçantes emoldurando traços delicados. Poderia ser uma visão, efeito da quentura que o consumia e fazia seus músculos fragilizarem. Seu caminho fora longo, quanto mais se afastava da França, mais tinha certeza de que sua missão era ao norte... E não ao sul, como profetizara seu pai. Por ser filho único, Joseph fora criado junto ao campo, arando a terra como os pais. Aprendera a ler e escrever por força e obra de sua mãe, que pela delicadeza de seus movimento e a graça com que se portava, mostrava não ter o mesmo berço do marido. Era algo que n&
Porto de Paraty, Rio de Janeiro, Brasil - 1864A bela morena de olhos verdes fitava o pai sob as pestanas longas e escuras, piscando sucessivamente, vítima do sol quente que começava a descer sobre suas cabeças, seguindo o poente em tons de laranja e amarelo fogo. Os raios e seus reflexos na água tiravam de foco a imagem do homem moreno, de cabelo cortado rente sob o chapéu branco e que se debruçava sobre a amurada da embarcação, trazendo saltos abruptos ao seu coração.– Pai... – ela disse um tanto fracamente, talvez pelo medo que lhe corria as veias
A mucama entrou no escritório, silenciosamente, parando em frente à mesa de carvalho sólida.– Mara, por que deixaste Inácio aprontar o cavalo para a sinhazinha?Aprendera a respeitar seu sinhô, conhecia-o muito além das belas feições que o adornava. Via através daqueles olhos âmbares, o passado, o presente e o futuro. Por isso, decidira permanecer ao seu lado enquanto muitos outros o abandonaram logo depois de sua liberdade. Entretanto, aprendera também a não contestar a decisão dos que se foram. Haviam ocorridos muitos sinais de que seria um episódio sinistro, mas o sol raiaria como numa bela manhã de primavera aos que per
Suas mãos suavam quando apeou da montaria. As pernas ainda não lhe respondiam com firmeza, mas subiu rapidamente as escadas da varanda da casa grande e entrou pela porta, junto com o vento frio da noite, fazendo com que tanto seu pai como Mara a fitassem surpresos. Enquanto a mucama saía da sala, Pedro se erguia da poltrona onde estivera esperando-a em companhia de seu cachimbo.– Estávamos preocupados, Yamê – determinou ele, abrindo os braços em sua direção e acolhendo entre eles o corpo agitado da moça. – De onde tirou a ideia de ir à cachoeira uma hora dessas?Ela fechou os olhos enquanto ouvia aqu
1320 – Igreja de São Patrício – Irlanda– Estás pronta para confessar? A voz foi abafada parcialmente pelo estrondo do trovão contra as paredes da igreja, por onde escorria a chuva intermitente. Os olhos cor de mel observavam a tudo, aterrorizados, sob o capuz escuro, que nada revelava de seu rosto. A jovem tremia, apenas pele e osso contra a parede fria de pedra. Seus pulsos vertiam sangue, que escurecia e formava crostas sob as algemas, em feridas purulentas. E apesar de nua, não havia um viço em sua figura que pudesse despertar algum desejo em um homem. Não parecia haver mais vida ali, exceto pe
A casa estava relativamente silenciosa quando ela percorreu o longo corredor até a sala de jantar, mas não foi impossível estacar de súbito sob o pórtico ao notar que, mesmo com o adiantado da hora de seu desjejum, não estava sozinha. Ele invariavelmente não fez questão de mostrar que notara sua presença e ela, achando que passava despercebida, alisou o vestido, respirou fundo e ergueu o queixo, dirigindo-se altiva à cadeira mais próxima. Distante umas três do seu anfitrião.José lia o jornal, praticamente onipresente do ambiente, enquanto Yamê se preparava para sentar-se ali perto.– Precisamos conversar – a voz dele
Ele passara a maior parte da noite em claro. Aquela ardência tomando seus músculos e a maldição pinicando sua pele. Sem entrever a lua no céu nublado, seu martírio tangia a insanidade. Era um meio caminho a lugar nenhum. Andou pelo quarto inúmeras vezes, sem o sono lhe ocorrer, e ganhou o corredor, dando vazão a sua inquietação interna. Sua alma sucumbia aos desejos da carne, mesmo que tentasse conter sua fome, o cheiro da presa era o pior veneno para seus anseios. Cada respiração dela era um palpitar mais rápido de seu coração e o sangue corria enfurecido por suas veias, despertando a besta aos poucos. Fechou os olhos, sentand
Não reconhecia os pés que seus olhos verdes fitavam com tanta curiosidade, mas sentia pelo corpo a vibração das folhas secas sobre eles. Pisava com cuidado, sua pele alvíssima contra o chão de terra. Uma angústia consumindo seu peito, como se toda felicidade tivesse sido arrancada de lá à força. Queria chorar, mas a vontade do corpo que lhe emprestava os sentidos a impedia. Era algo que não lhe era permitido cogitar, não naquele momento. Puxou de suas vestes claras de lã grossa um athame e se agachou junto às folhas desenhando um círculo.O sangue correu rápido em sua veia, sabia que lutava contra o