Quando recebeu a mensagem de Bruno, Juliana tinha acabado de sair do banho.Os longos cabelos negros ainda estavam molhados, colados nas costas. As gotas escorriam pela pele alva, deixando marcas cintilantes sobre o branco impecável de sua pele.O robe branco envolvia seu corpo com certa displicência. Por entre as aberturas, revelava uma pele tão clara e delicada que chegava a ofuscar.Bruno havia perguntado como ela queria lidar com Viviane.Nos dias de hoje, com o Estado de Direito funcionando, assassinato obviamente não era uma opção.Além disso, Juliana nem sequer achava que a morte fosse uma punição eficiente.Pelo contrário. Viver uma vida de tormento... Isso sim era punição de verdade.Viviane, a falsa herdeira da família Rodrigues, desfrutara por mais de vinte anos de uma vida de luxo e prestígio.Mas como diz o ditado: é fácil subir o padrão, difícil é voltar atrás.A família Rodrigues estava à beira da ruína. Afundada em dívidas, sem qualquer chance de recuperação. E, como nã
[Ju, como é que você sabia?! Ela tá dormindo no quarto de hóspedes por enquanto. O dela ainda não foi arrumado.]O resultado do teste de DNA confirmava: Sabrina era, de fato, filha biológica da família Moreira.Teoricamente, Vítor já deveria estar chamando ela de irmã com naturalidade.Mas, por algum motivo, isso simplesmente não saía.Na frente de Sabrina, ele se sentia... Estranho.Incomodado, até.Nunca tinha parado pra pensar muito nisso, achava que era só porque nunca tinham convivido antes.Sentir uma certa distância era, para ele, perfeitamente normal.O que ele se esquecia... Era que no dia em que viu Juliana pela primeira vez, sentiu uma conexão imediata. Um tipo de familiaridade inexplicável.[Ju, por que você ainda tá acordada a essa hora? Tá pensando na treta da família Costa?]A situação de Gustavo, apesar de não ter viralizado na internet, já circulava entre os convidados da festa beneficente.Vítor ouviu os boatos vindo de todos os lados.[Só não estou com sono.]A respo
Ao ouvir o nome de Gustavo ser mencionado de repente, Juliana estreitou levemente os olhos.— O que tem ele?Joana ficou em silêncio por um instante. Lembrou-se da expressão do filho ao acordar. Seu olhar se encheu de sentimentos confusos.Depois de um breve momento, ela disse:— Quando você vê-lo, vai entender.Não era que Joana não quisesse contar... Ela simplesmente não sabia como.Afinal, a questão da perda de memória era algo difícil de acreditar.Os médicos tinham dito que isso não afetara a inteligência dele, apenas que sua memória havia regredido para uma fase anterior da vida. Quanto tempo levaria para voltar ao normal? Eles também não sabiam dizer.Ao encarar a tela do celular e ver que a ligação tinha sido encerrada, Juliana foi tomada por uma sensação estranha, uma espécie de pressentimento ruim.Mas não pensou muito no assunto.De qualquer forma, ela e Gustavo já tinham rompido totalmente.Se ele ousasse se aproximar de novo, só podia estar sendo cara de pau.Juliana apago
Bruno também não dizia qual era o assunto.O que deixava Vítor curioso a ponto de querer arrancar os próprios cabelos.Juliana acabou adiando a live que tinha programado e topou ouvir o que ele tinha a dizer.Vítor ficou o tempo todo tentando arrancar alguma pista de Bruno, enchendo ele de perguntas de todos os lados. Mas Bruno se manteve calado, o rosto sério, com aquele ar frio e reservado de sempre.— Bruno, fala logo, vai! — Insistia Vítor, já quase se desesperando.Cansado da insistência, Bruno disparou:— Quer começar o primeiro dia de aula de castigo?O feriado de Ano-Novo já tinha ficado para trás.Os alunos do terceiro ano estavam voltando à escola, dando início à maratona rumo ao temido vestibular de junho.Mas Vítor não estava nem aí.Sabia que estudar daquele jeito tradicional não era pra ele. Preferia buscar um caminho alternativo alguma paixão, um interesse verdadeiro que pudesse transformar em futuro.Ainda bem que ele tinha vários irmãos mais velhos. Caso contrário, a p
Bruno já estava de volta ao Brasil fazia quase um ano.E ainda assim, Gustavo tinha perguntado com um ar confuso quando ele tinha voltado... Por qualquer ângulo que se olhasse, aquilo não fazia o menor sentido.Foi só depois que o médico explicou que ele e Joana começaram a entender.— Parece que ele teve um caso de amnésia.Bruno saiu de seus pensamentos, o olhar com um brilho difícil de decifrar.Na verdade, chamar de “amnésia” nem era exatamente adequado.Gustavo não tinha esquecido ninguém.A questão era que sua memória tinha voltado no tempo, exatamente até os seus dezoito anos.Naquela época, Gustavo e Juliana viviam um relacionamento tão intenso e apaixonado que despertava inveja em todo mundo.Juliana franziu a testa.— Amnésia?Vanessa tinha usado um feitiço emocional, não tinha? Como aquilo podia ter causado uma perda de memória?Ou será que... Gustavo estava mentindo?Bruno explicou:— O médico disse que ele sofreu um choque emocional. Quando vai voltar ao normal, ninguém sa
O assunto do momento era, sem dúvida, a família Costa.Logo em seguida vinha a família Moreira.Diziam por aí que a filha desaparecida dos Moreira finalmente tinha sido encontrada.Quanto ao motivo de isso ainda não ter sido anunciado oficialmente, as versões se multiplicavam.Maia passou o dia inteiro, literalmente sendo paga pra comer pipoca e acompanhar o drama. Mas, quanto mais ouvia, menos entendia. No fim, decidiu pegar um churrasquinho e bater na porta da Juliana pra conversar madrugada adentro.— E o resultado do exame saiu. Eu e o Vítor não temos nenhum laço de sangue. — Disse Juliana, com o rosto tranquilo, sereno, sem demonstrar emoção alguma.Ela tomou um gole de vinho. O calor suave da bebida escorreu por sua garganta.Maia ficou em choque.— Sem parentesco? Não... Não pode ser... Você é a cara da família Moreira!Ela nunca tinha visto a tal da Sabrina pessoalmente. Mas seu sexto sentido de mulher gritava: Juliana era, sim, a verdadeira herdeira dos Moreira.— Tem muita ge
Quem estava do lado de fora da porta... Era Gustavo.Vestia aquele uniforme azul e branco típico de hospital.O rosto estava pálido, as sobrancelhas franzidas formavam uma linha profunda entre os olhos.Mas, no instante em que viu Juliana, seu olhar sombrio se iluminou como fogos de artifício no céu.— Ju! — Exclamou ele.Estendeu a mão, querendo tocá-la.Mas Juliana recuou instintivamente, desviando com um olhar tão frio e repulsivo que quase cortava.O gesto dele ficou suspenso no ar.Seus olhos se arregalaram, surpresos, encarando aquele rosto lindo... Que de repente lhe parecia tão estranho.Mas... Ontem eles não estavam bem?Não tinham conversado, rido, trocado promessas?Gustavo não entendia.Desde que acordara no hospital, tudo à sua volta parecia... Diferente.As pessoas estavam mais velhas. Até ele, ao se ver no espelho, já não era o garoto que lembrava, era um homem, mais maduro, com o olhar endurecido.E Juliana... Ela também não era a mesma.Não era aquela que habitava as l
Ou seja, na cabeça de Gustavo, eles ainda estavam juntos.E mais do que isso... Ele ainda a amava profundamente.Mas... E daí?Juliana sorriu com desdém e virou mais uma taça de vinho.— Amnésia parcial... Acho que já tive um cliente com algo assim. — Comentou, casualmente. Maia nem se surpreendeu. — O caso daquele casal, lembra? Tipo o seu: namoravam desde crianças, um amor de anos... Até que ele não resistiu à tentação e traiu a mulher.Esse tipo de situação, hoje em dia, já era até comum.Como advogada, Maia lidava com esse tipo de história quase toda semana.Agora que pensava nisso, bateu até uma certa melancolia.— O cara sofreu um acidente de carro e ficou com amnésia intermitente. Esqueceu completamente da traição. Só lembrava o quanto amava a esposa. No fim... eles reataram.Se estavam felizes hoje?Maia não sabia dizer.Juliana falou com firmeza:— Eu e o Gustavo... Nunca mais.Mesmo que, neste momento, ele estivesse vivendo a fase em que mais a amava. E daí?Amor é volátil.E