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Olívia

Já é outro dia, acordo sentindo todos os meus ossos doloridos, parece que levei uma surra, meus pés estão massacrados, eu mal consigo pisar no chão, andei demais e o esforço para não tirar o salto foi bem grande. Lembro-me também do que aconteceu ontem no fim da noite, Agnelo apareceu e... Ficamos juntos mais uma vez!

Fui dormir sentindo o gosto do beijo dele em meus lábios, é estranho mas eu ainda podia sentir aquelas mãos grandes sobre mim, eu continuei sentindo seu cheiro até adormecer, eu estava muito cansada, entretanto isso não me impediu de dormir com ele na cabeça e permanecer com ele em meus sonhos. Tudo nele é diferente do que eu já experimentei antes, de paixões bobas a pensamento em vão sobre amor, Agnelo fez-me enlouquecer apenas com um beijo, ele é um homem experiente é claro e eu apenas uma jovem imatura, porém sei que o que sinto quando o vejo, desde quando o vi pela primeira vez quando ele me trouxe em casa após a festa do Harry e da confusão, não trocamos uma palavra se quer, mas não foi preciso nada disso para que eu o quisesse em mim.

Mais uma vez eu não resisti à estar tão perto daquele homem que meses atrás tirava meu sono e encharcava minhas calcinhas sem saber. Foi bom, realmente bom demais, depois da última vez, não fiquei com mais ninguém, apenas ele ontem a noite, depois de meses. Eu não sabia o que era sentir tesão, exceto depois que o encontrei e coloquei meus olhos nele, parece que um fogo apagado voltou a incendiar dentro de mim. Mas, dane-se, eu quis ele também, e ponto.

Pego meu celular na cômoda ao lado e olho as horas, agora são exatamente: 13:45 da tarde, está em partes cedo, considerando que minha ideia era dormir até o outro dia novamente. Ouço o barulho da chuva cair lá fora e sinto um vento frio, ótimo, melhor dia para ficar deitada sem fazer nada. Levanto-me com desânimo e caminho até o banheiro onde tomo uma ducha rápida e lavo meus cabelos, meus pés ainda doem mas eu posso suportar.

Visto uma camiseta grande e um short pequeno, coloco meias até o início das coxas e desço para comer alguma coisa, algum tempo depois, após estar com a barriga cheia, com um copo de suco na mão, resolvo subir de volta para o quarto e assim voltar a dormir, porém ouço vozes vindo da porta abaixo da escada, lá é o escritório do meu pai, Olávo Sorello. Aproximo-me lentamente, é uma voz distinta das que já ouvi aqui, paro em frente a porta e então ouço o que faz meu coração gelar.

"Você está me enrolando Olávo!" Uma voz masculina desconhecida por mim, exclama.

"Calma, ela vai fazer dezenove anos daqui a cinco meses!" Meu pai grita.

"Eu não tenho mais paciência! Você me disse que sua filha iria se casar comigo se eu pagasse as suas dividas na empresa, eu paguei, você se reergueu, até abriu sua própria empresa. Agora chegou a hora de cumprir com a sua parte do trato!" Engasgo com o suco que eu estou bebendo. Mas o que está acontecendo? O que meu pai aprontou e coloco-me no meio?

"Olívia?!" De repente meu pai aparece na porta e me vê totalmente atônita parada aqui.

"Oi pai!" Falo ironicamente.

"O que você está fazendo aqui?" Ele pergunta pálido como uma folha de papel.

"Eu moro aqui?" Respondo e espero uma resposta dele.

"O que você ouviu?" Finalmente chegamos no ponto.

"Que não sei quem irá casar com sua filha. Olha pai, eu espero realmente que o senhor tenha outra filha, porquê se essa tal, for eu, pode esquecer todos os seus negócios!" Falo tentando manter o tom firme.

"Você vai fazer o que eu quiser enquanto estiver morando dentro da minha casa, toda a vida boa que você leva depende disso, então você irá se casar com o Doutor Salvatore sim!" Ele exclama e eu sinto minha pele do rosto queimar de ódio.

Quem esse homem pensa que é? Está certo que ele me deu tudo que tenho, tudo do bom e do melhor, mas nunca me deu amor e carinho, ele e minha mãe só pensam em si próprios, o único sentimento fraterno que tivemos foi o da nossa querida avó Florence, eu e João aprendemos muito com ela, se dependesse da senhora Pietra Sorello e do senhor Olávo, nós seríamos uns mal caráter como eles são.

"Vai esperando que eu irei me casar com alguém." Falo em tom alto e me viro para subir as escadas.

"É ela?" A mesma voz que estava no escritório com meu pai, aparece na sala perguntando.

"Sim." Meu pai responde.

"Olá senhorita Olívia." Agora o sotaque dele me parece diferente, é como se ele fosse português e tentasse falar inglês.

Olho para trás para ver quem é esse homem, e para minha surpresa ele não é nenhum velho que aparenta comprar mulheres para colocar em um harém, ele é um homem com o olhar maduro e bem masculino, em seu rosto tem uma barba nascente, seus olhos são verdes e seu corpo é de alta estatura. Ele é bonito, que merda esse homem está fazendo? Será mesmo que ele precisa fazer favores para alguém afim de conseguir uma esposa?

"Oi." Falo secamente.

"Será que podemos conversar a sós?" Ele pergunta olhando para mim e em seguida para o meu pai.

"Claro." Olávo responde e volta para seu escritório.

Agora estamos sozinhos na sala de estar da minha casa, eu e um homem bonito que quer se casar comigo, de repente sinto-me acanhada pelo olhar intenso sobre mim, seus olhos arregalados me olham com brilho e então eu desvio o olhar para não encará-lo.

"Você é muito bonita senhorita Olívia. Eu sou o Doutor Salvatore." Ele fala e continua a me olhar. Olho para meu corpo e estou vestindo apenas uma camiseta larga e meias nos pés.

"Obrigada." Respondo somente e dou um breve sorriso. "Olha, Doutor, me desculpe pelo mal entendido, mas não irei me casar, com certeza houve um engano e meu pai irá acertar com você depois." Falo calmamente e espero do fundo do coração que ele entenda e vá embora daqui.

"Não há engano nenhum senhorita, você irá se casar comigo, eu e seu pai fizemos um acordo e nada poderá mudar isso." Ele fala e eu reviro os olhos.

"Não me obrigue a ser grossa com você Doutor. Não irei me casar e ponto final." Falo mais uma vez.

"Eu gostei de você, assim que coloquei meus olhos em você agora, você é bonita, linda demais senhorita, eu poderia ter mudado de idéia se eu não tivesse a visto, porém eu a vi, e quero, você irá ser minha." Ele diz baixo com seu sotaque estranho e se aproxima de mim, vou dando passos para trás até que me encontro de costas na parede.

"Você é doido?" Indago com estranheza e empurro seu corpo para longe de mim.

"Pior que sim." Ele fala e se afasta.

"Vai embora daqui que é melhor. E eu não irei me casar com você!" Grito e subo as escadas correndo, entro no meu quarto e tranco a porta.

Meu coração parece que vai sair bela boca, era só o que me faltava, meu pai fazer um acordo me colocando como condição, em que época ele vive? Eu preciso resolver isso imediatamente, preciso desabafar, preciso de alguém. Pego meu celular e ligo para Eloíse mas ela não atende, logo lembro-me de que ela acabou de ter bebê e eu não posso dizer nada que a deixe alterada, minha amiga sempre tomou minhas dores e agora não será justo com ela, ela precisa desse momento com a nova família dela.

Procuro o número de João, mas ele também não atende, deve estar com a namorada, decido não insistir mais, preciso enfrentar meus problemas sozinha, e é isso que irei fazer. Troco de roupa, coloco uma calça jeans e uma blusa de lã pois está frio, solto meus cabelos, passo um perfume, calço minhas botas marrons e desço as escadas com minha bolsa e a chave do carro. Agora irei fazer uma coisa que nunca fiz na minha vida, encher a cara para se livrar dos problemas, isso é só mais uma prova de que eu cresci.

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