RAVENE ela escolheu, como era de se esperar, como a covarde que sempre foi.Começou a correr por toda a borda da arena na forma humana, com a cabeça baixa, a roupa cheia de poeira, as palmas das mãos em carne viva, e as lágrimas e o catarro escorrendo por aquele rosto irreconhecível.— Late pra todo mundo, queremos ouvir o quanto você é uma cadela venenosa! — gritei, aproveitando meu momento, parada no centro da imensa arena.Parecia uma mulher cruel?Sim, eu estava sendo. Mas se tem algo que aprendi nesse tempo foi a pagar gentileza com gentileza e humilhação com humilhação.Essa infeliz não ia aguentar nem mais um golpe, e era mais conveniente pra ela desmaiar logo e se livrar do meu castigo.Essa vergonha ia marcá-la pra sempre, assim como aquele Alfa desgraçado me marcou por culpa dela.— Toma um ossinho! — gritavam das arquibancadas, jogando coisas nela.— Au au, mais alto, cadela! A gente não tá ouvindo!— E o Alfa dela, por que não veio defendê-la?— Acho que vi ele indo embor
RAVEN— Não sei se devo te deixar sair assim, com essas feromonas todas alvoroçadas... outras lobas podem querer te seduzir — digo franzindo a testa, bem séria.— Tá brincando? Com o cheiro de loba no cio que tá na minha cara, capaz de algum macho pular em cima de mim... quer testar? — ele se joga sobre mim tentando me beijar, mas eu desvio rindo.Ele sabe que não gosto muito dessa coisa de “me provar pra mim mesma”.— Agora vou mesmo, não demoro. Me espera assim, nada de roupa, porque eu vou voltar direto pra te fazer amor a noite toda — ele promete no meu ouvido e me deixa tentada.Beija com carinho minha têmpora e me encara de perto, como se a gente fosse se separar por dias.No fim, a contragosto, ele se levanta e vai para a reunião secreta que tem com os outros membros da rebelião.Daqui a dois dias é a hora de agir, e nada pode dar errado.Ao ficar sozinha, me cubro com um robe de dormir até os joelhos, e de fato não coloco nada por baixo. Espero logo aproveitar minha noite apai
RAVENMe sinto um pouco tonta de tanto resistir, mas tento aguentar e correr até a saída.No entanto, ele me agarra pelos braços como duas tenazes dolorosas e me puxa contra seu corpo.Apesar de querer sentir nojo pela proximidade, esse maldit0 vínculo faz com que até as feromonas dele sejam agradáveis pra mim.— Raven, eu te quero de volta, não me importa nada, nem que tenha estado com ele. Ninguém pode te fazer feliz como eu. A Deusa te criou pra mim, só pra mim — ele murmura contra meu pescoço, me beijando e me apertando forte pela cintura, colando seu corpo ao meu, pressionando sua ereção.Tento acertar um chute onde mais dói, mas ele me domina com facilidade. Lutar contra uma loba fêmea do meu tamanho não é o mesmo que enfrentar um macho adulto e guerreiro.No meio da minha resistência, noto uma garrafa com flores naturais sobre a mesinha que está ao meu alcance. Finjo que estou cedendo e, quando sinto ele lambendo minha clavícula...CRASH!Agarro a garrafa com toda minha força e
RAVENSoube o momento exato em que Cedrick entrou no quarto, e na minha vida, nada me deu tanto medo quanto esse instante.Eu estava na nossa cama com Marco babando em cima de mim, minha roupa meio aberta e minhas mãos nas costas dele — mas não o abraçando, e sim pronta pra queimá-lo porque não tinha outro jeito de me livrar!Só que, claro, parecia uma traição descarada.Hoje o sangue ia correr.Às vezes me pergunto como ele foi tão estúpido de se enfiar na toca do Cedrick — provavelmente achou que ele demoraria mais pra voltar.— Eamon, espera! — grito quando Marco se enrijece e se levanta da cama de repente, rosnando e se transformando instantaneamente em seu animal.Cedrick, tomado de raiva, se transformou direto em seu lobo.Um lobo branco mortal e gigantesco que se lançou sobre o cinzento de Marco pra estraçalhar a cabeça dele.BOOM! CRACK! BAM!Destroem o quarto numa luta sangrenta até a morte, arrancando pedaços com presas afiadas, e as garras longas criam feridas profundas e s
RAVEN— Ele mal respira, mas ainda está vivo. Temos que levá-lo com urgência para a enfermaria, senão ele vai morrer — quando o servo deu seu veredito, acho que se ouviu um suspiro geral dos membros da nossa matilha.Todos, menos Eamon, que rosnou e continuava olhando para o lobo moribundo. Tenho certeza de que, se lhe dessem uma chance, ele o mataria de vez.Eu não quero que Marco viva, é claro que desejo ser livre, mas eu não sou o centro do mundo, há coisas em jogo aqui muito maiores e mais importantes.Quando Cedrick for o Rei, o que Marco vai ser diante dele? Apenas um cuspe, embora, na verdade, ele já seja isso.— Levem-no para a enfermaria e me avisem se ele morrer — o Rei ordenou aos seus homens, que imediatamente enfaixaram o pescoço do lobo para evitar que sangrasse até a morte e o carregaram para fora do nosso campo de visão.— Alfa Cedrick, volte à sua forma humana. Acho que não preciso de muita explicação para saber quem foi o culpado.— Pensei que tinha ficado bem claro
NARRADORAQuando o Rei saiu da sala, todos se curvaram novamente, tensos.Tinham visto sair o corpo de um lobo meio morto, reconheceram que era um dos Alfas convidados para o torneio.Pela porta, quando foi aberta para tirar o ferido, escapou o cheiro forte de sangue e tudo parecia um verdadeiro caos.A Lua Raven estava meio nua, e seu Alfa Cedrick em forma de lobo, com evidentes sinais de ter lutado.Era preciso ser muito idiota para não ligar os pontos, e várias especulações já circulavam pelo corredor.— Vão todos descansar, foi apenas um mal-entendido. Guardem suas energias para os combates de amanhã — o Rei ordenou, e em seguida continuou seu caminho para seus aposentos.Quando passou ao lado de uma mulher em particular, lançou-lhe um olhar de canto de olho e seguiu em frente.Escondida entre as pessoas que queriam saber o que havia acontecido, estava Verena, sorrindo de lado com ironia, cheia de ataduras por causa dos ferimentos, parecendo uma louca patética.Aquele idiota do Ma
CEDRICKQuando Raven desmaiou nos meus braços, senti toda a fúria que eu carregava se dissolver de repente diante da preocupação.Se algo ruim acontecesse com ela, eu morreria de angústia.— Raven! — a segurei com força e a carreguei contra meu peito.— Vamos para o meu quarto!Vincent me disse, jogando um roupão longo por cima para cobrir minha nudez, e eu assenti imediatamente.Saímos apressados para o corredor, onde ainda alguns fofoqueiros desrespeitosos nos espiavam, mas eu não tinha tempo para mais ninguém. Só conseguia olhar, angustiado, para minha mulher pálida em meus braços.— Aqui, deite ela aqui. Deve ter sido estresse psicológico demais — indicou um quartinho onde a deitei e afastei os fios suados colados na testa dela.Ela estava muito quente, e senti que seu poder estava saindo do controle.— Peça a um dos servos do Rei que preparem outro quarto de casal e tragam panos limpos com água gelada — comecei a ordenar a alguns dos meus homens que nos haviam seguido.Fechei bem
RAVEN— Não, não, Cedrick, meu amor, não — desço rápido do quartinho, me lanço sobre ele e me sento em seu colo de pernas abertas, os dois no chão.Seguro seu rosto com as duas mãos e o faço me olhar de frente, direto na alma.— Aquele homem me tratou como uma prostituta, não me defendeu do meu abusador, me culpou por tudo e ainda permitiu que me dessem como escrava. Como você acha que eu poderia amar alguém assim?— Eu não sou masoquista, não existe vínculo que aguente tanta traição, nem mesmo sendo seu companheiro destinado — confesso e encosto minha testa na dele, suplicando pra que me entenda e acredite em mim.— Com você eu conheci o amor e a plenitude como mulher. Eu te amo, só a você. Não desejo mais ninguém. Não me importo se ele morrer. Na verdade, quero me libertar da corrente dele pra ser sua por completo. Nunca duvide de mim, meu amor, nunca duvide, Cedrick.— Me desculpa por ter mentido, me desculpa, achei que era o melhor...Ele acaricia minha bochecha e cala meu pedido