RavenAndo de um lado pro outro do quarto como uma loba enjaulada.Estou nervosa e, por alguma razão, sinto um pressentimento muito ruim.Decido ir ver Lady Amalia, que com certeza também está reclusa e assustada.Assim, nós duas podemos nos dar um pouco de apoio — e além disso, talvez ela possa me contar algo mais sobre os invasores.“Raven, estou sentindo o cheiro de dois machos do lado de fora da porta.” — Sena me alerta de repente, bem quando eu ia tocar na maçaneta para abrir.Fico tensa e com medo, porque Cedrick não me disse nada sobre alguém ficar de guarda na porta. Seriam guerreiros da matilha… ou alguém mais?Abro a porta com cuidado e vejo que são dois guerreiros enormes fazendo guarda do lado de fora.— Luna, por favor, permaneça dentro dos seus aposentos. Não se preocupe, vamos protegê-la aqui até que o Alfa retorne — um deles se vira e me diz.— Quero ir ver Lady Amalia. Não vou sair da mansão — explico.— Sinto muito, temos ordens para protegê-la e não deixá-la vagar.
RavenNão me resta outra opção a não ser segui-los. Pelo caminho, não encontro mais ninguém para pedir ajuda.A verdade é que sei que estou me metendo numa situação perigosíssima, mas agora não tenho tempo de analisar nada. Só consigo pensar em, pelo menos, saber o que vão fazer com ela e para onde pretendem levá-la.“Raven, estou muito cansada e estamos longe demais da matilha” — já estamos correndo há um bom tempo, e a noite caiu sobre nós.É claro que Sena está exausta, afinal perseguimos três machos fortes e musculosos por toda a floresta.Quando achei que não conseguiríamos mais, eles finalmente pararam, perto de um riacho.Se transformaram e começaram a improvisar uma espécie de acampamento.Parece que já se sentem seguros o suficiente pra até se darem ao luxo de pescar e acender uma fogueira.Colocaram Amalia sentada no chão, amarrada a uma árvore, e ela já estava começando a reagir.Imagino que tenha sido drogada.“Raven, esses homens são… são eles!” — e é claro que eu também
Raven— Me solta, desgraçado! — gritei com uma dor absurda, sentindo que ia ficar careca dessa vez, por causa dos puxões violentos no meu cabelo.Minhas costas estavam todas feridas pela brita no chão enquanto eu continuava sendo arrastada, até que ele me jogou com força perto de onde estava Lady Amalia.Os outros, alertados pelos gritos, já vinham vindo."Raven, vamos fugir, se os três se juntarem vai ser impossível resistir!" — pensei em me transformar na hora, mas não me deixaram.— Ah não, gatinha, nem tenta fugir, a festa só tá começando.— Aaahhh! — recebo um chute no estômago que me faz me encolher de dor no chão.— Raven! É só uma mulher indefesa, seus desgraçados! — ouço os gritos de Amalia. — Deixem ela em paz, vocês já me têm! Eu vou com vocês, deixem ela ir embora!— Roger, quem é essa loba? O que tá acontecendo? — ouço a voz dos que se aproximam correndo, e mais uma vez sinto um puxão no cabelo que me faz gemer de dor, e uma mão aperta com força meu maxilar.— Olha só, el
RavenEle tentou se soltar, gritando de agonia, mas de algum lugar eu tirei uma força absurda pra segurá-lo e queimar todo o rosto dele.Via como a pele dele soltava fumaça e escurecia debaixo do fogo assassino e devorador.— Não gostava das difíceis? Então vou te mostrar o que é queimar no inferno — o encaro completamente fora de mim, e ele não para de tentar tirar minhas mãos de cima dele, me olhando com puro pavor nos olhos, como se eu fosse um demônio.— Perdão... me perdoa... por favor... me perdoa — ele começa até a me implorar entre os gritos, e as lágrimas que tentam cair evaporam por causa do calor.É isso que eu quero. Medo. Medo puro. Se for isso que me faz sobreviver, então eu queimo o mundo inteiro.— Leo!... Que diabos é isso?! Tira ela de cima, ela tá matando ele!— Eu não chego perto dessa bruxa nem fodendo! Que porra é essa mulher?!— O Alfa, caralho! Corre, o Alfa descobriu a gente!— Socorro... não me deixem... socorro... — mal sai um sussurro de ajuda do homem na m
CedrickEntro no meu quarto e vejo o pequeno corpo coberto com os lençóis.Sinto que a morte está espreitando a Raven em cada canto, que se eu me distrair por um segundo, no seguinte vou encontrá-la ferida ou, pior ainda, não vou conseguir salvá-la de novo.Sei que ela certamente se meteu nisso pra ajudar Amalia, porque a compaixão está no sangue dela, mas também é imprudente e aventureira, e isso um dia vai acabar levando ela pra uma jornada sem volta.Afasto cuidadosamente os lençóis e descubro o corpinho trêmulo de Sena, sua pequena loba Ômega.Ela teve que se transformar pra conseguir se curar mais rápido.A pego nos braços com cuidado pra não machucar seus ferimentos, e vejo que ela abre os olhinhos e lambe minha mão.— Como você tá, pequena? — finalmente está consciente e suspiro aliviado, examinando seus ferimentos, depois de dar várias doses do meu sangue e aplicar medicamentos.“Ela está fraca e a Raven ainda não acordou” — Eamon me diz angustiado.— Que lobinha valente é a m
Raven— Eu fiz isso… pela minha mãe — confessa depois de ficar alguns segundos em silêncio, e percebo a luta interna que ela está enfrentando.Eu entendo, porque há segredos muito perigosos e ela deve estar com medo.— Minha mãe está muito doente, vive internada no hospital. Ela também é uma escrava como eu, e eu precisava dos remédios pra salvar a vida dela.— Remédios? Mas pelo que sei, o Alfa abastece muito bem o hospital das escravas. Inclusive, já ouvi ele ordenar à logística que mantenha tudo o que for necessário — digo, sem entender.— Raven, eu… na verdade, tem muita coisa que não é como o Alfa pensa.— Não duvido que as intenções dele sejam boas, mas a ala das escravas é como se fosse um mundo separado do resto da matilha. E esse espaço de terror não é controlado pelo Alfa Walker.— Você tem medo, não é? Medo de me contar tudo e acabar sendo prejudicada — sei que ela ainda está cheia de cautela.— Me diz o que você quer em troca de me ajudar. Agora sou a Luna da matilha e, co
Raven— Temos espiões dentro da matilha, já percebi isso, só que ainda não consegui pegar o rabo desse rato — ele diz entre os dentes, e fico aliviada por saber que, ao menos, ele reconhece que há um problema real.— Cedrick, tem coisas que eu preciso conversar com você, coisas que envolvem aqueles homens — começo a dizer, um pouco nervosa.Nossa relação se estreitou nesse tempo, mas ainda tenho minhas dúvidas se ele vai acreditar em mim ou não.Estou me metendo em assuntos sérios da matilha dele.— O que foi? Você reconheceu algum deles? — ele se afasta do abraço e me encara com seriedade.Então conto tudo. As coisas que vi e ouvi enquanto era uma escrava, o depoimento da Diana, que pode saber ainda mais segredos, e minhas próprias suspeitas.— Você tem certeza de tudo isso que tá me dizendo, Raven? São acusações muito graves.— A ala das escravas está sob o controle de vários Anciãos — ele diz andando pelo escritório.Ele se levantou enquanto eu falava, e o observei andando de um la
Raven— Tudo isso eu já sei, me diga direto: quem são esses homens e como as escravas entram em contato com eles? — Cedrick a interrompe, porque ela estava repetindo o que já conversamos.— Eles não são da matilha. Eu quase não saio da área das escravas, mas já ouvi outras comentarem em segredo... esses homens são dos rebeldes, são trapaceiros exilados.— Eles não têm mulheres no grupo, então em troca de comida e suprimentos, vêm e transam com as escravas. Exceto por um deles que eu reconheci... — ela para e me olha. Eu aceno com a cabeça, dando-lhe coragem.— O... o filho do Ancião Ronan, o guerreiro Marshall — disse num sussurro — Só vi ele uma vez, também não acho que vá com frequência, ou então toma muito cuidado pra não ser descoberto.— Quem faz o contato?— A chefe das escravas. Você pode fazer o pedido diretamente a ela, pedir o que precisar. Faz a sua parte com esses homens e, em troca... eles te dão as coisas.Ou seja, os suprimentos que tiram delas, depois são devolvidos, m