Se eu estive na mente dele, usei meus poderes e se usei meus poderes, agora eles sabiam onde eu estava. Eu havia colocado a cidade em risco, eu traria morte para o povo inocente da Cidade Estrelada.
-Não se preocupe. - A mulher ao meu lado atrai minha atenção - Vamos dar um jeito nisso.
Ela não parece com medo e nem tão preocupada, sua voz assume um tom calmo e a mão ainda aperta a minha mais uma vez de forma tranquilizadora.
-Assim que Daren e Matteo acabarem de conversar nós encontraremos uma solução.
É com ele que Matteo está aos berros, com o rei feérico do Reino da Noite, então quer dizer que a fêmea grávida ao meu lado é...
-Ayla. - Solto sua mão o mais rápido possível.
-Lucille... - Ela pega minha mão de volta - Você não tem que se preocupar.
-Eu fui... - Começo, já sentindo meu coração acelerar.
-Eu sei. Mas não acho que alguma vez voc
Matteo e eu atravessamos assim que os primeiros raios de sol mancharam o ceu. Um lugar feio e coberto de rochas aparece em meu campo de visão, observei cada tenda e prédio cinzento franzindo o cenho. Que lugar era aquele? Eu me viro para o homem que segura firmemente minha mão.-Aqui é um dos acampamentos de guerra do Reino da Noite. - Ele trinca a mandíbula e imediatamente eu sei que ele não se sente confortável ali - Daren, Mendo e eu crescemos aqui.Nós começamos a caminhar para dentro daquele local enlameado. Começo desesperadamente a pensar em algo que o distraia.-Quem é Mendo? - Pergunto, me sentindo aliviada quando um sorriso repuxa seus lábios.-É um dos meus irmãos, é ele quem toma conta dos exercícios de Daren. Ele pode ser bem irritante, espalhafatoso, barulhento e...-Acabou de chegar e já está contando mentiras sobre mim, irmão?Um homem alto e musculoso sorri enquanto
Nós nos afastamos o máximo possível do acampamento, adentrando cada vez mais no meio da floresta e na neve, procurando um local que nos escondesse mas que nos permitisse ver quando as bestas chegassem.Mendo foi com Eleanor montar as barracas no ponto mais alto de uma das várias montanhas existentes por ali, eu e Matteo ficamos para começar a armadilha.-Já sabe como vai fazer? - Ele pergunta, colocando as mãos nos bolsos.-Vou montar um cenário, como se neste exato momento eu estivesse em combate.Olho para uma das árvores mais altas e liberto um pouco no meu poder, o suficiente apenas para que a marque e para que possam me localizar. Faço o mesmo nas rochas mais próximas.-O que é o seu poder?-Eu não sei. - Sorrio para ele - Eu nunca soube.-É incomum. - Ele responde enquanto observa o dano nas árvores e pedras deixados pelo caminho - Você fez algo no chalé
Já era muito tarde e eu ainda não tinha conseguido dormir. Estava muito frio, e ventava demais lá fora. Mesmo encolhida dentro do saco de dormir, meu corpo tremia muito e meus dentes batiam tanto que eu achei que poderiam quebrar.A barraca se abre, me fazendo encolher ainda mais, e Matteo entra, fechando-a logo depois, as bochechas vermelhas e olhos arregalados.-Mendo assumiu a guarda. - Se aproxima colocando a mão em minhas bochechas e testa - Consigo ouvir seus dentes baterem lá de fora. Posso ajudar, se quiser.Incapaz de falar, eu assinto. O homem se levanta e puxa seu saco de dormir para colocá-lo ao lado do meu, ele entra, vira meu corpo para o outro lado, segura minha cintura, me puxando para seu corpo e nos cobre com as longas asas. Aos poucos eu começo a parar de tremer, sentindo-me dolorida por ter ficado encolhida por tanto tempo.-Melhor? - Pergunta.-Muito. - Suspiro,
Nós estávamos de volta a fogueira, uns de frente aos outros, comendo silenciosamente. Matteo havia cuidado do meu nariz e pescoço.Eu sabia que eles estavam esperando que eu estivesse pronta para falar sobre o ocorrido de hoje. Pigarreio, como se eu já não tivesse a atenção deles sobre mim.-Então... Aquela criatura é de Maghdon, mas não acho que tenha vindo por mim, elas devem ter sido soltas nas florestas.-O que ela era? - Mendo pergunta.-Fear eater. Ele se fortalece no medo e desespero das pessoas, quando a vítima não tem mais forças pra lutar contra, ele a come viva.-Me lembra as criaturas das lendas de Tenebris.-A deusa do submundo? - Pergunto.-Sim, as criaturas que vivem no submundo e sob os comandos de Tenebris são capaz de usar o medo das pessoas para matá-las. - Matteo responde. - São lendas, mas eu não tenho dúvida alguma de que existem.
Passamos a treinar juntos todas as tardes, nós nos revezávamos sempre, lutando todos contra todos. Matteo sempre pegava leve comigo, tentando ao máximo não me acertar, enquanto Mendo pegava o mais pesado possível, nós trapaceavamos um com o outro, o que nos fazia rir durante todo o treino e deixava os outros dois irritados e chamando a nossa atenção. Ao final das horas de treino com o de cabelos longos estávamos ambos cheios de hematomas e sangue pra toda parte.Eleanor passou a ser minha parceira de luta, por mais que treinássemos também com os dois machos, ela e eu passávamos a maior parte do tempo lutando com ou sem espadas, deixando de lado nossos poderes, ela mostrava o que aprendera no acampamento de guerra e eu o que aprendi em Maghdon. Treinávamos até escurecer, ao final da noite, eu estava cansada demais até para sofrer pelo frio.O homem das sombras havia trocado seu horário de guarda para que ele pudesse me esquentar e eu pude
Tinha algo errado, eu soube desde o momento em que não avistei besta alguma, apenas soldados.-Não acredito que passamos frio todos esses dias para um combate que não vai durar mais que apenas alguns minutos. - Eleanor sussurra, estava encostada atrás de uma árvore.-Nem eu... - sussurro de volta - Não está certo.Os três me encaram, todos em alerta, compreendendo o que estou falando. Mendo observa cada canto da floresta e da neve, procurando por armadilhas e montando possíveis estratégias.-Posso entrar na cabeça deles, procurar por algo, mas na mesma hora eles saberão a nossa localização.-Isso não é problema. - O de cabelos longos responde - Te daremos cobertura, apenas espere meu sinal.Eu assinto. Os três feéricos se posicionam ao meu redor, me deixando ao meio enquanto Matteo nos encobre com suas sombras. Mendo faz um som como se fosse um piado de pássaro e eu sei que é o sina
-Por que a gente não atravessou? - minha voz estava abafada por meu rosto estar escondido no pescoço de Matteo.-Eu gosto de voar. - ainda há humor em sua voz.-Eu acho... - Levanto o rosto e encaro seus olhos - Que você simplesmente não consegue tirar as mãos de mim. - Abro um sorriso irônico para ele.-Talvez.Não há humor agora, ele está sério e seus olhos encaram os meus tão profundamente que eu acabo corando. Lembro-me de que ele pode ouvir as batidas frenéticas do meu coração e tento disfarçá-las com um pigarreio.Desvio os olhos para a cidade e observo cada casinha lá embaixo, os pontinhos que provavelmente seriam feéricos e ninfas, as luzes que aos poucos começavam a serem acesas, o rio... A cidade era linda. Fecho os olhos e deito a cabeça no ombro do macho alado que sobrevoa essa cidade tão bonita comigo em seus braços, aproveito o calor de seu corpo contra o meu, o som de suas asas,
Levanto lentamente a mão e passo os dedos pela bochecha de Matteo, traçando o contorno de seus olhos, nariz e lábios, passo delicadamente o indicador pelas orelhas pontudas antes de contornar a linha forte de sua mandíbula. Guardo cada detalhe de seu rosto bonito para que eu jamais esqueça, mesmo sabendo que esquecê-lo agora seria impossível.Seus olhos se abrem e eu me assusto, puxando minha mão, ele a segura e coloca de volta em seu rosto.-Continue.Sua voz rouca de quem acabou de acordar causa borboletas em meu estômago. Acaricio sua bochecha com a costa da mão.-Dormiu bem? - pergunto.-Muito... - Ele volta a fechar os olhos - E você?-Também.Continuo acariciando seu rosto, sua mão apoiada em minha cintura. Observo as tatuagens e cicatrizes por seu peitoral, contorno-as com o dedo, seguindo pelos músculos fortes de seus braços e descendo por seu abdômen.