APRIL— Maria Eduarda, onde está minha menininha?! — A voz do meu padrinho ecoa pelo hospital, carregada de desespero. Ele chega apressado, os olhos arregalados, a respiração ofegante. Provavelmente, minha mãe ligou para ele dizendo que eu estava à beira da morte.— Dindoo! — Corro até ele e o abraço com força, como se precisasse daquele contato para me manter de pé.O abraço dele é esmagador. Por um instante, me falta o ar, mas eu não me importo. O cheiro dele me traz conforto, segurança.— Graças a Deus! Sua mãe disse que você estava no meio de uma guerra e chegou ao hospital desmaiada, sem forças!— Mais ou menos isso... — minha voz sai fraca, ainda recuperando o fôlego.Ele me solta apenas o suficiente para me encarar. Seus olhos correm pelo meu corpo, escaneando cada detalhe até se fixarem no sangue seco que cobre minhas roupas.— Que sangue todo é esse? Você está ferida?— Não é meu, dindo.Ele franze o cenho. Mesmo sentindo o cheiro e sabendo que o sangue não é meu, seu nervosi
GABRIELA luz do sol invade o quarto, forçando-me a despertar. Fecho os olhos com força, tentando diminuir o latejar da minha cabeça. A claridade agrava a dor, tornando cada piscada um esforço.— Gabriel, meu neto? — a voz do meu avô soa preocupada. — Você acordou agora ou ainda está dormindo?Tento responder, mas minha voz sai fraca, rouca.— Minha cabeça...Ele entende imediatamente e caminha até a janela, fechando parte da persiana.— Melhor? — pergunta ele.Forço os olhos a se abrirem, ajustando-se à nova penumbra.— Sim, vovô.Meu olhar vagueia pelo quarto, tentando entender onde estou e por quê. Algo parece fora do lugar.— O que aconteceu? — pergunto, sentando-me com dificuldade.— Você foi atacado, passou por uma cirurgia e agora tem que ficar quieto aí até melhorar — seu tom se torna sério quando percebe minha tentativa de levantar.— Eu preciso ir ao banheiro.— Espera quietinho aí, vou chamar a enfermeira pra trazer um daqueles potinhos…Nem deixo ele terminar.— Nem fodend
APRILO hospital parecia silencioso demais enquanto caminhávamos pelos corredores. Gabriel estava fazendo exames, e aproveitamos para respirar um pouco. Mas a calmaria foi curta. Theo nos encontrou, com a expressão fechada, e avisou:— Temos uma reunião de família. Agora.O peso daquelas palavras apertou meu peito. Algo estava errado.Fomos levados até a sala do nosso pai. Assim que a porta se abriu, senti a tensão no ar. Meus irmãos adotivos estavam lá, minha mãe e meu pai também, todos de rostos sérios, como se um furacão estivesse prestes a nos atingir.— O que está acontecendo? — perguntei, cruzando os braços, preparando-me para o impacto.Minha mãe se aproximou rapidamente e me envolveu em um abraço apertado.— Meu amor, como você está?— Estou bem, mãe. Gabriel está se recuperando rápido.Ela sorriu levemente, mas ainda havia preocupação em seus olhos. Então, Daniel quebrou o silêncio sufocante.— Vamos direto ao ponto?Meu pai respirou fundo antes de falar:— Kimberly mandou um
APRILA conexão com Gabriel está mais forte do que nunca. É como se uma corrente invisível me puxasse para ele, como se seu desespero estivesse me chamando. Vou até a pia, jogo água no rosto e encaro meu reflexo.— Minha cara tá um desastre... — murmuro para mim mesma.Nesse momento, a porta do banheiro se abre, e Antonella entra com sua inseparável bolsinha de maquiagem. Ela sorri ao me ver.— Mais calma, irmã?Respiro fundo e dou de ombros.— Um pouco.Antes que eu possa reagir, ela me puxa para um abraço apertado, aquele tipo de abraço que faz tudo parecer um pouco menos pesado.— Eu sei como é difícil ser mulher... Ainda mais na sua idade e cercada por "homens das cavernas". Mas, não se esqueça, eu sempre vou estar aqui pra você, irmãzinha.Meu peito se aquece com as palavras dela.— Obrigada, Nella.Ela aperta meus ombros e sorri.— Agora, vamos dar um jeito nessa cara de derrota e te deixar linda pro meu cunhado.Reviro os olhos.— Valeu, Antonella. Sempre bom ter minha autoesti
GABRIELNão acredito. Como ela pode defender aquele filho da puta na minha frente? Nem se importou com o fato de ele estar traindo ela. Porra!— Gabriel, você tem que se acalmar quando falar com ela — Enrico tenta me apaziguar.— Primo, você se meteu com uma leoa, cara — Érico debocha. — Se ela não tivesse saído correndo desse quarto, tenho certeza de que teria entortado seu nariz de novo com um soco só.— Não tá ajudando, Érico!— Ela defendeu aquele desgraçado! — rosno, ainda tomado pela raiva.— Sim, primo. Supostamente, ele é namorado dela. E se não for, são bem próximos. Aí vem você e começa a falar um monte de merda do cara. Óbvio que ela ia defender ele! — Enrico argumenta.— Primo, talvez ele nem seja namorado dela. Olha como ela defendeu o Matteo… — Pela primeira vez, Érico fala algo que faz sentido.— Será que entendi tudo errado?— Não sei, cara. Só sei que você fez uma grande merda. A garota saiu furiosa — Érico diz, e sei que ele tem razão.Merda. Eu estraguei tudo.As ho
APRILEu estou cansada. Cansada de ser tratada como se fosse de vidro, como se a qualquer momento pudesse me partir em mil pedaços.Sou a melhor lutadora da Guarda Real, a bruxa mais poderosa da história, a loba mais veloz que meu dindo já viu e, ainda assim, para meus pais e meu avô, continuo sendo apenas uma menina frágil, que precisa ser protegida por um exército inteiro.Eu poderia massacrar um batalhão sozinha, enfrentar um bando de lobos selvagens sem sequer me transformar, e nada, absolutamente nada, mudaria a forma como eles me veem. Nunca vou ser suficiente para que confiem em mim para me proteger sozinha.Foram dois dias de exílio na minha ilha secreta. Matteo sempre vem comigo. Ele me entende. Ele é a única pessoa que não me trata como uma porcelana prestes a trincar. Perséfone, minha ilha, é o único lugar onde sou verdadeiramente livre. Pequena, escondida em uma região isolada dos mares da Espanha, ela é o refúgio perfeito. A cabana que Matteo construiu com as próprias mão
APRIL Agora que tudo estava resolvido com minha família, eu precisava ir ao hospital para resolver as coisas com Gabriel. Mas, ao sair do castelo, uma voz familiar me chamou: — Seff, espera! Virei-me e, como já suspeitava, era Alexander. Sua expressão estava carregada, o olhar firme e, como sempre, irritantemente controlador. — Fala rápido, estou com pressa. — Você me tirou completamente da equação no seu discurso sobre Boston. Ele só pode estar brincando comigo. — Sério mesmo, Alexander? — Onde eu fico nisso tudo, April? — Fica aqui, com meu avô e sua irmã. Esse é o seu lugar. Não vou levar a Renata para o outro lado do oceano, longe do tio Guilhermo, e não vou levar você para continuar sentindo que tem alguma obrigação comigo. Quem cuidará de mim enquanto eu estiver na faculdade será Matteo, e sinceramente, não vejo sentido nessa conversa, já que meu avô aprovou tudo. Os olhos dele brilharam com uma mistura de frustração e algo que parecia… dor. — Eu sou seu guardião-chef
APRILEu estou cansada. Cansada de ser tratada como se fosse de vidro, como se a qualquer momento pudesse me partir em mil pedaços.Sou a melhor lutadora da Guarda Real, a bruxa mais poderosa da história, a loba mais veloz que meu dindo já viu e, ainda assim, para meus pais e meu avô, continuo sendo apenas uma menina frágil, que precisa ser protegida por um exército inteiro.Eu poderia massacrar um batalhão sozinha, enfrentar um bando de lobos selvagens sem sequer me transformar, e nada, absolutamente nada, mudaria a forma como eles me veem. Nunca vou ser suficiente para que confiem em mim para me proteger sozinha.Foram dois dias de exílio na minha ilha secreta. Matteo sempre vem comigo. Ele me entende. Ele é a única pessoa que não me trata como uma porcelana prestes a trincar. Perséfone, minha ilha, é o único lugar onde sou verdadeiramente livre. Pequena, escondida em uma região isolada dos mares da Espanha, ela é o refúgio perfeito. A cabana que Matteo construiu com as próprias mão