BIANCA NARRANDO
— Vocês viram que o Robin Hood atacou de novo? Ele derrubou o site da prefeitura e deixou o símbolo dele lá. Parece que umas dívidas de hipoteca foram pagas, ele ferrou com o prefeito essa madrugada. — Ouvi uma garota comentando com a outra. Eu nem sei o que dizer, esse tal de Robin Hood tem tirado meu sono.
Eu fui uma das beneficiadas pelos roubos do hacker Robin Hood. Ele quitou minha faculdade, e eu torço para que um dia eu consiga encontrá-lo e agradecer. Cheguei na faculdade San Andreas como intercambista, mas meus pais foram à falência e eu quase fui embora. Só que ele pagou minha faculdade, e eu ainda estou aqui por isso. Temos desconfiança de que o Robin Hood seja aluno da San Andreas porque muitos alunos pobres tiveram suas mensalidades pagas integralmente.
Tenho vinte e três anos. Vinte e três longos anos de vida que foram uma grande porcaria. Sinto que não fiz nada importante, sinto como se eu não me encaixasse nessa faculdade de gente tão inteligente. Eu entrei aqui no intuito de aprender a programar jogos infantis e pedagógicos, para trabalhar com ressocialização de crianças, e eu tenho me dado bem nisso, mas parece tão... Superficial mesmo assim. Eu queria poder fazer a diferença, como o Robin tem feito.
— Olha lá, o Bill Hammer. Nem parece preocupado que o município do pai foi roubada essa noite. — Marcela girou os olhos. Ela é intercambista brasileira como eu, e minha amiga.
Nós trabalhamos juntas nos jogos, mas o visual dela não se parece em nada com o meu. Ela é morena, de cabelo escuro e longo, olhos levemente puxados e castanhos... Tem muitas tatuagens e uma beleza completamente diferente de todas que já vi. Essa garota poderia dominar o mundo só com a aparência, mas escolheu ser programadora de jogos. Vai entender.
— Ele é um ridículo. Aposto que vai marcar uma festinha particular já que toda sexta é a mesma coisa. — Desdenhei.
— Se ele marcar e pagar tudo, eu vou. Você devia ir também. — Marcela deu risada. Eu também.
— Você é doida, Marcela. Completamente.
— A gente tem que viver a vida, e se o filho do prefeito tá pagando álcool para a galera, por que não?
Entramos na sala de aula cheia de computadores. Eu sentei no meu, Marcela no dela e começamos a assistir a aula. Marcela parecia mais preocupada com seu próprio I*******m do que com a aula, ela é assim. E meu pano tá pronto para passar para ela.
Eu não consigo tirar a droga do Robin Hood da mente. Quando tudo aconteceu, eu abri meu aplicativo do banco e apareceu aquela máscara: Olhos em forma de X, um sorriso com dentes a mostra. Eram traços simples, mas que tornavam a máscara muito assustadora e ao mesmo tempo, irônica. Era como se uma criança estivesse buscando vingança através da tecnologia.
Mais tarde, naquele mesmo dia, o prefeito estava fazendo um pronunciamento na TV. Ele estava tentando acalmar a população (principalmente os ricos, que foram os afetados pelos roubos de Robin), e fazer com que se sentissem seguros. A verdade é que esse cara, seja lá quem for, tem ganhado posto de herói aqui em Chicago. E a faculdade de ciência e tecnologia San Andreas inteira o venera.
Toda a faculdade assistia o discurso do prefeito. Estávamos atônitos. Nós sabíamos que Robin Hood poderia aparecer e causar durante o discurso, e a verdade é que torcíamos para isso.
E foi exatamente o que aconteceu.
A máscara apareceu, seguida de uma frase que Robin sempre usa: "Dê poder aos bons e os maus entrarão em guerra". A faculdade foi à loucura. Parecia que o time favorito havia feito um gol.
Eu confesso que estou obcecada tanto pelo Robin Hood, o hacker que tem feito o caos no nosso município, quanto pelo personagem. Tenho tentado entender de onde vem essa inspiração e se algo poderia me levar ao homem por trás da máscara com olhos de X. Perdi as contas de quantas versões do livro Robin Hood eu li. Versões de Alexandre Dumas com diferença de anos, remodelagens, versões de autores desconhecidos...
E aquela frase, aquela m*****a frase, me fez lembrar de uma versão específica que eu aluguei na biblioteca daqui mesmo há um tempo atrás. Será que o Robin realmente estuda aqui?
Corri pela faculdade em meio ao caos e euforia daquele pronunciamento patético do prefeito com a aparição de Robin, e fui em direção à biblioteca. Eu precisava ter certeza de que essa frase estava nesse livro específico. Me lembro de ter lido em algum lugar que muitas partes são reescritas ao longo dos anos, e essa frase não estava em mais nenhuma das versões.
Corri para a sessão de livros onde Robin Hood estava. Era um livro mal visto e com a capa rasgada. Os alunos tem alugado bastante versões da história, mas não essa, por causa das páginas amareladas e o cheiro de mofo.
Eu abri o livro e essa frase estava grifada a lápis. Te peguei, Robin Hood. Olhei para os lados, tirei uma caneta e um pedacinho de papel da bolsa e decidi agir. O bilhete dizia o seguinte: "Obrigada por pagar minha faculdade."
Não assinei. Nem ao menos, aguarde uma resposta. Eu só colocou o ingresso ali e foi na direção da porta da biblioteca, como o coração na garganta. Por alguma razão, tenho certeza de que Robin está mais consciente do que eu jamais imaginei.
Quando cruzei para o portão, trombei como filho do prefeito, Bill. Ele tem um rosto muito grande, musculoso, tem um braço misterioso, mas ao mesmo tempo se expõe demais. É ou quase ou típico de prefeito, se no fosse tatuagens nos braços e mãos. Ele é cuidadoso, alegre e fofinho, e é uma pessoa que adora uma festa na sexta à noite nos cremes do papai... Uma bem chata, na minha opinião.
- Com licença, Bia. — Passou por mim com um smile no rosto.
— Eu não era nada. - Eu digo. Nunca vi aquele rosto na biblioteca...
Resolvi segui-lo. Foi na direção do corredor onde estavam os livros de Robin Hood. Talvez ele fosse teimoso tanto quanto eu, mas eu me preocupava em achar uma passagem e fazer uma bobagem. Então, caminhei discretamente pelo corredor e me vi mexendo em outro livro, chamado "Tristão e Isolde". É uma história épica também e honestamente, eu não enfrento ou gênero, não descasca a cara que temos. "Não jogue um livro com sua capa, Bianca!" Eu repeti para mim mesmo, mentalmente.
— Não sabia que gostava de ler. — Matéria Puxei. Eu só queria proteger o livro de Robin Hood no meu bilhete.
— Ah, meu prazer. Este livro é interessante, alias. Ha leu? — Ele questionou, me mostrando a capa.
— Ha li. Eu adoro o conto de Tristão e Isolda. É muito triste... Mais de uma vez quando gosto de rir. — Ele riu, e passou a mão no proprio scuro e bem arrumado cabelo.
— Eu já li todas as versões que encontrei. Esse é o último. — Ele falou. — Estou pensando em roubar a biblioteca.
— Ah, então você é um ladrão como o seu país? - Eu pulei.
— Uma fruta não cai longe do pé. Você sabe como ele é. — Ele riu mais uma vez. Ou que eu sou um idiota, eu sou fofo. Mandíbula perfeita, grandes olhos castanhos, um sorriso cativante.
Depois de uma conversa amigável, ele disse. Fingi que estava vendendo livros na mesma prateleira que ele e só estava grávida quando ele estava grávida também.
BIANCA NARRANDONa manhã seguinte, sábado, a única coisa que eu queria era ir até a biblioteca da faculdade e pegar o livro. Talvez minha obsessão tenha ido longe demais, porque fiquei mais uma noite sem dormir. Eu acheiFui até o corredor da biblioteca onde o livro estava, e o peguei rapidamente. Procurei o bilhete e ele estava no mesmo lugar que antes. Confesso que aquilo me deu uma pontada de tristeza, no fundo, eu esperava que ele me respondesse... Talvez daqui mais uns dias eu venha aqui de novo e veja se tem uma resposta. Pode não ter dado tempo. Robin deve estar ocupado, ele fez uma catástrofe virtual no município ontem, talvez esteja planejando a próxima ou coisa do tipo... Talvez, talvez, talvez. Eu odeio as incertezas que Robin Hood me causam.Antes de largar o livro, decidi ler aquela frase de novo. E quando abri a página, lá estava uma carinha desenhada a lápis, ao lado da frase, com os olhinhos de X e um sorriso aberto. Embaixo da carinha, havia um escrito. "De nada, Bian
BILL NARRANDODesliguei meu computador e me joguei na minha cama, respirando de forma pesada e fechando meus olhos. Eu consegui ferrar com meu pai alguns dias atrás e ele está tentando de todo jeito recuperar sua imagem de grande protetor do município... Grande corrupto, isso sim. E falando no roubo... A Bianca é uma mulher extremamente inteligente e está obcecada pelo meu codinome. Se tem uma pessoa que pode descobrir quem eu sou, é ela.Meu nome é Bill Hammer e eu sou filho do prefeito do município de San Andreas. Mas sou também o conhecido hacker Robin Hood. Eu sabia que me dariam esse nome desde meu primeiro ataque cibernético, só não sabia que eu ficaria conhecido tão rápido.O grande problema aqui não é o fato de eu ser um hacker que ataca o governo mesmo sendo filho do próprio prefeito a quem estou prejudicando. O problema agora é que Bianca, a garota que eu sou obcecado desde o primeiro dia que vi, está obcecada por mim de volta e nem sabe disso. Eu queria poder contar pra ela
BIANCA NARRANDOEntrei na faculdade bastante alheia a tudo, com a mente perdida em Robin. Ele atacou de novo, fez uma loucura com os fundos imobiliários do município e deixou todo mundo bem perturbado. Bom, pelo menos a galera com mais dinheiro...Eu queria pensar nisso, mas ao mesmo tempo não queria. Eu precisava focar nos meus estudos, só tenho seis meses pela frente até a formatura. Hoje tenho uma aula que gosto bastante, mas que faço sozinha porque Marcela bombou uma que precisa ser estudada antes dessa.– Bom dia, Bianca! – Ouvi a voz de Bill. Ele estava num grupinho de amigos com Brad e mais umas meninas que sempre estão ao redor dele como moscas.– Bom dia. – Caminhei até eles. – Achei que você só falasse com plebeus na biblioteca. – Brinquei.Ele me abraçou e me deu um beijo no rosto. Vi que as meninas me olharam torto e eu odeio isso. Odeio mesmo.– Vou ter que te dar uma autorização por escrito pra você me dar bom dia fora da biblioteca, então. – Dei risada do que ele disse.
BIANCA NARRANDOAinda estamos no chat. Eu sei que ele está me vendo, eu estou com um pijama azul e agora que ele ligou minha webcam, eu estou paralisada. Foram alguns segundos até minha mente voltar ao normal.Comecei a finalmente digitar no chat.Bianca: Que pena que eu não posso te ver também. Ele demorou um pouco para me responder. Mas respondeu.Robin: Ainda não.E aí, eu decidi fazer uma loucura. Algo completamente louco mesmo.Bianca: Vou deixar a janela do meu apartamento aberta. Você pode subir pela escada de incêndio e entrar. Eu não vou passar meu endereço, porque você provavelmente já tem. Eu quero te ver, Robin... E quero que você tire minha roupa.Eu estou louca. É isso.Robin: Em vinte minutos, apague as luzes.Bianca: O que vai fazer?Robin: Apenas obedeça. Fique em pé de costas para a janela... E não se esqueça, eu estou vendo você.Aquilo fez cada pelo do meu corpo se arrepiar. Medo e tesão... Uma mistura perigosa.Bianca: Você vai vir tirar minha roupa?“Bianca, voc
CAPÍTULO 6BILL NARRANDOEntrei no meu quarto pela janela. Removi minha máscara e respirei fundo, a jogando no chão. Fechei a janela do quarto e passei as duas mãos em meu próprio cabelo. A única coisa que eu conseguia pensar era: Que caralhos que eu fiz?Desde que a Bianca entrou na faculdade, eu fiquei obcecado por ela. Não sei dizer o motivo, talvez seja o fato dela ter um rosto delicado que quando sorri revela uma covinha linear. Talvez seja seu cabelo castanho com as pontas mais claras, ou as roupas que usa. Talvez seja a combinação de inteligência e delicadeza ou o fato dela querer desenvolver jogos educativos que serão utilizados para a reintegração de crianças à sociedade, depois do transtorno de estresse pós-traumático. Eu não sei. Talvez seja o fato dela ler compulsivamente todos os livros que eu li durante minha vida inteira...Deslizei as costas pela parede e sentei no chão. Olhei para o meu quarto, bastante escuro, e comecei a lembrar do que aconteceu no quarto dela. Como
CAPÍTULO 7BIANCA NARRANDOEu estava com tanta saudade dos lábios dele nos meus, das mãos fortes em meu corpo e do corpo dele grudado no meu... Eu ficaria vendada, sem roupa, do jeito que ele pedisse, contanto que pudesse estar aqui, com a boca na boca dele. Meus dedos passeavam por seu cabelo, e eu o correspondia no beijo de forma intensa.– Ah, Robin... – Sussurrei, pois não queria fazer barulho. Vai que algum vigia surge do além...– Vem cá. – Ele se afastou.Me pegou no colo, fazendo meu corpo deitar sob seu ombro. Ele iria me carregar como se eu fosse um saco de batatas, ou um cadáver. Aquilo provavelmente daria medo em qualquer uma, mas não em mim.– O que tá fazendo? – Resmunguei. Além de estar sendo levada para algum lugar, estou vendada, com um cara que é hacker e eu não sei o nome.– Shhh. – Foi a única coisa que disse.Eu ouvi uma porta se fechar, e então, fui colocada em cima de uma mesa, sentada.– Onde estamos? – Perguntei, sussurrando.– Sala de estudos. – Ele sussurrou
CAPÍTULO 8BILL NARRANDOEu estava parado na frente da casa da Bianca. Ela olhava para mim como se pudesse enxergar através da máscara.— Confia em mim? — Ela questionou.— O que pretende fazer?Bianca se aproximou de mim, levou as mãos até minha máscara, e eu a segurei com brutalidade.— Eu não vou tirar sua máscara. Não inteira... — Ela respondeu, e por algum motivo, senti sinceridade.Bianca levantou minha máscara, apenas até descobrir minha boca. Deu-me um selinho, mas eu a puxei pela cintura e não deixei que saísse. Ela levou as duas mãos até meu pescoço. Estava entregue ao beijo, de olhos fechados. Quando terminamos o beijo, eu abaixei a máscara. Por baixo dela, eu estava sorrindo.— Até mais, Bianca. — Eu falei, e montei na minha moto.Depois de alguns minutos dirigindo, cheguei ao meu apartamento. Ele fica no subúrbio, e eu tenho um terreno próximo a ele, onde tenho um galpão que deixo alguns computadores muito mais potentes no subsolo. A única pessoa que tem acesso a isso alé
CAPÍTULO 9BILL NARRANDO— Você tá completamente errada, Bianca. Eu poderia fingir que sou ele, dormir com você e seguir minha vida. Mas eu não vou porque não quero ser preso. — Ela me olhava como se eu fosse um grande idiota tentando mentir para ela. Talvez eu seja, mas sempre fui um bom mentiroso. Mas Bianca me desestabiliza.— Onde você estava ontem à noite? — Ela perguntou.— Com o Brad. O tempo todo. Pode perguntar. — Falei e soltei uma risada. — Você tá realmente obcecada pelo Robin Hood como todas as garotas da faculdade.— Não mente pra mim. — Ela apontou o dedo em direção ao meu rosto. — Só tem um jeito de eu saber se estou certa. — Ela, mesmo sendo mais baixa que eu, agarrou meu pescoço e puxou meu rosto, tentando me beijar. Eu a segurei, por mais que quisesse isso. E tive que segurar sua cintura com força, só assim conseguindo impedir de fazer o que ela queria.— Wow! Você tá maluca? Eu estou saindo com a Elle, se ela ver você me beijando, vai fazer um barraco. — Falei e el