CEDRICKAbraço minha fêmea contra o peito, deitados de lado sobre as roupas secas, perto do fogo que ela mesma criou e que nunca se apaga.Nunca imaginei que o laço de companheiros se sentisse assim… tão completo, tão satisfatório.É como se minha alma incompleta tivesse finalmente encontrado sua metade perdida.Inspiro o cheiro da sua nuca, onde minhas feromônias agressivas anunciam a qualquer um que essa fêmea me pertence e é só minha. Minha Raven, minha rainha, depois de tantos tropeços do destino.No entanto, apesar dessa loucura que acabamos de fazer, não estamos nem um pouco a salvo.Observo ao redor… esta caverna subterrânea, esse lugar encantado que se tornou nosso refúgio, mas precisamos sair daqui, e o perigo logo estará espreitando lá fora novamente.Nosso filhote nos espera, e me preocupa sua segurança.Mesmo sabendo que Raven confia plenamente na bruxa do clã dela e nas proteções que ela criou, aquela mulher me dá uma sensação muito ruim.Tiro o braço debaixo da cabeça de
NARRADORAVincent finalmente respirou aliviado ao ver que todas aquelas loucuras premonitórias não eram nenhuma brincadeira de mau gosto.Por momentos, até achou que era algum feitiço daquela bruxa tentando enganá-lo, mas decidiu apostar tudo naquele movimento arriscado.— Eu sonhei com isso. Sei que parece loucura demais, entendo que você não confie em mim e talvez nem acredite… mas passei noites e noites sonhando com tudo o que aconteceu — Vincent confessou sem desviar nem por um segundo o olhar de Cedrick, sempre de frente, porque não estava mentindo.Os dois ficaram em silêncio, e apenas o eco da água subterrânea ressoava no ambiente.— Eu acredito em você. Eu também tive uma revelação naquele penhasco… acho que a Deusa só está nos dando uma chance de sobreviver a tanta maldade — Cedrick respondeu finalmente, e Vincent assentiu, porque sentia o mesmo em seu coração.Depois, continuou…— Eu te vi nos meus sonhos congelando aquelas flores horríveis, depois parado naquele penhasco co
NARRADORA— Essa mulher odeia as Centúrias com todas as forças… ela não vai parar até exterminá-las. E se ficou obcecada por você, Cedrick, foi por um motivo. Se você não estiver presente, em quem acha que ela vai transferir essa obsessão doentia?— No meu filhote… mas ninguém sabe que ele é… meu… — Cedrick ficou pensativo. Se aquele feitiço enganoso não conseguiu enganá-lo, muito menos enganaria uma bruxa de verdade.Ela saberia na hora que Aidan era seu descendente… e sentiria a magia do inverno dentro dele.Cedrick tinha certeza de que ela estava atrás do tio dele, e Aidan também era da família… era óbvio que acabaria entrando em seu radar.Seu tio teria que enfrentar esse enredo macabro.— Além disso… vou aproveitar que ela vai concentrar a mente e a força no palácio, pra fazer outra coisa que não me deixa dormir — Vincent acrescentou de repente.— O idiota do Theodor mantém todas as pessoas daquela matilha — idosos, mulheres e até filhotes recém-nascidos — em barracos imundos, mo
NARRADORA— É muito longe? Eu não posso ir tão longe do palácio pra brincar… — Aidan, apesar de sua inocência, era uma criança muito inteligente.Eles já tinham caminhado um bom trecho, quase correndo, pela floresta que cercava o palácio, e ainda estavam dentro das muralhas.A criada se dirigia à passagem fechada das montanhas, atrás do castelo, onde havia uma trilha secreta e passava um riacho.Lá, uma pequena embarcação previamente preparada a aguardava, e ela pretendia fugir levando consigo aquele valioso refém.Tinham prometido muito ouro por essa missão — e ela não hesitou em aceitar.— Já estamos chegando, moleque… anda logo! — apertou a mão do filhote com força, machucando-o, e o arrastou aos trancos e barrancos até o riacho, que já podia ser ouvido ao longe.— Me solta, minha mão tá doendo! — Aidan começou a se debater de repente.— Não quero mais ir! Não quero doce nenhum! Me solta!— Já falei que estamos chegando! Para de ser mimado e malcriado! — ela o puxou com raiva.Odia
NARRADORAMas, apesar da hierarquia e do comando da Voz, entre os lobisomens, o livre-arbítrio e a resistência sempre foram uma opção.Só que corria-se o risco de acabar com a mente despedaçada no processo.— Eu… — Hortensa lutava com tudo o que tinha para não confessar.Um fio de sangue escorreu pelo canto de seus olhos, resultado da resistência do seu corpo à compulsão cruel.Anastasia não estava demonstrando nenhuma piedade.— Fala agora ou eu vou começar a cortar cada membro do seu corpo até você confessar! FALA DE UMA MALDITA VEZ!!Ela a obrigou com tudo, e sua loba de fogo saiu de seu corpo, rosnando no rosto de Hortensa, que quase desmaiou de susto.— O… o Alfa Theodor… — ela confessou por fim, tremendo e gaguejando.— Quando fui até a vila, ele me procurou e me ofereceu dinheiro pra tirar o pirralho escondido.— Por onde você o levaria? Qual era a rota? Há mais espiões no palácio? — Anastasia, de pé à sua frente, continuava o interrogatório.A Beta era uma mulher corpulenta e
NARRADORADalila a encontrou meio moribunda e enlouquecida, e ficou com as poucas Centúrias sobreviventes para curar seu corpo e sua mente.Nessa guerra absurda, ambos os lados haviam perdido vidas inocentes, e se Anastasia seguia sua Alfa com tanta fidelidade e devoção, era porque Raven havia conquistado isso — com sua justiça e sua coragem.Essa geração de Centúrias estava cansada de tanto ódio. Tudo o que queriam era viver em paz… e que sua raça, os lobisomens, as perdoasse e as aceitasse.*****— Raven, você está muito mal! — O círculo de runas se iluminou e Cedrick apareceu abraçando com força Raven, que respirava com dificuldade.Dalila gritou assim que os viu, e as feromônias do cio os atingiram no rosto como um tapa.O tio de Cedrick imediatamente saiu da caverna de gelo e se escondeu em outra sala mais interna, para evitar qualquer confronto com o Alfa, já que a fêmea estava em cio tão próxima.Era o instinto natural — e Cedrick estava se controlando muito bem ao permitir que
NARRADORASilvana observava do alto de uma colina as enormes letras flamejantes desenhadas com magia acima do castelo.Podiam ser vistas de longe, era uma mensagem, e ela sabia muito bem que era direcionada a ela.“Mortimer está aqui”Era o que dizia, uma isca clara para atraí-la. E é claro que estava interessada — achava que ele estava morto, mas agora tinha esperanças. E se ele estivesse vivo, ela o reconquistaria.Aquele homem era dela.Será que aquela maldita também sobreviveu?Não, não, não. Ela mesma se encarregou de sugar até a última gota da magia de fogo daquela vadia! Eles não podiam estar felizes e juntos!Os olhos vermelhos de Silvana fitavam o castelo, onde ao longe, as defesas estavam sendo reforçadas.Era bom que aquelas mulheres de fogo estivessem preparadas, porque já que tiveram a ousadia de atraí-la, agora teriam que lidar com as consequências dos próprios atos.Ela libertaria os homens-gelo do jugo em que viviam. Eles só estavam confundidos por causa daquelas cadel
NARRADORA— Filho, vai com o vovô ali na frente, a mamãe já volta.A mulher disse ao menino, ajudando-o a se levantar e limpando as lágrimas com as mãos sujas, forçando um sorriso falso para acalmá-lo — um sorriso que, na verdade, partia o coração.Por manter seu filhote vivo, ela faria qualquer coisa.Por um pedaço de pão duro e um pouco de água para sobreviver, deitaria com aquele nojento desprezível.— Não, não quero, não mamãe, aquela mulher foi embora e nunca voltou! — o filhote começou a gritar, tentando se agarrar a ela de novo, lembrando da mulher que ficava ao seu lado e que, no dia anterior, outro guarda tinha levado quase arrastada. Nunca mais apareceu.— Vai, vai, eu vou ficar bem, vai… — ela o empurrava desesperada para os braços do ancião mais próximo, com medo de que o espancassem.— Cala a boca, pirralho! — a paciência do brutamontes de pelo castanho-avermelhado estava se esgotando e ele já levantava a mão para dar uma boa surra naquele fedelho.Tanto drama só pra fode