Às três da tarde, Beatriz foi ao hospital com os presentes.Vera ouviu alguém bater na porta e, ao abri-la, viu Beatriz. Num instante, o sorriso de seus lábios se desfez:— Ah, é a senhora Correia.Beatriz não esperava encontrar Vera ali, então apenas assentiu:— Vim ver a senhora Reis.Vera, na verdade, não queria que Beatriz e a família Reis se aproximassem muito.A senhora Reis estava recostada na cama e, ao ver Beatriz, falou suavemente: — Vera, deixe a visita entrar.Vera deu passagem.Beatriz entrou sorrindo.Assim que entrou, percebeu que havia duas crianças no quarto, e um pressentimento lhe passou pela cabeça.Beatriz colocou os presentes na mesa e perguntou: — Senhora Reis, como está se sentindo hoje?— A mesma coisa de sempre. Ter passado mal na festa foi realmente uma vergonha.A senhora Reis realmente se sentia constrangida.Beatriz tentou tranquilizá-la: — Sua presença na festa foi uma alegria para todos nós do clã Correia.— Quer sentar para conversarmos?— A senhora Reis
Beatriz deixou o hospital e não voltou imediatamente para a empresa. Pediu ao motorista que a levasse à Canto do Café logo à frente.Ela pensou em Lucas, que havia visto recentemente.Beatriz deu um leve sorriso irônico. Ver aquele homem a deixava enojada.Perder é perder. Para quê fingir ser tão sentimental e tentar reconquistar a ex-esposa?Esse tipo de homem apenas se afundava em sua própria ilusão de sentimento. Era uma autopiedade ridícula. Uma palavra o descrevia bem: 'patético'.O carro parou.Gonçalo se virou e perguntou: — Presidente, chegamos ao Canto do Café."Beatriz olhou para a cafeteria e assentiu:— Vou descer e tomar um café.Gonçalo estava prestes a sair do carro para abrir a porta para Beatriz, mas ela recusou.Ela estava vestindo uma camisa simples e calça social. Sua silhueta alta e esguia chamava a atenção dos clientes quando entrou na cafeteria.— Bem-vinda!— O dono, com óculos de armação preta e espessa e um corpo arredondado, sorriu para Beatriz e perguntou o qu
Andrea não sabia onde estava o pai dela.Chris se abaixou, passou a mão na cabeça da pequena Andrea e disse: — Quando você crescer, eu te levo para conhecer seu pai.— Crescer?— Andrea inclinou a cabeça de lado, curiosa:— Quando Andrea vai crescer?— Logo.— Chris respondeu, pegando Andrea no colo:— Aquele patinho amarelo que você cuidava voltou para casa.Para Chris, todos os patinhos amarelos eram iguais, uma criança pequena nunca perceberia a diferença.Quando chegaram em casa, Andrea colocou sua mochila no chão, lavou as mãozinhas e correu para o quintal para ver o patinho.Chris mal tinha se sentado no sofá quando viu a menina correndo de volta, parada diante dele, os olhos marejados, a boca tremendo: — Você mentiu, esse não é o patinho da Andrea.— Esse é o filhote do seu patinho, Andrea. Você precisa cuidar dele agora, entendeu?— Filhote?— Andrea arregalou os olhos ainda cheios de lágrimas, surpresa.Muito fofa.— Isso mesmo, filhote! Assim como Andrea é o filhote da mamãe.— Chr
Charlestown era uma cidadezinha de um país pequeno. As ruas de manhã não tinham movimento nenhum. Chris escolheu morar ali por um tempo justamente porque não tinha muita agitação.De manhã, ele deixava Andrea no jardim de infância e, na volta pra casa, passava no mercado pra comprar algumas coisas. Hoje à noite ele ia cozinhar cenoura — que Andrea odiava — e também coxinha de frango, que ela adorava.Chris voltava pra casa, com uma sacola pequena, andando devagar. Ainda nem tinha colocado a chave na porta quando sentiu algo estranho. Se virou e percebeu que estava cercado.Ele ergueu a sobrancelha, tranquilo:— Rodrigo mandou vocês?Felipe não respondeu. Chris deu de ombros. Não precisava nem perguntar.Ele tirou a máscara e os óculos, pensou por um momento e, de repente, tudo fez sentido. Ah, então era isso... Esses cinco anos em que Rodrigo não conseguiu encontrá-lo, ele estava se achando o esperto. No fim, o iludido era ele.Mas Chris já tinha se preparado para o dia em que Rodrigo o
Beatriz saiu do restaurante e viu Rodrigo parado ao lado do carro, com a porta aberta. A luz iluminava seu rosto.Ele sorriu, contendo uma expressão de felicidade:— Bia, amanhã cedo vou pegar um voo para Charlestown para trazer a Andrea para casa.Os olhos de Beatriz se arregalaram, suas pupilas se contraíram. Rodrigo se aproximou e tocou levemente sua orelha, puxando-a de brincadeira, enquanto dizia baixinho: — Bia, ficou sem reação?Beatriz engoliu em seco:— Repete isso.— Amanhã, vou para Charlestown buscar nossa filha.— Os olhos de Rodrigo estavam levemente vermelhos; talvez poucos pudessem entender a culpa que ele carregava.Essa surpresa repentina fez Beatriz sentir que estava sonhando. Ela vivia no pesadelo criado por Chris há tantos anos.Ela beliscou o próprio braço. A dor a fez contorcer o rosto. Não era um sonho.Rodrigo a puxou para um abraço, segurando firme a parte de trás de sua cabeça, beijando seus cabelos.Assistente Martins, que estava por perto, hesitou antes de int
— Tio Chris foi para um lugar bem distante, amanhã a mamãe vai buscar a Andrea. Você dorme direitinho, tá bom?Rodrigo queria muito ver a filha, mas já estava tarde. Ele ficou ao lado da cama, fora do enquadramento da câmera, enquanto Beatriz fazia a chamada de vídeo. Beatriz levantou os olhos e olhou para Rodrigo; eles trocaram um sorriso. Andrea piscou os olhos, as lágrimas ameaçando cair:— Quando o tio Chris volta?”Chris cuidou de Andrea com tanto carinho durante quatro anos. Provavelmente, a pessoa mais próxima dela era Chris. Beatriz piscou, tentando segurar as lágrimas:— Quando Andrea crescer, o tio Chris vai voltar.Andrea assentiu com a cabeça, puxou o ar pelo nariz, lutando para não chorar, mas ainda assim sendo muito obediente:— Igual o papai, quando crescer vou poder ver ele também.Beatriz ficou conversando com a pequena, até que sua voz foi ficando mais baixa e os olhos começaram a se fechar, até que ela dormiu, exausta. Rodrigo pegou o celular das mãos de Beatriz e
Charlestown. Quando Rodrigo e Beatriz chegaram, viram Felipe com um ar exausto. Felipe, ao vê-los, parecia ter visto um salvador. — Chefe eu juro, quando eu casar, nunca vou querer ter filhos. Rodrigo revirou os olhos. Beatriz deu uma leve tosse, suspeitando que tudo tinha a ver com sua filha. Felipe coçou a cabeça. Uma noite inteira inventando histórias infantis, respondendo mil e uma perguntas... Ele estava esgotado. Felipe saiu do caminho para deixá-los entrar na casa. Andrea estava sentada no sofá, assistindo a desenhos animados. Assim que viu Beatriz, seus olhos, que estavam fixos no desenho, se encheram de lágrimas. — Mamãe!Ela pulou do sofá, correndo com suas perninhas curtas, como um pequeno foguete, em direção a Beatriz. Então... foi pega no ar. Rodrigo, preocupado que a pequena pudesse derrubar Beatriz, instintivamente a levantou. Pai e filha se encararam. Os olhos de Andrea ainda estavam lacrimejando, e ao ver Rodrigo, seus olhos brilharam: — Tio Chris!Beatri
Uma coisa é certa: Beatriz não tem falta de grana. Nos últimos anos, o Blue, sob a gestão de Miguel, faturou o suficiente pra Beatriz levar a vida numa boa. E o Rodrigo também não era alguém com problemas de dinheiro. Os dois tinham a mesma ideia: manter distância do Chris. Mesmo ele já estando morto.— Não vou aceitar as ações, e o fundo fiduciário também não vai ser aceito pela minha filha.— Para Beatriz, essas coisas eram uma bomba prestes a explodir.O casal Correia estava um tanto chocado com as decisões do filho e, por dentro, cheio de dúvidas. Eles tinham só o Chris, e se o filho não estava mais ali, quem cuidaria das ações do Grupo Correia? Eles nem se importariam em saber.O advogado tirou duas cartas completamente lacradas da sua pasta de couro: — Uma carta é do senhor Chris para a senhora Beatriz, e a outra é para a senhora Correia.Dona Correia pegou a carta apressadamente e abriu. [Mãe, quando você estiver lendo isso aqui, já fui dessa pra melhor. Pensa em ter outro filh