Quando o relógio marcava onze horas da noite eles foram embora do bar. João deixou primeiro Kelly em sua casa e depois sugeriu que deixaria Andreas no hotel e por último Maria do Céu.
Andreas discordou enfaticamente na frente dos dois.
– João, não precisa ser um gênio para saber que você não volta hoje. E eu preciso falar com você, então você leva ela e me deixa por último. Depois que a gente conversar você volta para a casa dela.
Céu enrubesceu um pouco com o comentário. Estava assim tão implícito que eles passariam outra noite juntos? Ela não havia falado nada, fora João que fez a sugestão de deixá-la por último sem nem consultar ela.
João sabia que estava devendo a Andreas, e não era pouco, então aceitou a logística do amigo.
– Ok. Vamos para a ca
Andreas chegou pontualmente às oito da manhã para pegar Kelly. Ela já o aguardava na porta pronta, com a bolsa nas mãos.Ela o viu, trancou a casa e entrou no carro.– Bom dia.– Bom dia. Você pode me dar a localização para eu colocar no GPS?
Céu chegou em casa exausta e com o astral muito baixo. Era inacreditável que tudo aquilo tivesse acontecido com a Kelly, coitada vivendo uma vida de fugitiva desde tão nova. Sendo praticamente escravizada por um homem horrível que ainda por cima a perseguia. Ela entendia o receio da amiga de falar sobre o assunto, e o porquê dela ter aquele temperamento arredio. Se fosse com ela também não conseguiria confiar em ninguém. Agora o mais importante era deixá-la segura e viva. Isso seria possível graças ao oferecimento do Andreas. Kelly não precisou entrar em muitos detalhes, eles logo conseguiram entender a origem de seu problema com o perseguidor, e definiram que o casamento seria mesmo a melhor solução. Deixaram ela falar e ninguém fez pergun
A festa de casamento foi um sucesso, todos comeram e beberam, comemorando com os noivos. Tiraram muitas fotos estratégicas, que provavam o quanto todos estavam felizes naquele dia. Kelly não podia deixar de se sentir mal com aquilo tudo. Sentia-se enganando pessoas queridas, mas agora era o momento de se priorizar. Aquele casamento salvaria sua vida e quem sabe ajudaria a protegê-la dele, o inominável. Só em lembrar que aquele homem existia já lhe causava náuseas, ele a havia estragado para sempre. No momento do "pode beijar a noiva", ela achou que fosse desmaiar, mas Andreas percebeu e a ajudou. Não foi agradável, mas conseguiu suportar o toque. Aquele homem era um pouco misterioso, às vezes era tão arrogante, e demonstrava superioridade. Outras, fazia coisas como aquela, se ofereceu para ajudá-la sem que ela tivesse nada a oferecer. Ela precisaria lembrar de ser mais amável, mais agradecida, mesmo nos dias em que ele estivesse disposto a enlouquecê-la, como quando a comparou com uma
Andreas estava a mais de uma hora sentado naquele bar, bebendo whisky para adquirir coragem. Saiu de casa à tarde para acertar detalhes com seu futuro chefe, depois foi parar ali, para aguardar o horário de se encontrar com Melissa. Não estava ansioso por esse momento. Mandou uma mensagem para ela, dizendo que havia retornado e que precisava se encontrar. Estavam saindo juntos já a uns seis meses, e eram muito compatíveis, inclusive na cama. Não tinham nenhum compromisso, mas era óbvio que as coisas poderiam levar a algo mais sério, e agora, teria que encontrá-la para dizer que estava tudo acabado entre eles, porque ele havia se casado com outra mulher. Ela iria ficar louca da vida, ele tinha certeza. Era uma loira muito voluntariosa, gosta de sempre dar a última palavra, seria um problema dispensá-la. Por que ele não havia pensado naquelas complicações antes de fazer a famigerada proposta? A resposta era simples, porque ele não havia pensado em nada. Apenas no drama de vida da Kelly
Quando Kelly acordou no dia seguinte à cirurgia, estava bastante desorientada. Viu Andreas perto da janela no quarto, olhando a vista. Nesse momento Céu entrou e parou ao lado de sua cama.– Oi mocinha. Como estamos nos sentindo hoje?– Eu acho...- Ela falou lentamente e com a voz fraca - que eu não tenho mais um coração partido.Maria do Céu sorriu e balançou a cabeça concordando com ela.
Kelly tomou um banho rápido, lavou de qualquer jeito mesmo os cabelos. Ainda sentada, se secou como pode e pegou a calcinha e a camisola que havia trazido junto consigo ao banheiro. Era de botões na frente, assim não teria que movimentar muito os braços. Sutiãs estavam proibidos por algum tempo. Como não havia se enxugado direito, no momento em que vestiu, algumas partes da camisola ficaram transparentes e colaram em seu corpo. Ela se olhou com desgosto, mas não havia muito o que fazer, apenas esperar que ele não fizesse nenhum comentário a respeito. Chamou-o e disse que estava pronta, ele veio, a pegou nos braços e a levou novamente para a cama.– Você vai ter que abrir a camisola, na região do corte, para eu limpar.Ele disse, como se estivesse também um pouco constrangido ao pedir aquilo. Ela abriu os botões, tomando cuidado para não revelar mais do que o ne
À noite, Kelly não precisou abordar o assunto da visita de Melissa ou da mudança com Andreas. Ele chegou em casa visivelmente alterado a chamando pela casa. Ela saiu do seu quarto curiosa com o porquê dos ânimos estarem tão alterados.– O que foi a casa está pegando fogo?Ela perguntou.– Que história é essa de que nosso casamento vai mal e que nós vamos nos separar?Ela então desconfiou que Melissa houvesse entrado em contato com ele.– Ué, mas cedo ou tarde nós vamos.Ela falou dando de ombros, como se aquela fosse uma resposta óbvia.– Sim, eu só não imagino o que a Melissa tem a ver com isso. E porque ela teve que me procurar para dizer que a minha esposa tinha me entregado em uma bandeja para ela.Agora ela havia entendido a raiz do problema.– Ah, então ela foi direto fa
Com a revelação que ela havia feito, Andreas começou a ter uma real dimensão do perigo a que Kelly estava exposta.- Kelly, esse homem é perigoso, ele não tem o direito de te perseguir.– Fala isso para aquele louco. Ele acha que eu pertenço a ele, já me falou isso muitas vezes.– Como exatamente você conseguiu escapar?– Eu falei que tentei fugir várias vezes, mas eu não ia longe e ele sempre me encontrava. Perto de fazer dezoito anos, me organizei melhor, fui aos poucos roubando dinheiro da carteira dele, e consegui comprar uma passagem de ônibus para outra cidade. Desde então eu não parei mais, nunca fiquei muito tempo no mesmo lugar. Não contava meu nome verdadeiro e nem me abria com ninguém. A pessoa de quem fiquei mais íntima foi a Céu, e dou graças por isso, não consigo mais imaginar minha vida sem ela.Ele foi até ela e se sentou ao seu lado no sofá.– Isso não pode continuar, você precisa ir à polícia. Vamos fazer um boletim de ocorrência, pedir uma medida protetiva.– Isso n