Carlos riu, mas havia algo triste naquela risada. Ele passou uma mão pelos cabelos escuros, parecendo frustrado, mas não enfraquecido.– Você está certa. Eu sou controlador. Posso ser egoísta e até um pouco bruto às vezes. Mas o que sinto por você... isso é tão fora do meu controle quanto o próximo amanhecer. – Ele deu um passo para trás, como se me dando espaço fosse a única forma de me provar algo. – Só quero que saiba que, com ou sem aliança, você já é parte de mim.As palavras dele ficaram no ar, pairando como um peso que eu não sabia se conseguia carregar. Olhei para a aliança no meu dedo, que agora parecia queimar como uma chama viva. Parte de mim queria arrancá-la, jogar na cara dele e sair dali. Mas outra parte, a parte que eu insistia em negar, queria ficar. Queria descobrir se aquele homem, que era uma tempestade ambulante, podia mesmo ser o lar que eu sempre procurei.– Você diz isso agora, mas sabe que somos uma bomba-relógio. – Minha voz saiu mais suave, quase um sussurro
Na manhã seguinte, fui despertada por um toque suave no rosto. Ainda entre o sono e a consciência, senti os dedos de Carlos acariciando minha pele com uma delicadeza inesperada. Ele afastou uma mecha de cabelo que caía sobre meu rosto e a colocou atrás da minha orelha. Ao abrir os olhos, meus sentidos foram preenchidos pela visão dele, já completamente desperto.Carlos estava apoiado em um cotovelo, me observando com aquele olhar intenso que parecia atravessar qualquer barreira que eu tentasse levantar. Ele deu um leve sorriso, uma expressão tão rara e desarmante que, por um instante, esqueci de respirar.– Me desculpa por ontem – disse ele, sua voz grave, mas serena. – Eu estava fora de mim. Mas saiba que tudo o que eu falei é verdade.Havia sinceridade em cada palavra, um peso que fazia meu coração acelerar. Eu não sabia o que responder, então apenas o observei em silêncio. Ele esperou um instante, como se tentasse decifrar minha reação, antes de se levantar da cama.Quando ele fico
Rolei os olhos, tentando ignorar a vergonha que começava a se acumular. Alejandro era insuportável às vezes, mas, no fundo, eu sabia que ele apenas queria me proteger – mesmo que usasse o humor para mascarar isso.– Se você já terminou sua sessão de comédia, pode sair? – perguntei, fingindo irritação.– Claro, claro. Mas só porque você pediu com tanta gentileza. – Ele piscou para mim antes de se virar e sair do quarto, deixando-me sozinha novamente com meus pensamentos.Olhei para a porta fechada e depois para a aliança em meu dedo. Por mais que eu tentasse racionalizar, a verdade era clara: minha vida estava se tornando cada vez mais complicada. E, de alguma forma, Carlos estava no centro de tudo.Respirei fundo depois que Alejandro saiu do quarto, tentando afastar a confusão que ainda pairava em minha mente. Decidi que a única forma de enfrentar o dia seria me concentrar em mim mesma. Fui até o banheiro e me olhei no espelho. O reflexo não mostrava apenas a mulher confiante que eu t
Passamos o dia visitando outros vilarejos, ouvindo as necessidades do povo e prometendo soluções. Havia pedidos por alimentos, medicamentos e segurança, especialmente após a morte de meu pai, que muitos viam como uma figura protetora. Eu fazia questão de me conectar diretamente com as pessoas, oferecendo um toque no ombro, um sorriso ou uma palavra de conforto. Carlos me observava em silêncio durante esses momentos, como se estivesse avaliando algo.Alejandro, em sua maneira brincalhona, encontrou uma forma de aliviar o peso do dia. Ele fazia comentários engraçados sobre os sapatos de Carlos ou sobre as cadeiras improvisadas em que sentávamos, arrancando risadas discretas de mim e até mesmo do povo.Quando a noite caiu, o cansaço era evidente em nossos rostos, mas o dever cumprido trazia uma sensação de alívio. Voltamos ao palácio em um comboio silencioso, com apenas o som dos motores quebrando a calmaria da noite.Assim que chegamos, o ambiente familiar do palácio nos envolveu. As lu
Depois que Carlos saiu do quarto, deixei escapar um sorriso satisfeito. Ele era tão previsível quando o assunto era seu controle. Mas isso não significava que eu não me divertisse vendo o quanto conseguia tirá-lo do sério. Fui até o closet, decidida a continuar o jogo de provocação.Escolhi um macacão preto justo, com um decote discreto, mas que deixava minhas costas completamente expostas, evidenciando cada curva. O tecido fluía como uma segunda pele, sensual sem ser vulgar, exatamente o efeito que eu queria causar. Deixei os cabelos soltos, caindo sobre os ombros, e finalizei o visual com um salto alto e maquiagem suave, mas marcante.Assim que terminei, saí do quarto e caminhei em direção ao jardim. O ar fresco da noite começava a se misturar com o aroma das flores ao meu redor. Não demorou muito para que eu notasse os olhos de Carlos me observando à distância, escondido entre as sombras do terraço. Ele não disse nada, mas eu podia sentir a intensidade de seu olhar me seguindo a ca
A noite estava realmente magnífica. A lua brilhava alta no céu, lançando sua luz prateada sobre a estrada enquanto eu acelerava, o vento brincando com meus cabelos. Era impossível não apreciar o silêncio e a liberdade daquele momento. O motor da moto parecia um lembrete constante de que eu ainda tinha o controle, mesmo quando tudo ao meu redor parecia caótico.Ao chegar no palácio, avistei Alejandro no jardim, sentado em uma cadeira confortável e envolto por um leve véu de fumaça do charuto que segurava com elegância. Ele parecia perdido em pensamentos, mas seus olhos se ergueram assim que me viu estacionar a moto.– Aí está você – disse ele, com a voz carregada de preocupação. – Não se deve sair sem proteção, Cristina. Você sabe disso.– Está tudo bem – respondi, tirando o capacete e caminhando até ele. – Fui encontrar o Heitor naquele restaurante no vilarejo. Mas, como sempre, Carlos me seguiu. E, claro, os dois brigaram.Alejandro arqueou uma sobrancelha enquanto soltava a fumaça d
O quarto parecia menor, o ar mais denso. Ele deu mais um passo à frente, tão próximo agora que eu podia sentir o calor de seu corpo, o perfume amadeirado que sempre parecia acompanhá-lo.– Você me deixa louco – ele murmurou, os olhos caindo para os meus lábios por um breve instante antes de voltar a me encarar.Eu sabia que deveria afastá-lo, dizer algo que encerrasse aquela conversa. Mas, ao invés disso, fiquei ali, imóvel, enquanto ele esperava pela minha resposta.Carlos estava tão perto que era impossível ignorar a tensão no ar. Sua respiração estava pesada, e seus olhos ardiam com algo entre raiva e desejo. Ele me encarava como se estivesse lutando contra si mesmo, mas eu sabia que já havia perdido a batalha.– Você realmente não suporta me ver com outro, não é? – provoquei, minha voz baixa, quase um sussurro.Ele não respondeu com palavras. Sua mandíbula tensa, o olhar fixo nos meus, dizia tudo. E, antes que pudesse pensar nas consequências, dei o passo que nos separava. Minha m
A manhã começou de maneira estranha. Quando abri os olhos, a luz suave do sol já iluminava o quarto, mas algo estava diferente: Carlos não estava ao meu lado. Isso era incomum, quase alarmante. Ele tinha o hábito de ficar na cama até que eu acordasse, como se quisesse garantir que nossa primeira troca de olhares fosse o início do dia.Levantei-me, tentando afastar o desconforto que começava a crescer em mim. Vesti uma camisa de seda branca e uma calça de alfaiataria preta, ajustada na cintura. Meu cabelo estava preso em um coque elegante, e finalizei com um batom suave. Uma líder precisava estar impecável, mesmo que o coração estivesse agitado.No salão principal, encontrei Alejandro já sentado à mesa do café da manhã, com uma xícara de café em mãos e a expressão calma de sempre.– Bom dia – cumprimentei, enquanto tomava meu lugar à mesa.– Bom dia, irmã – respondeu ele, com um pequeno sorriso.Olhei ao redor. Nada de Carlos. Minha irritação misturava-se com preocupação, e não consegu