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No dia seguinte, Damien cancelou todos os compromissos da Matilha, declarando que me levaria ao Festival da Lua de Inverno na cidade. Seu entusiasmo parecia genuíno, quase desesperado.

O mundo humano explodia em cores e vida, em contraste com o nosso território árido no norte congelado. Vendedores de rua gritavam seus produtos enquanto crianças corriam entre as barracas, soltando faíscas de fogos de artifício nas mãos.

Apesar de tudo, não pude deixar de sentir uma pontinha de excitação. A energia do festival era contagiante.

Se não fosse por Damien, nunca teria escolhido viver em um lugar tão isolado e desolado...

Mas agora, nada disso importava. Em duas semanas, eu estaria livre.

Damien me mantinha pressionada contra seu corpo enquanto caminhávamos pela multidão do festival, sua mão se estendia constantemente para ajustar o colar de pedra da lua que eu usava. — O presente de acasalamento dele. Cada toque parecia uma marca na minha pele.

Uma jovem loba, com olhos brilhantes, saltitou até nós, segurando uma cesta de flores.

— Rei Alfa! — Ela fez uma curta reverência, de maneira desajeitada. — Flores da Lua para sua parceira? Elas só florescem durante as luas cheias e simbolizam amor eterno!

As flores brilhavam com uma luz suave e prateada, lindas e raras.

Eu me encolhi, prestes a recusar, mas Damien já estava escolhendo-as com um sorriso satisfeito.

Ele examinou cada flor cuidadosamente, finalmente dizendo:

— Vou levar todas. Como poderia resistir a um símbolo tão perfeito?

— Espere. — A palavra escapou antes que eu pudesse impedir.

Forcei-me a sair do meu transe, estendendo a mão para parar a dele.

Damien se virou para mim, os olhos calorosos, mas com um brilho de confusão.

— O que houve, amor? Você sempre amou flores da Lua.

Minha voz saiu rígida.

— Não gosto mais delas.

O rosto dele ficou rígido, as pupilas se contraíram enquanto sua expressão se tornava estranha. Algo como medo passou rapidamente pelos seus olhos.

Ele forçou um sorriso, mas sua voz estava tensa.

— Mas Sierra... elas sempre foram suas favoritas desde que nos conhecemos. Por que de repente...?

Meu coração se apertou com uma dor familiar.

Lembrei-me de como ele havia passado meses cultivando um jardim inteiro de flores da Lua em frente aos nossos aposentos, cuidando delas durante o rigoroso inverno, só para me fazer sorrir.

Agora ele escolhia essas mesmas flores para Emily, entregando-as secretamente para ela na cabana na floresta.

A pergunta queimava na minha garganta: Quando você dá essas flores para Emily, lembra das promessas que fez a mim? Sente alguma culpa, sequer?

Antes que eu pudesse falar, um novo guarda, que eu nunca tinha visto antes, se aproximou de Damien por trás. Algo no cheiro dele me fez congelar.

O guarda era pequeno para um macho, com traços delicados, apesar de tentar parecer masculino. Mas, sob o almíscar artificial, percebi um cheiro floral familiar.

Emily. Ela se disfarçara de guarda masculino, mas não conseguiu mascarar seu verdadeiro cheiro diante de uma loba.

— Alfa, notícias urgentes da fronteira sul~. — Disse ela, forçando a voz para torná-la mais grave. — Sua atenção imediata é necessária.

O poder de Damien se intensificou brevemente antes de ele a reconhecer. Sua expressão oscilou entre raiva e algo mais.

Minha respiração ficou presa, dolorosamente. É claro que ele sabia quem ela era.

Mesmo disfarçada, sua beleza irradiava aquela qualidade etérea que havia capturado meu parceiro.

Damien se moveu, colocando-se entre nós como se fosse protegê-la da minha visão.

— Sierra, aproveite o festival enquanto eu cuido disso... — Seus olhos culpados não conseguiam me encarar.

Eu abaixei o olhar, com as mãos cerradas atrás das costas.

— Tudo bem. Eu me viro sozinha.

Ele estendeu a mão para acariciar minha bochecha, mas eu me virei.

A voz de Damien se endureceu quando ele se dirigiu ao disfarce de guarda de Emily.

— Sua imprudência pode trazer consequências. Lembre-se do seu lugar.

A ameaça na voz dele era clara, mas seus olhos guardavam algo diferente quando encontraram os dela.

Emily fez uma leve reverência, um sorriso sutil brincando em seus lábios.

— Claro, Alfa. Precisamos nos apressar...

Sua voz havia perdido o tom masculino, tornando-se doce como mel.

Damien fez uma careta e agarrou bruscamente o braço dela.

— Chega. Você está se arriscando demais.

Seu poder se intensificou, deixando marcas vermelhas na pele pálida dela. Mas o gesto parecia mais uma carícia do que uma punição.

O rosto de Emily exibiu um lampejo de triunfo antes de se desfazer em uma falsa submissão. Ela se afastou, cabeça baixa.

Quando ela desapareceu na multidão, a expressão de Damien se suavizou ao me olhar.

— Sierra, dê uma olhada no festival. Não vou demorar.

Eu assenti mecanicamente, acenando para ele ir embora.

Ele acariciou meu cabelo e, em seguida, ordenou a dois betas que ficassem comigo. Seus olhos se tornaram frios.

— Vigiem-na com cuidado. E encontrem aquele colar.

Sua ordem passional me fez rir amargamente por dentro. Que atuação convincente.

Quando Damien desapareceu na multidão, eu o segui silenciosamente, deixando os Betas confusos para trás.

Eu os segui até uma cabana abandonada na borda do festival. Pela janela, observei-o puxar Emily para seus braços.

— Você é imprudente demais. — Rosnou ele. — Não deveria aparecer diante de Sierra.

As lágrimas de Emily caíam enquanto ela batia com seus pequenos punhos contra o peito dele, em uma impotência ensaiada.

— Eu senti tanto a sua falta. Por que você é tão cruel? — Ela fungou. — Achei que esse disfarce funcionaria...

Ela mudou de forma brevemente, sua loba branca pura reluzindo.

— Vê como sou bonita? Não quer me ter?

Emily levantou o braço avermelhado, onde ele a havia segurado. A manga do uniforme de guarda caiu para trás, revelando um delicado rendado por baixo.

A garganta de Damien se moveu enquanto seus olhos se escureciam com um desejo óbvio.

— Quer ver o que estou vestindo por baixo dessa fantasia? — Ela sussurrou. — Escolhi especialmente para você.

A ousadia dela crescia a cada palavra.

Ele agarrou seu braço, a fome substituindo a raiva. — Que lobinha travessa...

Emily deu uma risadinha e se aproximou mais. — Só para você...

Eles tropeçaram para dentro da cabana, as sombras se misturando no vidro da janela.

Eu fiquei parada, congelada, enquanto os sons de paixão deles saíam de dentro. Meu estômago se revirou ao ver Damien beijando carinhosamente o braço que ele fingira ter machucado.

Meu tornozelo latejava onde eu o torcera ao segui-los, inchado além do reconhecível agora.

Mesmo sabendo que a poção logo apagaria tudo, o ciúme e a traição dilaceravam meu peito.

Lágrimas escorriam silenciosamente pelas minhas bochechas.

Os gemidos íntimos deles ficavam cada vez mais altos. Eu tapei os ouvidos, mas não consegui bloquear os sons do prazer deles.

Cada ruído perfurava meu coração como facas de prata.

A dor era pior do que morrer.

Forcei-me a andar para longe, cada passo enviando dor lancinante pelo meu tornozelo.

Meu cabelo cuidadosamente arrumado havia se soltado, minhas roupas estavam sujas, meu tornozelo inútil, eu estava uma completa destruição.

Tentei me confortar. Essas seriam minhas últimas lágrimas por ele.

Quando finalmente consegui voltar para a casa do Matilha, os Betas estavam lá com o meu colar recuperado.

A visão despertou memórias de Damien me pedindo para ser sua companheira, seu rosto corado de nervosismo e esperança.

As bochechas dele estavam vermelhas, mas o olhar nunca vacilou, as palavras carregadas de sinceridade.

— Sierra, juro te amar nesta vida e em todas as vidas que virão.

Meu coração quase parou com a intensidade dele.

Ele manteve aquela promessa fielmente no começo. — Levando cada uma das minhas palavras a sério, me protegendo de todas as ameaças.

Ele até morreu me defendendo, antes de seu lobo surgir completamente.

O colar ainda brilhava, mas o homem que fizera aquelas promessas já não estava mais ali.

Olhei para o pingente de pedra da lua, deixando meu polegar traçar suas curvas familiares pela última vez.

— Adeus, Alex. Eu não quero mais isso. E Não quero mais você. — Sussurrei, tão suavemente que até as orelhas de um lobo não conseguiriam ouvir.

— Amor, o que você disse?

A voz de Damien me fez pular. Ele havia voltado de seus "afazeres urgentes", o cabelo um pouco desarrumado.
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