Capítulo 6 Ela está grávida
Ponto de vista de Scarlett

O frasco de remédio vazio zombava de minhas mãos trêmulas. Meu peito apertou com outra onda de dor. Não tive outra escolha senão visitar o Dr. Kane para pegar mais remédios.

Reuni minhas forças e olhei meu reflexo no espelho. As veias negras estavam quase invisíveis sob a blusa de gola alta.

Perfeito.

A última coisa que eu precisava era que alguém notasse meu estado.

O cheiro antisséptico do hospital me atingiu quando entrei pela porta. Eu estava indo em direção ao consultório do Dr. Kane quando vozes familiares me pararam no meio do caminho.

— Você tem certeza de que está se sentindo bem? — A voz de Lucian, carregada de preocupação. — Talvez devêssemos buscar uma segunda opinião.

Meu coração despencou quando olhei ao redor da esquina.

Lá estava meu par, parado sobre Lily, que estava sentada em uma das cadeiras na sala de espera, em frente à ala de maternidade.

Saí devagar. Lucian foi o primeiro a me notar. Sua expressão ficou tensa por um momento, mas, ao me ver com a expressão calma, pude sentir ele relaxar imediatamente.

— Scarlett? Querida, o que você está fazendo aqui? Não está se sentindo bem?

A genuína preocupação em sua voz fez meu coração apertar.

Mesmo agora, ele podia ser tão gentil comigo.

— Eu só vim para um exame de rotina. — Disse suavemente, mantendo meu sorriso calmo de sempre.

A mão de Lily repousava sobre sua barriga enquanto ela me olhava.

— Oh, Luna Scarlett! Que timing perfeito.

Lucian deu um passo à frente rapidamente para explicar.

— Eu encontrei a Lily no meu caminho para o salão do bando. Ela não estava se sentindo bem, então ofereci-me para acompanhá-la ao hospital. Eu deveria ter te ligado.

— Não tem problema. — Disse, mantendo a voz firme. — Você foi gentil.

— Na verdade, Luna Scarlett... — Os olhos de Lily brilharam com um triunfo quase irrepreensível. — Eu tenho uma ótima notícia! Acabei de descobrir que estou grávida. Já tem cerca de um mês.

O mundo novamente começou a inclinar e balançar perigosamente. Um mês, um mês! Eu pensei que fosse durante a nossa comemoração de aniversário de casamento, mas o caso deles aconteceu ainda antes, talvez no período em que Lucian foi visitar o Bando das Sombras, ou quando ele participou da Reunião da União dos Lobos? Meu coração estava em tumulto, mas mantive a compostura, meus anos de prática ajudando-me a manter uma expressão serena.

— Espero que não se importe por eu ter pegado emprestado o seu marido. — Lily continuou, docemente. — Eu estava me sentindo tão mal, e ele foi tão gentil em me ajudar.

Vi a mandíbula de Lucian se apertar diante das palavras dela. Ele se aproximou de mim, sua mão encontrando a região das minhas costas de maneira protetora.

— Scarlett. — Disse suavemente. — Deixe-me te levar para sua consulta. Podemos conversar sobre-

Um grito agudo cortou o ar. Viramos-nos e vimos Lily se pressionando contra a parede, apontando para algo no chão.

Um pequeno filhote desleixado havia entrado na sala de espera. Seu pelo castanho estava embaraçado, mas seus olhos brilhavam de esperança enquanto ele abanava o rabo.

— Afasta isso! — Lamentou Lily. — Aquela coisa imunda quase me assustou! Eu poderia ter caído!

O filhote se aproximou de mim de forma hesitante. Sem pensar, me agachei para cumprimentá-lo.

— Cuidado, amor. — Disse Lucian, sua mão apertando suavemente meu ombro.

— É só um filhote. Ah, Lily, não esperava que você, uma loba, tivesse medo de um cão tão pequeno. — Falei, com um tom sarcástico, enquanto fazia um carinho atrás da orelha do animal. O pequeno se aninhou em meu toque, faminto por afeto.

O rosto de Lily se torceu em desdém.

— Bem, acho que faz sentido você se afeiçoar a um cachorro comum. Afinal, você não tem uma loba própria para se conectar.

Senti Lucian tenso ao meu lado, mas coloquei uma mão tranquilizadora em seu braço.

— Está tudo bem. — Murmurei.

— Não, não está. — Rosnou ele. — Lily, peça desculpas. Agora.

— Eu só estava dizendo o que todo mundo pensa. — Protestou Lily, colocando as mãos de forma protetora sobre sua barriga. — Uma Luna sem uma loba pode muito bem manter cães como companhia.

O filhote gemeu suavemente, sentindo a tensão no ar. Eu o recolhi para os meus braços, buscando consolo em seu calor.

— Eu vou cuidar desse aqui. — Disse, suavemente. — Melhor um cão leal do que nenhum companheiro.

— Scarlett... — Lucian começou, sua voz carregada de dor.

— Por favor. — Interrompi, de forma gentil. — Leve Lily para casa. Ela precisa descansar, considerando a condição dela.

— Mas Luna... — Lily fez um biquinho. — Você não pode ficar com esse vira-lata. O que a matilha vai pensar?

— Eu não me importo com o que eles pensam. — Falei, com um sorriso que não vacilou. — Alguns de nós não precisamos provar nosso valor pelas opiniões dos outros.

Os olhos de Lucian vasculharam meu rosto. Mesmo agora, depois de tudo, ele ainda conseguia ler a dor por trás da minha fachada calma.

— Deixe-me te ajudar primeiro. — Insistiu. — Lily pode esperar alguns minutos.

— Alfa. — A voz de Lily se tornou suplicante. — Estou me sentindo tonta de novo. Por favor...

Afastei-me, mantendo minha expressão serena.

— Vá, Lucian. Eu vou ficar bem.

— Scarlett. — Ele pegou minha mão livre, seu polegar roçando sobre o meu anel. — Precisamos conversar depois.

— Claro. — Concordei suavemente. — Quando você tiver tempo.

A maldição pulsava sob minha pele, mas mantive o sorriso no rosto enquanto o observava levar Lily embora. Só quando desapareceram na esquina foi que deixei meus ombros caírem.

— Luna Scarlett! — A voz do Dr. Kane me fez virar. — Seu remédio...

— Obrigada. — Respondi.

— No entanto, ainda sugiro que você faça outro exame. — Disse o Dr. Kane, observando minha expressão.

— Eu volto amanhã. — Falei rapidamente. — Por favor, eu só preciso ir para casa agora.

O filhote esfregou o pescoço contra mim enquanto eu o levava para o meu carro. Sua presença era estranhamente reconfortante, um amor simples e descomplicado que não pedia nada em troca.

Enquanto dirigia para casa, não pude deixar de pensar na crueldade do destino. Aqui estava eu, morrendo lentamente devido a uma maldição que aceitei para salvar Lucian, enquanto ele criava uma nova vida com outra mulher.

O filhote se acomodou no meu colo, seu calor constante contra minhas mãos trêmulas. Ele me olhou com grandes olhos molhados e confiança neles.

— Vou te chamar de Bobby de agora em diante. — Segurei suas patinhas pequenas.

Ele abanou o rabo alegremente, e era óbvio que também gostava do nome.

— Pelo menos você é honesto. — Sussurrei para ele. — Sem fingimento ou segundas intenções.

Ele não entendeu meu significado, mas ainda assim lambeu meus dedos e esfregou sua cabecinha na palma da minha mão.

A escuridão da maldição pulsava sob minha pele.

Na minha sala de estudos, puxei uma folha nova de papel. Outra carta precisava ser escrita.

Bobby se enroscou aos meus pés enquanto eu começava a escrever, sua presença um conforto silencioso. Talvez fosse isso o que eu precisasse, não o poder de uma loba, mas o amor simples e fiel de um cão.

Quando terminei de escrever a carta, meu celular alertou que eu havia recebido uma mensagem. Quando vi o conteúdo da mensagem, senti o sangue subir à minha cabeça novamente.
Continue lendo no Buenovela
Digitalize o código para baixar o App

Capítulos relacionados

Último capítulo

Digitalize o código para ler no App