IsadoraO aniversário de Leonardo é daqui algumas semanas, e eu não sou boa nessa coisa de dar presentes, nunca tive esse costume e também nunca fui tão presenteada antes, nem mesmo pelas pessoas que eu tenho para chamar de família. Embora Leonardo mereça o mundo, ainda estou batendo cabeça para o que seria melhor para ele e o que faria ele sem lembrar de mim quando estivéssemos longe um do outro. Eu passo a mão no meu cabelo grudado com laquê, um coque bem feito e uma maquiagem leve. Mais uma vez fui convidada para ser jurada em uma audiência, enquanto estou dentro do fórum, Leonardo me aguarda do lado de fora com Frida no carro. Eu digo que ele não precisa ficar fazendo isso, mas ele bate o pé dizendo que ele não irá desgrudar de mim quando estiver fora do morro, e é isso que ele tem feito, entretanto, eu amo isso, amo me sentir protegida, amo o fato de que qualquer movimentação suspeita perto de mim, ele já entra em alerta para me proteger, não importa do que seja. Eu passo os o
Tive que fazer uma viagem de quase uma hora até o Bangú 1, onde o meu mais novo cliente me espera. Ele foi avisado da visita, mas não sabe que sou eu, porém estou aflita para ouvir sua história, e descobrir o motivo de ter passado tanto tempo na cadeia. Minhas mãos soam quando Leonardo para na porta da enorme penitenciária, Frida ficou com Rayane, e novamente meu estômago embrulha, é ansiedade, eu sei. — Está nervosa? — Leonardo pergunta, ele coloca sua mão sob a minha em cima da minha coxa e alisa com o polegar — vai dar certo, amor. Fica tranquila. — O nervosismo sempre me acompanha. Mas dessa vez estou um pouco mais. — Por que?— Eles dificultaram meu contato. — suspiro fundo e solto a respiração aos poucos — não quiseram que eu trocasse com Keila, mesmo eu dizendo que faria o serviço particular. Óbvio, eu não vou cobrar do homem. — Foram só alguns dias, morena. Tu já tá aqui!— Eu sei, amor. — olho atenta no relógio, cheguei vinte minutos mais cedo para não ter erro deles não
Engulo seco, não há nada pior do que fazer a pessoa se lembrar da sua maior dor, em você. Ele me olha, como se quisesse pedir desculpa pelo o que falou, mas não há nada de errado nisso. — Eu sinto muito, Luiz. — ele somente acena com a cabeça — o sumiço delas não é prova suficiente para te manter preso por tanto tempo. Deveriam ter aberto uma investigação, uma busca pelos corpos. Sem corpo, sem prova, não podem te manter aqui. — Eu já estou aqui faz tanto tempo, que não me importo em ficar mais alguns anos. Sabe? — nego com a cabeça — eu não tenho ninguém me esperando lá fora. Faz sentido eu sair?— É claro que faz. Não tem sentido você pagar pelo crime que não cometeu. Você não está mentindo para mim, está? — ele nega com a cabeça, tristonho — então, sei que perdeu muito tempo aqui dentro, mas ainda há chance de refazer sua vida e eu posso te ajudar com isso! — Como?— Pedirei outra audiência com você, vou lutar para que responda em liberdade. Você tem família?— Não. Eu só tinha
— Como? — ele se levanta e me encara do outro lado da mesa — como assim você é minha filha? — Isaque é meu pai… Quer dizer, eu pensei que fosse. — penso por um minuto e a única coisa que vem em minha mente é uma possível traição — Espera! Você traiu sua esposa com a Rosângela? Minha mãe? — O que? Por Deus, Isadora. Rosângela não é sua mãe, ela nem sequer pode ter filhos, ela nasceu sem útero. — Meu Deus! — tento processar as informações, sentindo a queimadura descer da minha cabeça para minha espinha — deixa eu sou sua filha mesmo, minha mãe pode não está morta. E você passou quase vinte e cinco anos preso, por nada…Eu soluço involuntariamente, sinto o choro invadir meus olhos sem nem pedir por isso. Choro baixo, não quero que o guarda ache que ele está me oprimindo e o leve, ainda temos muito o que conversar. Desvio o olhar para o lado, longe das vistas de qualquer guarda e o homem, possivelmente meu pai, me olha tentando entender tudo que acabei de falar, ele parece não acredita
Ainda é cedo e quero resolver tudo em questão de horas, porque nesse momento ninguém sabe o que de fato falar comigo, embora eu não queira que falem mesmo, sigo quieta descendo o morro, a caminho da delegacia. — Isadora, por favor… a gente precisa conversar! — Ana Carla implora, sentada no banco de trás e ao seu lado Nem. Leonardo dirige com os olhos atentos na pista, enquanto eu não suporto ouvir sua voz implorando para eu não a levar para a delegacia — eu posso te explicar! — É mais fácil fazer um trato com o diabo, quando não é você quem vai pagar o preço. Por que eu paguei, Luiz Henrique pagou. E você? — me viro em sua direção e ela me encara — como foi sua vida durante todos esses anos? Andando livremente pelo Rio de Janeiro, sem um pingo de remorso em ter deixado uma filha para trás, e um homem apodrecer na cadeia sem ter feito absolutamente nada. — Eu estava sendo ameaçada, precisava ter feito isso para te manter em segurança. — Ameaçada por quem? Deixa eu pensar… Conrado?
PiresSaindo pela porta da frente, como todo homem honesto deveria ser tratado. Se eu cair ali dentro, sei que pagarei pelos crimes que cometi ao longo da vida, mas nenhum homem deveria passar tanto tempo preso sem ter um crime nas costas. Isadora sorri ao ver o pai atravessar a rua, hoje é meu aniversário, mas quem ganhou a porra do presente fui eu, com mais uma vitória dela. Tô orgulhoso pra caralho dessa mulher, por tudo que ela passou e passa e se mantém de pé, pela garra e determinação em ser ágil em tudo, inteligente, honesta, boa até demais e gostosa na mesma intensidade.— Eu disse que tiraria você daqui. — Isadora fala quando Luiz Henrique se aproxima — agora é um homem livre, sei que perdeu muito tempo aí dentro, mas nada se compara a liberdade, tem o direito de recomeçar a vida agora. — Eu queria poder recomeçar de onde parei. Ver você crescer e se formar, eu perdi tanta coisa. — o homem abaixa a cabeça com um semblante triste, e Isadora coloca a mão em seu ombro. — Acre
IsadoraContenho as lágrimas para não desabar na frente dele. O tanto que a felicidade exala em seu ser, daria uma obra de arte digna de exposição, o sorri desse homem. Ele já beijou minha barriga incontáveis vezes desde que deitei ao seu lado, esperando dar a hora de buscar Frida na escola. Penso que dessa vez dará certo, tomarei todo e qualquer devido cuidado, eu não esperava um filho tão cedo, pensei que fosse demorar tanto, que nem fiquei na esperança. Ele alisa meu ventre, deitado em minha perna enquanto me olha, como se eu fosse a coisa mais linda que ele teve o prazer de conhecer. — Quando descobriu? — ele me pergunta, com o olhar todo bobinho. — Alguns dias atrás. Quis esperar seu aniversário para te contar. — eu tombo a cabeça encarando seus olhos, Leonardo nunca mudou o jeito que me olha, desde que nos vimos pela primeira vez — os enjoos não eram ansiedade, era um neném. — Tô feliz pra caralho, amor. Porra, melhor presente de aniversário que eu já recebi. Vou sempre me
Observando Frida brincar na areia da praia, enquanto penso no bebê que cresce em meu ventre. O meu bebê arco-íris. Ela corre em minha direção, com o corpinho e o cabelo molhada da água. — Mamãe, eu tô com sede! — ela fala, com a respiração ofegante, tentando limpar o suor que desce em sua testa. — Seu pai foi comprar água de coco pra você. Tá bom? — ela afirma com a cabeça, com as duas mãozinhas na cintura ela fica parada na minha frente — senta aqui perto da mamãe. O sol tá quente demais, daqui a pouco você brinca mais. — Quando o neném sai daí? Da sua barriga? — Ah, filha… — aliso seu cabelo longo e ela sorri para mim, com o rosto vermelhinho pelo sol — ainda vai demorar um pouquinho. — É um neném homem? — ela pergunta curiosa. — Neném homem? — gargalho com a inocência em sua pergunta — ainda não sabemos, daqui algumas semanas vamos descobrir. Ok?— Tá bom! — ela afirma. Antunes, Maceió. Foi onde eu e Leonardo decidimos que viríamos depois de pesquisar muito. Eles tem hotel