BIANCA NARRANDO
Entrei na faculdade bastante alheia a tudo, com a mente perdida em Robin. Ele atacou de novo, fez uma loucura com os fundos imobiliários do município e deixou todo mundo bem perturbado. Bom, pelo menos a galera com mais dinheiro...
Eu queria pensar nisso, mas ao mesmo tempo não queria. Eu precisava focar nos meus estudos, só tenho seis meses pela frente até a formatura. Hoje tenho uma aula que gosto bastante, mas que faço sozinha porque Marcela bombou uma que precisa ser estudada antes dessa.
– Bom dia, Bianca! – Ouvi a voz de Bill. Ele estava num grupinho de amigos com Brad e mais umas meninas que sempre estão ao redor dele como moscas.
– Bom dia. – Caminhei até eles. – Achei que você só falasse com plebeus na biblioteca. – Brinquei.
Ele me abraçou e me deu um beijo no rosto. Vi que as meninas me olharam torto e eu odeio isso. Odeio mesmo.
– Vou ter que te dar uma autorização por escrito pra você me dar bom dia fora da biblioteca, então. – Dei risada do que ele disse.
– Eu preciso ir, tenho aula com o professor Marcos agora.
– Espera, eu tenho aula com ele agora também. Eu tive que remanejar algumas coisas na minha grade de aulas por causa do boxe... – Ele tirou um papel do bolso e mostrou. – É a mesma sala que a sua?
– É sim. Vamos, eu te levo lá. – Ele sorriu e acenou para os amigos, inclusive para Brad, e veio me acompanhando.
Entramos na sala e a aula hoje era em duplas. Por falta de opção, sentei com Bill. Ele estava impaciente e mexia as pernas o tempo todo. Eu fiquei olhando os movimentos das pernas dele, mas não de propósito, eu apenas me perdi em pensamentos mesmo.
– O que foi? Tô te incomodando? – Ele me tirou do transe.
– Não, eu só estou meio avoada. Mas você precisa tomar uns calmantes, suas pernas balançam muito, nossa.
– Bom dia, queridos. – O professor já havia ligado o computador e o projetor.
Na tela, havia o símbolo de Robin Hood. Aquela carinha sorridente com olhos de X. Lembrei da noite em que ele falou comigo através do jogo, e pensei que talvez pudesse tentar falar com ele por lá novamente.
– Estão vendo esse símbolo? Não há uma só alma nessa sala que não saiba o que isso significa. Porém, ninguém aqui sabe o rosto por trás da carinha feliz com olhos de cruz. – Todos se entreolhavam confusos. – Hoje, pela importância cibernética de ataques de hackers, eu quero que vocês criem teorias de quem é esse hacker, como encontrá-lo e pará-lo.
– Ninguém quer parar o Robin Hood, professor. – Um aluno disse. Vários outros concordaram.
– Não é esse o ponto. Hoje ele está roubando bancos e fazendo caridade. Amanhã ele pode roubar o país e falir a casa da moeda. Não é possível que vocês não consigam enxergar isso... – O professor foi até o computador e em alguns cliques, colocou no projetor algumas fotos. – Essa mocinha aqui tem vinte e três anos e seu codinome é Bindy. Ninguém sabe o paradeiro dela. Ela faliu duas cidades da Europa com alguns cliques. Enviou todo o dinheiro para um paraíso fiscal e simplesmente desapareceu. Esse daqui? – Apontou para um outro. – É um hacker australiano que abriu a porta de todas as celas de segurança máxima de uma prisão por pura diversão. Ele transmitiu a chacina que os presos fizeram uns com os outros na deep web e ganhou milhões. Desaparecido também. E bom, essa terceira foto é um retrato falado, ninguém sabe se é real ou não, mas representamos o hacker de codinome Ômega com ele. Ele invadiu o pentágono e jogou documentos a público que fizeram o país colapsar.
– Mas o Robin Hood não faria nada disso. – O professor negou com a cabeça.
– Vocês acham que não. Mas alguém que consegue entrar em diversos bancos através de um computador tem poder demais nas mãos. E o poder corrompe.
Bill continuava balançando os pés e pernas enquanto o professor falava. No final das contas, mesmo após a discussão, tivemos que fazer a atividade.
– E aí, Bill, quem você acha que é o Robin e como a gente pode parar ele?
– Eu acho que ele deve ser um cara solitário. Com raiva do mundo, provavelmente... Revoltado com alguma coisa. Provavelmente muito magro e com cara de nerd... – Nós dois rimos.
– O estereótipo de hacker? – Ele deu os ombros.
– Ele só vai parar quando conseguir o que quer, Bia. E se a gente não sabe o que ele quer, não tem como parar o cara. Até agora ele roubou dos ricos e deu para os pobres, mas aonde ele quer chegar com isso? – Bill questionou. Eu estou começando a achar que o Bill é mais inteligente do que aparenta ser.
– Talvez ele queira reparar algum dano social que ele viveu e não quer que os outros vivam? Tipo, ele foi pobre e sofreu... E não quer que isso aconteça com as outras pessoas?
– Eu acho que é mais que isso. Existem três motivos básicos pelos quais as pessoas fazem merda: Amor, dinheiro e vingança.
– Se o motivo fosse dinheiro, Bill, ele não daria uma parte para os pobres. – Ele concordou.
– E amor acho que está fora de cogitação. – Bill disse. – Então, o que restou foi a vingança. Se soubermos quem ele quer atingir, saberemos o que ele quer e como pará-lo.
– Eu acho melhor você ficar quieto, Bill. O professor está fazendo a gente pensar nisso com algum propósito, e eu não quero que o Robin se prejudique. – Eu falei. Ele sorriu.
– Gostou da minha teoria, então?
– Eu acho que você tem um ponto. – Respondi e sorri.
A aula acabou. Depois do dia na faculdade, cheguei em casa e me sentei em frente ao computador. Eu abri propositalmente o jogo que estou desenvolvendo e digitei na tela: "Você está aí?"
Em questão de minutos, uma mensagem embaixo da minha apareceu.
"O que você quer?"
"Um chat melhor para conversar com você. Preciso te contar uma coisa." Escrevi.
A tela do meu computador ficou totalmente escura, e agora, o nome Robin aparecia e também o meu. As mensagens entre mim e ele seriam mais pessoais agora. Ele criou um chat que não pode ser rastreado para nós dois.
Robin: Diga o que você quer.
Bianca: Botaram uma sala com 60 alunos na San Andreas pra pensar sobre como te parar. Eu estou preocupada.
Robin: Eu já sei disso.
Bianca: Não está preocupado?
Robin: Não.
Bianca: Queria ver seu rosto.
Robin: Me procure na faculdade. Estou sempre lá.
Acabei rindo com a resposta dele. Como vou procurar alguém que nunca vi o rosto?
Bianca: E eu procuro pelo que? Um homem de capuz e máscara com X nos olhos e um sorriso bizarro?
Robin: Touché.
Ele gosta de livros. Eu sinto isso.
Bianca: Eu gosto de você.
Robin: Eu também gosto de você.
Robin Hood acabou de falar que gosta de mim. Meu coração parecia a porra de uma bateria de escola de samba.
Bianca: Queria que você pudesse me ver. Eu estou uma gata hoje.
Robin: Eu posso te ver se eu quiser.
Eu engoli seco. Isso é verdade, mas eu estava apenas puxando assunto, queria falar mais com ele e... Eu nem sei o motivo. Eu sou maluca. Eu estou querendo dar pra um hacker que eu nem sei se é um velho gordo ou um gato sarado, essa é a verdade.
Bianca: E você quer me ver?
Minha webcam ligou sozinha. Eu respirei fundo e olhei para ela.
Robin: Isso responde sua pergunta?
BIANCA NARRANDOAinda estamos no chat. Eu sei que ele está me vendo, eu estou com um pijama azul e agora que ele ligou minha webcam, eu estou paralisada. Foram alguns segundos até minha mente voltar ao normal.Comecei a finalmente digitar no chat.Bianca: Que pena que eu não posso te ver também. Ele demorou um pouco para me responder. Mas respondeu.Robin: Ainda não.E aí, eu decidi fazer uma loucura. Algo completamente louco mesmo.Bianca: Vou deixar a janela do meu apartamento aberta. Você pode subir pela escada de incêndio e entrar. Eu não vou passar meu endereço, porque você provavelmente já tem. Eu quero te ver, Robin... E quero que você tire minha roupa.Eu estou louca. É isso.Robin: Em vinte minutos, apague as luzes.Bianca: O que vai fazer?Robin: Apenas obedeça. Fique em pé de costas para a janela... E não se esqueça, eu estou vendo você.Aquilo fez cada pelo do meu corpo se arrepiar. Medo e tesão... Uma mistura perigosa.Bianca: Você vai vir tirar minha roupa?“Bianca, voc
CAPÍTULO 6BILL NARRANDOEntrei no meu quarto pela janela. Removi minha máscara e respirei fundo, a jogando no chão. Fechei a janela do quarto e passei as duas mãos em meu próprio cabelo. A única coisa que eu conseguia pensar era: Que caralhos que eu fiz?Desde que a Bianca entrou na faculdade, eu fiquei obcecado por ela. Não sei dizer o motivo, talvez seja o fato dela ter um rosto delicado que quando sorri revela uma covinha linear. Talvez seja seu cabelo castanho com as pontas mais claras, ou as roupas que usa. Talvez seja a combinação de inteligência e delicadeza ou o fato dela querer desenvolver jogos educativos que serão utilizados para a reintegração de crianças à sociedade, depois do transtorno de estresse pós-traumático. Eu não sei. Talvez seja o fato dela ler compulsivamente todos os livros que eu li durante minha vida inteira...Deslizei as costas pela parede e sentei no chão. Olhei para o meu quarto, bastante escuro, e comecei a lembrar do que aconteceu no quarto dela. Como
CAPÍTULO 7BIANCA NARRANDOEu estava com tanta saudade dos lábios dele nos meus, das mãos fortes em meu corpo e do corpo dele grudado no meu... Eu ficaria vendada, sem roupa, do jeito que ele pedisse, contanto que pudesse estar aqui, com a boca na boca dele. Meus dedos passeavam por seu cabelo, e eu o correspondia no beijo de forma intensa.– Ah, Robin... – Sussurrei, pois não queria fazer barulho. Vai que algum vigia surge do além...– Vem cá. – Ele se afastou.Me pegou no colo, fazendo meu corpo deitar sob seu ombro. Ele iria me carregar como se eu fosse um saco de batatas, ou um cadáver. Aquilo provavelmente daria medo em qualquer uma, mas não em mim.– O que tá fazendo? – Resmunguei. Além de estar sendo levada para algum lugar, estou vendada, com um cara que é hacker e eu não sei o nome.– Shhh. – Foi a única coisa que disse.Eu ouvi uma porta se fechar, e então, fui colocada em cima de uma mesa, sentada.– Onde estamos? – Perguntei, sussurrando.– Sala de estudos. – Ele sussurrou
CAPÍTULO 8BILL NARRANDOEu estava parado na frente da casa da Bianca. Ela olhava para mim como se pudesse enxergar através da máscara.— Confia em mim? — Ela questionou.— O que pretende fazer?Bianca se aproximou de mim, levou as mãos até minha máscara, e eu a segurei com brutalidade.— Eu não vou tirar sua máscara. Não inteira... — Ela respondeu, e por algum motivo, senti sinceridade.Bianca levantou minha máscara, apenas até descobrir minha boca. Deu-me um selinho, mas eu a puxei pela cintura e não deixei que saísse. Ela levou as duas mãos até meu pescoço. Estava entregue ao beijo, de olhos fechados. Quando terminamos o beijo, eu abaixei a máscara. Por baixo dela, eu estava sorrindo.— Até mais, Bianca. — Eu falei, e montei na minha moto.Depois de alguns minutos dirigindo, cheguei ao meu apartamento. Ele fica no subúrbio, e eu tenho um terreno próximo a ele, onde tenho um galpão que deixo alguns computadores muito mais potentes no subsolo. A única pessoa que tem acesso a isso alé
CAPÍTULO 9BILL NARRANDO— Você tá completamente errada, Bianca. Eu poderia fingir que sou ele, dormir com você e seguir minha vida. Mas eu não vou porque não quero ser preso. — Ela me olhava como se eu fosse um grande idiota tentando mentir para ela. Talvez eu seja, mas sempre fui um bom mentiroso. Mas Bianca me desestabiliza.— Onde você estava ontem à noite? — Ela perguntou.— Com o Brad. O tempo todo. Pode perguntar. — Falei e soltei uma risada. — Você tá realmente obcecada pelo Robin Hood como todas as garotas da faculdade.— Não mente pra mim. — Ela apontou o dedo em direção ao meu rosto. — Só tem um jeito de eu saber se estou certa. — Ela, mesmo sendo mais baixa que eu, agarrou meu pescoço e puxou meu rosto, tentando me beijar. Eu a segurei, por mais que quisesse isso. E tive que segurar sua cintura com força, só assim conseguindo impedir de fazer o que ela queria.— Wow! Você tá maluca? Eu estou saindo com a Elle, se ela ver você me beijando, vai fazer um barraco. — Falei e el
CAPÍTULO 10BIANCA NARRANDOO que você faria se descobrisse que a pessoa por quem você se apaixonou não é exatamente quem você pensava que era? O Bill é um homem extremamente babaca, totalmente diferente do Robin Hood. Todo aquele discurso de merda dele não serviu pra nada, eu sei que ele é o cara com quem dormi. Eu peguei no braço dele. Eu senti seu pescoço com as mãos. Eu prestei atenção até na temperatura de sua pele e eu não estava louca. Não tem como não ser o Robin, não tem.— Bianca, eu estou falando contigo! — Marcela disse, e eu dei um tranco, saindo do mundo paralelo onde eu vivia.— Desculpa, Mah. Eu não sei, eu estou muito desatenta... — Respirei fundo.— Você está obcecada pelo hacker. Meu Deus, Bianca, esquece isso... Ele pagou sua faculdade, mas e daí? Já foi. Esquece! Vai viver sua vida, aproveita o dinheiro que você tá ganhando com os trabalhos dos colegas que você tá fazendo e vai numa festa, sei lá. Esquece isso um pouco. — Ela parecia indignada com minha obsessão.
CAPÍTULO 11BIANCA NARRANDOFaz dias que estou sem nenhum contato com Robin Hood. Eu ainda estou em dúvida se ele é ou não é o Bill, mas pela forma como Bill é um idiota, a maior possibilidade é de não ser. Eu desisti de descobrir e me afastei tanto de Bill quanto de Robin, em nome da minha sanidade mental... Mas aí, tudo aconteceu.A faculdade estava assustada. Todos com os celulares na mão, e eu não entendia o motivo. Marcela correu até mim com o celular dela, e estava assistindo uma Live do Brad. Ele estava dentro de um banco que foi sequestrado por cerca de cinco criminosos que usavam bandana em seus rostos. Ele colocou o celular em algum lugar parado, que os criminosos não viram. Dois deles puxavam as pessoas pelos braços e as colocaram sentadas lado a lado.— Meu Deus, Marcela! — Disse com os olhos arregalados. Marcela não parecia preocupada. — A sua falta de preocupação me assusta.— Robin Hood soltou uma frase na darkweb essa semana. “O dinheiro mantém o poder. E para ter pode
CAPÍTULO 12BILL NARRANDOEntrei na faculdade e hoje era aula do professor Marcos. Preciso dar um jeito de me livrar desse cara, ele está sendo uma pedra no meu sapato. Toda aula é a mesma coisa: Ele tenta fazer os alunos darem um jeito de me parar, mas os alunos não querem.— Bom dia, Bia. — Sentei ao lado dela. Eu estou extremamente arrependido de ter trocado essa aula para ficar com ela, porque eu não posso mais tocá-la. Ela deu um fora no Robin Hood.— Bom dia. — Ela girava a caneta na mesa, e nem olhou no meu rosto. — Recebi dois mil dólares do Robin Hood. — Disse.— Nossa, parabéns... Ele acabou com a carreira política do Lexter, digo, do meu pai, pelo visto. — Resmunguei.— Você conseguiu o que queria então, Robin. — Ela finalmente levantou o rosto. Olhou em meus olhos, pegou o próprio celular e entregou na minha mão. — Sua última ligação para mim. Celular não rastreável? Por que você faria isso? O que você, um filhinho de papai, precisa esconder pra usar um celular descartável