Então, que direito ele tinha de julgá-la?— Bia... já que é assim, eu tratarei qualquer filho seu como se fosse meu.— Hm?Que confusão era essa, de onde vinha essa história de filho?— Você está estranho hoje, o que está acontecendo?— Nada, vamos comer.Daniel baixou o olhar, descascando os camarões que ela tanto gostava de comer.Beatriz também não perguntou mais, pois sabia que Daniel era assim; ele podia ser astuto com outras pessoas e situações, mas com ela, ele se perdia, cheio de dúvidas e com um temperamento difícil.Estar com alguém assim era de fato difícil, mas ela havia perdido tanto, e mesmo sabendo que o amor de Daniel por ela era quase patológico, ela ainda sentia seu coração aquecer.Alguém a amou por vinte anos.Quando todos a abandonaram, ele estava lá.Quando seus pais planejaram um futuro sem ela.Quando ela esperava desesperadamente por Afonso, e ele estava comemorando o aniversário de Débora.Todos a abandonaram, mas ele, mesmo antes de conhecê-la, já havia dado
— O que foi? — Daniel, vendo sua expressão franzida, perguntou nervoso.— Parece único, vamos provar.Beatriz sorriu, pegou o bolo da geladeira e experimentou um pedaço. Era mediano, a massa estava um pouco densa, um pouco difícil de engolir.Honestamente... Não era muito bom.Mas notando o olhar expectante de Daniel, ela pensou, será que ele que fez?— Está delicioso, nunca comi um bolo de morango tão bom.A preocupação nos olhos de Daniel se dissipou, e ele também sorriu: — Que bom que gostou.— Experimenta também.Ela levou um pedaço até ele com sua colher, e Daniel não hesitou em comer.Ele não era exigente com comida, tampouco um grande fã de doces, então não conseguia distinguir muito bem.Achou bastante saboroso.Eles terminaram o bolo juntos, um pedaço de cada vez.— Se gostou, farei mais vezes.— Gosto, sim, mas doces não podem ser consumidos frequentemente, que tal uma vez por semana?Daniel concordou com a cabeça.Depois, ele recebeu uma ligação e teve que ir ao escritório
— Lucas já foi embora? Eu tinha preparado café.— Ele veio pegar um documento.Daniel sentia coceiras por todo o corpo, querendo se arranhar, mas se conteve enquanto Beatriz estava presente.Sua força de vontade era admirável, e isso não era nada para ele.Beatriz abriu a boca, querendo perguntar, mas se conteve.Cada um tem seu orgulho peculiar, não há necessidade de apontar isso. Ela seria mais cuidadosa da próxima vez e nunca mais o faria comer creme de leite.— Então, continue ocupado, estou saindo.Por alguma razão, Beatriz sentiu um aperto no coração.Ela se conteve, saiu rapidamente e só voltou ao seu quarto para chorar.Quanto mais ela entendia a teimosia de Daniel, mais ela percebia que ele era um ser humano real, não tão invulnerável quanto parecia, capaz de se machucar e de ficar triste, mas ele tinha aprendido a esconder isso muito bem.Daniel, dolorosamente tocante.Ela secou as lágrimas e ligou para Lucas, querendo saber mais sobre Daniel.O que ele gostava, o que ele não
Ao ouvir isso, Beatriz se encheu de um sentimento agridoce e comovente.Ela imediatamente mandou trazer suas coisas.O escritório era amplo, espaçoso o suficiente para ambos.Beatriz, como se fosse um pincel, adicionou cor a esta tela monocromática que era a vida de Daniel, com árvores verdes, nuvens brancas, flores vibrantes...Pouco a pouco, ela completava o quadro da vida dele.— Continue com seu trabalho, vou me aninhar aqui e ler um pouco.Ela se recostou em sua cadeira, folheando uma revista de moda.Mas não demorou muito para que o sono a vencesse, e ela adormecesse profundamente.Daniel a observava com ainda mais ousadia.Ele mal podia acreditar que isso era real, a resposta proativa de Beatriz o enchia de alegria, como uma criança.Ele se aproximou sem conseguir se controlar, sentou-se ao lado dela em silêncio, observando-a.O sol brilhava sobre ela, um pouco forte demais, fazendo-a franzir a testa.Rapidamente, ele fechou as cortinas, escurecendo o ambiente.Daniel, sem contr
— Bia, é linda.Ao ouvir isso, Beatriz quase perdeu uma batida do coração.Os olhos de Daniel eram negros e brilhantes, desarmados, sem rancor ou imponência; quando molhados, pareciam os de um grande cachorro.Ele levantou os olhos para olhá-la, fazendo com que ela mal conseguisse respirar direito.Ela segurou o rosto dele e tomou a iniciativa, beijando seus lábios.No início foi ela quem tomou a iniciativa, mas depois Daniel tomou as rédeas.Ele a beijava com urgência.Em seu coração, ele pensava que, se se esforçasse um pouco mais, talvez Beatriz não pensasse em ter filhos com outro, mas o considerasse.Ele queria ir além, mas pensando na resistência dela, não ousou prosseguir.Quando o beijo terminou, ele olhava para ela com seus olhos cheios de uma súplica ainda mais intensa, marcados pelo desejo insatisfeito. Ele estava desconfortável, sofrendo para se conter, mas sem alternativa.— Me dê mais um pouco de tempo...Beatriz também sentiu um pouco de embaraço.Era um momento para se
Beatriz sentiu o nariz arder, mas resistiu até ver seu quarto, quando não conseguiu mais segurar as lágrimas.Anteriormente, o quarto principal era ocupado pelos seus pais.Ela e seu irmão tinham quartos menores, mas o do irmão era bem maior, voltado para o nascente, com varanda e um closet.Antes do irmão nascer, aquele era o seu quarto, mas depois do nascimento dele, um dia ela voltou da escola e descobriu que suas coisas tinham sido movidas para o quarto de hóspedes.— Você vai se casar um dia, mas seu irmão é diferente, ele precisa trazer uma esposa para casa.Assim, o quarto que originalmente era dela foi dado ao irmão.Mas agora, o quarto secundário com varanda e closet estava de volta, cheio de suas coisas.Até os lençóis e os bonecos eram cópias perfeitas, idênticos.O armário estava cheio de seus vestidos, os que Beatriz de dezoito anos deveria usar.Suas lágrimas caíram em torrentes.— Daniel... o que você fez... o que você fez que eu não sei?— Eu estava com medo de te traze
— Não importa, eu me importo.— Daniel, você já pensou que, se eu tivesse tolerado o Afonso, ou se você não tivesse voltado a tempo, eu teria partido da Capital e nós teríamos nos desencontrado. Tudo o que você fez não teria sentido, não levaria a nada.— Bia, nem todas as flores dão frutos, apenas florescer já basta. Além do mais, eu não me conformo, eu ainda apareceria diante de você, para lutar por mim mesmo. Se você não concordasse, eu ainda teria meu destino.Seja morrer em missão ou viver como um solitário para sempre, todos têm um destino.Apenas não seria perfeito.— Daniel, não precisa mais fazer isso, você pode caminhar sob o sol e me amar abertamente! Não se force a ser um estranho!— Tudo bem, de agora em diante, eu te amarei abertamente.Daniel sorriu.Beatriz estava muito feliz com a nova casa, ela não precisava ceder o quarto para o irmão. Ela ainda tinha suas coisas preciosas.— Então, nós ficaremos aqui enquanto a casa dos fundos estiver sendo reformada, tudo bem?— Si
— Eu sempre soube que não havia como existirem duas pessoas tão parecidas no mundo, afinal, era a mesma pessoa. Ele anteriormente não se chamava Samuel, a mudança de casa ocorreu porque os negócios da família prosperaram, e eles se mudaram para uma casa melhor. Contudo, o que não esperavam era a infidelidade do pai, levando a um rápido divórcio dos pais. Ele seguiu o pai, mas a madrasta não o tratava bem e, depois, teve seus próprios filhos. Onde há uma madrasta, pode haver um padrasto. Não permitiam que ele estudasse, nem que comesse adequadamente, ele sofreu todo tipo de privação.— Quando sua mãe soube do que ele estava passando, o levou de volta, pensando ser um novo começo. Mas, após se casar novamente, ela escolheu um homem que não valia nada, apenas querendo transferir a responsabilidade da pensão alimentícia para o pai dele. Mas, à medida que ele se aproximava da maioridade, seu pai cortou completamente a pensão alimentícia ao completar dezoito anos.— Vendo que não poderiam ma