O assunto do momento era, sem dúvida, a família Costa.Logo em seguida vinha a família Moreira.Diziam por aí que a filha desaparecida dos Moreira finalmente tinha sido encontrada.Quanto ao motivo de isso ainda não ter sido anunciado oficialmente, as versões se multiplicavam.Maia passou o dia inteiro, literalmente sendo paga pra comer pipoca e acompanhar o drama. Mas, quanto mais ouvia, menos entendia. No fim, decidiu pegar um churrasquinho e bater na porta da Juliana pra conversar madrugada adentro.— E o resultado do exame saiu. Eu e o Vítor não temos nenhum laço de sangue. — Disse Juliana, com o rosto tranquilo, sereno, sem demonstrar emoção alguma.Ela tomou um gole de vinho. O calor suave da bebida escorreu por sua garganta.Maia ficou em choque.— Sem parentesco? Não... Não pode ser... Você é a cara da família Moreira!Ela nunca tinha visto a tal da Sabrina pessoalmente. Mas seu sexto sentido de mulher gritava: Juliana era, sim, a verdadeira herdeira dos Moreira.— Tem muita ge
Quem estava do lado de fora da porta... Era Gustavo.Vestia aquele uniforme azul e branco típico de hospital.O rosto estava pálido, as sobrancelhas franzidas formavam uma linha profunda entre os olhos.Mas, no instante em que viu Juliana, seu olhar sombrio se iluminou como fogos de artifício no céu.— Ju! — Exclamou ele.Estendeu a mão, querendo tocá-la.Mas Juliana recuou instintivamente, desviando com um olhar tão frio e repulsivo que quase cortava.O gesto dele ficou suspenso no ar.Seus olhos se arregalaram, surpresos, encarando aquele rosto lindo... Que de repente lhe parecia tão estranho.Mas... Ontem eles não estavam bem?Não tinham conversado, rido, trocado promessas?Gustavo não entendia.Desde que acordara no hospital, tudo à sua volta parecia... Diferente.As pessoas estavam mais velhas. Até ele, ao se ver no espelho, já não era o garoto que lembrava, era um homem, mais maduro, com o olhar endurecido.E Juliana... Ela também não era a mesma.Não era aquela que habitava as l
Ou seja, na cabeça de Gustavo, eles ainda estavam juntos.E mais do que isso... Ele ainda a amava profundamente.Mas... E daí?Juliana sorriu com desdém e virou mais uma taça de vinho.— Amnésia parcial... Acho que já tive um cliente com algo assim. — Comentou, casualmente. Maia nem se surpreendeu. — O caso daquele casal, lembra? Tipo o seu: namoravam desde crianças, um amor de anos... Até que ele não resistiu à tentação e traiu a mulher.Esse tipo de situação, hoje em dia, já era até comum.Como advogada, Maia lidava com esse tipo de história quase toda semana.Agora que pensava nisso, bateu até uma certa melancolia.— O cara sofreu um acidente de carro e ficou com amnésia intermitente. Esqueceu completamente da traição. Só lembrava o quanto amava a esposa. No fim... eles reataram.Se estavam felizes hoje?Maia não sabia dizer.Juliana falou com firmeza:— Eu e o Gustavo... Nunca mais.Mesmo que, neste momento, ele estivesse vivendo a fase em que mais a amava. E daí?Amor é volátil.E
Assim que ouviu aquelas palavras, o corpo alto de Gustavo cambaleou para trás, como se tivesse levado um soco no peito.Seu rosto bonito, já pálido, ficou ainda mais branco, estampado com uma expressão de total incredulidade.No segundo seguinte, agarrou os ombros de Joana com desespero, a voz trêmula, cheia de negação:— Você tá mentindo, não tá? Isso não pode ser verdade! Eu... Eu amo a Ju! Como eu poderia ter traído ela?!Diante da reação do filho, Joana manteve a calma.Com frieza, repetiu palavra por palavra:— Guto, você traiu a Juliana. Você realmente a traiu.Talvez... Aquilo fosse o que chamavam de karma.A amnésia só havia apagado os erros, os desvios, os sentimentos que haviam mudado.Mas deixou intacto aquilo que doía mais: o amor mais puro que ele já sentiu.E, ironicamente... Juliana já não o amava mais.Foi como se algo tivesse explodido dentro dele.Gustavo caiu de joelhos, abraçando a própria cabeça, repetindo em voz baixa:— Não... Não... Impossível... Impossível...J
O cheiro forte de desinfetante impregnava o quarto.A voz de Gustavo, que antes chamava “Ju” com tanta insistência, foi ficando cada vez mais fraca... Até desaparecer por completo.Só então a expressão tensa de Bruno começou a se suavizar.— Bruno, eu... — Joana tentou dizer algo, mas foi interrompida.— Não precisa dizer nada, irmã. Eu aceito. — Respondeu ele, direto.Bruno cortou o que quer que Joana fosse dizer.Nos olhos dela, passou um relance de surpresa.Mas rapidamente se recompôs, respirando fundo.No fim, todas as palavras que tinha engasgadas se resumiram a apenas uma:— Obrigada.Ela era uma especialista em pesquisa, não em negócios.Aguentar firme por uns dias, tudo bem.Mas manter-se em pé por muito mais tempo... Era pedir demais.Nos últimos dias, dormia só duas ou três horas por noite.Vivia à base de ibuprofeno para aguentar as dores de cabeça, do contrário, o enjoo a derrubava.Se Bruno, com sua habilidade e prestígio, estivesse disposto a ajudar,então aquele grupo d
Na manhã seguinte.Juliana foi despertada pelo toque insistente de uma ligação.Ainda meio grogue, atendeu no automático, só recobrou a consciência ao ouvir aquela voz familiar.— Ju...Ela desligou na hora, sem a menor hesitação.O resto do sono se desfez como fumaça ao vento.Gustavo era mesmo um encosto que não largava do pé.Ela já tinha bloqueado o número dele fazia tempo, como foi que ele conseguiu outro para ligar?Aquilo só aumentava a irritação de Juliana.Na noite anterior, ela não fez a menor questão de ser gentil: expulsou Gustavo sem rodeios, na frente de todo mundo.Gustavo tinha vinte e seis anos, mas agia como se tivesse regredido aos dezoito.E Juliana conhecia muito bem aquele Gustavo dos dezoito anos.Orgulhoso, impulsivo, com a autoestima lá em cima...Alguém assim, depois de ser humilhado, com certeza sumiria de vez.Mas não. No dia seguinte, ele mesmo ligou para ela, justo para ela, que o tinha feito passar vergonha.Um alerta de mensagem interrompeu os pensamento
Antes de começar a live, Juliana enviou mensagens privadas para os dez ganhadores e transferiu os R$888 para cada um.Só então entrou ao vivo.Como sempre, ela não mostrou o rosto.Mesmo com a chuva de comentários implorando para que ligasse a câmera, fingiu que não viu nada.[Ai ai... Como é que uma pessoa linda assim se recusa a mostrar a cara?][Deixa pra lá! A mão da streamer já é um espetáculo à parte. Se eu tivesse umas mãos assim, ia até sonhar rindo.][Hehehe... Quem será que ganhou o prêmio de R$888, hein? (Não sou obrigada a dizer que fui eu!)][Sai fora, exibida! Mostra demais e a vida te cobra, hein?]O chat estava pegando fogo, a galera animada, jogando conversa fora, mandando presentes. Os efeitos visuais das doações pipocavam sem parar na tela.Antes, bastava mandar um carrossel virtual de R$188 para ter direito a conversar com ela ao vivo.Dessa vez, não foi diferente.Logo apareceu uma solicitação de chamada.— Professora Moreira, oi... Eu tenho uma dúvida que me acomp
Bianca entrou no quarto correndo, apressada.Usava o uniforme escolar certinho, do jeito que a mãe mandava. Desde que Joana passou a cuidar mais de perto dela, Bianca tinha deixado pra trás boa parte dos comportamentos problemáticos.Pelo menos, o rótulo de “louquinha carente” já não colava mais.Ela se jogou nos braços de Gustavo sem pensar duas vezes e as lágrimas, que até então estavam represadas, vieram com tudo.— Bianca, quem foi que te fez chorar assim? — Gustavo a deixou abraçá-lo sem dizer nada. Bianca era sua única irmã, desde pequena, ele sempre a tratou como uma princesa. Nunca a viu tão abatida, nunca tinha visto chorar daquele jeito. — Fala pra mim. Me diz quem foi. Eu resolvo isso agora.Com alguém ali pra ampará-la, Bianca chorava ainda mais forte. Parecia que queria, de uma vez por todas, desabafar tudo o que vinha engolindo nesses anos.O cuidador, percebendo o momento íntimo entre os dois, saiu discretamente do quarto, deixando o espaço só para eles.Por um tempo, a