Lindsey MorganAs horas foram se passando e quando dei por mim, já estava bem adiantada, apesar do sol ainda brilhar no céu, pois nessa época do ano só anoitece quando já é bem tarde.— Foi muito bom conversar com você, Daniel, mas, eu preciso ir — digo me levantando em um impulso, a perna um pouco dormente.Eu tinha que voltar, não sabia exatamente o que faria, mas uma coisa era certa, precisava voltar e enfrentar tudo o que me esperava. Pensar nisso trouxe novamente uma tristeza ao meu coração.— O prazer foi todo meu, Lindsey. Cuide-se e desse neném também.— Pode deixar. Onde tem um ponto de taxi por aqui?— Ali do outro lado. Vamos juntos, também vou para o lado de lá. Tenho que voltar ao trabalho, ou o chefe — faz um gesto de faca cortando o pescoço com a mão. — E farei uma cirurgia em... — ele olha o relógio. — Vinte minutos.Começamos a caminhar e quando penso em todo desgaste que vou ter pela frente ao topar com Kiara quando chegar ao apartamento, me sinto angustiada. Tomara
Levi MartinelliSeguindo o conselho de Ferrell, comprei chocolate meio amargo, os preferidos dela e flores, como estamos na primavera, tem uma variedade enorme delas, optei por tulipas brancas, que segundo a florista, está associada a um novo começo. Era justamente o que eu queria com mia bella. Zerar tudo e recomeçar, ela disse também que esse tipo de flor é um símbolo de paz, tudo que estamos precisando nesse momento.Assim que entro no apartamento, estranho o clima. Sempre que ela vinha mais cedo para casa, quando eu chegava, encontrava um aroma de alguma receita impregnando o ar, as luzes todas acesas, flores novas nos vasos, conferindo ao ambiente, antes estéreo e masculino, um ar feminino e acolhedor. Agora, a sala encontrava-se na penumbra, parecia fria e vazia.Deixo a chave em um vaso raso no aparador e sigo para o corredor que leva ao quarto, mas antes, entro na cozinha e vou até a área.— Oi garoto — falo com Picollo que está deitado. Ele abana sua cauda para mim, mas não s
Momentos antes, no hospital...Lindsey MartinelliPisco os olhos tentando me situar. Sinto um desconforto em meu braço, quando consigo focar a vista, vejo que tem um acesso intravenoso em cima da minha mão esquerda.— Que bom que acordou — diz uma voz grave. Espera aí, já ouvi essa voz.— Daniel? — se ele é real, significa que todas as outras coisas também são. Meu Deus... — Meu bebê...— Calma, vocês estão bem.— O que aconteceu? — pergunto tentando me sentar, ele me ajuda.— Você teve uma queda de pressão e somado a isso, palpitações, precisa ficar o mais relaxada possível — a outra lá com problemas do coração e eu que tenho palpitações? Quanta ironia, penso. — Os exames apontam uma baixa na glicemia, por isso o soro.— Há quanto tempo estou aqui?— Umas duas horas aproximadamente. Tentamos contatar seu contato de emergência, mas não obtivemos sucesso.Taylla! Ela está numa conferência importante hoje.— Vou chamar uma amiga — digo. Penso em Kate, mas descarto, ela tem um filho pequ
Levi MartinelliDepois que eles saem, ficamos nos olhando um tempo, até que me aproximo bem devagar. Tenho certeza de que ainda está brava.— Como você está?— Agora estamos bem — sua voz é baixa.— O que aconteceu? — pergunto me sentando na beirada da cama.— Eu... Eu tentei ficar calma — murmura ela.— Não estou culpando você, jamais faria isso, mia bella. Se alguém tem culpa, sou eu mesmo. Kiara...— Não quero falar sobre isso agora — fecha os olhos recostou-se no travesseiro.— Tudo bem. Não quero estressá-la — digo e mudando de assunto, falo. — Quando terá alta?— Ainda não sei, estou esperando o médico vir me reavaliar.Nesse momento um médico jovem entra na sala, em seu rosto, um largo sorriso.— Como está minha paciente preferida? — o quê? Que intimidade é essa com minha mulher. Levanto-me e ele chega junto dela. Olho para Lindsey que dá um sorriso sem jeito. — O senhor deve ser o marido — dirige-se a mim.— Eu mesmo, Levi Martinelli — apresento-me.— Daniel Michaels — estende
Lindsey MartinelliAcordo sentindo Eva se mexer, procuro outra posição para ver se ela se acalma e quem sabe eu durma mais um pouco e nada, nenhuma posição parece ser boa o bastante. Noto que Levi não está na cama. Já teria saído para correr? Ele tem o hábito de fazer isso alguns dias da semana.Com Eva inquieta e sentindo a boca seca, resolvo tomar um pouco de água. Quando me sento, noto um jarro com um lindo arranjo de tulipas, aquilo não estava ali quando saí ontem e como Ruanita não veio, então só pode ter sido ele. Um sorriso involuntário surge nos meus lábios.Boba! Derrete-se por tudo.Assim que saio no corredor, percebo a porta de Kiara entreaberta e uma fresta de luz incide sobre um quadro na parede oposta, por curiosidade, vou espiar. Meu coração dispara ao ver que Levi está ao lado dela, alisando seus cabelos enquanto ela dorme. Tapo minha boca reprimindo um soluço e saio dali o quanto antes. Essa situação não está me fazendo bem de jeito nenhum, não sei até quando vou supo
Levi MartinelliMais uma vez um embate entre as duas. Essa situação está ficando insustentável. Uma doente com problemas cardíacos, a outra, grávida com enjoos frequentes e nenhuma das duas se importando com suas condições.— Kiara, assim você não está ajudando... — digo quando a coloco sobre a cama. — Não deveria ter falado dos sapos, eu contaria a ela num momento oportuno e apenas se eu julgasse necessário. Você se excedeu...Olho para o rosto de Kiara, vermelho com um desenho parcial de uma mão. Obvio que isso é obra de Lindsey e mais uma vez ela passou dos limites.Quando se movimenta para se ajeitar na cama, vejo que o lado esquerdo de seu rosto está igual ao direito, com marcas de agressão. Balanço a cabeça inconformado.— Eu juro que não queria atrapalhar. E não falei aquilo que ela disse... — tenta se justificar.— Lindsey tem os defeitos dela, mas mentir não é um deles, Kiara — digo encarando seu rosto. E é verdade, se tem uma coisa que ela jamais faria, era levantar falso de
Lindsey MartinelliMais uma vez acordei em uma cama de hospital. A última coisa de que me lembro, é de tentar chegar até minha cama. Depois de focar a visão, vi que era Daniel quem estava me examinando, mas desta vez, sua expressão não estava muito boa.— Quanto deu a glicose? — perguntou a alguém que eu não consegui ver quem era.— Daniel... — minha voz saiu arranhando minha garganta. — Diga que meu bebê está bem, por favor — pedi em um fio de voz. Uma sensação de perda me envolvendo; não consegui segurar o choro.— Eu preciso que você se acalme — disse com a voz baixa. — Vamos fazer a escuta fetal agora e eu acredito que está tudo bem, só tente se acalmar.— Só vou me acalmar quando souber que ela está bem — digo levando uma das mãos no meu olho, enxugando uma lágrima.A enfermeira com quem ele tinha falado antes ficou ao meu lado.— Podemos começar doutor — disse me ajudando a levantar a bata e a deixar minha barriga exposta. Despejou um pouco de gel e em seguida Daniel começou a d
Lindsey MorganNa manhã seguinte, quando recebi alta, pedi que chamassem Taylla. Ela veio e me deu a maior bronca por não ter avisado no dia anterior que estava hospitalizada.Ignorei totalmente a presença de Levi ali. Ele parecia cansado, a barba por fazer, manchas escuras abaixo dos olhos em um sinal claro de uma noite mal dormida.No caminho para o apartamento de Levi, os flashes da noite povoavam minha mente. Ele pensa que não percebi que ele passou toda a noite ali, quando alguma enfermeira entrava para trazer medicação ou fazer algum procedimento, ele saia de fininho e voltava quando pensava que eu já tinha adormecido. Por duas vezes o observei todo torto no sofá minúsculo que tinha ali. Mas pela manhã, ele já não estava mais.— Tem certeza que vai mesmo fazer isso? — Taylla pergunta me arrancando dos meus pensamentos.— Eu preciso. Pelo bem da minha filha e meu também — respondi mexendo no cabelo, nervosa.É doloroso saber que vamos terminar assim. Mas ele fez sua escolha e eu