YANAH
Aqui em casa somos três: Alina, Ykaro e eu! Alina é a mais velha, a irmã protetora. Já eu sempre fui de personalidade forte, desde criança, com uma curiosidade ímpar. Os nossos pais faleceram quando eu ainda era criança, e Alina se tornou um retrato do sacrifício e da resiliência, carregando nos ombros a responsabilidade de ser uma mãe substituta para nós dois. Já eu, com a minha impaciência sigo sempre pedindo pelo desejo de mudança e inconformada com a nossa realidade. Ykaro, mesmo na inocência de sua infância, traz uma doçura e nos acalma nos momentos ruins. Tudo nos faltou nesse tempo, menos amor! Alina sempre tratou de fazer o impossível por nós dois e nos encher de muito amor e carinho até hoje. Mais um dia se inicia. Ao me levantar da cama respiro fundo, olho para o lado vejo a cama da minha irmã, e do outro lado a cama do meu irmão caçula. Tem horas que me dá vontade de chorar pelo fato de sermos pobres e não morarmos num lugar digno - o meu sonho é ter um quarto só meu. Ao me levantar, acabo tropeçando numa mala de roupas e quase caio, causando barulho. — Ai, droga! — Resmungo baixo para não acordar Ykaro. — Não fale nome feio pela manhã Yanah, vai acordar o nosso irmão que não passou a noite bem. — Alina reclama baixo. Não falei nada, a deixei sozinha no quarto e segui para a nossa pequena cozinha buscar água. Alina vem atrás de mim. — Yanah, sei o quanto é difícil a nossa vida nesse metro quadrado, para mim também é, mas estou dando o meu melhor para pagar a parcela da sua faculdade, para você ter um futuro melhor que o meu, eu prometi à nossa mãe que faria o impossível por vocês e estou tentando. — Alina fala me encarando. — A minha vontade é de largar tudo e virar uma prost... — Falo e Alina me interrompe. — Não termina essa frase, Yanah, pelo amor de Deus. Jamais deixaria isso acontecer, tenho feito de tudo para isso não acontecer com nós duas, vou conseguir trabalho extra e mudaremos para algum lugar melhor. — Alina, deixa eu trabalhar para te ajudar com o tratamento do nosso irmão, alugar uma casa maior... Eu quero muito ter a minha privacidade. — Resmungo baixo. — Sabe Yanah, eu só quero que estude e tenha uma profissão digna, e você verá que tudo isso aqui é só uma fase. — Alina fala triste. — Queria ter a sua paciência Alina, mas não tenho, desculpa mas não tenho nem um pingo, o tempo passa rápido e nem sempre podemos esperar por um milagre. — Falo alto. — Você é a cópia da nossa mãe, age por impulso, sem fé que as coisas possam melhorar. Abraço a minha irmã. Alina é a mais velha de nós três, trabalha que nem uma louca para pagar a minha faculdade e ajudar o meu irmão que tem problemas de saúde desde bebê. Hoje ele está com sete anos e o nosso maior desafio é arcar com o seu tratamento. Sei que Alina faz o que pode, mas tem horas que me sinto cansada por não fazer nada. Nunca a vi reclamando, não sei nem se o seu trabalho como secretária do advogado Otton Borsi é bom, afinal não sei nem quem é ele. Ela só vive do trabalho para casa e igreja, quase uma santa. Já eu sou muito diferente, adoro uma festa e amo usufruir dos prazeres que a vida pode me proporcionar. Alina, antes de ir para o trabalho, deixa tudo organizado, e eu fico responsável por dar café da manhã a Ykaro e o levar para a escola antes d ir para a minha faculdade. Durante o caminho falo para o meu irmão. — Sabe Ykaro, eu vou dar a você tudo o que eu não tive quando criança. — Falo confiante. — Eu acredito nisso Yanah, você e Alina são as minhas heroínas. — Ykaro fala beijando o meu rosto. Tento não chorar com tanto carinho. Se tem uma coisa que engulo ainda, é choro. Eu vou conseguir tudo o que eu quero, sou dona de mim e tenho a mais plena certeza que não vou terminar os meus dias assim nessa dificuldade. Coração até agora blindado de sentimentos e isso é maravilhoso, amo ser assim livre, leve e solta - posso ser eu, e quem não gostar não posso fazer nada. Fui para a minha faculdade e ao chegar entro pelos portões e a turminha de patricinhas fica a me olhar. Eu não suporto a soberba dessas garotas, às vezes sinto-me um alienígena com o modo que elas me olham, é como se o meu dinheiro não tivesse o mesmo valor que o delas. Quando estou indo para a minha sala, as garotas me acompanham. — Olha a bolsista! — A líder do grupinho fala debochando de mim e eu já respiro fundo. — Para você saber, não sou bolsista, a minha faculdade é paga assim como a de vocês. — Viro-me encarando ela. — Olhem meninas, ela pensa que a gente não sabe que ela mora num bairro pobre, não tem condições de pagar nada. — A loira oxigenada debocha de mim. — Olha, não sabia que eu era tão importante a tal ponto de vocês produzirem um dossiê da minha vida. Se vocês não têm o que fazer, eu tenho. — Falo e saio deixando elas sozinha. — Volta aqui! — Uma das garotas me chama. — O que quer? Eu não te conheço, não sei nem o seu nome, sua loira oxigenada. — Grito perdendo a paciência porque não tenho sangue de barata. Viro as minhas costas para ela, que puxa meus cabelos e começa a me agredir e eu revido não deixando barato a sua agressão. — Garota, solta ela! — Uma mulher que não conheço me pede nervosa e me tira de cima dela. Nessa hora já estava rodeada de gente, inclusive o diretor da faculdade, e a loira oxigenada finge desmaiar. — Solta ela e me acompanhe agora, Yanah. — O diretor fala sério. — Ela está fingindo desmaio, não fiz nada de mais — Tento me defender. A soltei, nervosa, e caminho rápido acompanhando o diretor pensando que agora seria o meu fim. Só pensava na Alina, ela ficaria muito decepcionada comigo, mas não me arrependo do que fiz e no caminho tento explicar que foram as garotas da outra turma que começaram toda confusão. O diretor diz que vai ligar para a minha irmã. Pelo menos Alina trabalha para um advogado quem sabe ela pede a ajuda do seu chefe Otton Borsi para me ajudar.OTTON Tenho uma vida muito corrida, não é fácil comandar um dos maiores escritórios de advocacia de Los Angeles entre outros espalhados por outras cidades. Sempre que posso estou viajando a trabalho com a minha equipe e a minha secretária competente, Alina, que já trabalha há alguns anos comigo. A nossa relação é somente a trabalho e nada mais. Antes de ir trabalhar vou para a academia malhar para enfrentar um novo dia, e ao voltar para a casa vejo o carro da minha mãe e ela me chama ao me avistar. — Filho querido da mamãe, como está meu bebê? Desde que resolveu vir morar aqui, quase não vai me visitar. — Dona Marina fala. — Mamãe estou trabalhando demais, muitos processos, não me esqueci da senhora e nem da minha irmã. — Trouxe uma ótima notícia, Késsia voltou a estudar arquitetura. — Mamãe fala toda contente. — Fico muito feliz, mas lhe conheço bem mamãe, sei que não veio aqui só para avisar que Késsia voltou a estudar. — Falo de uma vez. — Não, claro que não! Vim lhe trazer
Sou levada até a sala da secretaria, ando rapidamente e eu só consigo pensar na pessoa que mais se sacrifica por mim, que é Alina. Mas não posso demonstrar fraqueza, eu não sou culpada, a loira oxigenada que começou tudo. — Yanah, o que aconteceu para agir daquela maneira? Você deixou a Riana desmaiada no chão, tal ato nunca aconteceu aqui. — O diretor questiona. — Eu não tenho culpa de nada, as câmeras podem provar isso. Eu entrei e elas me perseguiram, me chamando de pobretona, e a minha paciência sumiu. Não deixo nada e nem ninguém me humilhar. — Falo séria. — Nada justifica a sua agressão, Yanah, a família da Riana vai fazer um B.O. contra você por agressão. Fica aqui que vou saber notícias dela. O diretor sai da sala e fico a olhar o meu celular sem ter coragem de ligar para Alina. Como ela vai ficar decepcionada. Após alguns minutos dois policiais entram, acompanhados do diretor. — A senhora precisa nos acompanhar até a delegacia. Levanto-me de onde estava sentada e, de cab
Durante o caminho para a delegacia, penso no tanto que eu não conheço a minha secretária Alina. Jamais imaginei que ela tinha uma irmã tão delinquente. Ao chegar na delegacia sou recebido pelo delegado que está de plantão. Pela sua cara ao me ver, ele não me esperava para defender a tal Yanah. Me apresento e começo ver as fotos e as filmagens de como se gerou toda essa confusão, e fez a garota vir parar aqui, li todo o relatório do corpo de delito. Respiro fundo porque a minha vontade é abandonar o caso e simplesmente ir para a minha casa, e deixar a garota inconsequente de molho aqui por uns dias. E o pior: foi presa por desacato... como a pessoa vem depor por uma agressão e vai presa por desacato? Assim fica difícil, juro que se não fosse irmã da Alina a abandonaria agora. Não tive outra alternativa que não ir até a cela dela, e enquanto me dirijo até lá penso que numa hora dessas devia estar numa cama de motel. De longe vejo que uma garota de estatura mediana se levanta rapidamente
YANAH Mal chego na porta de casa, e Alina abre rapidamente a porta e me abraça apertado. Retribuo o seu abraço porque agradeço, em silêncio, a irmã forte que tenho e que não me abandonou. — Você está bem, Yanah? Graças a Deus você está aqui sã e salva. — Alina fala enxugando as lágrimas. — Estou bem, Alina, você me perdoa pelo que eu fiz hoje? — Pergunto de cabeça baixa. — O diretor me contou o que aconteceu, Yanah, você não poderia ter perdido o controle com aquela moça. — O meu sangue ferveu quando ela me chamou de pobretona. Estou cansada, Alina, perdão por não ser tranquila como você, não aguento muita coisa calada. — Resmungo. — Você é a minha irmã. Sabemos que vai ser expulsa da faculdade. Só te peço uma coisa, Yanah, que você não desista dos seus estudos. — Alina fala calma. — Alina, como vai pagar o advogado? Ele é caríssimo. — Pergunto e fico à espera da sua resposta. — Prometi trabalhar nas minhas folgas, lavar as suas roupas, só não podia te deixar mofar na cadeia.
Dois dias se passou, não soube mais nenhuma notícia da louca da Yanah, nunca conheci uma garota mais atrevida que ela, estou acompanhando o seu processo e soube que hoje ela começa o seu trabalho para diminuição da pena. Continuei a trabalhar quando a minha secretária Alina comunica que a minha mãe chegou e quer falar comigo e é algo importante, mandei a mesma entrar. — Filho bom dia, vim pessoalmente deixar a sua fantasia e ver se está bem! — Mamãe fala empolgada. — Mamãe está ótimo, sei que veio saber se vou realmente para o baile, já lhe adianto que vou. — Que bom! Otton a sua irmã voltou a estudar como já tinha te falado filho, fez amizade nova, pediu até o cartão para ir para o salão cuidar da beleza, coisa que há muito tempo ela não fazia, essa sua amiga está dando conselhos bons para ela. — Isso é bom mamãe, Késsia deixou de viver pelo acidente que tirou a vida do seu namorado e o pior ela vinha dirigindo o carro no dia, amizades para ela é importante nesse momento. — Falo
Comecei a fazer trabalho comunitário para cumprir a tamanha loucura que fiz em desacatar um delegado e adivinha me colocaram para limpar uma escola infantil e pense num trabalho árduo tenho certeza que tudo isso tem um dedo do Otton para se vingar de mim por beijá-lo. Continuei a trabalhar e após isso fui fazer a minha matrícula numa outra faculdade e Késsia me liga e eu resolvi atender — Alô Késsia! — Yanah, onde você vai estudar agora, estou me sentindo um peixe fora d'água nessa faculdade, não consigo fazer amizade com ninguém. — Késsia fala com voz de choro. Em silêncio do outro lado da linha fico sem entender nada e sem saber como agir e o que falar, afinal não sou muito de chorar, não tenho nem tempo para isso. — Estou em frente a faculdade nova, você está chorando? — Pergunto preocupada. — Estou emotiva — Késsia me responde. — Késsia estou sem dinheiro para ir até você, mas se quiser o endereço onde estou para vir conversar, estou livre nesse momento. Késsia pe
Jamais imaginei que Yanah iria sair do meu carro após o louco momento entre nós dois, fiquei completamente cego de desejo por ela e a minha vontade era de ir além. Mas a louca entrou num táxi qualquer e foi embora sem olhar para trás bati forte no capô do carro de raiva, odeio que brinquem comigo desse jeito e o pior é que caí no seu jogo de sedução e gostei, queria muito sentir aquele corpo perfeito sobre o meu e continuo com a sensação da sua boca macia me chupando, só de ficar imaginando já estou duro de novo e totalmente frustrado voltei para casa em alta velocidade e só me restou um banho para ver se esfriou á cabeça para aliviar o efeito do álcool. No dia seguinte acordei totalmente estressado, é tanto que não fui para academia e sim correr para extravasar toda a raiva daquela garota que armou um círculo e cai na dela, quanto mais corria, mais eu queria correr. Parei extremamente exausto, respiro rápido descansando olhando o quão longe eu vim parar movido a raiva da Yanah. Mas
Desci do táxi, paguei o mesmo com o dinheiro que Késsia me deu e entrei devagar em casa, de ponta de pé e de repente a luz acende, Alina me espera no escuro com a cara brava olhando para mim de cima para baixo analisando a minha roupa. — Quer me matar de susto, Alina? — Pergunto pondo a mão no coração. — Quem vai morrer de susto sou eu qualquer hora com esses sumiços, deixou o nosso irmão com a vizinha, só vai dormir quando falar onde estava e com quem estava e onde conseguiu essa roupa. — Fui a um baile a fantasia, por isso fui assim, fui a um aniversário acompanhar a minha amiga Késsia. — Yanah desde quando sai de casa sem me falar comigo e que amiga é essa? — Alina pergunta. — Alina você é uma irmã maravilhosa, mas eu acho esse instinto protetor de estar sempre querendo segurar na minha mão me sufoca e eu sabia que não ia deixar eu ir, por isso fugi. — Quer dizer que eu te sufoco? Muito bem! Yanah, você é uma menina que continua se conhecendo e não sabe muito da vida, essa am