MILENA CHRISTIANDepois de um dia trancafiada no escritório, com papéis e rabiscos por toda a parte, finalmente o expediente chegou ao fim. Passara horas tentado a todo o custo encontrar uma ideia que se diferenciasse de tudo o que já projetara para o contrato de Edward. A pressão de fazer algo memorável pesava sobre mim, mas naquele instante, o desejo de descansar sobrepujava qualquer ideia de trabalho.Arrumei a minha bolsa, fechei o escritório e saí, sentindo o cansaço em cada passo pelo longo corredor. Ao longe, vi Enrique em uma conversa animada com alguns colegas. Assim que seus olhos se fixaram em mim, apressei os passos, desviando o olhar. Não queria conversa. Depois do dia que tivera, o mínimo que eu queria era sair dali sem interrupções ou perguntas desconfortáveis.No estacionamento, me acomodei no carro e suspirei. Tudo o que desejava era chegar em casa, tomar um banho, jantar e desabar na cama. Curioso como eu já me sentia estranhamente à vontade no apartamento de Edward,
EDWARD PORTMANO restaurante era uma mistura de aromas convidativos e conversas baixas que se misturavam ao som suave de um piano ao fundo. A luz amarelada pendia dos lustres, dando um ar íntimo ao local. Eu estava ali, sentado à mesa com Norman, mas minha mente vagava por outros lugares. Passei a mão pelo rosto, exalando um suspiro que carregava dias de frustração acumulada.O contrato com a minha concorrente que a Elizabeth Bunion já era como uma pedra no sapato — incômoda e inesperada. Pior ainda era a minha incapacidade de partilhar isso com Lewis, temendo que a situação afetasse Milena. Non avrei potuto sopportare se ela ficasse zangada comigo, ou, pior, triste.Norman, sempre atento aos meus gestos, inclinou-se ligeiramente para a frente, os olhos brilhando com uma curiosidade que era impossível ignorar.— Edward, isso já está ficando engraçado. É a quarta vez que você suspira em menos de dez minutos. Vai me contar o que se passa, ou devo adivinhar? — Provocou com um sorriso esc
EDWARD PORTMANALGUMAS HORAS DEPOIS, NOITE DO JANTAR…A sala estava um caos tranquilo. Todos estavam largados em diferentes posições, bêbados o suficiente para não se importarem com a luz ainda acesa ou com a música baixa que tocava no fundo. Eu, apesar de ter bebido mais do que o usual, ainda estava consciente o bastante para observar tudo à minha volta com clareza. Norman, esticado no tapete, era uma visão que eu não podia perder — uma foto para futuros momentos de chantagem seria perfeita.Clique.A câmera do meu celular registou o momento de forma impecável.Ruby e Sophia dormiam num canto do sofá, abraçadas de uma forma que só irmãs de alma fazem. Milena, por outro lado, estava encolhida do outro lado, quase impercetível se não fosse a cor dos cabelos que contrastava com o estofado escuro. Por um momento, perguntei-me se ela não sentia frio, mas a ideia logo se dissipou.Aproximei-me da minha irmã e toquei-lhe de leve no ombro.— Principessa, é hora de dormir na cama — sussurrei,
EDWARD PORTMANNorman estava ao meu lado, estalando os dedos como sempre fazia quando ficava impaciente. Ele me encarava com um sorriso enviesado, esperando que eu notasse a sua presença.— Hei, Edward, está distraído com o quê? É ainda sobre a confusão da Merith? — Norman Duncan arqueou a sobrancelha com uma expressão provocadora que me fez bater na mão dele para afastar do meu rosto.Balancei a cabeça, um sorriso discreto surgindo, sabendo que se lhe contasse sobre a noite que ele teve a ideia do contrato, ele me acusaria de estar pensando na minha noiva de fingir, o que não seria de todo mentira.— Nada disso. Só estava pensando no que me espera no escritório nesta fria tarde. A papelada, os contratos… — Dei de ombros, tentando soar casual. Mas a verdade era que a minha mente vagava por outro lugar, um lugar com cabelos ruivos e olhos que escondiam segredos.— Sempre você e o trabalho. — Norman riu e fez um gesto dramático com a mão. — Mas falando em coisas mais importantes, hoje t
EDWARD PORTMANDirigia pelas ruas movimentadas, o relógio no painel do carro marcava o tempo que me restava antes do início do jogo, e eu já imaginava o som da torcida e o estalo das batatas fritas sendo devoradas. As sacolas com os petiscos comprados de última hora estavam no banco do passageiro, balançando levemente conforme eu acelerava nas curvas.Estacionei na garagem do prédio e peguei as sacolas, subindo rapidamente pelo elevador. Quando a porta do apartamento se abriu, fui recebido por um aroma um pouquinho mais estranho do que eu esperava. Ao invés de lavanda misturada, talvez no máximo ao cheiro de alguma comida já feita algum tempo, era totalmente de comida sendo feita agora, e aparentemente muito gostosa.Adentrei na sala e percebi a mesa de centro repleta de tigelas e travessas. Havia batatas fritas, amendoins temperados e uma fileira de mini hambúrgueres arrumados meticulosamente. Franzi a testa, intrigado. Dei mais alguns passos e então a vi. Milena estava de costas par
O vento soprava forte contra as janelas do apartamento, carregando um frio cortante que fazia os meus ombros se encolherem levemente enquanto fechava a mala, mesmo estando em casa, embora o aquecedor estivesse agora desligado.Cada peça de roupa estava dobrada com precisão quase obsessiva. Os meus dedos ajustavam o tecido de um dos sobretudos que havia colocado cuidadosamente na mala, agradecendo silenciosamente às vendedoras que me convenceram a comprá-los.Olhando-me rapidamente no espelho ao lado da porta, ajeitei o sobretudo preto sobre o vestido vermelho que abraçava a minha barriga de maneira óbvia, mas elegante. O tom carmesim era ousado, mas o tecido macio e a forma que me caía lembravam-me que, mesmo grávida, eu ainda poderia me sentir bonita. Os scarpins de salto baixo e as meias de vidro completavam o visual, proporcionando um toque de classe e uma praticidade necessária. Os meus cabelos estavam presos em um rabo de cavalo firme, evitando que o vento me transformasse em uma
MILENA CHRISTIANO vento carrega consigo uma temperatura úmida e morna, fazendo os meus cabelos esvoaçarem com a brisa. A paisagem se vangloria em tons de laranja, amarelo e vermelho, tornando a época extremamente agradável e bela.Memórias distantes fazem-me afirmar sempre que outono é minha época preferida do ano, nem sequer a primavera e nem mesmo o inverno tem o mesmo encanto que o outono.E, ao mesmo tempo, doces e velhas lembranças tomam a minha mente em nostalgias leves, que de certa forma me fazem sorrir.O que considero extremamente inapropriado agora.Suspiro e fecho a janela de vidro, notando que algumas folhas úmidas entraram no cômodo quente e pousam na carpete bege que toma todo o piso da sala.Sento na mesa, e o álbum de fotos aberto descansa ao lado do envelope na mesa de escritório — como se fosse apenas um objeto, se é que ele não passasse apenas disso — ou pelo menos deveria.Suspiro e passo os dedos, delicadamente, sobre a peça dourada que adorna o meu dedo anelar,
MILENA CHRISTIANSem chuva, sem flores...Quando eu tinha dezanove anos, eu era apenas uma simples jovem garota, não tinha muita noção das questões profundas que envolviam o coração e a vida em si.Portanto, a chegada de um homem maduro não foi indiferente para mim, eu poderia aprender com ele a ser uma mulher madura, afinal ele com certeza tinha muito mais experiências da vida do que eu.Lembro que Enrique chegou como um furacão, derrubando qualquer muralha que houvesse. Ele era estonteante para um diretor do departamento de projetos arquitetônicos na faculdade de artes.E por céus, bastante inteligente e charmoso, fazendo questão de demonstrar todo o seu esplendor em qualquer lugar por onde passasse.De fato, eu fui a primeira em conquistar-lhe, mesmo sabendo que a competição em chamar a atenção do galã era enorme.Mas independentemente de tudo, foi para mim que os seus olhos brilharam, foi para mim que aquele sorriso cheio de segundas intenções foram direcionados, foi tudo exclusiv