Nós estávamos de volta a fogueira, uns de frente aos outros, comendo silenciosamente. Matteo havia cuidado do meu nariz e pescoço.
Eu sabia que eles estavam esperando que eu estivesse pronta para falar sobre o ocorrido de hoje. Pigarreio, como se eu já não tivesse a atenção deles sobre mim.
-Então... Aquela criatura é de Maghdon, mas não acho que tenha vindo por mim, elas devem ter sido soltas nas florestas.
-O que ela era? - Mendo pergunta.
-Fear eater. Ele se fortalece no medo e desespero das pessoas, quando a vítima não tem mais forças pra lutar contra, ele a come viva.
-Me lembra as criaturas das lendas de Tenebris.
-A deusa do submundo? - Pergunto.
-Sim, as criaturas que vivem no submundo e sob os comandos de Tenebris são capaz de usar o medo das pessoas para matá-las. - Matteo responde. - São lendas, mas eu não tenho dúvida alguma de que existem.
Passamos a treinar juntos todas as tardes, nós nos revezávamos sempre, lutando todos contra todos. Matteo sempre pegava leve comigo, tentando ao máximo não me acertar, enquanto Mendo pegava o mais pesado possível, nós trapaceavamos um com o outro, o que nos fazia rir durante todo o treino e deixava os outros dois irritados e chamando a nossa atenção. Ao final das horas de treino com o de cabelos longos estávamos ambos cheios de hematomas e sangue pra toda parte.Eleanor passou a ser minha parceira de luta, por mais que treinássemos também com os dois machos, ela e eu passávamos a maior parte do tempo lutando com ou sem espadas, deixando de lado nossos poderes, ela mostrava o que aprendera no acampamento de guerra e eu o que aprendi em Maghdon. Treinávamos até escurecer, ao final da noite, eu estava cansada demais até para sofrer pelo frio.O homem das sombras havia trocado seu horário de guarda para que ele pudesse me esquentar e eu pude
Tinha algo errado, eu soube desde o momento em que não avistei besta alguma, apenas soldados.-Não acredito que passamos frio todos esses dias para um combate que não vai durar mais que apenas alguns minutos. - Eleanor sussurra, estava encostada atrás de uma árvore.-Nem eu... - sussurro de volta - Não está certo.Os três me encaram, todos em alerta, compreendendo o que estou falando. Mendo observa cada canto da floresta e da neve, procurando por armadilhas e montando possíveis estratégias.-Posso entrar na cabeça deles, procurar por algo, mas na mesma hora eles saberão a nossa localização.-Isso não é problema. - O de cabelos longos responde - Te daremos cobertura, apenas espere meu sinal.Eu assinto. Os três feéricos se posicionam ao meu redor, me deixando ao meio enquanto Matteo nos encobre com suas sombras. Mendo faz um som como se fosse um piado de pássaro e eu sei que é o sina
-Por que a gente não atravessou? - minha voz estava abafada por meu rosto estar escondido no pescoço de Matteo.-Eu gosto de voar. - ainda há humor em sua voz.-Eu acho... - Levanto o rosto e encaro seus olhos - Que você simplesmente não consegue tirar as mãos de mim. - Abro um sorriso irônico para ele.-Talvez.Não há humor agora, ele está sério e seus olhos encaram os meus tão profundamente que eu acabo corando. Lembro-me de que ele pode ouvir as batidas frenéticas do meu coração e tento disfarçá-las com um pigarreio.Desvio os olhos para a cidade e observo cada casinha lá embaixo, os pontinhos que provavelmente seriam feéricos e ninfas, as luzes que aos poucos começavam a serem acesas, o rio... A cidade era linda. Fecho os olhos e deito a cabeça no ombro do macho alado que sobrevoa essa cidade tão bonita comigo em seus braços, aproveito o calor de seu corpo contra o meu, o som de suas asas,
Levanto lentamente a mão e passo os dedos pela bochecha de Matteo, traçando o contorno de seus olhos, nariz e lábios, passo delicadamente o indicador pelas orelhas pontudas antes de contornar a linha forte de sua mandíbula. Guardo cada detalhe de seu rosto bonito para que eu jamais esqueça, mesmo sabendo que esquecê-lo agora seria impossível.Seus olhos se abrem e eu me assusto, puxando minha mão, ele a segura e coloca de volta em seu rosto.-Continue.Sua voz rouca de quem acabou de acordar causa borboletas em meu estômago. Acaricio sua bochecha com a costa da mão.-Dormiu bem? - pergunto.-Muito... - Ele volta a fechar os olhos - E você?-Também.Continuo acariciando seu rosto, sua mão apoiada em minha cintura. Observo as tatuagens e cicatrizes por seu peitoral, contorno-as com o dedo, seguindo pelos músculos fortes de seus braços e descendo por seu abdômen.
-E então, coisinha... - Mendo começa com sua voz irônica - Qual foi a tatuagem que você ganhou?-Tatuagem? - Franzo o cenho.Mendo e Eleanor haviam chegado há pouco tempo desde que Ayla e eu subimos. Aurea ainda não chegara, o que fazia com que eu batesse minhas unhas ansiosamente na mesa.-Oh... Me desculpe. - é a rainha quem responde - Acabei me esquecendo. Cada membro da corte recebe uma tatuagem quando jura lealdade. - Ela segura os cabelos prateados em um rabo e se vira para que eu veja uma constelação tatuada em sua nuca - Eu mesma planejei a sua.Aquilo me pega de surpresa. Eu não esperava um lugar em seu reinado, muito menos que ela tivesse planejado uma tatuagem para mim. Desvio o olhar, constrangida.Olho ao redor, reparando nas tatuagens de cada um ali. Reparo nas chamas de Eleanor em seu braço direito, visíveis pelo vestido azul sem mangas que estava usando, os tribais de Daren e M
-O sol nem saiu ainda, Matteo! - Coloco o braço sobre os olhos.-Ele já vai sair. Levanta.-Quando ele sair eu me levanto. - Viro para o lado e me cubro.Ele puxa a coberta, jogando-a longe. Sinto seu peso no colchão e sua respiração no meu pescoço. Tento esconder o arrepio que me causou.-Eu vou ligar a banheira. - sussurra em meu ouvido - Se quando eu voltar você ainda não estiver de pé, vou colocá-la eu mesmo lá dentro.-Tá, tá, tá...Faço sinal com a mão para ele sair, viro de bruços e fecho os olhos, me permitindo cochilar um pouquinho mais. É claro que não foi uma boa ideia. Antes que eu pudesse sequer reagir, os braços fortes do macho alado estão me afundando na banheira.-Eu vou matar você, seu bastardo de uma figa! - Lavanto cuspindo água.-Eu avisei. - Ele gargalha alto.-Eu vou socar esse seu rostinho bonito, você vai ver
Eu já estava acordada e pronta quando Matteo acordou. Nós tomamos café da manhã juntos e seguimos para o treino. Eu não havia comentado com ele que meu corpo e minha cabeça ainda doíam, mas ele sugeriu que não treinássemos corpo a corpo hoje.-Me deixe te ajudar.Eu estava pronta para acertar o alvo com a minha flecha quando as mãos dele seguram minha cintura e ele se posiciona atrás de mim. Engulo em seco.-Eu sei como atirar, Matteo, e aposto que você sabe disso.-Eu sei. - sussurra em meu ouvido - Mas como você mesma disse... - Suas mãos sobem até meus braços - Eu não consigo tirar as mãos de você, não é?Meus braços tremem e ele os segura com firmeza, sinto sua risada em meu pescoço.-Eu não preciso de ajuda. - minha voz ofegante me entrega.-Como quiser, mas se errar, vai ganhar mais cinquenta flexões.Ele começa a se afastar, s
Matteo e eu treinávamos todos os dias por horas e horas, até que eu estivesse dolorida e cansada demais para continuar. Ao final da noite ele massageava meus ombros e me pedia desculpa por ter pegado tão pesado durante o treino.Eu já estava me acostumando ao seu estilo de luta, estávamos progredindo cada vez mais, o único problema eram meus poderes, o processo era mais lento e exaustivo. Seria mentira se dissesse que não avançamos nem um pouco, eu agora conseguia envolver a sala toda e cada objeto presente nela, meu treinador queria agora que eu mantivesse por quanto tempo eu aguentasse. Na primeira vez eu quase desmaiei e quase o matei de preocupação.Hoje nós paramos mais cedo, Ayla havia me convidado para passear pela cidade com ela e eu aceitei.-Você tem certeza de que pode andar assim? - Aponto para sua barriga.-Claro. - Ela ri - Não é tão desconfortável quanto parece.