20:00
Puta que pariu, ainda faltavam três horas e meia, naquele ponto a ansiedade já me consumia a tal nivel que quase não comi a Lasanha que havia sido preparada pelas cozinheiras do orfanato. Mas quando comecei a comer, não parei mais.
21:45
Tá, ali eu já estava um pouco mais calmo, por mais que, não conseguia parar de pensar nela. Lúcia. Aquela menina linda e de voz doce, ela sabia oque era a coisa no lago, se bem que...
Não. Não, não, não, isso não faz nem sentido. Quer saber, não importa. Oque quer que seja àquilo, eu vou descobrir hoje.22:50
Finalmente, todo mundo no Orfanato dormiu -ao menos era oque eu pensava- peguei meu pingente da sorte (longa história) e um canivete que eu mantinha secretamente debaixo da cama, sei lá, talvez eu precisasse me proteger de alguma coisa que pudesse talvez querer me matar. Era do meu pai. A única coisa dele que eu consegui levar pro orfanato além do sobrenome.
Peguei uma lanterna e abri a janela, fui surpreendido pela grossa voz de Carlos, o filho da puta estava acordado.
-Beto, que porra é essa? -disse ele num tom moderadamente auto- Onde você está indo?
-Você ainda não dormiu não pilantra?
-Não, agora responde a minha pergunta.
-Eu tô indo pro lago, quer ir junto?
-Não e você também não deveria ir, ainda mais a essa hora.
-Para de ser cagão Carlos, eu vou sim, eu sei me cuidar.
-Tudo bem então, depois não fala que eu não avisei.
Após Carlos finalmente me deixar em paz e voltar a dormir, terminei de pular a janela e corri rapidamente para floresta, já em direção ao lago, não havia mais tempo a se perder.
Lúcia já estava lá, iluminada pela luz fraca da lua minguante, aguardava-me sentada numa grande rocha, à beira do lago. Vestida apenas com um vestido de um tecido fino e azul claro, teus cabelos vermelhos pareciam chama ascendente sob aquela luz, com sua mão, brincava com a água do lago até que percebeu minha presença.
Fui tirado de meus devaneios por sua ação rápida. Ao me ver, ela se levantou e veio ao meu encontro.
-Olá Beto.- sua voz ecoou por meu ouvido, até atingir por inteiro meu coração- Ainda posso te chamar assim?
-C-Claro que pode.-minha voz falhou- Não tem problema.
-Eu... -ela refletiu por um momento- não sei como começar..
-Não precisa ter pressa -não queria assustá-la - temos tempo.
-Eu sei mas... Eu preciso fazer isso agora -disse começando a tirar o vestido- observe.
-Ou Ou Ou -exclamei espantado- Oque você está fazendo?
-Shhhh, -ela voltou a tirar o vestido- isso é importante.
-Olha Lúcia, Você é muito legal, mesmo. Bonita também, puta que pariu você é um sonho. Mas não é assim que a vida funciona.
A gente acabou de se conhecer.-Tenha calma. -falou quando finalmente estava completamente nua (nossa, ela era realmente linda)- Tudo vai acabar bem.
Naquele ponto eu já não estava entendendo mais nada. Mas oque quer que estivesse acontecendo, eu estava gostando. Muito. Ela se aproximou de mim e falou num tom quase inaudível:
-É melhor dar um passo pra trás.
Sua voz baixa estremeceu meu corpo inteiro, obedeci ao seu comando e a vi tomar uma certa distância. Ela se virou bruscamente, seus olhos emanavam uma forte luz azul-esverdeada, era mágico, ela começou a correr em direção ao lago, a cada passo que dava, suas pernas desnudas se envolviam sob uma luz de cor semelhante àquela que lhe saía dos olhos, ao chegar a certo ponto, ela deu o salto mais alto, belo e impressionante que eu já havia presenciado.
Ainda no ar, pude ver ela se transformar da cintura pra baixo, foi extremamente rápido, quando vi, ela já estava no lago.
Corri para a beira do lago e não a encontrei. Será que foi tudo coisa da minha cabeça -pensei- foi tudo tão... real.
Fui pego de surpresa pela imagem da "nova" Lúcia saindo de repente da água. Seu corpo havia realmente mudado, da cintura pra baixo, seu corpo assumira uma aparência escamosa e longa, similar a um peixe.Eu não podia acreditar em meus olhos, ela era uma-Sereia, Meu Deus. Você é uma sereia.
-Não -a fala foi seguida por uma risada curta e meiga- Quer dizer, ainda não.
-Eu não posso acreditar nisso, e-eu. Não. Velho. Como?
-Eu sei que pode parecer estranho mas--
-Estranho? Pra mim isso não era nem possível.
-Pois então, acontece que é né.
Me sentei, quer dizer, caí pra trás e fiquei ali, a observando. Como era possível? Era assustador e lindo ao mesmo tempo. Haha, eu conheci uma sereia. Tipo, Uma sereia de verdade. Aquilo pra mim era um mix de emoções sem igual.
-Vai ficar aí parado? -Lúcia quebrou o silêncio que eu não fazia idéia que havia se instalado entre nós.
-O que?
-Eu ainda não terminei, tenho mais pra te mostrar.
-O que? Como o que?
-Minha casa, quero te explicar como e porquê eu estou aqui.
-Er... Claro. Porque não?
-Então é isso, Tira a roupa e entra no lago.
-Desculpa, como?
-Tira a roupa e en--
-Não, não. Isso eu entendi, mas... Porque?
-No meu lar, vestes humanas não são permitidas.
-Mas... Sei la. É que tá frio.
-Tá com vergonha?
-Também e com um pouco de medo. As histórias sobre sereias não costumam terminar bem para os homens.
-É realmente, mas como eu já disse, eu não sou sereia ainda.
-Isso aí eu ainda não entendi.
-Eu te explico no caminho pra minha casa, Vamos?
-Acho que sim né. Não tenho nada a perder mesmo.
Tirei toda minha roupa, toda mesmo, ela havia dito que nem a cueca podia ficar, pode isso?
Adentrei na água absurdamente fria do lago e me aproximei dela. Lembrei do porque de eu não gostar nem um pouco de nadar pelado. -Antes de nós irmos, -disse Lúcia- preciso de dar uma coisa.-Oque se--
Não consegui terminar a fala, ela me calou com um beijo.
Havia sido um "beijo" muito estranho. Não sei nem se posso chamar de beijo. Já dentro d'água ela me puxou forte pela cintura e surpreendeu minha boca com a dela.Gostei. Seu lábios estavam grudados aos meus, mas ela não se movia, até então eu não fazia ideia do porquê. Durante o suposto beijo, pude sentir algo sair dela e entrar em mim, percorrendo minha garganta e parando em meus pulmões, atracando-se a eles. Abruptamente ela nós separou.Sem entender oque havia acontecido, perguntei: -O...oque -minha respiração falhou- ...foi isso? -...eu ... -ela também ofegava- ... precisava... Fazer isso. -Porque? -Minha casa... fica do outro lado... desse lago. Agora você pode vir comigo. -Então eu... Respiro de baixo d'água? -Bem. Agora respira. -Nossa. Esse dia só fica mais estranho. 
Cheguei na escola com o maior entusiasmo, o dia anterior havia sido incrível. Incrível não. Espetacular. E hoje pode ser ainda melhor. Depois do que aconteceu Lúcia -sei que esse não era o nome dela de verdade, mas é bem mais fácil chamá-la assim-, me mandou uma mensagem dizendo que se eu quisesse ela me levaria pra conhecer outras partes do mundo dela. E não. Eu não fazia ideia de como ela havia mandado aquela mensagem. Mas não importa, só de pensar que eu vou voltar àquele lugar... Passei todas as aulas pensando em como seria voltar àquele mundo (até então eu não sabia o nome), se sereias (e Aquas) existiam, o que mais poderia existir? Quais eram as reais capacidades de Lúcia? Tudo na ideia de um novo mundo me maravilhava, assim como aquela menina. Apenas três dias com ela já foram incríveis. Ela era fantástica, de todas as maneiras possíveis. Não dava pra descrever o que eu sentia em relação à ela. Nos conhecíamos a pouco tempo, mas ela já me fez experimentar tan
Após alguns minutos de correria, percebi que não estava ficando cansado, o que era estranho pra mim já que eu levava um estilo de vida sedentário. Corremos por um bosque magnífico, cheio de vida e cor, tudo era tão maravilhoso que eu mal podia processar tudo de uma vez. As flores daquele bosque tinham uma forma estranha, cores vívidas e brilhantes, nunca havia presenciando um verde tão verde, um rosa tão rosa, ou um vermelho tão vermelho. A grama daquele bosque, também era diferente da grama comum, era macia, de um verde claro um pouco mais escuro que o do caule das flores, pisar naquela grama, era como pisar em neve, porém quente.Paramos em frente a um gigantesco portão de madeira, tinha uns 20 metros de altura e 15 de largura pelo menos, ao mesmo tempo que aparentava ter centenas de anos, aparentava também ser forte como um novo. -É aqui- disse Lúcia- Vem. -Calma, calma- a interrompi- Onde é “aqui”? -Ah, aqui é Atamald, um dos únicos
Bati na porta da instituição e fui recebido por Abner, o porteiro, que me repreendeu por estar chegando muito tarde, às 20:45, o tempo havia passado estranhamente rápido. Me dirigi direto à ala dos meninos indo para o meu quarto, Rafael, um menino que ficava a uns dois quartos do meu estava saindo do quarto que eu dividia com Carlos pouco antes de eu chegar, ele agia meio estranho, estava mancando e parecia envergonhado, achei ser apenas impressão minha. Entrei no quarto e encontrei Carlos deitado com cara de besta, quer dizer, mais do que o normal.-Carlos- chamei e ele se sentou na cama me encarando.-O que foi? - perguntou, sua voz parecia vaga e sei lá, ele estava estranho. -Eu vi o Rafael saindo do quarto, o que rolou aqui? -Ah... como você não estava aqui eu o chamei pra jogar -respondeu Carlos ap&oac
Calor. Antes de abrir os olhos, senti meu rosto sendo aquecido pela luz do sol que entrava discretamente pela janela, a sensação que era bem vinda, me fez querer pular da cama feliz e aproveitar o dia lá fora. Mas infelizmente não dava, precisava ir pra escola.Espera aí.Minha escola era pela manhã, como eu estava sentindo aquele sol se...Me levantei e peguei meu celular, liguei a tela e vi o horário: 11:06. Passei as mãos no rosto frustrado, nem se eu quisesse poderia chegar a tempo na escola. Havia perdido um dia de aula, aquilo me incomodava, não era exatamente um super fã da escola, mas sabia da importância de boas notas num futuro estágio, por isso, prezava tanto pela presença quanto pelas atividades e trabalho, um dia a menos significava um passo pra trás nos meus planos. Me sentei na cama.Carlos inesperadamente adentrou o quarto segurando um peda&cce
-Mais uma pra conta do pai- eu grito vitorioso enquanto meu Kung Lao finaliza o Scorpion de Lúcia, cortando sua cabeça ao meio e fazendo seus miolos saírem da cabeça de maneira grotesca.-Você sabe que eu deixei você ganhar, né? - Lúcia diz em tom de clara derrota.-Me deixou ganhar das últimas quatorze vezes também? - eu ria de sua falha tentativa de explicar sua derrota.-Foi.-Ah, para. Só admite que eu sou melhor que você e pronto.-Você se acha demais. - disse ela me acertando com uma almofada- Só porque me venceu algumas vezes.-Quinze- a lembrei.-Tá, quinze. Eu perdi, você venceu, está feliz agora? - Lúcia diz largando o controle em cima do sofá.-Oh meu Deus- digo com voz manhosa- Vem cá vem. Quer mudar de jogo? A gente pode jogar junto.-Co-operativo? - ela pergunta se animando.-Isso mesmo,
Silêncio. Paz. Inspiração. Expiração. Lúcia se deliciou com o ar puro e limpo do bosque isolado, sorriu ao olhar para o lago e lembrar de seu primeiro encontro transformada com Beto. O silêncio instalado no local não era aterrador ou solitário, era acolhedor, calmo, ela tinha certeza que se prestasse atenção, poderia ouvir as árvores crescendo ao seu redor, aquele era seu lugar de paz, seu porto seguro. A Aqua desejou poder apreciar sua solidão por mais tempo, mas como a princesa de Aquitaria, ela tinha suas obrigações. Lúcia novamente seguiu o maçante.ritual, se despiu e adentrou a água gelada do lago submergindo nela, ela sorriu quando começou a sentir a transformação. Suas pernas formigavam e se colavam uma na outra com uma força impressionante, Lúcia sentia o formigamento da magia agindo sob sua pele, suas pernas coladas foram tomadas por um brilho intenso que era acompanhado por um calor mui
Lúcia abriu seus olhos, sentindo a luz fraca do sol da Exoterra traspassando a água e atingindo seus olhos fazendo-os arder. Ao contrário do que muitos pensam, sereias dormem sim, mal, mas dormem, sobem até um ponto alto de suas moradias e sobre a luz da lua adormecem. Lúcia se espreguiçou pensando em como começar seu dia, pensou em Beto, no que ele estaria fazendo naquele momento, pensou em como gostava da companhia dele, do seu jeito fofo, sua personalidade carismática, seu humor, pensou se o que estava sentindo era saudade, poderia ser? Ela não saberia responder, não naquele momento. A jovem princesa resolveu reencontrar suas amigas para afastar aqueles pensamentos de sua mente, nadou até a cozinha de seu castelo pegando uma pastilha de gengibre adocicado (servia basicamente como café) e se dirigiu para o centro do reino. Aquitaria era com certeza um lugar esplendoroso, toda aquela cor, toda aquela vida que sempre fazia Lúcia parar de nadar