Meu mundo

Helena estava a terminar os trabalhos de casa, enquanto isso, conversava com a Fernanda, que na altura, era sua melhor amiga:

-Fala sério Helena, o Paulo? – Perguntou a Fernanda.

-Sério amiga, ultimamente temos falado no whatsapp, e até no colégio, me paga o lanche, diz que gosta de passar tempo comigo, acho que está muito interessado em mim.

-Wau, Ele é um finalista, é lindo, e é popular lá no colégio, (olhou para o lado com um leve desânimo) sabias? Muitas meninas gostariam de ter ele como namorado, você é sortuda.

-Yah, mas algo me incomoda, já ouvi dizer que ele é um mulherengo, e que vive na ``Drena´´, e eu vejo que ele é muito assanhado, festas, shows e coisas do tipo.

- Ah, Helena isso é típico dos rapazes agora, principalmente os cantores, ele canta rap, não é? (Helena fez que sim com a cabeça), então. Sabes se ele bebe ou fuma?

-Dizem que ele bebe, não sei bem, mas não deve ser verdade, até porque…

E antes que a conversa continuasse, ouviu-se o abrir e fechar do portão, eram os irmãos não biológicos da Helena vindo.

Algures no caderno:                                                                                                           

Conheça a Esmeralda, o Luciano e António, os filhos biológicos dos meus pais por adopção, nós nos entendíamos, não tanto, mas posso dizer que eles me davam a sensação de ter irmãos. Na altura, Luciano era já um finalista, mas eu e os outros estávamos a fazer a décima classe, Esmeralda e Fernanda numa sala, eu e António noutra, mas isso não era impedimento para que eu e a Fernanda estivéssemos sempre juntas.

Após se saudarem, ficaram conversando no quintal, e ao decorrer a conversa Luciano diz:

-É sério, vocês comandam o refeitório, até parece que é tudo grátis para vocês.

-Não é grátis – Disse Fernanda sorrindo – acho que somos só sortudas, temos sempre o que comer.

-E quando não temos há sempre alguém disposto a pagar – acrescentou a Helena.

-Eh, vocês são mesmo as rainhas do refeitório, não dá para duvidar – Disse o António.

-Um pouco isso – Disse Fernanda fechando um olho e fazendo gestos – Entre os colegas somos po…

E antes mesmo que Fernanda terminasse o que falava, Esmeralda, já cansada da conversa, disse:

-Populares? Vocês se importam muito com a popularidade, no colégio, no bairro, no whatsapp, Facebook, Instagram, todo mundo tem que saber o que vocês fazem ou o que são, eu não me importo com essas coisas, (virou-se e disse enquanto caminhava) isso tudo passa.          

Os quatro ficaram simplesmente olhando para ela enquanto ia, admirados com a sua atitude, mas Esmeralda nem se virou e foi, e dizia em seu interior, enquanto se dirigia para dentro de casa:

-Popular, hum, popular devia ser eu, e não você, essa casa em que você vive não é dos teus pais, esta não é a tua família, essa vida que você vive não é tua, você devia era nos agradecer por ter te aceitado, ao invés disso, ficas aí a se envaidecer como se fosses realmente da família, ainda achas que és humilde, és uma ingrata, isso sim, não mereces nada disso.

Mariana, a sua mãe, ouviu Esmeralda bater forte a porta da entrada ao fechá-la, então foi em sua direcção e quando encontrou-se com ela disse:

-Filha!

-Boa tarde mãe – Disse a Esmeralda, baixando a cabeça e avançando rapidamente para o seu quarto.

Mariana, confusa com o que aconteceu, foi ter com Afonso, seu Marido, que estava na sala assistindo, e chegando até ele, disse num tom baixo, mas mostrando preocupação:

-Afonso, Tem algo de errado com a nossa Filha, ela anda muito distante ultimamente, e me parece mais triste a cada dia que passa.

-Ah, Não exagera Mulher, eu sei que ela é meio misteriosa, mas deve ser um desentendimento com a amiga dela.

Mariana segurou no comando, e desligou a televisão, de modo a receber mais atenção do marido, e disse, olhando firmemente nos seus olhos:

-Que amiga Afonso? A Esmeralda não trás aqui nenhuma amiga desde que lhe proibimos de andar com aquela Maria-homem, a tal Bruna.

-Hum, desculpe amor, achei que estivesses a falar da Helena, mas ouve, a Esmeralda é uma adolescente, eles têm, essa coisa das fases, ainda ontem ela estava contente porque fomos comprar um telefone novo, o antigo estragou.

-Tens razão, deve ser exagero meu – Disse Mariana.

- OK, agora dá o comando antes que o jogo acabe.

Luciano e António entraram em casa, após saudarem os pais, Luciano foi para a cozinha, quando António ia seguindo, Mariana o chamou:

-António, chega aqui (e António aproximou-se), o que se passa com a tua irmã?

-Ela está bem, espera, A Helena ou a Esmeralda?

-A tua irmã verdadeira pá – Respondeu já irritada.

-Hum, Ela está bem, queixou-se de dor de cabeça de manhã, porque a nova trança estava muito apertada, mas acho que já passou.

-Deve ser isso então – Disse Mariana tentando se convencer.

Luciano se aproximou com um copo de água na mão, e disse, enquanto entregava o copo para o António:

-Mãe, vou precisar das chaves da porta principal, e a outra, amanhã vou à festa com uns amigos, e não sei exactamente a que horas volto.

-Acho que seria melhor dormires lá, como fizeste da última vez – opinou o António.

-Isso, assim evitas andar muito tarde por essas ruas, são perigosas, se dormires lá estarás mais seguro – Acrescentou a mãe.

-Bem pensado, vou dormir lá então – Disse Luciano enquanto se retirava.

-Luciano! Nada de bebidas alcoólicas ou drogas ouviu?

-Deixa comigo mãe – E foi.

António sorriu quando notou que estava tão distraído, que nem notou que estava com um copo vazio na mão, e fez uma pergunta à Mariana:

-Mãe, porquê que o Luciano pode dormir fora e eu não?

-Ele já é crescido o suficiente, relaxa, não tenhas pressa, chegas lá um dia.

-Ele só tem 19 anos, isso é mesmo o suficiente?

-Sim António, é.

-Como assim?

Afonso passa por eles e responde enquanto ia passando:

-O que ela quer dizer meu filho, é que o teu irmão já é crescido o suficiente para levar uma surra na festa e se virar sozinho – Disse gozando, levando os dois a rir por um instante.

-Seu doido – Disse Mariana, rindo.

Enquanto isso, Helena se despedia da sua amiga no portão da casa, Fernanda saiu, mas havia alguma coisa que a incomodava, tinha um pedido a fazer, mas pouca coragem para fazê-lo, mas ainda assim, ela não se segurou, e mesmo não tendo reunido coragem suficiente virou-se depressa e disse:

-Helena espera!

-Diz – Disse ela, abrindo ligeiramente o portão e ficando entre a linha que separa a casa da rua.

-Olha amiga, vou precisar dos teus brincos, aquele par de ouro, só dessa vez, tenho um encontro importante, amanhã as 16 horas.

-Mas, 16 horas estaremos na… hum… você vai matar aulas para ir nesse encontro.

-Não se preocupa, tenho tudo sob controle amiga.

-Ai é? Falta pouco para que eu te chame Assassina, Andas a matar muita aula ultimamente.

-Você! Sua doida – Disse a Fernanda brincando.

-Mas estás a fazer disso um hábito, primeiro o ténis, depois o casaco, agora os brincos. Cuida bem deles, viu?

-Deixa comigo, mas não precisas me lembrar das outras coisas que pedi.

-É de leve – Disse a Helena.

-Amiga, leva amanhã na escola, assim evitamos qualquer paparazzi. – Disse Fernanda, tentando ser discreta.

Depois disso, Helena entrou no seu quarto, deitou-se na cama e ficou navegando pela internet, foi então que chegou uma mensagem do Paulo, que dizia: ``Podemos conversar Helena? ´´ Helena ficou logo ansiosa, nervosa ao mesmo tempo, mas enviou uma mensagem de volta, respondendo: ``Sim, liga para mim ´´. 30 ou menos segundos depois o telefone chamou, e quando ela segurou o telefone para confirmar quem era, viu que não era Paulo, mas sim Simão, seu ex-namorado, ignorou a chamada pela primeira e segunda vez, na terceira vez que o telefone chamou ela atendeu já nervosa e disse logo:

- Ouve bem Simão, só vou dizer isso mais uma vez, não tem solução para nós, você me magoou muito, e eu já te perdoei, mas a vida continua, e as coisas não vão voltar a ser como eram, não posso cometer o mesmo erro uma segunda vez, essa história acabou, ponto final, me deixa em paz, por favor.

-Se eu fosse o tal Simão isso ia doer muito. – Era o Paulo ao telefone.

Após ouvi-lo, Helena deu uma olhada no telefone, e viu que ao invés de Simão, ela falava com o Paulo, ficou tão envergonhada que se deixando levar pelo impulso do nervosismo, desligou a chamada. Ficou na Cama se ralhando e chamando nomes a si mesma, e o telefone tocou, mas dessa vez era apenas o alarme marcando a hora de   dar os remédios do pai, Então ela saiu para cumprir a missão, deixando o telefone na cama.

No dia seguinte, enquanto se preparava para ir à escola, Helena se lembrou dos brincos que prometeu à Fernanda, foi ver se estavam no sítio onde ela habitualmente os coloca, mas não estavam lá, e vendo isso, ficou muito preocupada e continuou procurando, António bateu a porta de seu quarto, mas ela avisou que iria atrasar e que eles podiam ir á frente, e ficou no meio da bagunça, procurando o brinco.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo