CEDRICKEstou sentado nesta imponente cadeira de ouro, acima de todos, observando do alto enquanto o salão do trono ferve em festividades.Há poucos dias, eu era um deles lá embaixo, prestando reverência ao tirano Rei Alfa.Agora, parece uma ilusão ser eu quem recebe os parabéns e a confiança do meu povo.Isso deveria ser o sonho da minha vida se tornando realidade, mas não é assim que se sente. Na verdade, parece fumaça que se dissipa com o vento da noite.“Vincent, fique encarregado de tudo, de cumprimentar e receber os presentes. Eu vou sair e não pretendo voltar esta noite” — digo ao meu Beta, que está em pé ao meu lado, calado e sério.Imaginava que ele estaria mais feliz por termos alcançado o nosso sonho de infância, mas também não vejo muito entusiasmo nele. Talvez seja só impressão minha.“Cedrick...” ele responde em minha mente, me olhando com olhos indecifráveis.“Nada. Só... parabéns por ter se tornado o Rei Alfa. Nosso reino será próspero sob seu comando. Não haverá monar
NARRADORAVincent ordenou aos guerreiros que vigiavam a torre que se retirassem.Ele sabia muito bem que estavam apenas guardando um lugar vazio e que Cedrick desceria de lá tomado pela fúria.Cedrick podia ser tudo, menos burro. Ele ligaria os pontos, e Vincent apenas esperava que lhe deixasse se explicar antes de partir para a briga — mas isso não aconteceu.A porta de madeira da base da torre se abriu, e de lá saiu o Rei Alfa completamente enraivecido, em modo selvagem total.Assim que seus olhos se cravaram nos de Vincent, ele nem pensou por um segundo antes de correr em sua direção e se transformar no lobo.Vincent se surpreendeu um pouco, não esperava que Eamon fosse atacá-lo diretamente. Ainda assim, também se transformou em lobo para lutar pela própria vida.Sim, pela vida — porque Eamon não o atacava como nas outras vezes, em um combate amistoso. Eamon queria rasgá-lo em pedaços.Menos de 10 minutos depois, o lobo de Vincent já estava desfigurado, sangrando, estirado no chão,
NARRADORANinguém se opôs e todos recolheram suas coisas na velocidade da luz, sem dizer uma palavra.O Rei não deveria estar eufórico de alegria? O que o tinha deixado tão furioso?Theodor olhou para Cedrick no trono, quase certo de que algo tinha acontecido com aquela mulher. Descobriria em breve, e precisava continuar forçando a chance para Samantha.Ele havia conseguido evitar que Cedrick coroasse aquela tal de Raven como rainha graças ao apoio de todos, porque ela tinha uma péssima fama, fosse verdadeira ou não, e ninguém confiava numa Centúria.Esse ódio antigo não desapareceria tão facilmente, não importava o que Cedrick fizesse — aquelas mulheres tinham sido umas cadelas assassinas.Mas Theodor não se sentia tão confiante de conseguir pressioná-lo a se casar com Samantha. Um rei não precisava obrigatoriamente ter uma rainha. Ele podia reinar sozinho.Sua filha teria que fazer sua parte para conquistar e seduzir aquele Alfa, ficar no castelo ou todos os seus esforços e mentiras
SAMANTHAOs olhos dele me encaram com uma fúria desmedida que me faz encolher de medo contra o encosto da cama.Não entendo nada, como ele pode não sentir nem uma gota de atração por mim?Desde que o vi, eu morro só por que ele me olhe por um segundo como olhava para ela, enquanto a carregava e a defendia em seus braços.— Ce... Cedrick, eu...— Quem te deu o maldit0 direito de me chamar pelo meu nome?! — ele se levantou da cama e começou a vestir umas roupas jogadas, de qualquer jeito, no móvel do canto.— A Deusa me deu esse direito! — apesar do meu medo instintivo, também estou furiosa e cansada das humilhações dele.— Eu sou sua companheira! Como pode me tratar como uma vadia qualquer?!Também tento me levantar, ajeitando minha roupa toda amarrotada e caída.— Porque é exatamente assim que você está se comportando! Se enfiando na minha cama pra me seduzir, você...! — de repente ele se aproxima de mim e eu fico apavorada.Agarra meu braço com força e me cheira por cima da pele, par
SAMANTHA— Eu não vou fazer isso, nunca vou fazer isso! Raven já não está mais aqui, Alfa! Se romper agora o vínculo comigo, vai ficar fraco, podem te atacar, meu pai não...! — Aaahh! — grito de susto quando ele me agarra pelo pescoço e me joga contra a parede.— Nunca na minha vida maltratei uma mulher, mas juro pelos meus ancestrais que você está me levando aos meus maldit0s limites. Para de me ameaçar com seu pai! Você realmente acha que eu cedi às chantagens dele? Que eu me casaria com você e deixaria minha fêmea?!A mão forte dele aperta meu pescoço, cortando meu ar, e me obriga a encará-lo direto na alma. Eu tremo inteira ao ver suas presas enormes de lobo tão perto do meu rosto.Ele vai me matar? Não, não... ele não pode... somos companheiros, somos...— Essa brincadeira termina aqui, Samantha Silver. Nunca pense que eu te escolhi no lugar da Raven. Eu escolhi o poder de mudar as coisas acima do meu amor, não foi por sua causa. Este coração já tem dona, e só ela pode dobrar min
RAVENVivem escondidas entre essas montanhas, caçando e vivendo da natureza, saqueando comboios e viajantes, disfarçadas de ladras para roubar o indispensável e sobreviver.A verdade é que é uma vida decadente, mas suponho que isso seja o karma, embora aqui só restem descendentes das verdadeiras assassinas e culpadas pelos massacres.— Já acordou? Vamos revisar seus ferimentos — a voz da anciã que tem cuidado de mim todo esse tempo me tira dos meus pensamentos.Ela se aproxima com seu cajado, e dá pra ver que foi uma mulher muito impetuosa na juventude. Chamam ela de Sacerdotisa, e parece uma bruxa com muito conhecimento e poder.— Obrigada, sim, hoje estou me sentindo melhor — respondo com a voz rouca, ainda me recuperando dos estragos no meu corpo.Na verdade, se não fosse por aquelas mulheres fortes que me tiraram do fundo do penhasco e pelo sangue poderoso dessa velha, acho que eu não teria conseguido.— Espero, por seu bem, que nunca mais faça uma loucura daquelas, olha que já tô
NARRADORAPft!— Sacerdotisa! — Anastasia, que estava ajudando-a, se assustou ao vê-la cuspir sangue pela boca.Raven também levou a mão ao ventre, sentindo uma dor pontiaguda, estranha e intensa.— Rápi...do, Anastasia, não pode...mos perder tem...po... — Anastasia a amparou pelas costas, limpando os restos de sangue da sua boca.Ela estava com os olhos embaçados e o corpo todo encharcado de suor pelo esforço.— O que eu posso fazer?! O que está acontecendo? O lobo dela atacou você? Como ela ficou assim?! — fez mil perguntas, muito preocupada.Sua sacerdotisa era seu pilar, o único fio de esperança que lhes restava, a última que conhecia seu glorioso passado e os segredos da raça.— Calma, calma, me traz meu livro de runas e feitiços, rápido, e reúna todas! — ordenou, se recompondo um pouco depois de beber uma poção de ervas e dando tapinhas reconfortantes na mão dela.Anastasia saiu correndo para cumprir as ordens. Ela era algo como a Beta da matilha, quem liderava até a chegada da
RAVENApesar de sentir que ia desmaiar a qualquer instante, quando ouvi o choro do meu filhote, foi como se as forças voltassem ao meu corpo.Desejava tanto tê-lo nos meus braços, meu pequeno mundo, meu e só meu, como nunca tive nada na vida.Anastasia me limpou um pouco e me deu para beber do sangue poderoso da Sacerdotisa, que desceu pela minha garganta dolorida de tanto gritar, renovando cada célula do meu corpo.Foi isso que conseguiu manter à distância aquele maldit0 lobo, que a todo momento ameaçava sugar a energia do meu bebê.Foram meses de batalhas contínuas dentro de mim mesma, mas valeu a pena. Cada segundo de dor e sofrimento, só por trazê-lo ao mundo com vida.Me apoiei nos braços fortes de Anastasia, porque não conseguia dar nem um passo, para deitar na velha maca.— Que...ro car...gá-lo — pedi à Sacerdotisa, que limpava um pouco o meu filhote e o enrolava na manta macia de pele branca.— Aqui está, esse pequeno comportado quase nem chorou. Para de franzir a testa, está