Os braços de Matteo me apertando contra seu corpo são a única garantia de que eu não estou morta. E nem ele. Me agarro a sua camisa precisando ter certeza de que ele está bem, seguro e vivo.
Estou tremendo violentamente e lágrimas mancham meu rosto enquanto meu ouvido zune. Ele está sussurrando algo para mim, mas não consigo escutar, tento, mas estou completamente esgotada e aterrorizada.
Não tenho ideia do que acabou de acontecer, do porque eu vi o que vi, porque estive onde estive, foi diferente de todas as outras coisas.
Procuro me atentar a coisas presentes para me afastar das lembranças, sinto o coração de Matteo que bate rápido demais contra a minha bochecha, o calor de seu corpo, o cheio familiar, o toque suave que molha minha roupa... Molha minha roupa e a deixa úmida e quente, como sangue. Ainda tremendo, procuro sua mão e a sinto molhada contra a minha, abro os olhos e a vejo ensanguentada e machucada, ergo a cabeça
Naquela noite, Matteo não voltou para a cama até eu estar dormindo, e em todas as noites seguintes também.Ayla apareceu de manhã para saber como eu estava, me disse que Matteol tinha lhes informado sobre a visão, pensando nela e no bebê, preferi dizer que não sabia direito o que era.Não treinamos por dois dias e eu os aproveitei para dormir e permitir que minha mente descansasse. No terceiro dia nós organizamos melhor os treinos e pausas para que eu não ficasse esgotada e, com isso, eu progredi muito mais.-Acorda. - uma ordem chega até os meus ouvidos.Eu reconheço a voz feminina e me sento rapidamente encontrando uma versão embaçada de Eleanor de braços cruzados ao pé da cama. Coço os olhos para vê-la melhor.-O que faz aqui? - as palavras saem lentas demais.-Minha presença deveria deixá-la extremamente feliz.-E você deveria passar meno
-Não fique se achando, - Eleanor vem na minha direção - mas eu lembrei de você quando vi isso.Ela me estende um embrulho e eu fico totalmente em choque. Aquilo era um presente. Nunca, em toda a minha vida eu havia ganhado um presente.-Eu... Obrigada. - Engulo em seco.-Abra. - ela responde.Abro o papel com cuidado, pensando se poderia guarda-lo comigo de lembrança para nunca esquecer aquele momento, minha boca cai aberta.Um vestido deslumbrante verde brilhante está dobrado cuidadosamente, eu o desdobro e fico maravilhada.-Isso é... Meu Deus! É lindo!-Acho que combina com seus olhos. - Dá de ombros - É para hoje a noite.Nós nos revezamos para tomar banho, nos maquiar e pentear, ajudando umas as outras. Estávamos todas quase prontas, mas eu ainda estava receosa em colocar o vestido, ele deixaria muito do meu corpo a mostra.
Matteo está há alguns minutos congelado. A confirmação que eu precisava de que ele sabia. Sinto meu coração doer por ele ter escondido uma coisa tão importante assim de mim, sinto raiva por não ter ligado os pontos antes. Me afasto dele, endireito a coluna, levanto o queixo, minha voz é fria quando eu volto a falar:-Nós vamos conversar agora. Espero você na casa.Ele pisca e então recobra a consciência, há dor em seus olhos e eu preciso de muita concentração para não abraça-lo.Viro de costas e me apresso para chegar no mesmo local em que pousei mais cedo com Mendo, ouço os passos dele atrás de mim, observo a longa distância entre a casa e o chão, tomo uma decisão imprudente causada pela raiva.-Me deixa te...Antes que ele possa sequer completar a frase eu pulo. Ouço seu grito de desespero ficando cada vez mais longe, o som de suas asas, o vento em meu rosto e então atravesso, surg
Eu estava agarrada ao seu pescoço, seus braços envolta da minha cintura, o rosto enterrado no meu pescoço, nossos corações batiam no mesmo ritmo rápido.-Meu perdoa. - ele sussurra - Não devia ter escondido isso de você. - Como eu não respondi, ele se afasta para olhar nos meus olhos - Lucille...-Está tudo bem, Matteo. - o tranquilizo - Eu perdôo você.Ele fecha os olhos e suspira, ao mesmo tempo que seus ombros caem de alívio, como se estivesse carregando peso por muito tempo, aproxima o rosto do meu e encosta a testa na minha.-Eu não menti em nada do que disse hoje, principalmente quando disse que estou apaixonado por você. - Uma de suas mãos sobe e coloca uma mecha do meu cabelo atrás da orelha - Quero que fique comigo, que aceite ser minha parceira, quero que entenda que essa casa é sua desde o momento em que colocou os pés nela, quero que saiba que eu vou fazer o possível e o impossível por você, mas, acima d
O laço da parceria é uma coisa louca e, sem dúvidas, incrível. Matteo e eu ficamos horas na cama, nosso corpo estava completamente exausto e dolorido, mas mesmo assim continuávamos.Quando finalmente decidimos ir comer alguma coisa, foi um sacrifício sair da cama, minhas pernas tremiam e tive dificuldade para ficar de pé. Apesar de ter tentado esconder o riso, ele ficou preocupado e me ofereceu ajuda, eu neguei, preocupada que se me tocasse terminaríamos na cama mais uma vez.Esquentei nossa refeição e nós comemos silenciosamente, sem conseguir olhar na direção um do outro e quando acabamos, ele rasgou a minha roupa e me tomou contra a parede. Exaustos, caímos na cama e dormimos.Não tenho ideia se é dia ou noite quando acordo, Matteo ainda dorme ao meu lado e opto por deixá-lo descansar, vou até o banheiro e entro na banheira, esperando encher.Em questão de segundos a porta abre e meu parce
Matteo me ajudava a vestir a armadura de couro, enquanto eu trançava meus cabelos, estávamos nos preparando para ir ao Reino da Noite.-Por que todos vocês parecem tensos quando falam do Reino da Noite? - pergunto.-Reinados são muito complexos, cheios de segredos brutais e intrigas. Muitas vezes são construídos sob sangue inocente. - Responde prendendo as bainhas nas minhas duas coxas - Por mais que o pai de Daren fosse cruel, as pessoas que viviam no castelo do Reino da Noite o idolatravam pelas regalias que ele os concedia. Quando Daren subiu ao trono garantiu que todos, inclusive os pobres, tivessem os mesmos direitos e regalias que os "nobres" recebiam. - Esconde uma faca na minha bota - Alguns se rebelaram e tentaram acabar com o reinado, atentados contra as nossas vidas eram comuns de acontecer, mas a gota d'água foi quando eles dizimaram a população inocente das aldeias. - Ele se levanta, ficando de frente para mim - Foi Aurea quem alertou D
Enquanto as paredes do castelo eram compostas por pedras negras, os portões grandes e grossos eram de pedra da lua. Sentinelas uniformizados estavam posicionados dos dois lados, nós simplesmente os ignoramos enquanto seguimos.O chão tremia por onde Ayla e Daren passavam, o poder dos dois tão forte que poderia ser sentido até mesmo no ponto mais distante das aldeias do lado de fora. Algo me envolve e no mesmo instante eu sei que o rei envolveu a todos nós com seu escudo.Não permito que a surpresa chegue ao meu rosto quando encontro um lugar ainda maior e mais bonito dentro daquele castelo, não olho ao redor para ver os feéricos, ninfas, bruxas ou qualquer outro ser que exista ali, permaneço de cabeça erguida e olhos focados. Caminhamos até um salão lotado que fica em completo silêncio quando nos vê.Um homem de cabelos louros aguardava a nossa chegada, eu soube na mesma hora pelo olhar de raiva que lançou a Daren
-Senhor, - A voz de Bartolomeu falha e ele pigarreia - não seria mais sábio entregá-la a rainha?Ele se refere a mim como se eu fosse um mero objeto, como se eu não estivesse ali. Um sorriso irônico brota nos lábios do rei.-E desde quando você sabe o que é sábio?-Eu só não quero outra guerra, senhor. - Engole em seco.-Não? - o sorriso nos lábios de Daren se alarga - Eu poderia jurar que você adoraria nos ver mortos.-É claro que não, meu senhor. - Nega com a cabeça repetidas vezes.-Nós não a entregaremos. - afirma - Ela é uma de nós.-É apenas uma garota! - Bartolomeu explode - Nós somos uma cidade!-Oh... Então você não se importa com guerra, não é? Só quer proteger seu próprio rabo.Ele sabe muito bem que tocou na ferida do homem, eu posso sentir seu medo de onde estou.-Vocês vão ser a destruição dessa