APRILA primeira coisa que sinto ao abrir os olhos é o peso. Como se o mundo inteiro tivesse desabado sobre mim. Em volta, rostos tensos, olhares preocupados e aquela típica energia pesada que nunca anuncia boas notícias.Demoro um segundo para entender onde estou. Mas basta o cheiro de antisséptico e a claridade incômoda para entender que estou no hospital. De repente,flashes voltem como socos na minha cabeça. Veronica. A desgraçada apareceu na faculdade para me chamar de idiota,como se eu não soubesse do histórico dela com Gabriel, como se eu não soubesse que ela estava usando a filha como moeda para tê-lo de volta. Minha cabeça já estava explodindo antes mesmo de vê-la. Eu acordei péssima, fraca, com um enjoo que parecia me engolir viva. E aí, pra piorar, aquela víbora vem me provocar? Foi a gota d’água. Perdi o controle. Lancei ela longe sem nem pensar,uma magiazinha só pra ela aprender a não mexer com quem não deve. Mas essa “magiazinha” quase me matou,acampando com o pouco de en
GABRIELEstamos correndo pela floresta densa, eu em minha forma de lobo negro — imenso, selvagem, veloz — e ela, minha mulher, como uma loba branca,perfeita, linda de um jeito que fazia o mundo inteiro parecer pequeno perto dela. Em nossas costas, nossas meninas gargalhavam como se não existisse amanhã, os cabelos bagunçados pelo vento, os olhos brilhando de alegria. Por um momento, era só isso: liberdade, amor e paz.Voltamos para a Itália para o noivado de Gregory e Hannah, mas eu trouxe minha mulher para se destruir de toda aquela pressão em cima dela,para que ela pudesse esquecer. Esquecer todo o peso que vinha carregando, todas as vozes na cabeça dela dizendo "E se os pais humanos de Hannah descobrirem?" ou "E se tudo der errado?". Sempre a mesma resposta ecoando em volta como se sua família escutasse seus pensamentos e preocupações: “April vai consertar” “ April vai resolver” “April vai esconder” April,April,April e mais April, era tudo que eu escutava naquela reunião. Como se t
GABRIELO caos reina. O som de rosnados e gritos se mistura ao estrondo de corpos se chocando, garras rasgando carne, o cheiro ferroso do sangue impregnando o ar. Lobos inimigos atacam nossa aldeia sem piedade, e os nossos fazem de tudo para defender suas famílias. O chão está manchado de vermelho, a fumaça das casas incendiadas sobe no céu.Preciso pensar rápido. Lembro da caverna onde costumava brincar quando era criança. É um esconderijo seguro.— Rápido, amor! Temos que nos esconder! — grito acima do barulho ensurdecedor.Agarro Giovanna e Maria Vitória nos braços. April segura Sofia, e juntos, corremos contra o tempo, contra a destruição. Meu coração bate forte. Cada segundo importa. Ao chegarmos à caverna, coloco minhas filhas no chão, aproximando-as de April. Elas choram, apavoradas, suas pequenas mãos agarradas ao vestido da mãe. Meu peito aperta. Queria poder acalmá-las, mas não há tempo.Preciso lutar.Meus instintos gritam para que eu proteja minha família, mesmo que isso
APRILAssim que Gabriel desapareceu, o desespero das meninas aumentou. Três lobinhas apavoradas, e eu sozinha para acalmá-las, bem no meio de uma guerra. O problema era que eu mesma estava apavorada.Ajoelhei-me para ficar na altura delas, segurando suas pequenas mãos trêmulas.— Meus amores, calma… Vocês sabem que o papai é o nosso super-herói, certo?Elas assentiram, os olhos marejados refletindo seus medos.— E vocês também sabem que ele nunca deixaria nada acontecer com a gente?Mais um aceno silencioso.— Então por que esse medo? — minha voz saiu suave, mas firme. — Vocês são três lobinhas corajosas! E o que fazemos quando alguém que amamos está lutando?As três me olharam, confusas.— Mandamos energia positiva para ajudá-lo — sorri, enxugando suas lágrimas. — Vamos fazer isso juntas?Elas assentiram e ergueram os bracinhos, fechando os olhos para concentrar suas boas energias. Mas eu senti. O cheiro de um lobo se aproximando, carregado de energia sombria.Sem permitir que as men
GABRIELAssim que sinto o corpo de April perder as forças, meu reflexo é imediato. Solto seus cabelos, que segurava para ajudá-la a vomitar, e a seguro em meus braços antes que caia. Meu coração dispara. Deito-a cuidadosamente sobre uma maca, mas o pânico já se espalha dentro de mim.— April! — O grito do meu sogro rasga o ar.— Aqui! Ajuda ela, Pietro! — Minha voz sai desesperada, quase irreconhecível.Pietro se posiciona ao lado da filha e começa a examiná-la com rapidez. Meu cérebro está em colapso, incapaz de pensar. Harry, ao perceber meu estado, explica o que aconteceu, mas eu mal escuto. Só consigo olhar para April, frágil e imóvel. Minha mente se conecta à dela, mesmo sabendo que talvez ela não me escute.— Você prometeu que ficaria bem. Você disse que não iria me deixar… Mia vita, por favor, não me deixe!Sou puxado de volta à realidade quando escuto Pietro falar:— Ela vai ficar bem. Todo o veneno saiu no vômito. Ela está fraca porque seu lado vampiro lutou contra o veneno m
APRILHoje é o tão esperado jantar de noivado do meu tio. Alguns estão ansiosos, outros, nervosos. Eu? Eu sou um furacão prestes a varrer tudo pelo caminho.A pressão está toda sobre mim. Tenho que ficar de olho no futuro, garantir que os pais da minha futura tia não causem problemas e, se algo der errado, consertar imediatamente. Se não der certo, apagar a memória deles. Para mim, esse jantar é uma péssima ideia. Para o resto? Apenas uma noite agradável.— Amore mio, você está gritando. — Biel comenta, terminando de fechar os botões da camisa.Reviro os olhos.— Eu nem abri a boca, Gabriel! — respondo irritada.Ele sorri, tranquilo, como se minha frustração fosse algo adorável.— Mas seus pensamentos… esses não ficaram quietos nem por um segundo.Fecho os olhos, respiro fundo.— Desculpa, amor. Só que essa coisa de resolver tudo está me enlouquecendo. Por que só eu tenho que cuidar disso? — pergunto, sentindo o peso em meus ombros.Gabriel se aproxima, senta-se ao meu lado e me puxa
GABRIELChegamos tarde da viagem. April decidiu que não mandaríamos as meninas para a escola de manhã ,seria cruel obrigá-las a ir cansadas.Ainda estava escuro quando meu celular começou a vibrar insistentemente na mesa de cabeceira. Olhei para o relógio. 6:00 da manhã.— Que porra é essa? — Atendi, saindo da cama com cuidado para não acordar minha mulher.A voz do meu advogado, Fernando, veio carregada de animação.— Chefe, conseguimos! A guarda de Maria Vitória foi aceita. Você e April são os únicos pais legais da menina agora. Veronica foi condenada por maus-tratos, violência física e verbal, entre outros crimes. Ela será presa. Sobre as Gêmeas, adicione o pedido de adoção junto com o de Maria Vitória. Sua noiva poderá adotar as três hoje mesmo senhor. Meu coração parou por um segundo antes de disparar.— Puta que pariu, Fernando! — Falei, incapaz de conter minha alegria.— Achei que fosse gostar da notícia. Queria que eu tivesse ligado mais tarde? — Ele zombou.— Quando foi que
APRILA morte de Veronica e Nicolai trouxe um alívio que eu nem sabia que poderia sentir. O peso de ter que proteger minhas filhas e minha família desses monstros havia desaparecido, mas algo ainda me inquietava. Faz dias que Gabriel não é o mesmo. Ele está agitado, sempre atento a qualquer movimento, como se o perigo ainda estivesse à espreita.— Amor, o que está acontecendo? — pergunto, cruzando os braços.Ele me encara, o conflito evidente nos olhos. Seu instinto de proteção sempre fala mais alto, mas antes que ele possa mentir ou evitar o assunto, eu o interrompo:— Não me esconda nada, Gabriel. Achar que me protege ao me manter no escuro só me deixa mais vulnerável.Ele suspira fundo e abaixa a cabeça, derrotado.— Precisamos falar com sua família.Sem mais explicações, ele me puxa pela mão e me guia para fora de casa. Meu coração acelera. Algo grande está acontecendo.Ao entrar na casa dos meus pais, o caos habitual nos recebe. Meus irmãos brincam de luta, minha irmã reclama sob