NARRADORAQuase todas eram lobas, e alguns poucos lobos mais velhos e calejados.Fracos, de pé apenas pela força da vontade, da vingança e da raiva.Sangue por sangue, carne por carne.A loba era Clárens.“Deixe esse guerreiro conosco. Estamos fracas, mas somos muitas. Depois te ajudamos contra o Alfa. Resista.”Ela falou pelo vínculo comum entre os lobos, ao mesmo tempo em que um círculo de morte se fechava ao redor do guerreiro, que olhava nervoso por onde escapar.Era um macho mais forte e treinado, mas estava sozinho — e os inimigos eram ao menos dez.Vincent assentiu, grato, e então concentrou toda sua força novamente no Alfa.Não importava o que tivesse acontecido, agora iriam colidir mais uma vez, mas desta vez as coisas não seriam iguais.Um adversário antes forte, preciso e letal havia se tornado hesitante, cometendo erros e sofrendo ferimentos desnecessários.Theodor estava horrorizado por dentro — não conseguia controlar praticamente nada do seu corpo!Sentia-se como uma ma
NARRADORAA lua se escondia no céu, mas mesmo assim ela o reconheceu...Era o Alfa que supostamente estava morto! O tal do Theodor!Vincent a empurrou por reflexo e já se preparava para desviar rapidamente, porém era tarde demais para escapar das garras da morte.PUFF!Um jorro de sangue saiu com pressão de seus lábios e, nas costas, uma dor lancinante e horrível o invadiu.Sentiu as garras afiadas de Theodor se cravarem, rasgando músculos e carne, perfurando em busca do coração para arrancá-lo do corpo.O outro braço musculoso do Alfa rodeou seu pescoço, imobilizando-o e mantendo-o preso contra si.Vincent resistia com tudo, rosnando e lutando, mas não entendia de onde um homem, que até instantes atrás era um cadáver, tirava tamanha força descomunal para dominá-lo.“Artemis, muda, Aaahhh! MUDA AGORA, PORRA!!”Vincent gritava desesperado em sua mente para o lobo, rangendo os dentes com a dor aguda, sem parar de lutar contra o adversário às suas costas, acertando cotoveladas e socos pa
VINCENT— Já não temos nada aqui. Um dos nossos correu até a matilha enquanto você estava inconsciente… e todos os outros… foram assassinados, como você disse.Ela baixou o olhar e falou com a voz embargada.O restante também estava com os olhos vermelhos e cabisbaixos.— Recolham os sobreviventes, as provisões deixadas pelos guerreiros. Vamos ao castelo pela passagem das montanhas! — exclamei diante de todos.— Ao palácio? Agora é um ninho de Centúrias. Você acha mesmo que vão acolher refugiados como nós?— Aquelas mulheres são assassinas…— Ó deusa, pra onde vamos agora? Só temos velhos, crianças e algumas mulheres… assim não podemos formar uma nova matilha…Soluços e lamentos. Palavras de desconfiança.Eu também não confio nas Centúrias, mas confio em Cedrick e em Raven. Ela é uma boa mulher… e é uma Centúria.— A própria Rainha Centúria os convida ao palácio. Nada lhes acontecerá. Dou minha palavra.— Têm meia hora. Se até lá não decidirem, irei sozinho — e com isso, saí para o ar
NARRADORA— Cedrick…— Raven, nunca, nunca mesmo, colocaria nosso filhote em perigo. Eu morreria por Aidan, minha fêmea. Daria minha vida por vocês.Cedrick acariciou a bochecha dela com todo o amor que sentia por sua companheira, a mulher que havia escolhido por vontade própria.— Vamos ouvir o plano dele. Se não nos convencer, a gente simplesmente recusa. Mas ninguém melhor que Mortimer pra entender a mente daquela mulher cruel. Se você não confia nele, então confia em mim, tudo bem?Cedrick se aproximou, sussurrando contra os lábios dela, e Raven assentiu, mais tranquila.Seus lábios se tocaram com carinho, num beijo cheio de sentimentos complexos e profundos, não só de desejo ou luxúria.O mal os ameaçava, e os dois se uniriam até as últimas consequências para proteger o filho. Isso era o mais importante. Não o trono, nem o poder — apenas a pequena família deles.Cedrick mordiscava o lábio inferior da sua mulher quando, de repente, seu nariz captou um cheiro familiar entrando no q
NARRADORA— Olha o cabelo do Cedrick e os olhos dele, lembra como eram os seus antes da Dalila mudar, pra manter nosso segredo? — e Aidan reconheceu esse detalhe, mesmo que mal lembrasse de como era antes.Aquelas cores pareciam com as da sua memória confusa.— Mamãe mudou o Aidan porque o papai tinha muita gente má querendo machucar a gente, e foi pra te proteger. Mas agora não precisa mais, filho, porque seu pai voltou e acabou com os maus daquela terra distante — Raven falava com amor pro seu pedacinho de céu.Mentirinhas leves, porque Aidan não entenderia os assuntos complicados dos adultos.— Então onde tá meu pai?! Ele vai brincar comigo igual aquele filhote da aldeia brincava com o lobo?Aidan se animou de repente ao lembrar da cena na aldeia, onde sentiu pela primeira vez a ausência de Cedrick.— Filho… ele é seu pai. O companheiro da mamãe. O Alfa Cedrick é o papai do Aidan e te ama muito, assim como eu — Raven o abraçou e apontou pra Cedrick, que esperava nervoso à frente de
NARRADORA— Muito bem, agora só falta arrumar um bom marido pra você, um Alfa forte que aguente o tranco, porque nem pense que vou passar a vida toda cuidando de você, eu preciso descansar em paz!Ela deu uma leve bastonada na testa de Anastasia e foi até sua líder Centuria, ver que diabos iam fazer agora.A Beta levou a mão à testa e suspirou. Sabia muito bem quais eram as intenções de Dalila, mas ela não queria macho nenhum, estava muito bem assim e pretendia apenas servir à rainha e à sua Sacerdotisa até o fim dos seus dias.— Então, vamos ver o maluco do seu tio ou não? Já não tenho mais idade pra essas correrias tão intensas! — Dalila olhou para Raven e Cedrick, que carregava Aidan.Não adiantavam as reclamações de filhote crescido, agora era seu pai, e ele não queria soltá-lo nem por um segundo.— Vamos, vamos ver qual é o plano genial dele — suspirou Raven, não muito convencida, e começou a caminhar por uns corredores escavados nas cavernas que levavam a uma câmara maior no int
NARRADORA— Silvana não aceitou. Nosso tutor tinha morrido, o único que conseguia controlá-la, e eu achei que ela tentaria voltar para os bruxos. Mas não, ela ficou aqui e passou a nos caçar como animais, até quase acabar com a minha vida e com a da Lucero…Fez uma pausa, com a voz embargada.— Nós a ferimos gravemente no confronto final. Achei que ela estivesse morta, o corpo dela caiu num desfiladeiro profundo. Mas ela voltou.— Cedrick, essa mulher é imparável, está completamente obcecada e enlouquecida, além de ser astuta e traiçoeira. Vai encontrar um jeito de entrar no palácio, de enganar vocês. Provavelmente vai mirar no elo mais fraco e mais importante — e olhou para Aidan, que não entendia nada do que estava sendo dito.— Não, no meu filhote não! Vamos protegê-lo em um lugar seguro! — Raven deu um passo à frente, exaltada.— Eu também achei que tinha criado um lugar seguro… mas aí estão as consequências de me achar invencível — voltou a tocar o caixão de gelo.— Tenho um pres
NARRADORAEla nem teria resistido tanto tempo quanto Mortimer; se ele sobreviveu separado de Raven durante todos aqueles anos, foi porque sabia que ela ainda estava viva em algum lugar, e era essa esperança que o mantinha em pé.— Tome, esses são os livros com os quais aprendi magia com meu tutor. A maioria das coisas você já sabe, mas alguns de nós nascem mais poderosos que outros — olhou de longe para Aidan.— Seu filhote vai ter dificuldades no futuro… só um homem do inverno no meio de tantas Centurias. Não se acomode, Cedrick, você precisa encontrar mais da nossa espécie para equilibrar a balança.— Eles existem. No entanto, suspeito que escaparam por algum daqueles portais mágicos escondidos. Aqui, neste diário de anotações, te deixo tudo o que sei sobre isso e minhas suposições.— Todos os artefatos mágicos que criei pra você estão ativos. Carregam minha magia. Pode usá-los com confiança para se defender…— Tio…— Boa sorte, sobrinho. Seu pai estaria muito orgulhoso de você… ass