Capítulo 87Charlotte sorria suavemente em seu sono, um sorriso tranquilo que revelava um vislumbre de paz. O médico a observava com atenção enquanto a examinava. Usou um tom mais baixo de sua voz, para não acordar a paciente enquanto conversava com a enfermeira.— Ela não conversou muito, doutor, parecia tão confusa. O corpo dela não a deixa ficar muito tempo acordada.— Não se preocupe. Esse sono excessivo é um reflexo natural da recuperação, e ela vai se recuperar mais rápido do que imaginamos. A cicatriz na cabeça está bem fechada, sem sinais de infecção. Logo, os cabelos vão crescer novamente no local e a cicatriz será praticamente invisível. Quando ela acordar, converse com calma, talvez acorde menos confusa e ajude a se lembrar onde está. Vou reduzir as medicações; isso deve diminuir o sono e permitir que ela se recupere completamente. O desmame dos medicamentos será gradual, já que ela esteve muito tempo dependente deles e dos aparelhos.— Sim, doutor. Farei como orientado.—
Capítulo 88Charlotte estava sentada em uma cama macia, com um vestido leve que a fazia sentir-se um pouco mais confortável, apesar de estar em um lugar estranho e intimidante. O médico havia finalmente dado permissão para que ela se levantasse e também participasse do jantar com o anfitrião da casa.Embora suas pernas ainda estivessem um pouco instáveis, foi andando ao lado da enfermeira para finalmente descobrir onde está e como foi parar ali. Ela foi levada até uma sala e ficou aguardando sentada observando a decoração do local.Marcus entrou na sala com uma postura impecável, um terno escuro que combinava com sua aura de controle absoluto. Ele tinha um olhar calculista, mas hoje havia algo diferente em seu rosto, um leve sorriso que não parecia naturalEle estava pronto para informar Charlotte sobre algumas verdades que ela ainda não conhecia após ter recuperado a memória. Como sabia disso? O idiota do Clayton sempre lhe contava tudo e pelos últimos acontecimentos e o jeito difere
Capítulo 89Após o jantar, Charlotte não conseguia afastar os pensamentos que giravam em sua mente. As palavras envenenadas de Marcus, em vez de afundá-la em desespero, haviam surtido o efeito contrário. Se antes estava confusa, perdida em um passado que julgava ser 1996, agora, a necessidade de encontrar Jack e desvendar a verdade se tornava um objetivo firme. Precisava vê-lo, tocar-lhe, confirmar com seus próprios olhos tudo o que Marcus insinuava.Instintivamente, levou a mão à cabeça, sentindo a cicatriz sob os dedos e o cabelo curto, que estava começando a crescer novamente. Perguntou a Marcus o que havia acontecido, mas ele lhe deu uma resposta evasiva, mencionando apenas que houve um confronto entre um de seus homens e ela, sem entrar em detalhes. A ausência de informações claras alimentava sua determinação.A enfermeira, antes de partir, havia lhe dado a medicação habitual, mencionando que aquela seria a última semana. No entanto, sua cabeça estava um turbilhão de perguntas se
Capítulo 90Charlotte desceu as escadas em direção à sala de jantar, o som dos seus passos ecoando pelo corredor. Ao chegar perto da entrada, percebeu uma porta se abrir ao lado, e por ela saiu Marcus, que estava ajustando as abotoaduras da camisa. Ele parecia distraído, o que deu a Charlotte a oportunidade de perguntar:— Para onde dá essa porta?Marcus, ainda absorto em seus pensamentos, respondeu sem hesitar:— É a garagem. Guardo a maior parte dos meus carros ali.Charlotte assentiu, disfarçando seu interesse. Uma ideia começou a se formar em sua mente. Precisava encontrar uma maneira de escapar, e aquela garagem parecia ser a oportunidade perfeita. A primeira coisa que teria que fazer seria descobrir onde Marcus guardava as chaves dos veículos e garantir que, quando o momento certo chegasse, ela estivesse preparada para agir.— Eu amo carros, poderia me mostrar sua coleção?Ele olhou para ela com interesse, surpreendido por sua curiosidade. Como um entusiasta apaixonado, ofereceu
Capítulo 91O motor do Nissan Heritage roncava suavemente enquanto Charlotte acelerava pela estrada deserta. Seus olhos varriam o caminho à frente, atentos a qualquer sinal de perseguição. A cada quilômetro percorrido, a adrenalina em seu corpo se misturava com uma sensação crescente de alívio e determinação. Ela estava longe de estar segura, mas pelo menos estava livre daquele inferno.Chegou o momento certo para ligar para o marido. O carro tinha um telefone integrado, uma raridade para a época, mas que agora parecia ser sua única chance de entrar em contato com Jack. Com mãos ainda trêmulas, Charlotte apertou o botão para ativar o telefone e discou o número de Jack de memória, orando para que ele atendesse.Enquanto o telefone tocava, ela segurava o volante com força, o coração acelerado, esperando ouvir a voz do marido. Depois de alguns segundos que pareceram uma eternidade, a linha foi atendida.— Alô? — A voz de Jack estava rouca e cansada.Charlotte sentiu uma onda de alívio, q
Capítulo 92Jack estava na estrada, o farol alto cortando a escuridão da noite como uma lâmina, mas cada segundo parecia se arrastar em uma eternidade. Sua mente estava fixada em Charlotte, imaginando-a sozinha, dirigindo através da escuridão, lutando desesperadamente para voltar para ele. A ideia de perdê-la novamente o consumia, e o medo o impulsionava a acelerar mais e mais, enquanto o som do motor rugia na estrada vazia.O celular estava no viva-voz, e ele podia ouvir a respiração tensa de Charlotte do outro lado da linha, sentindo a ansiedade dela se refletir em seu próprio peito. De repente, o outro celular que havia levado tocou no banco do passageiro, quebrando o silêncio pesado. Jack atendeu rapidamente, a mão firme no volante.- Victoria? - perguntou ele, a urgência evidente em sua voz.- Sim, Jack. Já coloquei alguns oficiais nas estradas que levam à fronteira. Eles estão atentos a qualquer sinal dela ou do carro que possa estar dirigindo. Estou a caminho.- Bom. Vou estar
Capítulo 93Austin freou bruscamente ao lado do irmão e da cunhada, as rodas do carro derrapando na estrada enquanto a poeira subia ao redor. Ele saiu do carro, rindo alucinado, o coração ainda batendo acelerado pela adrenalina.— Cacete! Vi tudo como se fosse um filme, só que da arquibancada! — exclamou, ainda rindo, enquanto corria para abraçar Jack e Charlotte. — Bem-vinda de volta, cunhada!Jack, que ainda segurava Charlotte firmemente contra si, soltou um suspiro de alívio. Sentia o corpo de Charlotte tremendo, ainda estava assustada, mas ao mesmo tempo, aliviada.Charlotte olhou para Jack, depois para Austin, piscando algumas vezes enquanto tentava lembrar do homem que a chamava de cunhada. O rosto dele era familiar, mas a memória dela estava embaçada, como uma névoa que não se dissipava.— O que foi? Vai me dizer que não se lembra de mim? — perguntou Austin, seu sorriso agora mais suave, mas com um toque de preocupação nos olhos.Charlotte franziu o cenho, tentando buscar na me
Capítulo 94Os dias se passaram na fazenda Colt, e a rotina lentamente começava a voltar ao normal. Charlotte ainda lutava para recuperar suas memórias, mas, cercada pelo amor de Jack e o carinho de Madelyn, sentia que estava a caminho de reencontrar a si mesma.Em uma manhã nublada, Marcus Delgado foi retirado do hospital, ainda debilitado dos ferimentos que sofrera na perseguição. O semblante outrora arrogante agora estava desprovido de qualquer resquício de poder. Ele estava preso a uma cadeira de rodas, os olhos cansados e o rosto marcado pela derrota.Ao sair do hospital, Marcus foi imediatamente escoltado por dois oficiais da lei até o veículo que o levaria à prisão. O destino estava selado: a justiça finalmente havia sido feita, e ele pagaria por todos os crimes que cometera. A sentença veio de forma rápida e implacável, uma decisão final de primeira instância que não deixou espaço para dúvidas ou apelações.As portas do tribunal haviam se fechado para ele, assim como a vida qu