-Sua vez. - sussurro.
Lentamente ele segura minha mão, indicando os pequenos furos ao redor dos meus pulsos.
-O que fez isso?
-O rei tinha certeza de que eu me rebelaria na primeira oportunidade, assim que eu tivesse consciência de que poderia fugir se quisesse. - Me surpreendo quando as palavras saem sem nenhum esforço - Então ele mandou que preparassem grilhões "especiais" para mim. - Solto uma risada irônica - Eram de ferro com pontas afiadas na parte de dentro, que perfuravam minha pele, injetando veneno para adormecer meus poderes e me mantendo sob controle. Eu ficava acorrentada pelos pulsos e tornozelos à parede. - Faço uma pausa, conseguindo sentir o peso das algemas - Algum tempo depois, Dominique, o homem que matei hoje, chegou com as duas peças que faltavam no jogo cruel deles. Uma coleira grossa e pesada, e uma focinheira, pra que eu não pudesse mais respondê-los ou debochar das palavras deles.
Des
Após a refeição silenciosa, já que estávamos presos em nossos próprios pensamentos, Matteo não permitiu que eu lavasse a louça, então me aconcheguei na poltrona mais próxima da lareira, aproveitando seu calor, para esperá-lo.Devido a canseira e o estresse do dia, acabei dormindo em poucos minutos. Acordei em uma cama espaçosa, enrolada em várias cobertas, reconheci o local que eu havia deduzido como o quarto dele, já que suas roupas e pertences estavam no armário.Afasto o monte de cobertor que estava sobre o meu corpo e saio direto para o banheiro. A casa está toda iluminada pelo sol quando eu desço para a cozinha, há uma adaga que eu reconheço como a Fatiadora sobre um papel na mesa, eu os pego, percebendo que é um bilhete direcionado a mim:Lucille,Tive que sair para resolver algumas pendências, não devo demorar. Fique a vontade para andar pela casa ou pela cidade. Mande me chamar se precisar.
Nem mesmo um banho frio foi capaz de tirar o calor do meu corpo. Amaldiçoei mentalmente aquele homem por me deixar assim. Estava prestes a sair do banheiro quando ouço batidas na porta:-Lucille? Deixei algumas roupas para você no quarto, use-as se se sentir confortável. - Era a mesma voz sussurrada que estava tirando minha paz.-Eu... Ok. Obrigada.Bufo de raiva quando sinto minhas bochechas corarem mais uma vez. Permaneço colada a porta tentando, e falhando, escutar seus passos se afastando. Quando presumo que já tenha passado tempo suficiente eu corro para o quarto.Há várias trocas de roupas por cima da cama, a adaga que eu havia esquecido na sala de treinamento estava no meio, eu olho cada uma, observando cada detalhe diferente das que eu estava acostumada a vestir. Todas parecendo ter sido feitas para alguém maior que eu, mesmo assim algumas deixavam partes do corpo de fora, eu escolho uma legging
Os dias seguintes se seguiram iguais, eu agora passava as manhãs treinando na área, Matteo não voltou a treinar comigo, porém estava sempre presente, vez ou outra ele saía para fazer o que quer que fizesse, mas voltava a tempo das refeições, que agora fazíamos juntos.Antes de dormir eu me deitava ao lado da lareira para ler, o macho das sombras se sentava de frente para mim e agora tinha o estranho o hábito de me observar.Nossos pesadelos voltavam toda noite, os meus envolvendo meu passado, a cidade e o meu anfitrião, os dele eram desconhecidos por mim, algumas vezes eu vomitava, em outras eu só me levantava e corria para fora, mas em todos esses momentos terríveis o homem aparecia para me confortar. Eu procurava fazer o mesmo com ele, algumas vezes eu precisei acordá-lo, em outras eu me sentava ao seu lado e ficava em silêncio. Na maioria das vezes eu estava tão cansada que dormia na sala, em seu ombro ou em suas asas, mas sempre acor
Nós nos olhamos por muito tempo, a tensão podia ser cortada como um pedaço de bolo, o rosto do homem a minha frente estava inexpressivo, ele dá um passo a frente e as sombras nos rodeiam, seus olhos fixos nos meus. Não o culparia se ele me matasse, na verdade eu até agradeceria.-Isso não é uma coisa que se deva esconder. - Apresar de tudo, sua voz ainda é calma.-Eu sei, eu quis contar, acredite, eu quis muito. Eu só... - As palavras somem e eu me calo.-Lucille, você estava prestes a assassinar minha rainha e eu te trouxe diretamente a ela, para que ela pudesse quebrar o feitiço em você.Ayla, a rainha feérica beijada pela lua, capaz de quebrar qualquer feitiço ou maldição. É óbvio! Eu não havia relacionado antes e agora a revelação me atingiu em cheio.-Ayla... Foi para ela que você pediu ajuda?-Sim.-Eu não posso...-Acredite. - Ele me interrom
⚠️ Alerta de gatilhos ⚠️Nos próximos dias eu só saía do quarto de madrugada para comer e voltava o mais rápido possível, não querendo correr o risco de encontrar Matteo. Ele batia na porta todos os dias, por horas pedindo para que eu saísse ou o deixasse entrar, eu o ignorava todas as vezes, esperando que ele desistisse. O que não aconteceu.Em dois dias eu já havia acabado de ler todos os livros da estante, em cinco dias eu mesma havia arrancado os pontos do meu ferimento, em sete dias eu passava mais tempo dormindo do que acordada, em dez dias eu tinha certeza de que estava louca."-Aí está você! - O rei gargalhava. - Eu sabia que você tinha herdado alguma coisa da sua verdadeira mamãe!Eu estava tremendo, estava de joelhos em uma poça de sangue, eu olho para o corpo destruído na outra extremidade do calabouço e depois para as minhas mãos, mãos de criança, tentando entender o que foi que eu fiz. O homem afaga me
Se eu estive na mente dele, usei meus poderes e se usei meus poderes, agora eles sabiam onde eu estava. Eu havia colocado a cidade em risco, eu traria morte para o povo inocente da Cidade Estrelada.-Não se preocupe. - A mulher ao meu lado atrai minha atenção - Vamos dar um jeito nisso.Ela não parece com medo e nem tão preocupada, sua voz assume um tom calmo e a mão ainda aperta a minha mais uma vez de forma tranquilizadora.-Assim que Daren e Matteo acabarem de conversar nós encontraremos uma solução.É com ele que Matteo está aos berros, com o rei feérico do Reino da Noite, então quer dizer que a fêmea grávida ao meu lado é...-Ayla. - Solto sua mão o mais rápido possível.-Lucille... - Ela pega minha mão de volta - Você não tem que se preocupar.-Eu fui... - Começo, já sentindo meu coração acelerar.-Eu sei. Mas não acho que alguma vez voc
Matteo e eu atravessamos assim que os primeiros raios de sol mancharam o ceu. Um lugar feio e coberto de rochas aparece em meu campo de visão, observei cada tenda e prédio cinzento franzindo o cenho. Que lugar era aquele? Eu me viro para o homem que segura firmemente minha mão.-Aqui é um dos acampamentos de guerra do Reino da Noite. - Ele trinca a mandíbula e imediatamente eu sei que ele não se sente confortável ali - Daren, Mendo e eu crescemos aqui.Nós começamos a caminhar para dentro daquele local enlameado. Começo desesperadamente a pensar em algo que o distraia.-Quem é Mendo? - Pergunto, me sentindo aliviada quando um sorriso repuxa seus lábios.-É um dos meus irmãos, é ele quem toma conta dos exercícios de Daren. Ele pode ser bem irritante, espalhafatoso, barulhento e...-Acabou de chegar e já está contando mentiras sobre mim, irmão?Um homem alto e musculoso sorri enquanto
Nós nos afastamos o máximo possível do acampamento, adentrando cada vez mais no meio da floresta e na neve, procurando um local que nos escondesse mas que nos permitisse ver quando as bestas chegassem.Mendo foi com Eleanor montar as barracas no ponto mais alto de uma das várias montanhas existentes por ali, eu e Matteo ficamos para começar a armadilha.-Já sabe como vai fazer? - Ele pergunta, colocando as mãos nos bolsos.-Vou montar um cenário, como se neste exato momento eu estivesse em combate.Olho para uma das árvores mais altas e liberto um pouco no meu poder, o suficiente apenas para que a marque e para que possam me localizar. Faço o mesmo nas rochas mais próximas.-O que é o seu poder?-Eu não sei. - Sorrio para ele - Eu nunca soube.-É incomum. - Ele responde enquanto observa o dano nas árvores e pedras deixados pelo caminho - Você fez algo no chalé