Levi MartinelliDepois que eles saem, ficamos nos olhando um tempo, até que me aproximo bem devagar. Tenho certeza de que ainda está brava.— Como você está?— Agora estamos bem — sua voz é baixa.— O que aconteceu? — pergunto me sentando na beirada da cama.— Eu... Eu tentei ficar calma — murmura ela.— Não estou culpando você, jamais faria isso, mia bella. Se alguém tem culpa, sou eu mesmo. Kiara...— Não quero falar sobre isso agora — fecha os olhos recostou-se no travesseiro.— Tudo bem. Não quero estressá-la — digo e mudando de assunto, falo. — Quando terá alta?— Ainda não sei, estou esperando o médico vir me reavaliar.Nesse momento um médico jovem entra na sala, em seu rosto, um largo sorriso.— Como está minha paciente preferida? — o quê? Que intimidade é essa com minha mulher. Levanto-me e ele chega junto dela. Olho para Lindsey que dá um sorriso sem jeito. — O senhor deve ser o marido — dirige-se a mim.— Eu mesmo, Levi Martinelli — apresento-me.— Daniel Michaels — estende
Lindsey MartinelliAcordo sentindo Eva se mexer, procuro outra posição para ver se ela se acalma e quem sabe eu durma mais um pouco e nada, nenhuma posição parece ser boa o bastante. Noto que Levi não está na cama. Já teria saído para correr? Ele tem o hábito de fazer isso alguns dias da semana.Com Eva inquieta e sentindo a boca seca, resolvo tomar um pouco de água. Quando me sento, noto um jarro com um lindo arranjo de tulipas, aquilo não estava ali quando saí ontem e como Ruanita não veio, então só pode ter sido ele. Um sorriso involuntário surge nos meus lábios.Boba! Derrete-se por tudo.Assim que saio no corredor, percebo a porta de Kiara entreaberta e uma fresta de luz incide sobre um quadro na parede oposta, por curiosidade, vou espiar. Meu coração dispara ao ver que Levi está ao lado dela, alisando seus cabelos enquanto ela dorme. Tapo minha boca reprimindo um soluço e saio dali o quanto antes. Essa situação não está me fazendo bem de jeito nenhum, não sei até quando vou supo
Levi MartinelliMais uma vez um embate entre as duas. Essa situação está ficando insustentável. Uma doente com problemas cardíacos, a outra, grávida com enjoos frequentes e nenhuma das duas se importando com suas condições.— Kiara, assim você não está ajudando... — digo quando a coloco sobre a cama. — Não deveria ter falado dos sapos, eu contaria a ela num momento oportuno e apenas se eu julgasse necessário. Você se excedeu...Olho para o rosto de Kiara, vermelho com um desenho parcial de uma mão. Obvio que isso é obra de Lindsey e mais uma vez ela passou dos limites.Quando se movimenta para se ajeitar na cama, vejo que o lado esquerdo de seu rosto está igual ao direito, com marcas de agressão. Balanço a cabeça inconformado.— Eu juro que não queria atrapalhar. E não falei aquilo que ela disse... — tenta se justificar.— Lindsey tem os defeitos dela, mas mentir não é um deles, Kiara — digo encarando seu rosto. E é verdade, se tem uma coisa que ela jamais faria, era levantar falso de
Lindsey MartinelliMais uma vez acordei em uma cama de hospital. A última coisa de que me lembro, é de tentar chegar até minha cama. Depois de focar a visão, vi que era Daniel quem estava me examinando, mas desta vez, sua expressão não estava muito boa.— Quanto deu a glicose? — perguntou a alguém que eu não consegui ver quem era.— Daniel... — minha voz saiu arranhando minha garganta. — Diga que meu bebê está bem, por favor — pedi em um fio de voz. Uma sensação de perda me envolvendo; não consegui segurar o choro.— Eu preciso que você se acalme — disse com a voz baixa. — Vamos fazer a escuta fetal agora e eu acredito que está tudo bem, só tente se acalmar.— Só vou me acalmar quando souber que ela está bem — digo levando uma das mãos no meu olho, enxugando uma lágrima.A enfermeira com quem ele tinha falado antes ficou ao meu lado.— Podemos começar doutor — disse me ajudando a levantar a bata e a deixar minha barriga exposta. Despejou um pouco de gel e em seguida Daniel começou a d
Lindsey MorganNa manhã seguinte, quando recebi alta, pedi que chamassem Taylla. Ela veio e me deu a maior bronca por não ter avisado no dia anterior que estava hospitalizada.Ignorei totalmente a presença de Levi ali. Ele parecia cansado, a barba por fazer, manchas escuras abaixo dos olhos em um sinal claro de uma noite mal dormida.No caminho para o apartamento de Levi, os flashes da noite povoavam minha mente. Ele pensa que não percebi que ele passou toda a noite ali, quando alguma enfermeira entrava para trazer medicação ou fazer algum procedimento, ele saia de fininho e voltava quando pensava que eu já tinha adormecido. Por duas vezes o observei todo torto no sofá minúsculo que tinha ali. Mas pela manhã, ele já não estava mais.— Tem certeza que vai mesmo fazer isso? — Taylla pergunta me arrancando dos meus pensamentos.— Eu preciso. Pelo bem da minha filha e meu também — respondi mexendo no cabelo, nervosa.É doloroso saber que vamos terminar assim. Mas ele fez sua escolha e eu
Taylla AragãoAcho que minha amiga está cometendo um grave erro. Eu que não deixaria aquele pão italiano junto com a sonsa da prima dele, sozinhos num apartamento, mas nem morta.Por outro lado, entendo seu medo. E sua atitude é justificável.Lembro-me de como ficou destruída quando descobriu que não podia ter filhos, todo seu sofrimento ao ser abandonada por aquele projeto de homem, filhinho de papai, que não teve capacidade de agir como adulto e encarar os problemas junto a ela, abandonando-a a própria sorte ainda mais em um momento tão delicado com a perda da mãe.Quando começou a se relacionar com Martinelli, era visível a excitação por estar experimentando algo novo depois de tanto tempo, porém, seu medo era grande, a insegurança palpável. E eu fui obrigada a chamar sua atenção ou ela nunca mais teria um relacionamento decente, saudável, tendo como parâmetro o fracasso anterior.— Pare de ver bicho papão em tudo Lind. Não é porque Caleb foi um idiota desgraçado que todos os outro
Levi MartinelliQuando minha esposa saiu de cabeça baixa e fechou a porta atrás de si, eu fiquei olhando para a rigidez da madeira escura por um tempo, imaginando que ela voltaria atrás ao ver que estava cometendo um erro e entraria a qualquer instante.Ela não o fez. Não voltou para mim.Por que ela o faria?O pior de tudo é que eu não podia culpá-la, ela tentava apenas proteger nossa filha e a si mesma. Coisa que não fui capaz de fazer.Uma sensação de impotência toma meu ser. Fracassei com elas. Meus dois grandes amores.E ela me deixou!Com passos incertos, me permiti caminhar até o sofá e me joguei ali, as lágrimas molhando meu rosto, não me importando se minha prima me acharia um fraco por chorar por uma mulher.A verdade é que eu não estava nem aí, a dor em meu peito me fazia vibrar em agonia e eu queria colocar aquilo que me sufocava para fora.Desesperado, frustrado, magoado e me sentindo abandonado, eu gritei, extravasando a dor que oprimia meu peito, porém, nem por um minut
Levi Martinelli— Ei amigão... — digo quando vejo Piccolo entrar na sala. — Fugiu da sua casinha foi? — ele se senta sobre as patas traseiras no tapete aos meus pés e fica me encarando, depois olha para os lados e volta a me encarar. — É amigão, eu sei, está sentindo falta dela não é?Ele late como se me respondesse, logo depois se deita com o corpo esticado e a cabeça apoiada nas patas da frente, os olhos pidões para mim.Nos dias de domingo, como hoje, quando não estávamos numa praça passeando com ele, estávamos assistindo a um romance meloso qualquer escolhido por ela, esparramados no sofá, comendo pipoca e ele em sua caminha quente e fofa. Balanço a cabeça inconformado.Vai ter que limpar essa merda toda Levi — penso.Um movimento chama minha atenção e vejo quando Kiara passa para o corredor que vai para os quartos sem olhar em minha direção. Outra vez mergulho nas lembranças da minha conversa com a médica de mia bella.Quando ela estava deixando o quarto, a segui e já do lado de