RAVEN— Vai continuar fugindo de mim a luta inteira? Em vez de loba, deviam te chamar de galinha! — ela grita me provocando, e ouço as risadas vindo das arquibancadas.— Teu Alfa ganhou por um triz e você é só uma covarde — ri com sarcasmo, e sei que só quer me tirar do sério.— É hora de acabar com esse joguinho.Ela avança com tudo pra cima de mim e eu também avanço, me arriscando a levar um golpe de perto, mas preciso agarrá-la.— ¡Mmmm! — gemo de dor ao receber uma joelhada forte no estômago que me deixa sem ar, mas antes que ela tente me imobilizar pra me espancar, uso minha velocidade explosiva e agilidade pra virar por trás dela e pular nas costas feito um coala, pegando-a de surpresa.Minhas pernas se entrelaçam com força ao redor das costelas dela, apertando até ouvir estalos.Meu antebraço envolve o pescoço dela e faço uma chave de estrangulamento com a ajuda da outra mão.Os punhos dela tentam acertar minhas pernas, mas eu aguento firme e aperto com toda a minha força, esma
RAVEN— Estou muito orgulhoso, minha lobinha feroz, você foi excelente — ele me elogia acariciando e beijando meu cabelo, e minha alma se enche de amor.— Agora se alimente, ainda tem outras batalhas. Mas acho que já vão pensar duas vezes antes de se meter com você.Sorrio em resposta e meu nariz sente o doce aroma do sangue gelado dele. Meus lábios se colam à ferida em seu peito e bebo da força do meu homem.O resto do torneio, naquele dia, virou história — ninguém do meu grupo conseguiu me vencer.Verena, convenientemente, perdeu sua primeira luta, ou talvez porque na vida nunca tinha matado nem uma galinha — sempre tramando feito víbora nas sombras e com o apoio da mãe.Ela me olhou com desafio, como quem diz: “ficou querendo”, mas o que a estúpida não sabia era que quem ganhasse no grupo podia escolher com quem lutar na batalha final dessa rodada.E adivinha quem foi a vencedora das lutas daquele dia?— Quero lutar contra ela, a Luna da matilha Lagoa Azul — apontei para ela desde
RAVENE ela escolheu, como era de se esperar, como a covarde que sempre foi.Começou a correr por toda a borda da arena na forma humana, com a cabeça baixa, a roupa cheia de poeira, as palmas das mãos em carne viva, e as lágrimas e o catarro escorrendo por aquele rosto irreconhecível.— Late pra todo mundo, queremos ouvir o quanto você é uma cadela venenosa! — gritei, aproveitando meu momento, parada no centro da imensa arena.Parecia uma mulher cruel?Sim, eu estava sendo. Mas se tem algo que aprendi nesse tempo foi a pagar gentileza com gentileza e humilhação com humilhação.Essa infeliz não ia aguentar nem mais um golpe, e era mais conveniente pra ela desmaiar logo e se livrar do meu castigo.Essa vergonha ia marcá-la pra sempre, assim como aquele Alfa desgraçado me marcou por culpa dela.— Toma um ossinho! — gritavam das arquibancadas, jogando coisas nela.— Au au, mais alto, cadela! A gente não tá ouvindo!— E o Alfa dela, por que não veio defendê-la?— Acho que vi ele indo embor
RAVEN— Não sei se devo te deixar sair assim, com essas feromonas todas alvoroçadas... outras lobas podem querer te seduzir — digo franzindo a testa, bem séria.— Tá brincando? Com o cheiro de loba no cio que tá na minha cara, capaz de algum macho pular em cima de mim... quer testar? — ele se joga sobre mim tentando me beijar, mas eu desvio rindo.Ele sabe que não gosto muito dessa coisa de “me provar pra mim mesma”.— Agora vou mesmo, não demoro. Me espera assim, nada de roupa, porque eu vou voltar direto pra te fazer amor a noite toda — ele promete no meu ouvido e me deixa tentada.Beija com carinho minha têmpora e me encara de perto, como se a gente fosse se separar por dias.No fim, a contragosto, ele se levanta e vai para a reunião secreta que tem com os outros membros da rebelião.Daqui a dois dias é a hora de agir, e nada pode dar errado.Ao ficar sozinha, me cubro com um robe de dormir até os joelhos, e de fato não coloco nada por baixo. Espero logo aproveitar minha noite apai
RAVENMe sinto um pouco tonta de tanto resistir, mas tento aguentar e correr até a saída.No entanto, ele me agarra pelos braços como duas tenazes dolorosas e me puxa contra seu corpo.Apesar de querer sentir nojo pela proximidade, esse maldit0 vínculo faz com que até as feromonas dele sejam agradáveis pra mim.— Raven, eu te quero de volta, não me importa nada, nem que tenha estado com ele. Ninguém pode te fazer feliz como eu. A Deusa te criou pra mim, só pra mim — ele murmura contra meu pescoço, me beijando e me apertando forte pela cintura, colando seu corpo ao meu, pressionando sua ereção.Tento acertar um chute onde mais dói, mas ele me domina com facilidade. Lutar contra uma loba fêmea do meu tamanho não é o mesmo que enfrentar um macho adulto e guerreiro.No meio da minha resistência, noto uma garrafa com flores naturais sobre a mesinha que está ao meu alcance. Finjo que estou cedendo e, quando sinto ele lambendo minha clavícula...CRASH!Agarro a garrafa com toda minha força e
RAVENSoube o momento exato em que Cedrick entrou no quarto, e na minha vida, nada me deu tanto medo quanto esse instante.Eu estava na nossa cama com Marco babando em cima de mim, minha roupa meio aberta e minhas mãos nas costas dele — mas não o abraçando, e sim pronta pra queimá-lo porque não tinha outro jeito de me livrar!Só que, claro, parecia uma traição descarada.Hoje o sangue ia correr.Às vezes me pergunto como ele foi tão estúpido de se enfiar na toca do Cedrick — provavelmente achou que ele demoraria mais pra voltar.— Eamon, espera! — grito quando Marco se enrijece e se levanta da cama de repente, rosnando e se transformando instantaneamente em seu animal.Cedrick, tomado de raiva, se transformou direto em seu lobo.Um lobo branco mortal e gigantesco que se lançou sobre o cinzento de Marco pra estraçalhar a cabeça dele.BOOM! CRACK! BAM!Destroem o quarto numa luta sangrenta até a morte, arrancando pedaços com presas afiadas, e as garras longas criam feridas profundas e s
RAVEN— Ele mal respira, mas ainda está vivo. Temos que levá-lo com urgência para a enfermaria, senão ele vai morrer — quando o servo deu seu veredito, acho que se ouviu um suspiro geral dos membros da nossa matilha.Todos, menos Eamon, que rosnou e continuava olhando para o lobo moribundo. Tenho certeza de que, se lhe dessem uma chance, ele o mataria de vez.Eu não quero que Marco viva, é claro que desejo ser livre, mas eu não sou o centro do mundo, há coisas em jogo aqui muito maiores e mais importantes.Quando Cedrick for o Rei, o que Marco vai ser diante dele? Apenas um cuspe, embora, na verdade, ele já seja isso.— Levem-no para a enfermaria e me avisem se ele morrer — o Rei ordenou aos seus homens, que imediatamente enfaixaram o pescoço do lobo para evitar que sangrasse até a morte e o carregaram para fora do nosso campo de visão.— Alfa Cedrick, volte à sua forma humana. Acho que não preciso de muita explicação para saber quem foi o culpado.— Pensei que tinha ficado bem claro
NARRADORAQuando o Rei saiu da sala, todos se curvaram novamente, tensos.Tinham visto sair o corpo de um lobo meio morto, reconheceram que era um dos Alfas convidados para o torneio.Pela porta, quando foi aberta para tirar o ferido, escapou o cheiro forte de sangue e tudo parecia um verdadeiro caos.A Lua Raven estava meio nua, e seu Alfa Cedrick em forma de lobo, com evidentes sinais de ter lutado.Era preciso ser muito idiota para não ligar os pontos, e várias especulações já circulavam pelo corredor.— Vão todos descansar, foi apenas um mal-entendido. Guardem suas energias para os combates de amanhã — o Rei ordenou, e em seguida continuou seu caminho para seus aposentos.Quando passou ao lado de uma mulher em particular, lançou-lhe um olhar de canto de olho e seguiu em frente.Escondida entre as pessoas que queriam saber o que havia acontecido, estava Verena, sorrindo de lado com ironia, cheia de ataduras por causa dos ferimentos, parecendo uma louca patética.Aquele idiota do Ma