Ainda não era claro para Tatiana o que passava pela mente de Fábio. Seu foco estava totalmente dedicado aos ingredientes dispostos diante dela. Como os clientes do meio-dia eram três idosos, ela planejava fazer pratos de fácil digestão e mastigação. Os ingredientes, provavelmente devido à competição, estavam facilmente disponíveis e já haviam sido preparados antecipadamente, aguardando apenas que o chef os combinasse e cozinhasse.Tatiana trabalhava rapidamente, organizando os acompanhamentos, preparando os temperos, e deixando tudo pronto para uso, assim como o prato principal.Para os três idosos, quatro pratos e uma sopa seriam suficientes.Aspargos com crosta de pão ralado, um prato extremamente simples, mas que representa um desafio para o chef, principalmente no controle do tempo de cozimento. Se for pouco, não fica crocante, se passar do ponto, fica duro e difícil de mastigar. Apesar de parecer simples, conseguir a crocância e sabor perfeitos requer certa habilidade.Bacalhau ao
Ao perceber que Gael finalmente reagiu, um sorriso de satisfação surgiu no rosto de Fábio. Nesse momento, ele já nem pensava mais em comer. Estava com as mãos cruzadas atrás do corpo e um sorriso estampado no rosto, olhando fixamente para Gael.- Você, velhote, está ficando surdo com a idade, ou é o seu cérebro que está reagindo mais lentamente? Não entendeu o que eu disse? Eu disse que a sua mestra é minha neta! Entendeu agora? - Rebateu Fábio. Gael ficou paralisado no lugar, incapaz de falar, algo raro para alguém que sempre teve resposta para tudo, olhando para Fábio de forma lenta e, em seguida, se virando para olhar Tatiana, que não estava muito distante.Esta situação aconteceu mais cedo do que Tatiana imaginava.Ela mordeu o lábio, sem saber ao certo como responder naquele momento.Mas a realidade é o que é, mesmo que ela não diga, nada mudaria o fato.Finalmente, Tatiana começou a falar, apresentando a Gael.- Este senhor é realmente o pai da minha mãe, ou seja, meu avô mater
Hélio reconhecia que as palavras eram apenas uma brincadeira de Gael, uma tentativa de dissipar a tensão. Optando por não simular irritação e evitar uma discussão como faria em circunstâncias normais, Hélio apenas sorriu, deixando transparecer uma expressão resignada em seu rosto envelhecido.- Antes de vir para Cidade R, eu morava com minha velha mãe em nossa casa antiga. Naquela época, embora o salário não fosse alto, minha profissão era considerada respeitável e em razão de viver com minha mãe naquele período, ainda sobrava dinheiro todo mês. Ela era uma excelente cozinheira. Quando eu estava ocupado demais para comer, ela pensava em todos os tipos de maneiras de melhorar meu apetite e cuidar da minha saúde, preparando a comida e trazendo ela ao hospital para me ver comer. Os dias mais ocupados eram durante os feriados, quando não era proibido soltar fogos de artifício. A maioria dos pacientes que eram trazidos ao hospital nessas noites de Ano Novo tinha queimaduras, e havia também
A pessoa que entrou não era ninguém menos que Lorenzo, que antes estava no assento dos jurados. E o outro, não muito conhecido pelos demais, mas reconhecido por Tatiana, que o havia visto dois meses antes. Rafael Alves. O irmão mais velho de Pedro, o atual chefe da família Alves da Cidade P. Mas, como ele poderia estar aqui?- O que aconteceu aqui, quem foi que fez isso sem prestar atenção! - Questionou alguém.Enquanto Tatiana ainda pensava, Fábio já havia colocado seus utensílios de lado, se levantado da cadeira.O festival gastronômico de hoje era organizado pelo Restaurante Flower, e se algo desse errado, certamente seria responsabilidade do Restaurante Flower, ele tinha que estar alerta.Tatiana também se levantou, se algo realmente tivesse acontecido lá fora, ela não poderia deixar o ancião se arriscar sozinho.Neste momento, ela não podia se dar ao luxo de se preocupar com a rixa entre ela e Lorenzo.- O que aconteceu lá fora? - Perguntou Tatiana, com o cenho franzido. Lorenzo
Depois do que Lorenzo disse, vários equipamentos de gravação mudaram de direção. A uma certa distância, o grande incêndio que ainda queimava agora só deixava para trás uma densa fumaça negra, e as chamas já não eram visíveis. Desde o momento do estrondo da explosão até o surgimento e a subsequente extinção do fogo, se passaram apenas cerca de vinte minutos. Vinte minutos foram suficientes para apagar as chamas. Os bombeiros nem tinham chegado ainda.Enquanto muitas pessoas no local estavam chocadas, Fábio, ao lado de Tatiana, caminhou até a frente das câmeras. O ancião estava com uma expressão severa e seus olhos envelhecidos ainda eram penetrantes, endireitando sua coluna diante de um conjunto de câmeras, como se estivesse sozinho enfrentando um grupo imponente. Após varrer o olhar sobre as pessoas presentes, Fábio fez uma profunda reverência, se erguendo e começando a falar com uma voz forte.- Em nome de todos que vieram participar do grande concurso de culinária hoje, eu, Fábio Siq
Hospital.Pedro chegou enquanto Lorenzo ainda estava na sala de emergência. Tatiana estava sentada silenciosamente perto da porta, seu rosto belo ainda marcado com traços de fuligem preta. Ela estava sozinha no corredor, parecendo um tanto solitária.Ao ver Tatiana, Pedro correu até ela, ofegante.- Taís, o que aconteceu com Loh? Como ele foi parar no hospital? - Perguntou Pedro. Tatiana levantou lentamente os olhos, sem saber como começar a falar.Este acidente foi em grande culpa dela. Se ela tivesse impedido Lorenzo e ido ajudar seu avô, Lorenzo não teria se envolvido.Ela preferiria estar machucada a dever um favor a Lorenzo.- O que houve, Taís? Alguma coisa aconteceu? Não me diga que seu irmão bateu no Loh de novo e ele acabou no hospital. - Indagou Pedro. -Mesmo numa hora dessas, Pedro ainda tinha humor para brincar.Infelizmente, Tatiana não conseguia sorrir. Ela apertou os lábios, e só depois de um momento sua voz rouca emergiu.- Desculpe. - Lamentou Tatiana. Ela se levan
Tatiana acordou no caminho de volta para a Mansão dos Orsi. Já estavam quase chegando à mansão, e o carro havia se afastado do barulho da cidade. Pela janela, só se via árvores exuberantes e verdes, uma visão que acalmava o coração. Ela ficou olhando pela janela por um tempo, até que seu cérebro finalmente começou a funcionar, e ela lentamente se lembrou do que havia acontecido. Primeiro, ela tinha ficado sentada no hospital por muito tempo. Depois, seguiu Leo para descer as escadas e depois disso não se lembrava de mais nada. Como ela acabou dormindo no carro? Antes que Tatiana pudesse fazer a pergunta, Leopoldo falou primeiro.- Irmã acordou? Tem água e lanches no compartimento secreto do carro, se estiver com fome, pode pegar para comer. Ainda faltam uns dez minutos para chegarmos em casa. - Disse Leopoldo. Ela tinha acabado de acordar e não estava com fome, mas sua boca estava seca. Então, ela pegou uma garrafa de água e bebeu alguns goles para umedecer a garganta.- Leo, qu
O Restaurante Flower realmente fez um grande alarde desta vez.O concurso de culinária, que acontece a cada três anos, começou a ser promovido meses antes, e depois foi adiado por dois meses devido a problemas com o local.As pessoas estavam curiosas para ver o que a família Siqueira faria depois de dois meses, mas não esperavam que o local do concurso fosse tão luxuosamente preparado.O fato de terem tanto dinheiro para construir o local mostrava o quão lucrativo o Restaurante Flower era normalmente.Todos no ramo da gastronomia se perguntavam, por que o restaurante deles poderia ganhar tanto dinheiro e os deles não?Os mais invejosos de seu sucesso são seus concorrentes.Então, o incêndio criminoso teve um motivo.Eles queriam que os outros vissem que o Restaurante Flower, apesar da aparência grandiosa, na verdade não estava preparado para nada. O local parecia luxuoso e grande, mas nem mesmo fizeram uma checagem de segurança nos equipamentos de cozinha de todos, literalmente brincan