Parte 119...Gabriel — E aí, casal da máfia disfarçados de amigos - ouvi a voz da Camila se aproximando, com aquele tom de ironia suave que ela usava quando queria aliviar o próprio cansaço.Ela vinha caminhando devagar, com Alejandro ao lado. Ele levava a mão nas costas dela, firme, atento, mas ela já parecia bem melhor. Ela mancava menos. O quadril dela parecia ter reencontrado algum tipo de eixo - talvez físico, talvez emocional. Mas o importante mesmo é que ela já não reclamava tanto do tratamento.— Vocês chegaram agora? - perguntei, me ajeitando no banco, mas sem soltar Malena. Ela ficou ali, apoiada no meu braço, os olhos curiosos em Camila.— Sim - meu irmão respondeu — O trânsito estava uma merda.— Ou você que ficou tempo demais discutindo com o médico dela - Malena retrucou, arqueando uma sobrancelha.— Eu só pedi clareza sobre o tratamento e por isso demoramos mais.— Você quase bateu no homem - Camila rebateu, mas havia um brilho nos olhos dela. Irritação disfarçada de g
Parte 120...AlejandroQuando chegamos ao local, a noite já estava densa.. Eu encarava o prédio disfarçado de abandonado à frente com os punhos cerrados, o corpo elétrico e o coração latejando no peito como um tambor de guerra.Mateo e Ricardo estavam à minha esquerda, encostados no capô da SUV. Gabriel limpava a pistola como se fosse um ritual. Santiago verificava a munição dos fuzis no porta-malas. Ninguém dizia uma palavra. Mas todos pensavam a mesma coisa: Essa era a última caçada.Depois disso, só espero que não surja mais nenhum suposto parente de Diego. Preciso colocar minha atenção total em minha esposa e no filho que parece ser agora uma opção real.— A segurança do lugar é pesada - disse Mateo, os olhos fixos no galpão de concreto cercado por muralhas de ferro. — Dois homens armados na entrada, três no telhado e pelo menos mais uns cinco ou seis, circulando pelos fundos.— E lá dentro? - perguntei, já imaginando o layout.— Quatro andares. Javier está lá em cima, com os cães
Parte 121...Alejandro O portão se abriu devagar, como se sentisse o peso da noite que deixávamos para trás. A casa estava banhada pela luz amarelada do amanhecer. Ficamos mais tempo do que o esperado, mas conseguimos nosso intento.Atrás de meu carro vinha os carros dos meus irmãos e primos entravam, um por um. Pela primeira vez em anos, a casa parecia ser mesmo um lar e não um quartel. — Acho que agora a gente pode ter um bom tempo de descanso - Ricardo comentou. — Pelo menos vai nos servir por um bom tempo - Mateo disse, passando a mão pelo cabelo e com cara de cansaço — Isso vai começar a se espalhar e logo todos vão saber o que fizemos.— Ótimo! E que eles saibam que nós continuamos unidos e que não vamos deixar barato a ousadia de quem quer que seja. - soltei o ar de vez, também me sentindo cansado, mas aliviado por ter resolvido essa parte. — Vão se cuidar, fazer o que quiserem. Eu quero ver minha esposa.— Ok, irmão - Gabriel bateu em meu ombro — Vá mesmo. Eu também quero f
Parte 122...Camila Saímos do consultório com um sorriso que ninguém conseguia esconder. Nem mesmo ele. E pela primeira vez desde que tudo começou... Eu quis acreditar. Porque talvez, só talvez... A gente ainda tivesse o direito de ser feliz. Foi muito boa a conversa com o fisioterapeuta também e fiquei até mais animada porque ele disse que só vou fazer mais uns dias de exercícios e pronto, vai me liberar para focar só na parte da reprodução e ainda brincou dizendo que eu poderia colocar o nome dele se fosse um menino. — Nem pense nisso - Alejandro disse de forma séria, mas estava brincando — Eu agradeço todo o apoio que nos deu durante esse tempo. — Não por isso, fico feliz em poder ajudar e vocês dois, apesar do começo conturbado, até que fizeram meu trabalho ser mais leve. Desejo toda a sorte do mundo. — Ainda vamos nos ver - eu disse — E depois teremos tempo para despedidas. — Com certeza. Amanhã mesmo estarei a casa para colocar você para se movimentar mais um pouco. — Ok
Parte 123...CamilaNossa, como era bom um descanso, nunca prestei atenção a esse tipo de coisa antes, mas agora é muito importante pra mim. A brisa que soprava naquela tarde carregava o cheiro do jardim, das flores recém-regadas, e de algo que eu começava a reconhecer: paz. Era estranho… Mas não incômodo. Um estranho bom. Um que se sentava ao lado, cruzava as pernas e esperava você se acostumar. Não pensei que ser casada desse tanto trabalho.Malena estava ao meu lado, os pés descalços apoiados no batente da varanda, com uma taça de vinho pela metade na mão. Usava um vestido leve, solto, que dançava com o vento. O cabelo… Bem, o cabelo estava diferente. Crescendo devagar, mas já com um contorno bonito ao redor do rosto. Ela parecia… Ela mesma agora. Ou, quem sabe, finalmente alguém que estava se descobrindo. Foi um período bem ruim pra ela, mas percebo que ter vindo morar aqui fez bem pra ela.E eu entendo. Se eu, que tenho uma boa relação com meu pai, já achei bom não ter que fica
Parte 124...AlejandroRicardo se virou, enfim. Arrogante, como sempre. Aquela maldita sobrancelha levantada, como se tudo fosse um jogo e ele estivesse ganhando. É meu irmão, mas é um cínico.— Aconteceu coisa demais nas últimas semanas, Alejandro. Eu não queria envolver a Clara nisso. Quis esperar. Entender. Não tive tempo de falar com ela da forma correta, foi só isso.— Não. Você quis adiar. Porque você é um covarde quando o assunto é sentir algo real. - cruzei os braços, firme. — Clara não é como as outras que você leva por aí e joga fora. E você sabe disso. Só não tem coragem de lidar com o que vem junto.- apontei o dedo pra ele — Tome atitude, Ricardo. Você vai viver a vida de amante em amante?— Eu gosto dela, porra! - ele rebateu, mais alto. — Mas eu não sou você. Eu não tenho essa vocação de marido de filme. E você acha mesmo que eu vou decidir me casar com alguém só porque isso é “bom pros negócios”?— Não é só pelos negócios, idiota. - meu tom baixou, mas ficou mais pesado
Parte 125...CamilaO som da porta se fechando atrás de nós foi quase um alívio. Trajano esperou por nós e Alejandro ficou um instante com ele, mas eu segui para o quarto. Queria muito me livrar dos sapatos.Já entrei direto para o nosso quarto. Tirei a jaqueta devagar, sentindo uma leve tensão nos ombros, mas não era de inquietação. Estava mais para ansiedade depois da conversa que tivemos no restaurante.Alejandro veio logo depois e jogou as chaves em cima da mesinha com aquele jeito dele: seco, preciso, como se até os movimentos dissessem “não estou pra brincadeira”. Ele estava com muita coisa na cabeça, mas soube guardar isso para não estragar o nosso jantar.Estava cansada, mas não do tipo que o sono resolve. Era outra coisa. Uma inquietação que só ele sabia como acalmar — mesmo quando me deixava louca antes de me acalmar de vez. Era engraçado, mas Alejandro realmente conseguiu mudar minha ideia sobre ele e sobre nosso casamento.Ouvi seus passos entrando atrás de mim no closet.
Parte 126...Gabriel— Como assim, Gabriel? Eu não entendi essa sua ideia.— O que tem de difícil para entender, Malena? - eu abri os braços — A gente pode aproveitar a oportunidade, só isso.— Mas isso é sem cabimento - ela deu uma risadinha e balançou a cabeça — Só porque seu irmão vai se casar de novo com Camila, apenas para preencher uma formalidade, não é aproveitar algo, tipo sei lá... Uma carona até o centro. - ela andou até a porta — Isso não é motivo pra nós dois formalizarmos um noivado, pelo amor de Deus... Que ideia! - ela foi indo em direção à porta do quarto.Cruzei os braços e deixei meu peso cair de leve na moldura da janela, observando a movimentação do jardim lá embaixo. Esperei alguns segundos, até ouvir o barulho dos pés descalços parando no tapete. Sabia que ela não ia sair. Malena era teimosa, mas não fugia de verdade.— Engraçado... - murmurei. — Você não disse que não quer ficar noiva. Disse que o motivo é idiota. É diferente.— Gabriel… - ela bufou, voltando a