Hoje à tarde, Cidade C estava sob uma garoa fina e persistente. Beatriz segurava uma mala com uma mão e um guarda-chuva com a outra, esperando por um táxi do lado de fora do hospital. Sua figura parecia um pouco solitária.Ela havia prometido a Lucas que voltaria para assinar o divórcio e não podia esperar pelo procedimento de aborto.Um carro parou bem na frente dela. Um braço tatuado com uma mamba negra no cotovelo repousava na janela do carro, segurando um cigarro entre dois dedos. O homem dentro no carro tinha um rosto bonito e marcante, com traços profundos e bem definidos.— Entre no carro, para onde você quer ir? Eu te levo. — Ele apagou o cigarro entre os dedos e olhou para a mulher do lado de fora, segurando o guarda-chuva.Enquanto Beatriz ainda hesitava se continuava esperando pelo táxi, Rodrigo já havia aberto a porta e, com passos largos, saiu do carro para colocar a mala dela, no porta-malas.Beatriz não hesitou mais, foi até a porta do carro e entrou. — Para o aeroporto.
— Quem chegou aqui? Secretária Silva! — Afonso disse com um tom sarcástico, observando Beatriz vestida com blusa de manga comprida e calças compridas, e fazendo uma careta de desaprovação.Beatriz notou Lucas apenas lançando um olhar indiferente para ela e conteve suas emoções. — Senhor Souza, sobre da última vez, peço desculpas sinceramente.— Se você terminar esta garrafa de vinho, aceito suas desculpas. — Afonso empurrou uma garrafa em direção a Beatriz, com uma expressão desagradável. Na última vez, ele quase se tornou um homem impotente. Ele não deixaria isso passar sem alguma forma de vingança contra essa mulher.A garrafa continha uma bebida forte, e beber essa garrafa de vinho poderia colocar sua vida em perigo.Jean sorriu levemente: — Senhor Souza, eu tomo metade pela secretária Silva, o que acha?— Não, se a secretária Silva não quer beber, então que faça um strip-tease para nós. — Provocou Afonso, incitando os homens ao redor.— Sim, um strip-tease! — Alguns dos homens se
Beatriz deixou subitamente de resistir, como se estivesse completamente submissa. Afonso, vendo-a tão obediente, deu-lhe mais medicamento e mordeu seu delicado colo. O efeito forte do medicamento foi rápido. No momento em que ele começou a relaxar um pouco o controle sobre ela, Beatriz retirou uma pequena e afiada faca do bolso da calças. Rápida, certeira, ela cortou seu próprio braço, deixando sua mente clara. Alguns espectadores que se preparavam para assistir ficaram assustados e soltaram gritos. — Meu deus! Ela se suicidou.O canivete de Beatriz também pressionava o pescoço de Afonso. Ela lambeu os lábios e disse roucamente:— Senhor Souza, vamos morrer juntos, seremos amantes no inferno, o que acha?Afonso, o covarde, estava tão assustado que mal conseguia falar. Se soubesse que essa mulher poderia ficar tão insana sob o efeito do medicamento, teria amarrado ela primeiro. — Solte a faca, eu te deixo ir. — Ele disse tremendo. — Não vou soltar. Se eu soltar, você vai me dar pro
A mulher finalmente ficou calma, e depois de tomar a injeção, conseguiu dormir tranquilamente.Rodrigo, que tinha feito uma boa ação, foi lavar as mãos. Ele olhou para seus dedos longos e sorriu. Beatriz abriu os olhos lentamente e sentiu o cheiro do desinfetante do hospital. Ela ouviu a voz baixa de um homem falando ao seu lado. Quando ela se acalmou um pouco e virou a cabeça, viu um homem parado perto da janela, falando baixo ao telefone. Sua voz era rouca e suas palavras carregavam um frio intenso: — Deixe-o passar o resto da vida na prisão. Do outro lado da linha, Thiago Pereira riu: — Rodrigo, você está bravo por uma mulher. Isso não é típico de você. — Estou enfeitiçado. — Disse Rodrigo preguiçosamente, com um tom de indiferença: — Vou à igreja quando tiver tempo.— Ok, deixe isso comigo! — Respondeu Thiago animado.Rodrigo percebeu alguém o observando e virou a cabeça, encontrando os olhos fixos e admirados da mulher na cama. Um sorriso leve apareceu em seus lábios enquant
No espelho, ela viu que o lado direito do seu rosto estava levemente inchado por causa de um soco. Estava bem abatida. Ultimamente, seu rosto estava frequentemente marcado por golpes. Ela deu um sorriso desapontado.Quando precisou fazer xixi, Rodrigo saiu para lhe dar privacidade. O som da urina ecoava no banheiro. Rodrigo, muito tranquilo, aproveitou para responder às mensagens dos amigos, que reclamavam que ele havia desligado o telefone de repente. Quando Beatriz saiu do banheiro, viu Rodrigo esperando do lado de fora, o que a deixou ainda mais envergonhada.Beatriz comia devagar, e Rodrigo esperou ela terminar para falar sobre outra coisa. — Amanhã vamos agendar a cirurgia para o abortoBeatriz limpou os cantos da boca e respondeu baixinho: — Ok.Rodrigo ficou em silêncio por um momento. — Os componentes do remédio que você tomou ontem à noite são muito prejudiciais para o feto, me desculpe.Beatriz balançou a cabeça e sorriu levemente. — Foi você quem me salvou, não há pelo qu
À tarde, Jean trouxe um acordo para Beatriz assinar em nome de Lucas. Ele não sabia o conteúdo.— Beatriz , me perdoe, ontem à noite eu não consegui impedi-los.Jean realmente se sentia culpado.Beatriz balançou a cabeça: — Eles eram muitos e você não poderia fazer nada. Mesmo assim, quero te agradecer.Ela não era do tipo que descontava sua raiva nos outros.— Afonso não aparecerá mais na sua frente. Ele foi preso, e o Grupo Moreno já parou todas as colaborações com o Grupo Souza.Beatriz, ao ouvir que Afonso estava preso, lembrou-se do telefonema de Rodrigo naquela manhã. Parecia que ele a ajudara mais uma vez. Quanto ao Grupo Moreno parar de colaborar com o Grupo Souza, Beatriz não era ingênua ao ponto de pensar que Lucas fez isso por ela. No mundo dos negócios, as batalhas são como no campo de guerra. Se o Grupo Souza tivesse problemas, o Grupo Moreno poderia aproveitar para adquirir algumas de suas empresas e expandir-se.Jean não estava defendendo Lucas; ele apenas queria informa
Rodrigo ouvia distraidamente o pastor recitar as escrituras, enquanto seus dedos longos e finos digitavam uma palavra no celular.[Não]Por que ele estava bravo? Não havia motivo para isso.Ela e ele tinham apenas uma relação de desencontros.Ela podia fazer o que quisesse.O pastor era um homem de grande respeito, foi chamado por Thiago, que achava que Rodrigo estava mudado, se tornando uma pessoa muito mais gentil.Rodrigo guardou o celular e continuou ouvindo as escrituras.— Pastor, por favor, me ensine a recitar o Salmo 23.O Salmo 23 podia trazer consolo aos enlutados.Esta era a única coisa que ele podia fazer pelo filho que nunca teve a chance de nascer.O pastor, com sua experiência, conseguia enxergar além das aparências. Ele notou que, embora Rodrigo parecesse jovem e atraente, com cerca de 30 anos, ele carregava uma certa agressividade.— Que Deus o abençoe.Beatriz não sabia que Rodrigo estava na igreja naquele momento. Quando ela viu que ele respondeu apenas com uma palav
A porta do quarto foi aberta novamente.Era Lucas chegando com Camila.Camila estava usando um vestido branco com estampa de flores, seu rosto delicado sem maquiagem.Ela parecia uma anjo.Beatriz deu uma rápida olhada neles e desviou o olhar sem expressão alguma.Não havia nenhum sinal de felicidade ou tristeza em seu rosto.A avó de Lucas manteve sua compostura, evitando dizer algo que pudesse magoar alguém diretamente, mas ela parece bastante chateada.Camila segurava um buquê de flores que a avó de Lucas gostava: — Vim ver como você está, Senhora.Ela disse de forma embraçada: — Eu estava saindo do elevador e encontrei Lucas por acaso.Larissa foi até Camila e a segurou: — Vóvó, eu e Mila combinamos de vir vê-la hoje.Quando os mais jovens vêm visitar, a avó de Lucas não os manda embora.Ela respondeu friamente: — Senhora Oliveira, obrigada.Lucas se aproximou de Beatriz e, com indiferença, colocou um pão na frente dela: — Chegou agora do avião. Coma algo para matar a fome.Provave