Capítulo 8

Decido ligar para Lais. Depois de qualquer segundo ela responde animada:

_ Finalmente! Acabou seu cárcere privado?

Dou uma risada e falo:

_ Foi uma tortura cada segundo! Bom, de qualquer maneira estou indo para a casa descansar e esta história já é passado!

Lais ironicamente diz:

_ Hum, acredito que isto apenas começou! Conversei com Paolo a respeito de Lucca. Ele disse que ele é bem decidido quanto ao que quer. E quando quer algo, vai até o fim para conseguir. Perguntei também se ele é algum bandido perigoso. Paolo me disse que você pode confiar nele. Sua família produz vinho e ele possui diversas empresas em diversos setores. É um grande investidor e vive disto.

Achando engraçado todo o relatório que ela conseguiu com Paolo eu falo:

_ Obrigada! Informações interessantes, mas nada relevantes para mim. Lucca já é passado e esta noite podemos sair se você quiser! Somente nós duas! Deixe seu namorado em casa desta vez _ provoco.

Ela dá uma risada e continua:

_ Bom, aceito seu convite. Eu encontrei o Paolo por coincidência na Déjà vu, já te disse! Não somos namorados! Apenas amantes casuais.

_ Sim, como não! De qualquer forma, agradeço você ser só minha hoje! Quero aproveitar e beber um bom vinho no La Notte. Nada muito tarde, amanhã tenho algumas casas para mostrar nas montanhas.

_Leona você às vezes é muito chata! Mas sua sorte é que te amo muito. Mas deixo claro que quero saber tudo sobre sua noite com o Lucca. Mas temo em te informar que hoje no La Notte tem festa, então se prepare, será difícil que você volte para casa cedo. Te ligo depois para dizer o tema.

Reviro os olhos e falo:

_ Sem chance não tenho nada a dizer sobre a noite com ele! Suponho que meu plano de ir embora cedo foi cancelado, festas no La Notte tiram o melhor de mim. Nos vemos mais tarde. Beijos

Ela nem tenta insistir e concorda se despedindo. O táxi chega ao meu destino, pago e saio já tirando minhas chaves da bolsa. Aperto para destravar o alarme. Entro no carro, puxo meu vestido.

Abro o teto do carro e dou a partida. Definitivamente amo minha mini cooper cabriolet. A música começa automaticamente e eu avanço estrada a fora, a caminho de casa.

Sia bird set free me faz companhia para me lembrar porque tenho que continuar sendo fria.

Asas cortadas, eu era uma coisa quebrada

Eu tinha voz, tinha voz, mas eu não conseguia cantar

Você me deprimia

Eu lutava enquanto estava pra baixo

Tão perdida, cheguei no meu limite

Eu tinha voz, tinha voz, mas eu não conseguia falar

Você me imobilizou

Eu luto para voar agora

Mas há um grito interior que todos tentamos esconder

Nós suportamos tanto, não podemos negar

Nos come vivos, isso nos come vivos

É, há um grito interior que todos tentamos esconder

Nós suportamos tanto, mas eu não quero morrer

Não, eu não quero morrer, eu não quero morrer

E eu não ligo se eu canto fora do tom

Eu me encontro nas minhas melodias

Eu canto por amor, eu canto por mim

Eu grito como um pássaro livre

E eu não ligo se eu canto fora do tom

Eu me encontro nas minhas melodias

Eu canto por amor, eu canto por mim

Eu vou gritar como um pássaro livre

Eu vou gritar como um pássaro livre

Eu vou gritar como um pássaro livre

Agora que eu voo, acerto as notas altas

Eu tenho voz, tenho voz, me escute rugir a noite

Você gritou para que eu me calasse

Mas eu revidei cantando mais alto

Mas há um grito interior que todos tentamos esconder

Nós suportamos tanto, não podemos negar

Nos come vivos, isso nos come vivos

É, há um grito interior que todos tentamos esconder

Nós suportamos tanto, mas eu não quero morrer

Não, eu não quero morrer, eu não quero morrer

E eu não ligo se eu canto fora do tom

Eu me encontro nas minhas melodias

Eu canto por amor, eu canto por mim

Eu grito como um pássaro livre

E eu não ligo se eu canto fora do tom

Eu me encontro nas minhas melodias

Eu canto por amor, eu canto por mim

Eu vou gritar como um pássaro livre

Depois de todas as agressões sofridas no meu casamento com Dimitry e tudo o que ele era para mim, me tornei fria em relação a relacionamentos. Sou consciente que nem todo relacionamento é igual. Nem todos os homens são cafajestes, bandidos, monstros. Mas o problema é que quando te machucam de uma forma tão intensa, fica difícil querer correr o risco. O porquê me arriscar a ser quebrada de novo?

Eu canto alto enquanto sinto o sol no meu rosto. Acelero um pouco mais e antes de fazer a curva da autoestrada percebo um Audi preto me seguindo. Eu poderia ficar com medo visto que vivo na paranoia do meu passado. Mas algo me diz que se este carro estiver mesmo me seguindo tem algo a ver com papai. Desde que me separei e voltei a morar na Itália, precisamente em Milão, ele manda seus seguranças me seguirem. Papai sempre foi protetivo, nunca foi a favor do meu relacionamento com o Russo. Papai não descobriu de imediato sobre a máfia, porque o Russo manteve muito bem escondido seus negócios sujos da Bratva. Ele escondeu até mesmo de mim.

Eu acelero um pouco mais e ultrapasso os dois carros a minha frente. Army of me, da Bjork me acompanha agora e eu aumento o volume enquanto acelero e viro à direita para a saída da autoestrada.

Eu me pego pensando quantas mulheres se sujeitam a passar por situações como eu passei por "amor".

Ele era um criminoso, não somente por seus negócios ilícitos pois fazia parte da máfia Russa coisa que antes de me casar jamais desconfiei. Foi um criminoso cruel, me destruindo lentamente.

Ele era um amor de pessoa no início, me levava para as viagens mais espetaculares, me cobria de luxos, me fazia sentir amada. Quando eu estava totalmente envolvida, as coisas começaram a mudar aqui e ali. Eu era agredida quase todos os dias, seja física que mentalmente. Eu nunca era bonita o suficiente, boa o suficiente. Eu estava sempre errada, eu era sempre a culpada de tudo de errado na vida dele. E para isto, ele me torturava dia após dia. Ele não me permitia falar nada para minha família e amigos, muito menos para a polícia. Ele monitorava meu celular com escutas, eu era seguida por seus capangas o tempo todo. Minha vida era um terror. E não somente por ele ser um boss da máfia, mas também por ser um agressor.

Limpo as lágrimas do meu rosto quando estaciono na minha garagem. O portão se fecha atrás de mim, respiro fundo e subo pelas escadas.

Eu acredito que jamais voltarei ao normal depois disto. Quando me casei com Dimitry eu era muito jovem, eu era feliz e infelizmente sai disto tudo, destruída. Com ele entrei em depressão, engordei muito e ele me humilhava por isto. Tudo em mim estava fora de controle, até mesmo meus hormônios. Mesmo assim eu engravidei em um momento, no início ele tinha ficado feliz, não me agredia mais e por alguns meses eu tive paz. Mas comecei a me sentir muito mal, e ele me culpava pelo meu corpo não estar conseguindo segurar a gravidez. Em uma noite ele chegou em casa bêbado e com certeza tinha usado drogas, ele estava mais descontrolado que o normal, começou a me ofender dizendo que eu não prestava para nada. Que eu era uma fracassada, que ele tinha medo do nosso filho se parecer comigo e não com ele.

Eu tentava acalmá-lo, mas ele me jogou na parede e este foi o golpe final para nosso filho. Naquela noite eu sofri um aborto. Meu mundo caiu, dias depois ainda acamada fui agredida e humilhada.

Ele chegou em casa no dia seguinte cheio de marcas de batom e arranhado nas costas. Quando tentei confrontá-lo, ele dissera que tinha que buscar uma mulher de verdade fora de casa já que eu não prestava para nada. Por que eu me sujeitava aquela vida?

Afundo na água da banheira e continuo pensando. Uma mulher deve lutar por liberdade cada dia de sua vida. Seja no trabalho, seja no namoro ou casamento. Tem sempre algo que devemos provar que somos boas o suficiente, que somos capazes para nós mesmas!

Eu consegui fugir dele por um tempo, nem sei como fiz isto, mas consegui em uma falha de seus capangas. Eu não podia voltar para Itália, ele descobriria, então eu passei a viver em hotéis, de cidade em cidade por todos os cantos do mundo. Até conseguir embarcar para Paris, e conseguir proteção por lá, em uma casa de mulheres que sofrem agressão de seus parceiros. Eu tentei ir à polícia mais de uma vez, mas eu desistia bem ali na porta. Eu até poderia conseguir fazer ele ser preso, mas sem garantia que ele restaria atrás das grades. Afinal, ele tinha muito dinheiro, os melhores advogados, e eu no fim poderia pagar com minha vida.

Ou pior alguém que eu amasse poderia perder a vida por minha causa. Então fui tentando levar a vida, até encontrar uma solução que me deixasse livre de verdade. Pois eu sabia que seria questão de tempo e ele me acharia.

Cheguei a conseguir contato com um matador de aluguel e o paguei para executá-lo com o dinheiro que eu mantinha escondido. Eu poderia matá-lo com minhas mãos, pois se eu fechasse meus olhos podia me lembrar de todas as agressões e humilhações. Mas eu jamais poderia ter paz de espírito, eu sabia disto. Não mudava muito o fato de querer contratar alguém para matá-lo, mas ao menos eu não teria que olhar para ele enquanto ele respirava pela última vez.

Fiquei quatro meses longe de tudo, de todos comprava celulares dava notícias para minha família, eu vivia constantemente mudando meus números (meu erro, visto que todas as vezes me pediam um documento e eu fornecia os meus verdadeiros.)

Eu comecei a correr e fazer aula de defesa pessoal, ele poderia tentar me matar, mas eu não morreria sem lutar! Comprei uma arma, eu aprendi a atirar e o fazia muito bem, mas evitava ao máximo carregá-la comigo, era demais para mim.

Eu sabia que tudo isto não duraria muito até ele me encontrar. E foi em um dia de neve intensa que ele me encontrou nas ruas de Paris. 

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