NARRADORA— Silvana não aceitou. Nosso tutor tinha morrido, o único que conseguia controlá-la, e eu achei que ela tentaria voltar para os bruxos. Mas não, ela ficou aqui e passou a nos caçar como animais, até quase acabar com a minha vida e com a da Lucero…Fez uma pausa, com a voz embargada.— Nós a ferimos gravemente no confronto final. Achei que ela estivesse morta, o corpo dela caiu num desfiladeiro profundo. Mas ela voltou.— Cedrick, essa mulher é imparável, está completamente obcecada e enlouquecida, além de ser astuta e traiçoeira. Vai encontrar um jeito de entrar no palácio, de enganar vocês. Provavelmente vai mirar no elo mais fraco e mais importante — e olhou para Aidan, que não entendia nada do que estava sendo dito.— Não, no meu filhote não! Vamos protegê-lo em um lugar seguro! — Raven deu um passo à frente, exaltada.— Eu também achei que tinha criado um lugar seguro… mas aí estão as consequências de me achar invencível — voltou a tocar o caixão de gelo.— Tenho um pres
NARRADORAEla nem teria resistido tanto tempo quanto Mortimer; se ele sobreviveu separado de Raven durante todos aqueles anos, foi porque sabia que ela ainda estava viva em algum lugar, e era essa esperança que o mantinha em pé.— Tome, esses são os livros com os quais aprendi magia com meu tutor. A maioria das coisas você já sabe, mas alguns de nós nascem mais poderosos que outros — olhou de longe para Aidan.— Seu filhote vai ter dificuldades no futuro… só um homem do inverno no meio de tantas Centurias. Não se acomode, Cedrick, você precisa encontrar mais da nossa espécie para equilibrar a balança.— Eles existem. No entanto, suspeito que escaparam por algum daqueles portais mágicos escondidos. Aqui, neste diário de anotações, te deixo tudo o que sei sobre isso e minhas suposições.— Todos os artefatos mágicos que criei pra você estão ativos. Carregam minha magia. Pode usá-los com confiança para se defender…— Tio…— Boa sorte, sobrinho. Seu pai estaria muito orgulhoso de você… ass
NARRADORATodos estavam fervendo de ódio, mas o que podiam fazer, se seus familiares estavam presos e vigiados por aquelas horríveis flores mensageiras da morte?Não havia antídoto para aquele veneno que matava em poucos minutos.Se Cedrick visse a quantidade de lobos fortes que estavam prestes a atacá-los, além de toda a magia negra de Silvana, ele estaria muito mais preocupado do que já estava.Mas, naquele momento, ele estava focado em preservar bem o cadáver do seu tio, na mesma caverna onde estava sua companheira, e organizar os planos de defesa.*****— Beta, preciso que mande algumas Centurias procurarem na trilha da montanha por um amigo. Ele está vindo com outros refugiados. Dêem comida e abrigo a eles, até que toda essa loucura acabe — ordenou a Anastasia, que assentiu.— Mesmo assim, que não se confiem neles. Nem mesmo nele. Vigiem bem — Cedrick a advertiu.— Eu mesma vou buscá-lo. Assim é mais seguro pra todo mundo — respondeu ela, indo escoltar Vincent e seu grupo de desa
NARRADORA— Vincent, que bom que conseguiu sobreviver! — Cedrick lhe deu um abraço apertado, e eles se bateram nas costas com força.— Foi difícil, mas esses lobos são muito corajosos. Ela está à frente dos sobreviventes, Clárens! — ele se virou e chamou a mulher tímida que estava na entrada do salão do trono.Clárens avançou e ficou ao lado de Vincent, porque ele era o único em quem confiava de verdade e que conhecia.Então olhou para onde Cedrick estava sentado, no imponente trono dourado do Rei Alfa, e ao lado, na posição da Rainha, uma loba linda de olhos intensos.Mesmo sem a cerimônia oficial ou a transferência de poder, por falta de tempo, já era um segredo espalhado: o Alfa Cedrick estava retomando o trono, e sua companheira era a Alfa Centuria.— Eu… eu sou Clárens. Obrigada, suas majestades, por sua ajuda e, em nome do meu irmão e da matilha… peço perdão — Clárens abaixou a cabeça, envergonhada, com os olhos vermelhos.Então foi se ajoelhar diante dos monarcas.Ela não se im
NARRADORA— Meu irmão se apaixonou por uma loba de outra matilha e, ao se unir a ela, acabou se tornando o Alfa da matilha dela… bom, daquela que foi destruída — Clárens suspirou com tristeza.— Meu pai ficou furioso e o expulsou, mas pouco tempo depois, eu também fugi ao me apaixonar por outro lobo e fui viver com meu irmão.— A vida no pântano é dura, meu pai não quer se abrir para o resto do reino, diz que estamos mais seguros isolados, mas eu acho que, se eu voltar, se conversar com ele e contar sobre esse perigo, sobre o que nos fizeram, sobre meu irm… não… — a voz de Clárens se quebrou por um instante.— Eu… vou tentar trazê-los para ajudar, alteza. Os lobos da minha matilha vivem só para lutar, são muito fortes.E claro que Cedrick sabia disso.Por isso ninguém mexia com eles. Levavam uma vida meio selvagem, não pagavam tributos e mandavam as ordens do rei “tomarem no cu”, simples assim.Eram guerreiros ferozes, sem medo da morte, implacáveis e protegidos por aquele pântano som
NARRADORAA maioria não queria, mas a vida de suas famílias dependia daquilo, e lutariam até as últimas consequências.As Centurias se posicionaram nas muralhas espessas, e no meio delas, sua Alfa, encarava na direção de onde sabia que aquela desgraçada estava vindo.E de fato, Silvana começou a avançar, seguida de seu “exército”, posicionando-se a poucos metros da linha de defesa.— Me entreguem ele e poupem-se do massacre! Se fizerem isso, talvez eu deixe alguns vivos! — gritou para Raven com sarcasmo, sua voz carregada de magia ecoando nos ouvidos de todos.— Tem que ser muito vadia sem dignidade pra correr atrás de um homem que nunca te amou! Por que não se rende você e talvez eu arranque sua cabeça mais rápido!Raven respondeu, apagando o sorrisinho cínico do rosto de Silvana, que se enfureceu no mesmo instante.— Vamos ver quanto tempo dura essa coragem falsa, sua vadia! VAMOS! O QUE ESTÃO ESPERANDO? ATAQUEM ESSAS DESGRAÇADAS! QUEM FUGIR VAI PAGAR COM A PRÓPRIA FAMÍLIA! — deu o
NARRADORACedrick observava enquanto, por cima do muro de gelo que havia se formado, lobos ferozes saltavam com os dentes à mostra e a fúria queimando nos corações.Eles não obedeceriam comandos, nem ordens do Rei ou da Rainha — impossível controlá-los todos, ainda mais quando lutavam para proteger seus entes queridos.Então a luta até a morte recomeçou. Eles se protegiam pelas costas enquanto rasgavam e feriam com garras e mandíbulas abertas, ensanguentadas.Vincent estava ao seu lado, lutando com valentia, mas Cedrick sabia… ele era uma bomba-relógio prestes a explodir.— Aaauuu! — um uivo de agonia ecoou e Cedrick se virou para vê-las.As Centurias montadas em seus lobos de fogo cavalgavam rumo à batalha, saindo do castelo e massacrando seus inimigos, deixando um rastro de chamas e morte por onde passavam.Raven à frente, heroica e selvagem, sua Alfa Centuria. Sua Rainha.Cedrick se distraiu por um segundo ao vê-la, e de repente…“CEDRICK!!” — Vincent gritou, se jogando para empurr
NARRADORAMas não era só a magia negra de Silvana. Também estavam seus aliados… e logo, Cedrick e Raven, junto ao seu valente exército, se viram cercados e atacados por dois flancos.Estavam como ratos encurralados entre dois incêndios, prontos para morrer a qualquer momento.As baixas aumentavam. Eles não conseguiam usar sua magia de fogo — que era sua melhor arma — e as flores famintas pareciam infinitas, incansáveis. Mas eles não. Eram de carne e osso, já estavam feridos e exaustos.“Cedrick!”Raven olhou para seu amor através da morte e do sangue.Os olhos rubis do lobo dele retribuíram o olhar. Lutariam até as últimas consequências, porque não tinham outra escolha, mas… a vitória não parecia nem de longe possível.Nem sequer podiam se aproximar de Silvana, que controlava de longe aquelas flores abomináveis. Estavam cercados.“Raven, se cairmos… se for inevitável… eu fico para trás. Abrirei um caminho pra você. Fuja com o menino pelo rio. Leve a sua sacerdotisa e sua Beta. Sobrevi